Volume 1 – Arco 3
Capítulo 24: Pega Bandeira!
Dentro do centro de treinamento A-10 em Thesena, o grupo composto por Gwen, Alexia, Kevin e Dusk estava atento à líder do esquadrão, Mília. Todos prestavam atenção, pois ela tinha uma proposta.
— Agora que vocês descansaram um pouco, vamos fazer um treinamento tático para ver como vocês se sairiam em um campo de batalha em grupo — disse Mília.
Dusk, ainda esgotado fisicamente, tentou se recompor para essa nova tarefa e notou que a tenente segurava uma bandeira em uma das mãos.
— O que faremos? — ele perguntou.
— Algo simples. Será um jogo chamado pega bandeira. Vocês tentarão, obviamente, pegar a bandeira, enquanto eu ficarei aqui para impedi-los. Isso me faz lembrar de quando eu e Alexia brincávamos disso quando éramos pequenas — Mília parecia se lembrar do passado.
Alexia, assim como a tenente, também recordava os velhos tempos. Todos ali já sabiam que as duas eram amigas muito antes de entrarem em Thesena, uma amizade que resultou na coordenação de seu esquadrão.
— Tem regras? — questionou Gwen.
— Claro, mas são simples. Vocês não podem sair da área deste retângulo onde está a grama — Mília apontou para o campo verde ao redor.
Após explicar o funcionamento da atividade, Mília cravou a bandeira no solo no centro do espaço, deixando-a bem firme. Com alguns passos, posicionou-se à frente, com uma expressão séria no rosto, pronta para proteger a bandeira dos quatro.
— Pronto, podemos começar! — ela anunciou.
Com o início da atividade, Dusk observou a situação e notou que Mília não tinha brechas. Ele percebeu que precisaria da ajuda de seus companheiros, pois embora fosse um contra quatro, a adversária em questão era uma tenente, alguém muito habilidosa e experiente em combate.
— Que tal planejarmos algo antes de agir? — sugeriu Gwen.
Dusk e Alexia pareciam de acordo, mas apenas um pareceu não dar ouvidos: Kevin, o garoto de cabelo espetado laranja. Ele ameaçou sacar a espada longa de suas costas para enfrentar a tenente, mas ao notar que sua oponente não era um inimigo de verdade, conteve-se.
— O Kevin?! O que você vai fazer? — perguntou Dusk.
— Não está prestando atenção? Vou pegar aquela bandeira sozinho. Não preciso da ajuda de ninguém para isso. Tem algo contra? — perguntou em tom ameaçador.
— Não, não — Dusk balançou a mão em negação. — Só achei que seria melhor e mais eficaz se planejássemos algo antes. Mas é só uma sugestão boba.
Estalando a língua como sinal de desaprovação, Kevin olhou para Dusk com um olhar sanguinário, como o de um demônio faminto por carne fresca.
— Não enche, fracote!
Dusk ficou branco, levantou as mãos em sinal de rendição e deu alguns passos para trás, sinalizando que não iria interferir.
— Tá bom, faça o que quiser, mas se der merda ou você passar vergonha, aí é com você.
— E o que ela conseguiria fazer? Pelo que estou vendo daqui, vai ser molezinha passar por ela e pegar aquela bandeira. Vocês são insetos e eu já sou o tigre.
— Ok então, vai lá, tigrão. Veja se vai rugir e não miar como um gatinho — zoou Dusk.
Alexia, que até então observava a cena, balançou a cabeça em desaprovação. Ela sabia bem quem eles enfrentariam agora.
— Olha, não subestime a Mília. Ela é forte, tanto que é uma tenente. Se conseguiu essa patente, quer dizer algo, não? — tentou alertar Alexia.
— Além de fracos, vocês são um bando de covardes. Deixa comigo, eu me garanto. Se quiserem, podem até gravar e postar, pois verão agora a grande queda colossal da tenente Mília.
— Sério? Pode mesmo? — perguntou Dusk.
— Sim!
Prontamente, Dusk pegou seu celular do bolso e ativou a câmera, começando a gravar tudo.
