Volume 1 – Arco 3

Capítulo 37: Ato Final

Na avenida principal de Fortune Diamond, a destruição era evidente: carros em chamas, amassados e abandonados; casas devastadas e prédios arrasados. No meio desse caos, o grupo de sentinelas liderado pela Tenente Mília mantinha-se em alerta máximo. Diante deles, uma gigantesca flor brotava da carcaça de uma das criaturas que Kevin e Bennet haviam derrotado juntos.

Para a surpresa de todos, duas figuras surgiram de dentro da planta. A primeira era um lobo de dois metros que andava sobre duas patas, e a segunda, uma mulher vestida como uma bruxa, com o corpo inteiramente feito de planta e segurando um cajado.

— Quem são vocês? Somos da equipe de eliminação de Thesena e sabemos que vocês são Etéreos. Vamos poupar um confronto e se entreguem logo — sugeriu Mília.

— Tsc! Tenente, de onde eu venho, não se fala com monstros. Matamos eles! — reclamou Kevin, claramente irritado.

— Eu sei disso, mas se conseguirmos acabar com isso sem derramamento de sangue, para mim está ótimo — respondeu Mília.

A Etérea vestida como bruxa olhou ao seu redor e viu que as outras criaturas haviam desaparecido em pó, já sem vida. Uma lágrima escorreu dos seus olhos.

— Meus filhos. Foram todos mortos! — disse ela, batendo a ponta do cajado no chão.

Nesse momento, foi como se o tempo parasse, não por causa de um efeito mágico, mas porque o lobo bípede encurtou a distância com eles em um piscar de olhos. Em suas patas, que mais pareciam garras, ele carregava um par de espadas de lâminas curvas e estava pronto para atacar uma das garotas.

— Não no meu turno! — exclamou Kevin.

Com sua espada em guarda, ele conseguiu acompanhar a velocidade do lobo e bloqueou o ataque, fazendo-o recuar um pouco.

— Você parece um bom oponente — disse o Etéreo.

— Infelizmente, não posso dizer o mesmo! — respondeu Kevin.

Sedentos por uma batalha, os dois avançaram um contra o outro como flashes de luz. A maioria do grupo não conseguia acompanhar a velocidade com que a luta se desenrolava.

— Sério mesmo que esse cara é um sentinela igual a gente? — perguntou uma das garotas.

Após uma troca de golpes ágil e rápida, Kevin apareceu diante dos esquadrões, com sua lâmina em mãos e disse:

— Não importa se sou sentinela, tenente ou capitão, se eu matar esse monstro, já vou estar satisfeito! Ainda mais com um oponente forte como este, que parece ter a fortitude de um nível Delta!

— Tem certeza? — questionou Bennet.

— Mas pensei que enfrentaríamos apenas criaturas fracas. Não imaginei que teríamos que lidar com esse tipo de adversário — reclamou Danica.

A criatura bestial, com suas lâminas curvas, avançou contra Kevin e desferiu uma sequência de ataques rápidos e precisos. No entanto, suas investidas não foram suficientes, pois Kevin bloqueou habilmente cada golpe.

— Vai precisar de mais do que isso para me atingir! — desafiou Kevin.

— Pelo que estou vendo, vou ter que levar essa luta um pouco mais a sério — comentou o lobo.

Neste momento, dando um passo à frente dos demais, a tenente Mília aproximou-se da dupla. Do bolso da blusa, ela retirou um microfone, o mesmo que havia usado durante o treinamento com o esquadrão que ela comanda.

— Kevin, você lutou bem, mas deixe o resto comigo. Eles parecem estar em um nível acima do seu, e não tenho certeza se você pode lidar com eles sozinho — ela levou o microfone à boca e comandou: — Paralisia!

Kevin, que já havia sofrido esse efeito antes, sentiu seu corpo se tornar imóvel. Seu adversário também parecia ser afetado pelo mesmo efeito.

— Interessante, o que é isso que você acabou de fazer? — perguntou o lobo, demonstrando curiosidade.

— Conanus, você abaixou a guarda? Quantas vezes eu falei para tomar cuidado? — criticou a bruxa.

— Desculpe, você pode dar uma ajuda aqui? — pediu Conanus.

A bruxa de aparência feminina apontou seu cajado em direção ao lobo, mas nenhum efeito saiu de seu artefato. No entanto, ao lado de Conanus, duas criaturas de planta apareceram: duas flores com pétalas rosadas, as Lótus. Assim que surgiram, o efeito de paralisia causado por Mília foi desfeito tanto no lobo quanto em Kevin, que rapidamente tomaram distância um do outro.

