Volume 1 – Arco 3

Capítulo 23: Inicio Como Um Sentinela

Era quase horário de almoço na grande capital Cradel, por volta das 11 horas da manhã. O carro em que Dusk estava passou por uma multidão de pessoas que carregavam cartazes inspiradores, dando boas-vindas aos novos recrutas. Assim que o carro parou na entrada do grande campus de Thesena, Dusk saiu imediatamente, sentindo a empolgação crescer. Ele carregava uma grande mala com suas roupas e objetos pessoais, pois estava se mudando para ali. Na outra mão, ele segurava sua espada embainhada.

Na entrada da corporação, Dusk avistou um robô em formato de bola se aproximando. O robô tinha um grande monitor no rosto que projetava um rosto artificial.

— Bom dia! Como podemos ajudar você? — perguntou o robô.

— Sou Dusk Tedimir. Vim me apresentar para o cargo de sentinela.

Parecendo processar a informação, um ícone de barra de carregamento apareceu no rosto do robô. Após alguns segundos, ele respondeu:

— Ah, sim, Dusk Tedimir! O quarto que ficará já está pronto. Por favor, me acompanhe.

Enquanto seguia o robô guia, Dusk avistou um grupo de pessoas praticando exercícios matinais e outros treinando balanço de espada e uso de magia. Alguns minutos depois, ele chegou a um local que cobria uma vasta área com vários prédios de dez andares. Esse era o local dos dormitórios. Dusk já havia visitado esse lugar com seus amigos e a capitã Evelyn no dia do exame.

Entrando em um dos prédios, o robô e Dusk subiram até o sétimo andar e entraram na porta de numeração 71.

— Aqui será sua nova moradia. Mas primeiro, preciso explicar as regras. Não é permitido furtar, quebrar ou danificar mobília, objetos decorativos ou o quarto. Como é uma estadia temporária, é possível que você mude de patente e, eventualmente, de alojamento. Manter o ambiente em ordem é sua função como morador.

— Sim, entendi! — respondeu Dusk, balançando a cabeça afirmativamente.

Ao entrar no local, Dusk avistou um quarto com quatro cômodos. Para uma família tradicional, o local seria minúsculo e apertado, mas para uma pessoa só, estava ótimo. Havia um quarto para descansar, uma cozinha e um banheiro, todos com a mobília necessária para o uso cotidiano. Dusk foi até a varanda, de onde podia ver uma grande faixa de terra e as construções ao fundo, incluindo o colossal prédio dos capitães.

— Com licença, mas agora tenho que me retirar. Preciso fazer meus reparos matinais. Só mais uma coisa: não esqueça de pegar a chave eletrônica do quarto no centro de prevenções e cuidados.

— Ok! — respondeu Dusk.

O robô saiu do local, e Dusk, um pouco empolgado, jogou suas malas e espada sobre a cama. Esticando os braços para cima, ele fez um alongamento, relaxando seus músculos que estavam tensos.

— Olha aí! Essa é para quem duvidava, consegui virar um sentinela. Quem diria que meu esforço valeria a pena! — comemorou Dusk.

Nesse momento, Dusk sentiu uma presença. Alguém estava parada na porta de entrada. Era uma adolescente de 17 anos, com cabelos curtos negros e olhos rosados inconfundíveis. Gwen bateu três vezes na porta antes de entrar.

— Tem como fazer menos barulho? Tem vizinho querendo dormir. Desse jeito, você vai levar uma punição por mau comportamento — comentou ela, com um sorriso brincalhão.

— Como é? Você também vai ficar nesse prédio? — perguntou Dusk, surpreso.

— Não, só estou fazendo uma visita ao meu amigo. Na verdade, eu moro com meu irmão no grande apartamento que ele tem ali no prédio dos capitães — ela se exibiu um pouco enquanto dizia isso, lançando um olhar orgulhoso para a construção enorme ao longe.

Dusk voltou sua atenção para aquela imponente construção. Não importava de onde você olhasse, era impossível não notar o prédio dos capitães, com seus 235 metros de altura, visíveis a quilômetros de distância.

