Volume 1 – Arco 3
Capítulo 26: Missão em Fortune Diamond
Numa sala grande e espaçosa, o esquadrão composto por Alexia Magus, Gwen Deacki, Kevin Dramus e Dusk Tedimir foi chamado naquela manhã para receber um comunicado da tenente Mília.
— Como essa semana vocês foram bem em suas atividades e treinos. Alguns mais que os outros, não é, Dusk? — disse Mília, apontando para ele.
— Não foi grande coisa, mas pelo menos tentei algo.
— Certo. A partir de amanhã, vocês quatro farão sua primeira missão como sentinelas oficialmente. Tentamos pegar algo menos perigoso, mas que ainda precisa de atenção máxima, pois estamos lidando com Etéreos. Qualquer vacilo no campo de batalha com eles significa morte.
Ela quis enfatizar que, embora o trabalho fosse simples, deveria ser levado a sério. No entanto, Dusk, aparentemente sem entender a seriedade, se levantou animado.
— Até que enfim um pouco de ação. Quando vir um Etéreo, prometo que vou acabar com ele. Vou fazer picadinho deles com minha espada — disse Dusk, dando socos no ar, agitado e animado.
Kevin, sempre de cara fechada e o membro mais isolado do grupo, bateu na mesa com um murro, fazendo um estrondo enorme que assustou Alexia ao seu lado.
— Para alguém que passou aperto enfrentando um monstro nível Epsilon no exame, você acha que pode se sair bem nessa missão?
— Claro! Ao contrário de algumas pessoas, não vou dar para trás, né, Kevin? Você não desistiu de enfrentar nossa Tenente por medo?
Estalando a língua em protesto, Kevin ameaçou levantar e partir para cima de Dusk, mas se conteve, mantendo sua postura ameaçadora.
— Eu? Com medo? De onde tirou isso? Se você não sabe, naquele dia eu estava sob efeito da magia dela.
— Como? Agora você admite?! Me lembro muito bem que nesse dia você negava com firmeza que a magia tinha funcionado em você.
Antes que a conversa se prolongasse, Alexia, com uma expressão de desinteresse, interveio.
— Nossa, que divertido essa conversa de vocês, muito legal mesmo! — disse sarcasticamente. — Mas não viemos aqui para ver os senhoritos brigarem. Então, tem como parar? Se continuarem, vou congelar essas suas bocas e deixá-los presos num cubo de gelo.
Parecendo envergonhado, Dusk olhou para Mília e Gwen, que observavam com um olhar de indiferença, balançando a cabeça em desaprovação.
— Ok! Em respeito a vocês, vou parar, mas aproveitando a ocasião... — Dusk apontou para Kevin. — Já não gosto de você desde o dia do exame quando você roubou o Etéreo que eu estava enfrentando.
Sentado de volta na cadeira e virando o rosto para esconder sua irritação, Kevin cerrou os dentes, visivelmente frustrado.
— Tsc! Como se eu me importasse com sua amizade. Alguém fraco como você? Eu nunca reconheceria como parceiro de combate. Aposto que você não passa dessa missão.
— Olha, diga isso não, porque quando eu sair de boa da missão, você vai quebrar a cara!
— Duvido!
— Aé? Vamos fazer o seguinte, uma aposta: se eu sair inteiro depois dessa missão, você vai pagar um almoço para mim e todos aqui no restaurante mais caro de Cradel, no First Star. Mas se eu morrer... bem, aí eu morri, não dá para fazer nada, né?
Alexia, que havia chamado a atenção deles momentos atrás, se interessou pela aposta.
— Depois dessa, você vai ter que aceitar, Kevin. Vai deixar as coisas assim? Se der para trás agora, o nosso respeito por você vai acabar. — disse Alexia, botando pilha na discussão.
Kevin, com a cara fechada e sobrancelhas franzidas, soltou um sorriso de canto de boca, zombando.
— Cê tá falando isso só por interesse?
— Claro, pois todo mundo sabe que Le Lis é o restaurante mais caro daqui, mas o First Star também serve. Sempre quis ir, mas minha agenda é apertada pelos shows que faço, não tenho muito tempo.
— Tá, mas como sei que esse sujeitinho não é capaz nem de vencer uma mosca, vou entrar nessa. Não pedi nada em troca, só a satisfação de estar certo já basta.
Gwen, a única que ficou calada o tempo todo, interveio.
— Olha, essa conversa é muito saudável — ironizou. — Mas até agora a Mília não falou nada sobre a missão. Podem deixá-la falar? Está me dando agonia, ela está tentando falar e vocês não ficam quietos.