Kevin deu alguns passos e ficou frente a frente com Mília. Era óbvio que um embate estava prestes a acontecer, mas nenhum dos dois iria recuar. Seus olhos se cruzaram intensamente e a tensão subiu instantaneamente.
— Não acha que está muito confiante, não, rapaz? — perguntou a tenente.
— Claro que estou. Tanto que precisarei de alguns segundos para vencê-la.
— É mesmo? — Mília cruzou os braços e analisou o jovem à sua frente. De repente, ela colocou a mão dentro do bolso da blusa e pegou um microfone dourado. — Está bem, pode vir, só que depois não venha reclamar.
Pondo-se em posição de combate com as mãos vazias, Kevin estava pronto para correr, mas percebeu que Mília levou o microfone à boca e disse apenas essas palavras.
— Você vai desistir! — ela cantou.
Após a tenente cantarolar essas palavras, Dusk não entendeu por que ela fazia isso, mas parecia ser uma espécie de magia que ele desconhecia.
Kevin, que estava à frente dela, cruzou os braços, franziu o cenho, deu meia-volta e voltou para junto dos companheiros do grupo. Ele parecia extremamente irritado, com veias pulsando em sua testa.
— Poxa, ela é muito fraca. Ela acha que com esse tipo de coisa pode me enfrentar? Não vale a pena gastar minhas energias com essas coisas. Prefiro guardar minhas energias para algo mais interessante.
Por algum motivo estranho, Gwen parecia extremamente curiosa. Ela chegou bem perto do rosto de Kevin, olhou dentro dos olhos dele, verificou sua postura, fez uma análise completa. Kevin parecia desconfortável com a atitude dela.
— O que está fazendo? — perguntou Dusk, achando a cena meio esquisita.
— Sai da minha frente! — pediu Kevin.
— Tem alguma explicação para isso, Alexia? — questionou Gwen.
— Foi exatamente por isso que te alertei. Ela não é usuária de magias normais. Ela, assim como eu, também pode usar magia musical, mas o dela em específico é controle por meio da voz.
Parecendo nem se importar com o que foi dito, Kevin estalou a língua de novo e passou por eles sem se importar com nada. Ele parecia extremamente emburrado, de cara fechada.
— Eu não estou enfeitiçado, só não quero lutar com alguém fraco.
— KKKKK!!! O cara foi afetado pela magia e nem sabe! — zombou Dusk da cara dele.
— Ora seu idiota. Vê se não diz besteiras.
Dusk, após esse evento, se sentiu satisfeito, parou de gravar com o celular, mas salvou o vídeo. Ele viu Kevin sentar na pista de atletismo fora do gramado, como forma de desistência.
“Poxa, até eu estou confuso se isso foi magia dela ou se é coisa desse idiota.”
— Ok! Supondo que ela tem esse recurso, como vamos lidar com essa magia roubada do controle musical?
Com a mão no queixo e olhos vagos, Gwen parecia estar fortemente procurando uma resposta para essa pergunta. Com o que ela viu entre Kevin e Mília, se escutarem qualquer comando vindo dela, eles perdem.
— Isso é simples. Vocês têm um abafador de ruídos ou fones de ouvido. Se usarmos essas coisas, é impossível escutar qualquer coisa. — Era um plano até que bom, mas infelizmente os dois balançaram a cabeça em negativo.
— O único jeito que penso agora é acabar com ela tão rápido que nem dê tempo dela fazer nada — disse Alexia.
Dusk já estava quase totalmente recuperado e com energia quase renovada. Ele alongou os braços e pernas, estalou os dedos das mãos e o pescoço.
— Certo, gostei desse plano. Então vamos nessa — disse ele apontando para a cantora.
— Certo, mas como vamos fazer isso? — indagou Gwen, que já estava se preparando também.
— Tenho um plano que é teoricamente infalível, mas vou precisar da ajuda de vocês — falou Alexia.
— Esse seu teoricamente infalível me quebra — brincou Dusk.
