Volume 1 – Arco 3

Capítulo 40: Momento de Respiro

Na grande cidade de Fortune Diamond, cercada por uma imponente muralha, a tenente Mília e a sentinela Alexia Magus estavam no terraço do hotel onde os grupos enviados de Thesena estavam alojados. Alexia, com seus longos cabelos azuis balançando ao vento, andava de um lado para o outro, passando repetidamente a mão pelos cabelos e mordendo o lábio inferior. Seus olhos estavam fixos em um ponto da muralha, onde Etéreos haviam destruído uma parte da construção dias atrás, criando uma brecha por onde haviam invadido a cidade.

— Aquele ataque foi brutal demais para essa cidade. Foi muita sorte estarmos aqui quando o ataque aconteceu — Alexia comentou, visivelmente preocupada. Seus olhos percorriam a paisagem urbana, desde os edifícios danificados até as ruas desertas. — Caso contrário, acho que esse lugar teria caído.

Mília, encostada no parapeito, mantinha uma expressão imperturbável. Sua postura ereta e seus olhos examinavam o local com calma, apesar da cena caótica diante dela.

— Você tem razão. Esse incidente foi tão inesperado que pegou todos de surpresa. Muitos do grupo de defesa caíram. Se acontecer um novo ataque como aquele, essa cidade ficará à mercê, pois só temos a nós mesmos como armas.

Alexia, com os olhos baixos e os ombros ligeiramente caídos, sabia que o que sua amiga dizia era cruel, mas inegavelmente real.

— Acho que você tem razão.

— Exato. Por isso, mais do que nunca, precisamos que os Sentinelas estejam inteiros e saudáveis, para que, quando eles voltarem, possamos enfrentá-los com força total.

Alexia, com sua postura mais ereta, parou de caminhar nervosamente pelo terraço. Seus olhos, antes murchos, começaram a recuperar o brilho e uma ligeira curva de sorriso apareceu em seu rosto.

— Você tem razão, Mília. Não podemos simplesmente ficar parados enquanto nossos inimigos têm essa vantagem. Sabe o que me preocupa? A maioria de nós está bem, mas…

— Sim, eu sei — interrompeu Mília, já tendo uma ideia do que Alexia estava prestes a dizer. — É a Asta. Já faz cinco dias que ela está trancada naquele quarto sozinha. As únicas vezes que eu soube que ela saiu foram para pegar o almoço e o jantar que vocês estão levando, mas nada além disso.

Caminhando e ficando ao lado da tenente, Alexia também se encostou no parapeito e observou o sol prestes a se pôr no horizonte, tingindo o céu com tons de laranja.

— Nesses cinco dias, tentei de tudo, mas nada parece funcionar para tirá-la de lá de dentro. É evidente que ela está perdida em seus sentimentos. Ela parece até eu quando perdi minha mãe e Íris. Vou fazer o máximo para ajudá-la a superar essa situação — disse Alexia com determinação.

Mília, aparentemente surpresa com esse comentário, olhou para sua amiga de cima a baixo. Seus olhos brilharam de felicidade enquanto a observava, e um sorriso constante se formou em seu rosto.

— Mesmo depois de oito anos, você não mudou nada. Ainda fala do mesmo jeito de quando estávamos com Íris, sempre preocupada com o bem-estar dos outros.

Colocando as mãos na cintura, Alexia inclinou-se para frente e arqueou uma das sobrancelhas, exibindo um sorriso travesso.

— Por que a surpresa, Mília? Não foi isso que Íris nos ensinou? Sempre devemos ajudar os outros, não importa o que aconteça.

— Tá! Eu lembro disso sim. Mas sabe… Quero ver se vai continuar pensando assim com o passar do tempo. Sei que tivemos memórias marcantes com ela, mas quando você percebe que nem consegue salvar a si mesmo, perde um pouco dessa motivação.

Mantendo um contato visual firme com sua amiga, Alexia cruzou os braços de forma relaxada e inclinou a cabeça de lado.

— Não se preocupe com isso, Mília. Nada neste mundo vai me tirar ou impedir que eu siga os passos da minha mestra. Quero deixá-la orgulhosa, assim como minha mãe.

 

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Uma luz branca suave ofuscou a visão de Dusk, forçando-o a colocar a mão na frente do rosto até que sua visão se adaptasse. Ele sentia seu corpo um tanto estranho e levou um tempo para conseguir se sentar e observar ao redor.

Ele estava em uma sala médica futurista, repleta de tecnologia avançada. Máquinas de monitoramento emitiam um brilho azul-neon, exibindo dados vitais em telas holográficas. Dusk estava deitado em uma maca que levitava sozinha no centro da sala.

