Volume 1 – Arco 3

Capítulo 39: Separados Pelo Destino

Desde jovem, Asta Toring sempre teve uma vida cheia de compromissos, com uma agenda lotada de atividades. Pela manhã, após tomar seu café, ela se preparava e seguia para a escola preparatória de Cradel. Nas tardes e noites, seu tempo livre era frequentemente preenchido com compromissos que não podia negligenciar.

Entre esses compromissos estavam seus estudos e treinos em magia arcana, uma disciplina essencial para todos os magos de elite. Como filha única do chefe do grupo de resistência de Cradel, as expectativas sobre ela eram imensas. Na escola, seu pai, com seu cargo de grande importância, fazia dela um exemplo a ser seguido. Isso a tornava o centro das atenções, com várias garotas a bajulando e a elogiando. Com o tempo, receber essas palavras se tornou algo mais comum e menos impactante para Asta.

Certo dia, um novo aluno chegou à escola: Maurice Gunce. Por ser calado, reservado e pouco expressivo com os colegas de classe, Maurice foi deixado de lado por todos, exceto por Asta. Ela, acostumada a receber atenção, sentia um impulso de se aproximar dele.

À medida que o tempo passava, Asta se via cada vez mais sobrecarregada com tarefas e estudos, determinada a cumprir as expectativas que lhe eram impostas. Apesar de seu afundamento no mar de conhecimento, sua atenção permanecia constantemente voltada para Maurice, desde o momento em que ele entrou na sala.

Ela não conseguia explicar o motivo na época, mas sentia um aperto no coração ao vê-lo isolado e sozinho no canto da sala. Maurice parecia sempre abatido, sua presença quase invisível para a turma, ao ponto de as pessoas esquecerem que ele estava ali.

Certo dia, Asta estava caminhando com suas melhores amigas, todas aparentemente a caminho de um local específico.

— Nossa, o filme de hoje vai ser muito bom. Ainda bem que seu pai conseguiu ingressos para a gente — comentou uma das amigas.

— Meu papai é o melhor — respondeu Asta com um tom de orgulho.

Enquanto passavam na frente de um parque, Asta avistou Maurice sentado em um banco, observando pais e filhos brincando.

— Meninas, podem ir na frente, por favor? Vou me encontrar com vocês logo, logo. Guardem um bom lugar para mim — pediu Asta.

— Ok, mas não demore muito — alertou uma delas.

Sem se importar com mais nada, Asta se aproximou e sentou ao lado de Maurice no banco. Seus olhos se encontraram instantaneamente.

— O que você está olhando? — perguntou Asta.

— Nada demais — respondeu Maurice, com uma pitada de desconfiança.

— Você gosta de ver isso? Pais brincando com seus filhos? Por que não faz o mesmo com os seus?

Maurice, ao ouvir a pergunta, fechou os punhos com força, apertando o pulso do braço até ficar branco.

— Não tem como... eles morreram.

A resposta inesperada de Maurice fez com que Asta desviasse o olhar para o céu azul, e depois para as crianças se divertindo à frente. Ao entender a razão pela qual Maurice observava essas cenas, uma luz de clareza e dúvida iluminou sua mente. Parecia que ele usava essas imagens para lembrar de seus pais.

— Entendi. Eu não posso sentir isso da mesma forma que você, mas também fico preocupada com meu pai quando ele enfrenta os Etéreos. Sempre que ele vai para uma missão, se despede de mim e da mamãe, como se fosse a última vez — comentou Asta.

Maurice permaneceu em silêncio, mas a expressão em seu rosto parecia um pouco mais leve. Seus olhos, antes sem vida, agora brilhavam com uma chama renovada.

— Seus pais também se foram por causa dos Etéreos? — perguntou Asta.

Maurice assentiu com a cabeça, confirmando a resposta. Asta sentiu uma vontade crescente de conhecer mais sobre ele e queria passar mais tempo com Maurice.

— O que seus pais faziam? — perguntou ela.

— Eles eram cantores, atores, palhaços de um grupo itinerante de artistas. Eu me lembro bem das viagens; sempre estávamos indo de cidade em cidade para espalhar felicidade.

Enquanto Maurice falava, seu rosto parecia ganhar vida, e um sorriso de satisfação surgiu no rosto de Asta ao ver a animação dele ao falar dos pais.

— Mas sabe de uma coisa? Nunca consegui passar muito tempo com eles devido às viagens. Estavam sempre ocupados, e acho que nunca disse o quanto os amava.

— Isso não é normal? Adultos estão sempre ocupados. Meu pai quase nunca está em casa e, às vezes, fico dias sem vê-lo — respondeu Asta.