Com os três reunidos e fechados em uma roda, o plano foi arquitetado. Seria algo consistente, mas um tanto arriscado.
— Não sei ao certo qual é a área, mas a magia de Mília só atinge uma pequena área próxima a ela, isso significa…
— Chegar perto é a mesma coisa que estar exposto — interrompeu a explicação de Alexia, Gwen.
Depois de alguns instantes, a reunião parece ter encerrado. Gwen e Dusk apenas observavam Mília, e Dusk era o único com um sorriso confiante no rosto, mas Alexia foi aquela que deu o primeiro passo à frente.
— O amiga, você que vai primeiro? — perguntou a tenente meio tristonha com a cena.
— Sim, e eu já consigo ver o resultado de tudo isso.
Alexia, ficando a certa distância da tenente, rodopiou nos calcanhares de forma graciosa e, com seus braços, gesticulou para cima. De repente, todo o solo que cobria aquele gramado assumiu uma tonalidade clara, pois havia sido congelado, e daquele espaço gigantesco, um pilar de gelo se elevou.
— Qual é o plano?
— Ué?! Não é óbvio? Pegar a bandeira, esse não é o objetivo? — disse Alexia de forma assertiva.
O grande pilar subiu vários metros de altura como um elevador, mas em um certo ponto parou de elevar. Com um estalar de dedos de Alexia, ela apontou uma mão para o céu e uma grande nevasca começou a descer no local, saindo da mão dela. Por causa disso, de forma temporária, a visão de Mília foi prejudicada, não conseguindo ver seus oponentes.
— Ecos da natureza, atendam meu pedido. Transformem o silêncio em um som querido. Notas e ritmos, venham à tona. Criem melodias, harmonizem a jornada. — Cantarolou novamente Mília.
Vários símbolos de notas musicais apareceram magicamente à frente da tenente. Aqueles eram os efeitos da magia musical. Como se fosse uma chuva de flechas, os símbolos cortaram o ar e atingiram a nevasca.
— Esse truque barato não vai funcionar.
— Tem certeza? — questionou Alexia.
Foi então que Mília percebeu algo atrás dela se abrir. Era o chão, o pilar de gelo. Um buraco circular onde poderia caber um humano inteiro se abriu e, de dentro, Dusk saiu. Ele parecia pronto para pegar a tenente e limitar sua movimentação.
— Você para!!! — Essa não foi uma conjuração normal de feitiço musical, mas sim um comando pela música.
Mas antes mesmo que ela terminasse, sua amiga de cabelos azuis entrou na frente dela e, por algum motivo, ela tinha confiança em seu olhar.
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Instantes atrás, os três discutiam o plano. Todas as ações já haviam sido planejadas, mas havia algo na cabeça de Dusk que o deixava incerto.
— Como farei para não ser pego no comando musical? — perguntou ele, preocupado.
— Como não temos outro recurso, se usarmos a habilidade escudo de mana, será que vai funcionar? — questionou Alexia.
— Essa habilidade pode ser boa para lidar com aquela magia — concordou Gwen.
Dusk, no entanto, parecia o único na discussão que não estava entendendo nada. Quando ouviu "escudo de mana", era como se um ponto de interrogação tivesse surgido na sua cabeça. Pelo que parecia, essa era a primeira vez que ele ouvia esse termo.
— Vai me dizer que não conhece isso? — perguntou Alexia, percebendo a dúvida no rosto dele.
— Pelo jeito, não. Se duvidar, nem conhece as magias básicas — comentou Gwen, com um tom de desaprovação.
— Claro que conheço! São magias fracas, não são? Por isso são chamadas de básicas — tentou responder Dusk, meio no chute.
Gwen, percebendo essa falta de conhecimento, cruzou os braços, levou a mão ao rosto e balançou a cabeça em descontentamento. Era evidente que ela sentia vergonha alheia.
— Quanta ignorância. Não é porque algo é chamado de básico que significa que é irrelevante. Pelo contrário, são bastante úteis e, às vezes, mais eficazes que magias complexas que precisam até mesmo de rituais e vários círculos mágicos.