— Como vim parar aqui? Cadê Conanus? Onde está Sifari? Para onde foram os Etéreos? — perguntou ele, apertando o lençol que o cobria e olhando ao redor com cautela.

Enquanto estava imerso em pensamentos sobre um possível ataque inimigo, Dusk sentiu uma mão delicada tocar seu ombro. O toque inesperado fez seu coração acelerar um pouco, e ele virou a cabeça de lado para ver quem era.

— Que bom que você acordou, Dusk. Fiquei muito preocupada nesses últimos cinco dias. Todos pensaram que você ficaria desacordado por mais tempo, mas fui a única que permaneceu ao seu lado — disse a voz suave.

Seu cabelo curto e preto e seus olhos cor-de-rosa eram inconfundíveis para Dusk, que reconheceu sua amiga Gwen imediatamente. No entanto, o choque do susto fez com que ele ficasse pálido e caísse para frente, um pouco desorientado.

— O que foi, Dusk? Você ainda não está bem? — Gwen olhou para ele com os olhos cheios de preocupação enquanto se aproximava.

— Agora sim. Você me deu um baita susto; quase meu coração parou. — Dusk, sentado novamente, ajustou sua postura e seus olhos roxos começaram a percorrer o ambiente rapidamente. — Ei, Gwen, cadê os Etéreos? Eles não estavam aqui agora mesmo?

Gwen, com seus olhos fixos nele, piscou rapidamente e, com um movimento suave, se aproximou mais, parecendo ter um ponto de interrogação acima da cabeça.

— Como assim, Dusk? Derrotamos todos eles no ataque que fizeram à cidade. Só aqueles dois de nível alto que conseguiram fugir.

O semblante de Dusk se fechou enquanto memórias das batalhas anteriores invadiam sua mente. Ele lembrou da luta contra Shael, que foi difícil, mas ele conseguiu sair vivo. Quando Conanus e Sifari chegaram, ele não conseguiu fazer mais nada, e se não fosse pela chegada dos seus amigos, talvez não estivesse ali agora.

— Não sabemos por quê, mas nesses últimos cinco dias, não houve mais ataques de Etéreos. Nem mesmo apareceu um durante todo esse tempo — comentou Gwen.

Relaxando um pouco e soltando um suspiro profundo, Dusk passou a mão em seus cabelos bagunçados. Como no momento não havia ameaças iminentes, os cantos de sua boca se curvaram para cima.

— Ufa! Gwen, você não tem ideia de quão difícil e complicado foi enfrentar aqueles Etéreos. Sem brincadeira, nem sei como saí vivo daquela situação. — Dusk olhou em torno da sala médica, mas não encontrou mais seus companheiros ali. — E o resto do pessoal, como estão?

— Bom, a maioria está em um prédio onde Cristina se hospedou. Com a equipe de defesa reduzida devido ao ataque, ela pediu nossa proteção. Tirando isso, todos estão bem e se preparando para o caso de outro incidente como aquele acontecer.

Quando Gwen terminou de relatar, a memória de Maurice surgiu na mente de Dusk. Graças a Maurice, ele não sofreu um ataque letal; seu companheiro entrou na frente quando Conanus estava prestes a finalizá-lo. Dusk sabia que Maurice e Asta eram um casal muito próximo.

— E a Asta? Como ela está?

Gwen parecia surpresa com essa pergunta. Ela puxou uma cadeira e sentou-se, desviando o olhar para o chão e os lados.

— Como eu já esperava, Asta não lidou bem com a perda. Assim que acordou e viu seu noivo morto, não parou de chorar. Após o velório, ela se trancou em um quarto do hotel onde estamos.

As mãos de Dusk tremiam levemente e ele as apertou em punhos. Seu rosto ficou sombrio, mas ele passou a mão, tentando afastar a tristeza.

“Entendo que ela esteja assim. Se alguém que eu amasse morresse na minha frente, também ficaria em choque.”

Mas Emma, que teve um fim brutal nas mãos da elfa que Dusk derrotou, também deixou sua filha para trás, e ele, que chegou tarde demais, não pôde salvá-la.

— E a Cristina? Ela também está do mesmo jeito?

— Não. Na verdade, acho que ela nem processou o que aconteceu, e isso me preocupa. No dia seguinte, já recebeu o título de governante, nem teve tempo para lamentar a perda. Em todo esse tempo, não a vi chorar nenhuma vez.

Para os sentinelas de Thesena, essa foi a primeira missão de fato, e Dusk já tinha consciência disso. No entanto, o lado sombrio de presenciar a morte de seus companheiros não saía de sua cabeça. Sentindo um peso imenso sobre si, ele se afundou no travesseiro.