 

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Enquanto isso, no salão de festas do palácio presidencial, Dusk avançava com sua espada de maneira constante e determinada contra a elfa Shael, que se esquivava e defendia os golpes com sua lâmina. Dusk estava completamente focado no confronto; suas sobrancelhas estavam franzidas e sua expressão facial exibia uma raiva tremenda. Cada um de seus ataques era carregado com uma força opressora e avassaladora. Em contraste, Shael se mostrava calma e imperturbável. Ela não parecia irritada ou incomodada; ao contrário, estava alegre e contente com o desenrolar da luta.

— Ora, você acabou de dizer que tinha um plano para me derrotar. Mas pelo que estou vendo, foi só blefe.

— Quem disse que eu estava blefando? Bons planos exigem reflexão e a criação da oportunidade perfeita.

— Na minha visão, você não parece o tipo que usa muito o cérebro para nada. Duvido que consiga pensar em algo realmente eficaz contra mim.

— Beleza então. Como você parece ansiosa para ser derrotada, acho que é melhor eu apressar as coisas e colocar meu plano em prática.

Dusk e Shael se afastaram após uma colisão extraordinária, cada um indo para um canto oposto da sala. A tensão e a sede de sangue que ambos emanavam eram quase palpáveis.

Dusk posicionou sua espada à frente, mirando a lâmina contra o pescoço da elfa. Shael, confusa, observava, enquanto a outra mão de Dusk estava escondida atrás de suas costas.

— Tudo vai depender desse próximo movimento! — declarou Dusk.

Após concentrar uma boa quantidade de energia nas partes inferiores de seu corpo, Dusk estava pronto. Shael, que aguardava o próximo movimento dele, também se preparou.

Com sua alta agilidade e velocidade, Shael avançou na expectativa de atingi-lo. No entanto, o impossível aconteceu. Dusk, com um movimento ainda mais superior ao dela, chegou perto dela sem que a elfa notasse. Inclinado perto da região da barriga de Shael e com a lâmina voltada para trás, ele tentou um golpe que, se fosse bem-sucedido, a dividiria ao meio.

— Hum??! — exclamou Shael.

Com uma agilidade surpreendente, Shael saltou para cima, evitando o corte de Dusk que passou em um arco, sem atingir nada. Preparando sua espada, que causava paralisia mesmo com o menor corte, ela focou todas as suas forças no próximo ataque. No entanto...

— Não percebeu? Minha alma malevolente está bem atrás de você. — Não era um blefe; o fantasma negro que ele havia criado, como um míssil teleguiado, avançava em direção a Shael. — Assim que joguei meus braços para trás há pouco, fiz esse efeito para aproveitar essa brecha.

— Sério mesmo que esse foi seu truque para vencer? Desculpe, acho que superestimei você demais.

Sem se esforçar, a esfera transparente ao redor da elfa se ativou, impedindo que o fantasma negro avançasse, sem que Shael percebesse de onde vinha o ataque.

Como um meteoro, a elfa caiu em direção a Dusk, com a ponta de sua espada mirada contra o rosto dele, pronta para impalá-lo. Mas, também ágil, Dusk conseguiu escapar, rolando para o lado. Shael, sem perder tempo, foi atrás dele para acertá-lo ainda no chão. No entanto, Dusk conseguiu desviar de cada investida apenas com reflexos rápidos e sorte.

— Morra de uma vez, nada vai funcionar! — disse Shael.

— Certeza? Mas por essa você também não esperava.

De repente, Dusk parou de desviar e, posicionando-se na frente dela, levantou os punhos. Após concentrar uma grande quantidade de força, ele socou o chão.

O impacto foi tão forte e violento que instantaneamente o piso da sala rachou, destroços e pedaços subiram no ar, e uma enorme cortina de poeira se elevou.

— O que pensa que está fazendo? Não adianta com esses truquezinhos, eu posso lidar com qualquer coisa que você usar.

Shael, que também podia sentir a presença de energia, percebeu que duas magias foram ativadas ao mesmo tempo: a alma malevolente, da qual ela já havia se adaptado completamente, e a alma benevolente, que faltava apenas mais duas páginas para seu grimório aprender.

— Vou me focar apenas no fantasma branco — disse ela, preparando seu grimório com as páginas abertas.

Por algum motivo, ela sentiu que as duas magias estavam indo para direções opostas. Enquanto o fantasma branco se dirigia a ela pela frente, o negro avançava por trás. Como duas balas, as magias se encontraram com Shael.

— Ataque de dois lados? Isso parece ridículo.

O fantasma branco surgiu à sua frente e foi imediatamente parado pela barreira, enquanto as páginas do grimório começaram a se virar sozinhas. Em segundos, o feitiço de Dusk desapareceu.

— Entendi! Você usa esse livro para se adaptar!

A voz de Dusk veio de trás. O fantasma que Shael negligenciou não estava na forma fantasmagórica, mas sim envolvendo o braço dele. Com rapidez e determinação, Dusk já estava próximo e, balançando sua espada contra o pescoço dela, tentou um golpe decisivo.