— Mas isso não vem ao caso agora. Vim aqui para te buscar, pois nos reuniremos com o nosso esquadrão dentro de trinta minutos — disse Gwen.

— Trinta minutos? Temos tempo até lá — respondeu Dusk.

— De fato, mas tem um problema — Gwen parou e olhou Dusk de cima a baixo, parecendo julgar sua aparência. Na verdade, ela estava mais focada nas roupas que ele usava. — Aqui em Thesena, você vai ter que começar a usar uniformes assim como o que eu estou usando.

Dusk então percebeu o uniforme de sua amiga: uma camisa escura, uma saia até o joelho em preto e vermelho xadrez, uma meia-calça e sapatos de salto alto, ambos brancos. No peito dela havia uma insígnia com a imagem de um cajado mágico e uma espada cruzados, o símbolo de Thesena, o mesmo estampado no portão principal.

— Vou ter que usar uniforme também? — perguntou Dusk.

— Exatamente.

— Mas onde as consigo?

— Com isso pode ficar tranquilo. Vou te levar até lá — respondeu Gwen.

 

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Gwen e Dusk estavam em uma área movimentada, cheia de barracas e pequenos edifícios comerciais. O lugar fervilhava com vozes anunciantes divulgando seus serviços e produtos. Esse espaço concentrava um vasto acervo de eletrônicos, itens mágicos, grimórios e amuletos, típicos de uma zona comercial dentro de Thesena.

Sem interesse nesses itens, eles seguiram direto para uma loja onde, logo na entrada, manequins exibiam modelos de uniformes semelhantes ao que Gwen usava.

— É aqui! — anunciou Gwen.

Ao entrar, Dusk viu uma grande quantidade de peças de roupas nas prateleiras e em cabides, prontas para venda. As cores predominantes eram preto e branco.

— Tem tantas opções. Não sei qual escolher — disse Dusk, um pouco perdido.

— Não se preocupe. Viemos aqui ver uma pessoa, não comprar algo.

— Ué? Mas e meu uniforme?

Atravessando a loja, Dusk continuava confuso. No caminho, eles avistaram rapazes e moças decidindo o que comprar. Apesar de parecer uma loja simples, havia muita gente ali. Chegando ao fundo do estabelecimento, encontraram uma porta com uma placa que dizia: Atendimento aos novos sentinelas.

Gwen bateu na porta algumas vezes. Após uma breve espera, uma moça os atendeu.

— Bom dia! Este é Dusk. Ele é novo em Thesena e precisa de um conjunto personalizado para sua primeira visita à loja — informou Gwen.

Sem perder tempo, a moça levou Dusk para dentro da sala, tirou suas medidas, analisou sua roupa e fez algumas perguntas e anotações.

— Seu uniforme ficará pronto dentro de cinco minutos. Por favor, aguarde lá fora.

— Assim tão rápido? — Dusk mostrou surpresa.

Saindo da sala, Dusk se juntou a Gwen e aguardaram. Pouco depois, a moça saiu da sala com uma expressão de satisfação e um saco plástico contendo a roupa.

— Graças à minha habilidade de artesão mestre, consigo fazer qualquer tipo de roupa com agilidade — explicou ela, entregando o saco a Dusk. — Vamos, experimente para ver como ficou.

Com o uniforme em mãos, Dusk foi para o provador. Minutos depois, saiu exibindo o novo conjunto: uma camisa branca de botão, blusa, calça e sapatos pretos.

— Ficou muito bem em você — disse a atendente, batendo palmas de alegria.

Dusk olhou para si mesmo, passou a mão pelo cabelo e lançou um olhar para Gwen, que o observava de maneira fria e seca.

— E aí, tenho chances agora? — perguntou brincando.

— Hahaha! Nem que fosse o último homem do mundo. Você não faz meu tipo! — respondeu Gwen na lata.

Dusk fingiu estar devastado, sua expressão dramática.