Por algum motivo, o sentinela sentiu sua respiração ficar pesada. Ele esfregou os olhos, mas seus movimentos estavam estranhamente lentos.

— O que você tem? — perguntou Gwen, percebendo a movimentação incomum.

— Não sei. Estou me sentindo estranho, como se tivesse passado três dias sem descanso — comentou Dusk enquanto bocejava.

Gwen se levantou e caminhou até os aparelhos de sinais vitais. Observando atentamente as informações e os números nas telas, sua testa franziu ao chegar a um campo específico.

— Como isso é possível? Nunca vi uma coisa dessas antes. Deve ser por isso que não sinto sua energia — disse ela, tentando entender a situação.

— Do que você está falando? — Dusk tinha os olhos fixos nela, piscando algumas vezes na tentativa de compreender.

— Você passou cinco dias desacordado. Eu pensei que sua mana também se regeneraria, mas pelo que vejo aqui, nenhum pingo de energia mágica foi restaurado. Não entendo o porquê disso.

Por causa da situação estranha, Gwen chamou um dos médicos para examinar seu amigo. Após checar os sinais vitais, o doutor anotou algo em seu tablet depois de observar os aparelhos holográficos.

— Já entendi — comentou o doutor. — Sua energia mágica não foi restaurada porque seu corpo ficou muito debilitado. Pelo que fiquei sabendo, você perdeu um braço e acabou recebendo um novo, além de ter usado muito dos seus músculos e físico. Então, claro que seu corpo inconscientemente priorizou a recuperação física em vez da mágica.

Dusk não conseguia parar de mexer as mãos. Ele apertava e soltava os pulsos enquanto escutava, inclinando-se um pouco para frente. Após o relato, uma grande dúvida surgiu em sua mente.

— Mas doutor, minha mana vai voltar ao normal? Preciso dela para continuar lutando contra os Etéreos.

— Pode ficar despreocupado, sua mana vai se regenerar gradualmente. Entretanto, como profissional na área da saúde, recomendaria que você descansasse bem, comesse adequadamente e dormisse tranquilo. Você verá o quão rapidamente suas energias vão se renovar.

Dusk, ao ouvir essa sugestão, deixou seus ombros tensos. Com os olhos se esquivando do doutor e de Gwen, ele coçou o próprio cabelo.

— Ok, vou fazer — respondeu ele.

“Não posso ficar parado! A qualquer momento pode acontecer outro ataque de Etéreos. Tenho que me preparar o mais rápido possível.” Embora sua boca dissesse uma coisa, em sua mente, ele planejava outra.

 

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No coração de uma floresta densa, havia uma cabana feita totalmente de madeira. As árvores ao redor eram tão altas que pouca luz conseguia penetrar naquela área.

Em meio a esse ambiente, dois seres estavam à frente da cabana. O homem era um lobo humanoide, com cabeça e cauda de lobo, mas o resto do corpo era humano. Ao seu lado estava uma moça cujo corpo parecia ser feito de pedaços de árvores, e sua roupa era formada por plantas; ela se apoiava em um cajado de madeira.

Esses eram Conanus e Sifari. Os dois estavam no quintal da moradia, de frente para uma árvore onde algo estava gravado com uma lâmina.

— Snif! Snif! Para que a gente não esqueça dela, Shael gravou seu próprio nome nesta árvore. Sempre fiquei com o coração na mão quando ela saía para enfrentar humanos, pois não sabia se ela voltaria. Mas agora que ela não está mais aqui... Snif! Eu queria poder sentir seu abraço quente novamente — comentou Sifari, com um semblante triste.

Conanus, que escutava atentamente as palavras dela, balançava a cabeça em concordância. Sem saber exatamente o que dizer, ele apenas cruzou os braços e fixou o olhar no tronco da árvore onde o nome estava gravado.

— Shael, não importa se você era nossa filha adotiva, sempre te amamos como se fosse nossa querida filhinha. Sei que, de onde estiver, você está em paz agora.

Cerrando o punho e apertando o cabo do cajado, o rosto de Sifari se contorceu em uma expressão de fúria. Suas sobrancelhas se franziram e seus olhos brilhavam com raiva.

— Malditos sejam aqueles caçadores. Eles pagarão pelo que fizeram com minha filha.

— Você tem razão. Nem que para isso eu tenha que matar cada ser vivo daquele lugar, vingarei minha filha! — concordou Conanus, com uma determinação feroz.


Continua no Capítulo 35: Preocupações

Data de Lançamento: 12/08/2024



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