Volume 1 – Arco 3

Capítulo 25: Reunião Necessária

No beco isolado da cidade de Fortune Diamond, Dusk, com sua espada em posse, tinha a ponta da arma cravada no crânio de um monstro Etéreo, que tinha a aparência da mistura entre árvore e humano. Com suas garras extremamente afiadas, o monstro tentou alcançar a moça à frente e seu corpo coberto de musgo tentou se rastejar até ela.

Porém, Dusk forçou ainda mais sua lâmina contra a criatura, fazendo o fim dela ser rápido e quase instantâneo, pois rapidamente o corpo da criatura desapareceu em pó, não deixando nenhum vestígio no local.

— Ufa — disse Dusk, limpando o suor em sua testa. — Que monstrinho mais feio. Mais um pouco e essa coisa iria fazer um lanche.

Por este acontecimento ter sido algo rápido e um tanto confuso para aquele casal, o homem que vestia a mesma farda da equipe de defesa na entrada de Fortune Diamond chegou até Dusk e cruzou os braços.

— O que está acontecendo? Qual o motivo dessa agitação? — perguntou ele, seu tom de voz era um pouco autoritário.

— Acabei de matar um Etéreo que quase atacou vocês.

A moça, que estava um pouco atrás desse homem alto, tentava esconder seu rosto nas costas dele, mas, percebendo que não adiantaria, ela decidiu se mostrar. Ela era bonita, uma beleza um tanto incomum, era simpática e seus cabelos eram ruivos, da cor laranja. Dava para notar que ela estava um pouco exaltada, seus olhos estavam um tanto caídos, ela parecia meio envergonhada, mas logo ela mordeu seus lábios e franziu as sobrancelhas.

— Você quase me matou de susto aparecendo do nada! Sabe, por esse seu ato, poderia fazer com que você fosse executado. Não sabe quem sou? Sabe a grande importância que tenho por aqui?

Dusk, por causa dessas palavras hostis dela, fez ele automaticamente baixar a guarda. Ele havia acabado de proteger esse casal, mas a forma deles agirem, sendo um tanto despreocupada e arrogante, fez ele perder todo ânimo e orgulho que teve.

— A cidade em ataque, uma explosão acontecendo, um monstro quase pega vocês. Mas isso importa? Não. Por quê? Tenho que parar tudo e dar alguns amassos. Tento ajudar e saio errado da situação? — ironizou Dusk.

A moça ruiva, ao escutar essa declaração, levantou uma das sobrancelhas. Ela parecia aquelas meninas patricinhas com nojo olhando para Dusk. A visão dele era para aquele homem alto ao seu lado.

— Vai deixar que ele fale assim da gente? — ela voltou a atenção para Dusk, que não parecia mais ligar para o casal, pois estava quase saindo dali. — Sabe o que vou fazer? Vou pedir para minha mãe te expulsar da cidade à força por falar comigo dessa maneira.

Se ele continuasse ali, Dusk sabia que continuaria sendo esculachado por ela, por isso, sem dizer nada, já havia dado as costas para os dois, querendo sair o mais rápido possível dessa situação desconfortável.

— Ouviu o que eu disse? Sou importante aqui, a minha mãe é ainda mais.

“Que menina chata, já entendi isso.” Dusk cruzou os braços e virou para aquele casal esquisito. Ele, que estava de bom humor segundos atrás, esse sentimento que tinha, parecia ter sumido por causa deles.

— Ouvi perfeitamente o que disse, não sou surdo. Parece que sua mãe é algo importante por aqui e você se aproveita disso para tirar vantagem em cima dos outros.

Apertando os punhos com força, cerrando os dentes, o homem que se vestia igual à equipe de defesa parecia extremamente bravo pelo que foi dito à moça. Ele deu alguns passos na direção de Dusk, porém, por algum motivo, ele parou subitamente, pois um pequeno grupo do esquadrão de defesa passou em frente ao beco.

Dusk se virou para essa cena e logo viu um companheiro de esquadrão passar. Era Bennet Pardian, o qual também virou para ele.