Ao perceber que havia falado uma besteira, Dusk ficou envergonhado.
“Poxa, se eu quero ser um grande capitão, vou ter que aprender as magias básicas? Parece que vai ser chato. Bom, ninguém disse que seria divertido. Por que não dei a devida atenção necessária nisso? Meus pais já devem ter explicado isso para mim, Não? Mas o mais provável foi que eu não prestei atenção ou devo ter esquecido.”
— Mas o que vamos fazer então? Não quero receber a magia de comando musical na cara e ficar que nem o outro ali, pensando que estou bem.
Alexia percebeu o grande contratempo, cruzou os braços e olhou para sua amiga Mília, que os observava de longe, esperando eles terminarem de conversar.
— Vamos manter o combinado até o fim. Se na hora eu perceber que ela vai usar essa magia, eu vou te proteger — disse Alexia, com um tom determinado.
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Como haviam combinado, Alexia se posicionou à frente de Dusk quando o comando musical de Mília foi ativado.
— Conjuração Básica: Escudo Guardião! — recitou Alexia.
Nesse instante, uma enorme esfera se materializou ao redor de Alexia e Dusk, composta por vários flocos de neve, como uma bola de neve gigante. Todos perceberam que a habilidade da tenente não foi eficaz, pois Alexia sentiu algo bater contra o escudo, mas foi dissolvido pela barreira.
— Mesmo que vocês dois tentem, ninguém vai conseguir pegar a bandeira se estiverem aqui comigo me impedindo — afirmou Mília, confiante.
— Sim! E foi por isso que o plano era eles criarem uma distração decente enquanto eu pegava a bandeira — disse Gwen, que já segurava a bandeira nas mãos, explicando o que havia acontecido.
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Minutos após o teste, os cinco estavam reunidos novamente. O pilar de gelo que Alexia havia criado foi desfeito, mas o nevoeiro e a temperatura ambiente ainda estavam baixos, deixando o local gelado pela nevasca. A tenente tinha flocos de neve em sua roupa, e a grama onde estavam antes estava toda úmida.
— Estou surpresa. Gostei do trabalho em grupo de vocês. Embora dê para melhorar muito, mas para uma primeira vez, foi bom — comentou Mília.
— Fala a verdade! Foi patético, muito feio de assistir — criticou Kevin.
— Olha só quem fala, o cara que mal conseguiu pegar a bandeira e foi pego pela magia de comando — zombou Dusk.
— Já falei que aquela magia não funcionou em mim, fui eu quem desistiu por vontade própria.
— Aham, sei. — Dusk voltou a atenção para Mília. — Fala para ele. Não é que sua magia funcionou, mas ele que não sabe.
Balançando a cabeça em confirmação, Mília se aproximou de Kevin e com o dedo indicador fez um símbolo no ar. A palavra "Ré" surgiu magicamente, e uma grande quantidade de energia foi sugada do corpo de Kevin para aquela palavra.
— Prontinho. Da próxima vez que for enfrentar alguém, tome cuidado, eles não serão tão piedosos como eu — alertou ela.
Claramente frustrado pela situação, Kevin virou o rosto para esconder sua vergonha e irritação, cerrando os dentes enquanto as veias saltavam em sua testa.
— Kkkkkkk! — Dusk ria ao fundo.
— Bom, mas agora que encerramos nosso treinamento, vou me retirar e voltar para o meu quarto. Estou congelando aqui com esse frio, vou me enfiar debaixo da coberta e beber um chocolate quente para ver se me esquento. — Bufando e meio brava, ela se virou para Alexia. — Você sabe muito bem que não suporto frio.
— Foi mal, mas foi necessário abusar um pouco desse seu ponto fraco — respondeu Alexia com um sorriso.
O treinamento tático foi um sucesso, além de conseguirem pegar a bandeira da tenente, parecia que o relacionamento entre eles tinha potencial para ser algo saudável. Ainda brava pelo frio, Mília deixou o local.
Continua no Capítulo 19: Primeiro Dia de Um Cientista