 

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Na avenida principal destruída de Fortune Diamond, uma enorme flor havia se desabrochado, e de dentro dela saíram duas novas criaturas: um lobo de dois metros que andava ereto sobre duas patas e uma mulher vestida com trajes feitos de troncos de árvores.

O lobo, Conanus, que havia trocado alguns golpes com Kevin, retornou ao lado da mulher, que segurava um cajado.

— O que achou deles? Representam algum perigo para nós ou para Shael? — perguntou ela.

— De certa forma, sim, mas estou mais atento a ela. Aquela magia que me paralisou foi bastante estranha! — respondeu Conanus, apontando para a tenente Mília.

— Que bom que você está alerta, mas acho mais prudente também ficar de olho em meus companheiros! Alexia! Agora! — pediu Mília.

Nesse instante, Alexia bateu palmas e, como num passe de mágica, várias estacas de gelo se formaram no ar. Com um rápido movimento das mãos, ela lançou essas lâminas afiadas contra os dois Etéreos.

Entretanto, a mulher com o cajado de madeira bateu com força no chão e, do nada, um crocodilo feito de pedras surgiu da terra, posicionando-se à frente dos dois e bloqueando a investida.

Com um rosto um tanto alegre, Conanus preparou suas espadas e, com um olhar sanguinário, estava ansioso para avançar.

— Vamos acabar com eles de uma vez. Estou cansado de ficar parado. Se matarmos eles e depois os governantes, tudo vai acabar.

— Calma, precisamos confiar em Shael. Se ela não conseguir, então, e somente então, nós entraremos em cena. Até lá, apenas damos apoio…

Porém, por algum motivo, os dois pararam de conversar, e uma lágrima solitária escorreu do olho da planta Etéreo.

— Shael??!

 

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No palácio presidencial, em uma das salas completamente destruídas, com o teto arrasado, Dusk observava a elfa assassina Shael desaparecer, agora sem sua cabeça, que ele conseguiu cortar.

— Sifari… Conanus… me desculpem! — Essas palavras saíram da cabeça da elfa enquanto ela se desintegrava em pó.

— Quem são esses? — perguntou Dusk.

Nesse instante, uma grande onda de fadiga tomou conta de seu corpo, resultado do cansaço acumulado pela batalha.

“Estou exausto!”

Sem forças para ficar de pé, Dusk se deixou cair no chão de braços abertos. Toda a dor adquirida durante a batalha se manifestou, incluindo a ferida em seu pescoço e alguns cortes superficiais. O forte odor de sangue no local o fez lembrar de Emma, que ele não conseguiu salvar a tempo, e sua atenção se voltou para Cristina, desacordada em um canto da sala.

O impacto forte que ela sofreu ao colidir com uma das paredes causou apenas alguns ferimentos externos, nada fatal.

— Quando tudo isso acabar, será que ela vai ficar bem? — perguntou Dusk, visivelmente preocupado.

— Asta! Asta! Acorde!

Mudando seu foco para os companheiros de batalha, Dusk viu Maurice, aquele que carregava um violão para cima e para baixo, tentando acordar Asta, que estava desacordada no chão com um leve inchaço na bochecha.

— Se eu fosse mais forte, você não estaria assim — lamentou Maurice.

A mão que ele perdeu no combate contra a elfa estava ausente, e no lugar restava apenas um cotoco fechado. Os cortes na região do peito, no entanto, haviam sido curados graças aos efeitos de cura do fantasma benevolente de Dusk.

“Seu burro! Por que não tomou mais cuidado com essa tarefa? Se eu tivesse chegado aqui primeiro, talvez tudo isso não tivesse acontecido. Talvez até Emma ainda estivesse viva agora. Por que fui me exibir e mostrar o quanto sou forte contra Shael? Se eu tivesse ido com tudo desde o começo…”

Frustrado, Dusk cerrou os dentes e levantou um dos braços, sentindo lágrimas se acumularem no canto dos seus olhos.

— Desculpe, Aliyah. Desculpe, Ronnos. Não consegui ser como vocês. Se eu fosse mais forte, teria dado tudo certo — lamentou ferozmente.

Enquanto ele estava ali, Dusk percebeu que a sala mergulhou em um silêncio total. Sua atenção se voltou para o que ocorria do lado de fora, e ele podia ouvir barulhos altos vindos das ruas. Sabia que seus amigos estavam lutando com todas as suas forças.

— Eu sei que cometi erros e tudo mais — disse ele, limpando as lágrimas. — Mas preciso me levantar. Se eu ficar aqui caído e sem fazer nada, serei um completo inútil. Preciso pelo menos ajudar aqueles que sobreviveram.