— Ele está aqui! — chamou os outros guardas aquele sentinela. — Trouxe reforços para acabar com os Etéreos!

O parceiro de equipe havia trazido ajuda caso fosse necessário, mas por causa de um grande porém, fez Dusk dar um pouco de gargalhada pela situação, pois achou um tanto engraçado.

— Acho que você chegou um pouco tarde para a festa. Já acabei com ele — comentou Dusk, enquanto guardava a espada na bainha em seu cinto. — Acredita se eu disser que o monstro estava invisível? Além daquela criatura já ser perigosa visível, imagina com essa habilidade.

— Sério isso? Invisível? Devemos falar sobre isso com pessoal rapidamente, todos precisam saber.

— Concordo — Nesse momento Dusk se virou a fim de levar aquele casal em segurança para fora daquele beco, mas o que ele viu foi nada, pois nem mesmo a menor presença deles era aparente naquele lugar — Hum???

— Aconteceu alguma coisa? Está procurando alguém? — questionou Bennet, meio que sem entender a ação do parceiro.

Dusk coçou um pouco sua cabeça. Ele olhou para cada estreitamento dali, mas havia mais um bom caminho adentro daquele beco escuro pelo qual eles podiam ter usado para sair.

“Por que eles sumiram desse jeito? Será que estão namorando de novo? Quer saber, melhor deixar isso para lá, cada um sabe o que faz.”

 

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Depois de alguns minutos após esse ataque breve de Etéreos, todos os guardas próximos daquela área se juntaram para entender melhor o que havia acabado de acontecer. O mesmo fizeram os sentinelas, que se uniram pelas ordens de Mília.

— Alguém aqui pode explicar o que aconteceu? pois acabamos de chegar na cidade e dois dos meus soldados já entraram em combate.

Como foi Gwen e Dusk que participaram desse mini confronto, eles eram os únicos que podiam explicar e, sendo o mais animado ali, Dusk foi quem deu um passo adiante, na expectativa de explicar algo.

— Olha, aconteceu assim. Passamos pelo portão e pela barreira, aí do nada, boom! Foi uma gritaria desenfreada, ninguém estava entendendo nada, aí aparecem os Etéreos, wharrg — Ele tentou imitar aquelas criaturas. — Quase um casal morreu, mas eu com minha espada matei aquele monstro, Vapo. Depois disso apareceu Bennet com os guardas — Dusk tentou explicar.

Para o sentinela, essa explicação parecia muito boa, mas na sua cabeça, pois as pessoas em sua volta estavam com expressões confusas, talvez pelos efeitos sonoros que tentou imitar, seja na forma superficial de como tentou contar ou da maneira nada direta de explicar as coisas, não tenha dificultado e muito a compreensão deles.

— Desculpa dizer, mas não entendi nadinha do que disse. Não tem uma forma melhor de explicar? — Alexia foi a única entre os outros a expressar a falta de compreensão das palavras dele.

— Poxa, expliquei bem direitinho. Como não entenderam? Foi uma das melhores explicações que fiz em toda minha vida.

— Esse foi seu melhor? Tô imaginando o seu pior. Deu para entender nada, mas nada mesmo. Você foi pior que minhas irmãzinhas, quando tentavam falar comigo. — Firmemente e de maneira constante, o sentinela, Maurice, que carregava uma sacola de violão nas costas, demonstrava não estar de acordo.

Ao perceber que seu amigo era incapaz dessa tarefa, Gwen se pôs à frente dele e assumiu o papel.

— Olha, o Etéreo que enfrentei parecia um tigre misturado com árvores, ele era cheio de musgos e o corpo dele parecia aquelas cascas de árvore, mas pensando bem, quando o eliminei, não sei se Dusk escutou o mesmo, mas ele dizia que estava atrás das governantes.

— Não, dessa parte não, pois quando eliminei o meu alvo, não dei tempo de ele dizer nada. Para falar a verdade, acho que nem vi uma boca naquela coisa — explicou Dusk quando viu o pessoal à sua volta ir até ele.