Asta, pensando no que dizer a seguir, sentiu as bochechas esquentarem e se avermelharem de vergonha. Ela desviou o olhar, lutando para encontrar as palavras certas.

— Mas você nunca disse um "eu te amo" para ninguém? Não sei, talvez para uma namorada? — perguntou ela, um pouco envergonhada.

Maurice parecia surpreso com a pergunta. Por ser jovem e um pouco reservado, não deu muita importância à questão, inclinando-se para frente e apoiando a cabeça nas mãos, que estavam apoiadas nos joelhos.

— Não, nunca fiz isso. Acho que por ser tão fechado, criei uma barreira anti-pessoas — respondeu ele, meio brincando.

Asta sentiu o coração acelerar e as bochechas ficaram ainda mais vermelhas com a resposta de Maurice.

— Maurice, você precisa começar a investir nas pessoas ao seu redor.

— Por quê?

— Todo mundo precisa de alguém para se apoiar, nem que seja um ombro amigo. Ter pessoas por perto faz você se sentir bem e ajuda a esquecer as coisas ao redor. Eu sei que pode ser difícil para você, pois é uma pessoa fechada, mas não custa tentar. E quando você estiver bem... — ela hesitou, sua voz ficando quase um sussurro —, eu gostaria que você dissesse que me ama.

Asta estava visivelmente tímida, completamente vermelha e parecia que podia desmaiar a qualquer momento. Maurice, com seus 13 anos, não compreendeu completamente o que ela havia dito e, por isso, não olhou para ela.

— Você pode ter razão, mas eu não gosto de depender dos outros. Parece que estou me aproveitando deles, e também não sei se as pessoas ao meu redor realmente querem o meu bem.

Asta ficou um pouco brava ao ouvir essas palavras. Ela se aproximou dele e, com as mãos, forçou Maurice a olhar para ela.

— Não é feio pedir ajuda. O que é feio é se afundar sozinho sem lutar. Não quero que alguém próximo a mim sofra assim. Sei disso porque me senti bastante solitária e isolada quando perdi minha mãe na luta contra os Etéreos.

— Mas… — tentou falar Maurice.

— Não precisa se preocupar. Se você quiser, posso ficar ao seu lado e te ajudar com isso. Não faço isso por interesse, mas sim por você.

Os olhos de Maurice se encheram de umidade ao ouvir essas palavras. Ele balançou a cabeça em sinal de concordância, como se estivesse gravando aquela cena em sua memória.

Assim, a história de Asta e Maurice evoluiu. No ano seguinte, a amizade deles se aprofundou, e aos 15 anos, Asta tomou a iniciativa e começou a namorar Maurice, fortalecendo ainda mais o vínculo entre os dois. Ao atingirem a maioridade, por volta dos 17 a 18 anos, foi a vez de Maurice dar o próximo passo e pedir Asta em noivado, poucos dias antes dos exames dos Sentinelas.

Após passarem no exame e garantirem suas vagas, os dois decidiram comemorar a conquista com um jantar em um restaurante.

— Estou tão animada — disse Asta, com um brilho nos olhos.

— Eu também — concordou Maurice, sorrindo.

Maurice então retirou uma pequena caixinha do bolso da blusa e a abriu na frente de Asta. Ao ver o que estava dentro, Asta ficou profundamente emocionada.

— Um anel? — exclamou, maravilhada.

— Sim, este é um símbolo do meu amor por você — confirmou Maurice.

— É tão lindo, obrigada! — Asta agradeceu, com os olhos cheios de lágrimas de alegria.

— Vamos fazer o seguinte, quando completarmos nossa primeira missão, realizamos nossa cerimônia?

— Sim, sim, sim!!! — respondeu Asta, mega animada.

 

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Três dias após o ataque em Fortune Diamond, Asta estava sozinha em um quarto de hotel onde os Sentinelas estavam alojados. O ambiente era simples: uma cama desarrumada, uma janela fechada e a luz do sol mal penetrando através das cortinas. Asta estava encostada na parede, em um canto isolado do quarto, abraçada a um porta-retratos com uma foto dela e Maurice.

— Por que você me deixou? Cadê você? Preciso de você — ela lamentava a perda de seu amado, suas palavras quase um sussurro de dor. Seus olhos estavam marejados e úmidos, e sua atenção estava fixada no anel em seu dedo, o mesmo que Maurice lhe dera.

Asta sentia uma imensa tristeza e solidão, sua mente se envolvia nas memórias dos momentos felizes que havia compartilhado com Maurice. O anel, agora um símbolo de amor e perda, parecia pesar ainda mais em sua mão. Ela se perguntava como seguir em frente sem ele ao seu lado, o vazio deixado por sua ausência era profundo e doloroso.


Continua no Capítulo 34: Momento de Respiro

Data de Lançamento: 09/08/2024



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