Reunindo a força que ainda lhe restava, Dusk se levantou, apoiado em sua espada, e conseguiu se sentar no chão.

No entanto, Dusk sentiu uma brisa intensa se abater sobre ele. Sem saber a razão, suas mãos começaram a tremer, e logo percebeu a presença de duas novas figuras na sala, surgindo da mesma direção de onde Shael estava desaparecendo.

Ao se virar, Dusk viu uma enorme flor e, de dentro dela, surgiram duas figuras: eram os mesmos Etéreos que haviam enfrentado o grupo de Mília.

— Quem são eles? — perguntou Dusk.

A figura feminina, que parecia ser feita de plantas, estava com os olhos arregalados e uma expressão de profunda tristeza. Lágrimas escorriam pelo seu rosto.

O lobo bípede, ao notar Dusk sentado, direcionou toda sua atenção para ele. Embora também estivesse triste, não chegou a chorar como sua parceira, mas sua fúria era palpável, manifestada na forma como apertava os punhos e na aura de sede de sangue que emanava dele.

“Eles são Etéreos? Mas como chegaram aqui tão rápido? Não os vi aparecer.”

— Foi você… quem matou Shael? Desgraçado! — a pergunta veio em um tom grave e ameaçador.

Mesmo diante da hostilidade nas palavras, Dusk não recuou. Apoiado em sua espada, conseguiu se levantar.

— Isso mesmo. Eu a eliminei.

Os dentes afiados do lobo e seus caninos, que mais pareciam facas pontiagudas, ficaram à mostra enquanto um forte vapor saia de suas narinas. Ele respirava profundamente, demonstrando sua raiva.

— Ela disse alguma coisa antes de partir? — perguntou ele.

Dusk tentou puxar suas memórias e se lembrou de que, nos últimos momentos, Shael havia chamado por duas pessoas.

— Ela pediu desculpas para um tal de Conanus e uma Sifari.

O lobo, claramente irritado, se posicionou de quatro no chão, parecendo mais animal do que humano nesse momento. Com as espadas curvas em mãos, ele se preparou para o ataque.

— No seu leito de morte, quero que saiba que esses nomes são nossos! — ele afirmou.

Antes que Dusk pudesse reagir, viu um vulto cinza passar ao seu lado. Ele apenas conseguiu acompanhar com o olhar quando notou que seu braço, antes conectado ao corpo, caiu ao chão devido a um corte rápido e preciso.

— Que foi isso???

Dusk percebeu que era Conanus quem estava se preparando para um ataque fatal. Por instinto, ele conseguiu erguer sua espada pesada a tempo de bloquear o golpe, mas foi lançado para trás pelo impacto.

“Estou quase sem mana para lutar. Usei muita energia para curar meu pescoço, depois gastei outra quantidade significativa para remover o efeito de paralisia e, além disso, usei toneladas de energia para derrotar aquela elfa. O que eu faço agora, com mais oponentes à frente?”

Conanus, como um predador implacável, se preparou para atacar novamente. Dusk estava sentindo uma dor intensa no braço, com uma ardência insuportável, e sangue escorria do ferimento. Se não conseguisse estancar o fluxo rapidamente, poderia morrer de hemorragia.

As lâminas de Conanus estavam prestes a acertar Dusk quando uma nova presença surgiu à frente. Para surpresa de todos, incluindo Dusk, era Maurice, que recebeu um golpe fatal no peito, atravessando-o completamente.

— Por que fez isso? — perguntou Dusk, chocada.

Conanus retirou brutalmente sua espada do corpo de Maurice. Aproveitando a distração, Dusk lançou um feitiço negro contra o lobo, mas Conanus conseguiu se esquivar com agilidade, pulando para trás.

— Dus… Dusk! Eu sei que sou fraco… Não consegui proteger minha querida Asta. Queria ter passado mais tempo com ela.

— Sim, mas por que se jogou na minha frente?

— Não é óbvio? É para salvar você. Todos sabem que, entre nós, você é o único realmente forte. Precisamos de alguém para enfrentar esses dois, ou eles vão matar todos aqui, incluindo a minha Asta.

— Mas… não pode ir assim desse jeito.

— Por que não? Pelo menos fiz algo útil antes de morrer.

Os olhos de Maurice estavam cheios de lágrimas. Ele sabia que seu tempo estava acabando e se concentrou em gravar a imagem de Asta, que estava acordada e o observava com desespero.

— Maurice!!! — gritou ela.

— Amor! Te amo! — Maurice disse com a voz cheia de tristeza, aliviado por expressar seus sentimentos. — Dusk, deixo o resto com você.

Depois de suas últimas palavras, Maurice perdeu a consciência e caiu de bruços no chão.


Continua no Capítulo 32: Reforços.

Data de Lançamento: 02/08/2024



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