Todos voltaram aos seus assentos e focaram na tenente para receber as novas informações. Mília olhou para Gwen com um certo interesse.
— Tenho um pouco de poder de convencimento — comentou Gwen, se achando.
— Ok, voltando ao assunto principal. Nessa missão, vocês irão para a cidade Fortune Diamond. Já falei isso, mas reafirmo: levem esse trabalho a sério. Foi a própria governante da cidade que pediu nossa ajuda. Como vocês são novatos, irão junto com mais dois outros esquadrões, liderados por Vicente Asra e Bianca Sartre.
— Bianca Sartre? Já ouvi esse sobrenome em algum lugar. Não são aqueles ricaços que compraram uma cidade inteira? — comentou Alexia.
— Sério? Quanto deve valer uma cidade para comprar assim de boa? — refletiu Dusk.
Antes que ele pudesse entrar em outra conversa paralela, Mília interveio.
— Com todo respeito, Alexia. Mas vocês podem calar a boca? Estou tentando falar da missão aqui e toda hora um me atrapalha. Assim não dá.
Dusk abaixou a cabeça, sabendo que fez algo errado, e Alexia fez beicinho, visivelmente chateada.
— Até esqueci o que ia falar. — Mília parecia frustrada. — Vou dizer tudo de uma vez. Amanhã vocês sairão nessa missão, iremos lá e eliminaremos todos os Etéreos. Provavelmente enfrentaremos criaturas poderosas, então peço o máximo de atenção possível. Entendidos?
— Sim! — responderam os quatro de uma vez.
— Amanhã a van que levará vocês estará pronta às 10 horas. Estejam lá em ponto. Atraso não será permitido e será punido severamente.
Finalmente satisfeita, Mília soltou um suspiro de alívio pelo resumo que conseguiu fazer sem ninguém o interromper.
— Era isso? — questionou Dusk.
— Sim. — Era notável no rosto de Mília que ela não entendeu o motivo da pergunta.
— Ok, então, tendo dito isso... Alexia, voltando àquele assunto, quanto custa uma cidade? Essa pergunta ficou na minha cabeça.
O clima tenso da reunião se dissipou quando Alexia deu uma pequena risada ao ver o rosto de Mília ficar vermelho como pimentão por causa da raiva, e Gwen também riu, adorando a quebra de tensão feita por Dusk.
— Ela acabou de falar algo sério pra gente e você vem com piadinhas — criticou Kevin.
— Tudo é motivo para você ficar bravo? Que cara chato! Tem que ficar tudo sério agora? Não pode fazer uma piada? Se quer coisa séria, vai assistir a um filme ou ver um noticiário — reclamou Dusk.
Após essa interação, a reunião chegou ao fim. Embora Mília tenha ficado brava com Dusk e Kevin, ela não fez nenhuma reclamação aos superiores.
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Naquela tarde, após a reunião onde receberam a missão, Dusk e Gwen visitavam uma grande loja. Havia uma infinidade de itens mágicos à venda, como grimórios, espadas, várias poções, roupas e acessórios, parecendo um grande supermercado mágico.
— Como pode ver, este é o grande Shopping de Thesena. Aqui você pode encontrar de tudo. Qualquer coisa que imaginar, tem aqui — explicou Gwen.
Dusk, com um olhar crítico e afiado, observava ao seu redor. Ele examinava cada prateleira, parecendo estar à procura de algo específico. Após algum tempo de pesquisa, voltou para sua amiga.
— Você para de ser mentirosa. Aqui não tem uma formiga telepata que entra nos sonhos das pessoas e faz elas se mijarem durante o sono — disse ele, com uma expressão séria.
Virando o rosto de lado, Gwen tirou sua atenção do amigo. Para ela, o que Dusk havia dito era desnecessário.
— Isso que você falou nem existe!
— Como não? Eu vi na TV, como isso pode ser mentira?
— Ok, Dusk, vamos logo acabar com as compras? Falar com você está me dando dor de cabeça.
— Que compras? — perguntou Dusk, confuso.
Dusk então lembrou-se de algumas horas atrás, quando havia saído da reunião. Gwen veio atrás dele, parecendo animada com a missão, e disse:
— Dusk, vamos sair juntos depois para resolver umas coisas.
Por mais que ele quisesse comprar algo, não tinha muito dinheiro para gastar, pois quase tudo foi gasto na espada que precisava urgentemente. Ele teve que procurar algo barato, mas útil. Em meio à busca, encontrou um pequeno livro com poucas páginas e um título na capa: O Pequeno e Grande Livro de Magias Básicas.