— Poxa, fiquei malzão depois dessa. Vou até chorar — ele fingiu choramingar.

— Olha, como você é novo em Thesena, esta peça vai sair de graça. Mas se quiser mais dela para ter de reserva ou precisar usar quando uma for danificada ou lavada, terá que pagar a próxima peça, que custa 150 créditos.

— Tá caro, hein — Dusk engoliu em seco com o valor.

— Fazer o quê? Meus produtos são de primeira linha — disse a atendente, como se uma lembrança tivesse surgido em sua mente. — Ah, o cinto que você pediu para guardar sua espada ficará pronto mais tarde. Enviarei para o número de seu quarto.

— Ok! Faz o seguinte, envie para mim mais dois conjuntos dessa mesma roupa. Curti muito esse novo visual. Obrigado!

— Que bom, agradeço por confiar em nós.

Após a negociação, Dusk recebeu a insígnia de Thesena, a mesma que Gwen usava no peito. Ele a colocou em destaque na blusa, demonstrando agora que fazia parte da organização.

 

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Agora uniformizado, Dusk e Gwen caminhavam juntos quando, quase ao mesmo tempo, receberam mensagens nos celulares:

Comparecer ao centro de treinamento A-10 para a reunião de grupos às 12:20.

Por causa da correspondência recebida, a dupla acelerou os passos. Dusk, por causa de seus testes dias atrás, sabia onde ficava a área de treinamento. Ao chegar lá, ele viu a mesma construção colossal onde enfrentou os testes para ser sentinela. Só que agora, com mais calma e atenção, percebeu que havia mais prédios enormes ao redor, alguns no tamanho de shoppings e estádios.

Gwen, já familiarizada com a base de Thesena, guiou ao local designado na mensagem. A-10, que se assemelhava a um coliseu num formato cilíndrico.

Os dois chegaram a uma construção ao ar livre dentro daquela nova área, com uma pista de corrida oval e grama verde sintética no centro. Havia três pessoas no local, todas parecendo à espera da dupla. Uma moça de cabelo curto, também usando um uniforme preto e branco com uma blusa de frio fechada, estava de braços cruzados à frente dos demais.

— O combinado não foi 12:20? Já se passaram sete minutos — apontou ela.

— Desculpa, isso não vai acontecer de novo. Tivemos que atrasar, pois meu amigo aqui não tinha uniforme para usar então fomos pegar um para ele, mas foi só por causa desse contratempo que atrasamos — explicou Gwen.

— Sim, isso é verdade. Estou até me sentindo mais bonito e confiante usando isso — brincou Dusk, fazendo poses para mostrar sua "beleza".

Dusk notou duas pessoas que viu pela última vez no dia do exame. Alexia Magus, com uma beleza incomparável, olhos e cabelo azuis, usava um vestido preto e branco com detalhes em azul e uma bota confortável até o joelho. Uma trança vermelha destacava-se no seu cabelo.

A cantora, percebendo o olhar de Dusk, inclinou a cabeça.

— Por que está me olhando tanto assim?

— Não é nada demais. Achei você bonita! — disse Dusk diretamente.

Alexia, não se abalando, passou a mão no cabelo, fazendo-o voar um pouco, e colocou a mão na cintura, posando elegantemente.

— Eu sei disso. Sendo herdeira da genética da família Magus, minha beleza é incomparável. Não tem alguém igual a mim por aí — vangloriou-se ela.

Enquanto isso, Kevin, com uma pose fechada e braços cruzados, estalou a língua. Dusk se lembrava muito bem do que aconteceu nos testes, quando Kevin roubou seu adversário Ogro.

— Olha, cê não é meu amigo Kevin. Está tudo bem? Parece irritado como sempre — tentou puxar papo Dusk.

— Não tenho amigos, só colegas — respondeu Kevin de forma curta e grossa.

— Para com isso, sei que parece durão por fora, mas tenho certeza que você é gente boa, bem lá no fundo, escondido em algum canto — disse Dusk.