A tenente, que escutou esse relato breve da dupla, levou a mão para o queixo, ela se virou e seus olhos foram para o enorme palácio flutuante acima da cidade.

— Se o que vocês estão dizendo está correto, então, primeiramente, devemos conversar com a Emma Paison, a governante geral da cidade, antes que façamos algo primeiro.

 

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Usando a van, que havia sido liberada pelo pessoal da vistoria, os sentinelas liderados pela Mília foram até o ponto central da cidade, onde havia uma casa chamativa, mas isso não era o mais impressionante, e sim um enorme tubo que ligava aquele lugar ao palácio presidencial lá em cima.

— O que é isso? Nunca vi algo tão grande como isso antes? — disse Dusk, que parecia um tanto animado com essa nova descoberta.

— Este é o elevador que liga a casa da governante com o palácio presidencial — explicou uma moça que cuidava da entrada daquele elevador colossal. — O que vocês vieram fazer aqui? Tem horário marcado?

Mília, que estava à frente dos demais, foi até aquela que parecia ser uma secretária. Dusk não prestou atenção na interação daquelas duas, mas ele se direcionou para uma cena um tanto familiar. Um grupo de homens usando fardas corria em torno da casa, na qual tinha um homem à frente deles que, com apito, ditava o ritmo de cada um.

— O que ele está fazendo aqui? — se perguntou Dusk, reconhecendo aquele sujeito, pois ele era o mesmo homem que ele salvou do ataque Etéreo no beco.

— Vamos nessa, pessoal, consegui liberar nossa entrada. Venham logo de uma vez, não temos muito tempo e quem ficar para trás terá que pagar 500 flexões agora.

Ninguém, querendo sofrer dessa punição extremamente severa, correu até a direção da Tenente, entrando no elevador, que automaticamente subiu. Enquanto eles iam para o prédio, a vista da cidade era bonita lá de cima, os prédios eram bem chamativos e a muralha em torno do lugar passava uma certa sensação de segurança.

O lugar que os sentinelas estavam indo visitar não era um simples prédio qualquer, isso foi o que Dusk percebeu, pois aquele local era literalmente um palácio. Além de sua arquitetura mesclada com a cyberpunk com a renascentista, ela chamava atenção de outra forma.

Ela ficava suspensa no ar sobre um drone de proporções gigantescas, onde quatro enormes hélices tomavam conta para não deixar essa construção cair, fazendo-a ficar pairando no ar.

Já dentro daquele lugar luxuoso, onde o ambiente era extremamente limpo e organizado, Mília seguia a moça da entrada por um corredor, acompanhada de seus parceiros da missão. Por onde eles passaram, havia uma grande concentração de guardas alinhados com a mão na testa em sinal de respeito para com eles.

— A senhorita Emma Paison está nesta sala à espera de vocês — comentou aquela mulher, parando diante de uma grande porta que estava fechada. — Por favor, peço que tenham um pouco de simpatia para com nossa governante. Se perceberem que ela está cansada, não apontem isso, pois ela está lidando 24 horas com os assuntos dos Etéreos.

— Não viemos atrás de confusão. Pelo contrário, viemos para acabar com essa bagunça que os monstros estão causando nessa região — explicou Mília.

Após receber essa resposta, a moça abriu a porta fazendo com que os visitantes entrassem. Lá dentro era bem espaçoso, nas paredes havia vários retratos pendurados, nas janelas que davam a visão para fora, mostrava um pouco da cidade e do horizonte. No centro da sala tinha uma enorme mesa, com vários assentos vazios e na ponta dela, no lado oposto de onde entraram, estava ela.

— Emma Paison?! Esses são os sentinelas que você contratou. Eles acabaram de chegar e querem falar com você.

Dusk não sabia dizer o porquê, mas ele sentia já ter visto alguém parecido com a governante antes. Ele fixou seus olhos nela, pôs a mão no queixo e tentou pesquisar em sua memória. A governante na sua frente era uma mulher esbelta, devia ter lá pelos quarenta anos. O cabelo dela era ruivo da tonalidade laranja.