Ao ler a contracapa, descobriu que se tratava de um guia para desenvolver magias básicas, algo que ele havia despertado interesse em aprender há alguns dias.
“Isso parece que vai ser útil,” pensou Dusk.
Assim, ele fez a compra. Gwen demorou um pouco mais, sendo a última a sair da loja. Ela levou dali um conjunto de três adesivos com círculos mágicos que serviam para cura de nível especializado.
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No dia seguinte, no horário combinado, o grupo liderado pela Tenente Mília estava reunido no portão de entrada de Thesena. Enquanto aguardavam, mais oito indivíduos apareceram, integrantes dos outros dois grupos. Dusk ficou em alerta, pois era esperado que dois Tenentes extras estivessem presentes.
Algo mais interessante chamou sua atenção. Um jovem de grandes cabelos negros, com uma espada na cintura, aproximou-se de Kevin. Assim que o notou, Kevin fechou a cara; esse era Bennet Pardian, a mesma pessoa que Dusk viu discutir com Kevin momentos antes dos exames.
— Não acredito que você conseguiu passar. Estou surpreso — disse Bennet, com deboche.
— Digo o mesmo de você, um playboyzinho filho de um aspirante a espadachim.
Dusk, empolgado, observou o encontro, pois sabia que ambos eram espadachins fortes e uma luta entre eles seria um grande entretenimento.
“Dois espadachins fortes? Como isso vai terminar?”
— E eu? Ninguém fala nada? — perguntou Dusk, tentando chamar a atenção.
— Quem é você? — respondeu Bennet.
Com essa simples pergunta, Dusk se sentiu quebrado por completo. Ele lutou bravamente nos exames e saiu vencedor, além de ser filho de capitães.
Enquanto isso, um grupo de quatro garotas, que faziam parte do mesmo grupo, se aproximou timidamente de Alexia, que tirava algumas fotos com o celular.
— Com licença. Somos muito seus fãs. Gostaríamos de tirar uma foto com você para guardarmos de recordação, se não incomodar — pediu uma das garotas.
Vendo esse pedido quase irrecusável, Alexia mostrou um sorriso gentil. Ela gostava de fazer tais coisas pelos fãs, e assim, uma grande sessão de fotos começou, com todas se divertindo.
Do outro lado, um garoto com uma sacola de violão estava encostado em uma parede, observando a cena com uma expressão de amargor no rosto.
— Nem parece que eles vão para uma batalha de vida ou morte — ele reclamou.
Gwen, próxima a ele, se aproximou e também observou os grupos reunidos.
— Concordo, eles não têm nenhuma noção do que enfrentaremos. Mas se esse é o jeito deles ficarem calmos, então não podemos fazer nada a não ser deixar — falou Gwen.
O jovem apertava fortemente a alça da bolsa com seu instrumento musical, inconscientemente buscando conforto. De repente, uma garota com dois rabos de cavalo se aproximou dele e o puxou pela gola.
— O que é isso? Está falando com outra garota? Isso é traição? Estou de olho em você, hein — ela disse incisivamente.
Fazendo sinais de mãos para que ela se acalmasse, ele conseguiu diminuir um pouco a irritação dela.
— Calma, não tem nada disso aqui, só estávamos conversando. Nem isso, só trocamos algumas palavras. — Ele mandou uma piscadela romântica. — No fim, você sabe que só tenho olhos pra você.
— Hum! Sei. Não adianta vir tentar me agradar, estou de olho.
Quando todos já estavam bem entrosados, Mília apareceu, vestida elegantemente para a ocasião com sua blusa de frio padrão.
— Desculpem a demora. Eu estava em reunião com meus superiores e os outros tenentes dos grupos aqui presentes. Infelizmente, eles não poderão ir com a gente na missão, pois terão que dar auxílio em outra região que foi atacada por goblins.
A van que os levaria já estava preparada e pronta para partir. Mília, tentando elevar o ânimo deles, perguntou:
— Vocês estão animados?
— Mas é claro! Vamos lá acabar com esses monstros!!! — Dusk, o mais energético, disparou socando o ar várias vezes.
Todos riram da empolgação de Dusk, e ele riu de si mesmo pela cena vergonhosa que fez.
— Desculpa! Eu adoro passar vergonha! — ele comentou, arrancando mais risos de todos.
Continua no Capítulo 21: Inicio Conturbado