Enquanto Dusk tentava dialogar com Kevin, Gwen o puxou pela manga, tampando a própria boca e aproximando-se do ouvido do amigo para sussurrar:

— Acho melhor você ficar um pouco longe dele. Ele parece ser alguém perigoso. Estou sentindo até uma aura de vilão vindo dele.

— Eu sei disso, mas vai que ele seja alguém de boa — cochichou Dusk.

Uma veia saltou na testa de Kevin, e ele rangeu os dentes. Era perceptível que ele ouviu o que foi dito, visto que os dois estavam praticamente falando isso na frente dele.

— Ei, tem como vocês mostrarem mais respeito? Sou o mais forte desse grupo — reclamou Kevin.

— E como você chegou a essa conclusão? Porque até agora não vi você direito em combate — questionou Dusk.

— Pessoal, vamos focar no que viemos fazer? — chamou atenção a tenente Mília, de forma séria e brava.

— Sim! — responderam prontamente, em tom respeitoso, os quatro sentinelas, que rapidamente se alinharam.

— Como é minha segunda vez vendo vocês fisicamente, não tenho noção de suas capacidades físicas. Então, vou propor uma atividade. Dez voltas inteiras na pista de atletismo.

Ao ouvir isso, Dusk fez uma expressão de vergonha. Muito suor acumulou e escorreu em sua testa ao olhar para o circuito de dez metros.

— Ah não. Estou sentindo que vou me sair muito mal nisso — falou Dusk, meio autodepreciativo.

— Por quê? — perguntou Mília.

— Espera e verá o quão humilhante vai ser — disse Dusk em tom de zombaria.

Depois disso, os quatro se posicionaram na linha de largada. No comando da tenente, saíram em disparada. Estavam nivelados no começo, mas à medida que a segunda volta se concluía, Dusk ficava para trás. Kevin e Gwen assumiam a dianteira, enquanto Alexia ficava em terceiro, logo atrás.

Na volta número oito, Gwen e Kevin disputavam a primeira colocação. Gwen diminuiu o ritmo, e Kevin disparou à frente. Alexia, com muito esforço e um pouco ofegante, também passou por ela, e depois de alguns instantes, Dusk quase se arrastava na pista.

— O que é isso, Dusk? Parece acabado — perguntou Gwen, correndo ao lado dele.

— Estou cansado. Não tenho muita resistência.

— Ué, mas toda vez que vejo você lutar, parece que nunca chega ao limite.

— Isso é porque me dou bem em batalhas curtas. Vou com a mentalidade de acabar rápido. Mas se lembra do confronto que tive nos exames com o elfo e aqueles dois, Lionel e Natasha? Quase perdi ali por causa do cansaço.

Gwen, relacionando essa nova informação com eventos passados, ficou pensativa.

— Olha, não sou especialista no assunto, mas acho melhor você começar a treinar essa sua resistência, só para prevenir. Acredito fortemente que isso será bom para você em batalhas futuras.

— Ok, vou pensar no assunto.

— Como assim, vai pensar? Você vai fazer e ponto — decretou ela.

Ela correu ao lado de Dusk até ambos completarem a prova. Como estavam em ritmo lento, demoraram mais que Alexia e Kevin. Ao encerrar a atividade, Dusk se jogou no chão, sua respiração irregular, e estava completamente encharcado de suor.

— Olha que vergonha, mas que vergonha, você é uma vergonha para nós homens — criticou Kevin.

— Não respondo como deveria, porque não tenho energia para isso — respondeu Dusk.

Enquanto isso, Alexia tirou uma selfie. Apesar de cansada, ela parecia bem, suas roupas não estavam sujas, ao contrário de Dusk, que estava encharcado de suor.

— Muito bem, tive três ótimos resultados e um péssimo no meio disso — criticou Mília.

— Cê não está pegando pesado não? — sentiu a indireta Dusk.

— Para vocês que têm energia e para esse ser rastejante no chão, vou propor agora um teste tático.

— Dá uns minutinhos para descansar! — implorou Dusk.


Continua no Capítulo 18: Pega Bandeira!



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