“Onde foi mesmo que vi alguém com essa aparência?”

Assim como alertado antes, os olhos da governante pareciam pesados, cheios de olheiras, mas mesmo com aparência de cansaço, isso não a impediu de soltar um sorriso simpático para os recém-chegados.

— Obrigada por atenderem ao meu chamado. Sinto-me um pouco mais aliviada agora tendo caçadores de Etéreos ao meu reforço. — Os olhos dela percorreram cada um dos doze sentinelas e pela tenente. — Já estou sabendo do pequeno incidente que vocês passaram, assim que chegaram na cidade. Desde já, peço desculpas pelo infortúnio, e obrigada por lidarem com a situação.

— Não precisa agradecer, faz parte do nosso trabalho. Mas temos que dar o devido crédito para meus soldados, Gwen Deacki e Dusk Tedimir. Se não fosse por eles, nada teria sido resolvido rapidamente.

— Obrigada pelo elogio! — agradeceu Gwen, fazendo uma reverência respeitosa para Mília e Emma.

— Não precisa agradecer, só queria ajudar mesmo — agradeceu também Dusk, um pouco tímido, mas mostrando um sorriso de alegria.

— Se eu tivesse lá, tenho certeza que as coisas teriam sido resolvidas mais rápido e teria eliminado os Etéreos num piscar de olhos — resmungou Kevin, que estava mais atrás do pessoal, ao ver essa cena.

— Fico feliz em ver que tem ótimos soldados, Tenente Mília. Pelo pouco que vi, já tenho uma ótima impressão de vocês. — Emma, em um gesto simpático, apontou para os assentos vazios na mesa, sinalizando para que eles se sentassem. Mília, por possuir a maior patente entre eles ali, foi quem sentou próximo da governante.

Dentro dessa sala, não estava só a governante e os membros de Thesena, mas nos cantos extremos do local, tinha guardas a postos com armas de fogo em mãos, fazendo a segurança de Emma.

— Olha, essa não é minha área de domínio, por isso que deixo essas questões para minha filha, a vice-governante da cidade. Ela sabe mais detalhes dos Etéreos que eu. Vou conseguir só dar um relato meio por cima da situação. Mas, aproveitando. Secretária, pode chamar Cristina e Afonso, por favor?

— Sim, como a senhorita deseja! — Com passos ágeis e de forma rápida, a moça que trouxe os sentinelas saiu da sala.

— Enquanto eles não chegam, vou tentar explicar de maneira fácil. Faz mais ou menos um mês e meio que venho sofrendo com esses ataques repentinos de Etéreos. Não sabemos a fonte ainda e o que eles querem, mas a única coisa que sabemos é que todos os dias vem um novo monstro poderoso ou um monte deles, só que mais fracos, para tocar terror na cidade.

A tenente, que escutou esse relato dela, pôs os cotovelos sobre a mesa e apoiou sua cabeça em seus dedos, enquanto parecia absorver essas informações. Mas, antes que ela pudesse abrir a boca para falar algo, a porta da sala se abriu.

— Com licença. Desculpa a demora, estava treinando um de nossos pelotões — abaixou de forma respeitosa a cabeça o homem que acabava de entrar na sala.

— Bom, eu já estava resolvendo um assunto importante. Tive que disponibilizar verbas para reconstrução do posto de gasolina que os Etéreos destruíram — disse uma garota que tinha as mesmas feições de Emma e também tinha a mesma cor de cabelo dela, porém usava um chapéu cloche na cabeça.

“Poxa, mas que azar! Como fui me meter nessa situação?”

Dusk estava completamente desorientado, sem saber o que fazer. Ele não conseguia tirar seus olhos daqueles dois que entraram na sala juntos, pois eles eram as mesmas pessoas que ele viu namorando no beco e que salvou do ataque Etéreo.


Continua no Capítulo 23: Governantes de Fortune Diamond



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