Volume 1 – Arco 2

Capítulo 22: Formação dos Esquadrões

Dusk, depois de um flash de luz, sentiu seu corpo formigar. Quando o brilho que ofuscava sua visão diminuiu, ele abriu os olhos lentamente e viu inúmeras pessoas à sua frente.

Entre elas, duas figuras se destacavam. Uma mulher alta de cabelos longos e negros, a mesma cor de seus olhos. Era Evelyn Bladow, a mulher que Dusk conhecera horas atrás por causa de sua amiga, Gwen. O outro era um homem magro com cabelos longos e lisos, ainda mais longos que os de Evelyn. Ele usava um uniforme de espadachim e tinha uma espada embainhada na cintura. Este era Ais Pardian, líder dos capitães de Thesena.

— Dusk, meus parabéns, você conseguiu passar no exame. Por um momento pensei que não conseguiria, tipo quando aquele elfo quase acabou com você ou quando aqueles dois roubaram o orbe. Mas tirando tudo isso, foi um ótimo encerramento para esse evento — comentou Evelyn.

Dusk, ainda meio abalado pelas intensas batalhas, teve que se apoiar em sua espada para não cair. Ele notou muitos olhares ao seu redor, incluindo o de Gwen, uma moça de cabelos azuis que chamou sua atenção por um momento, e finalmente, Kevin. Na tentativa de se recompor, com toda calma do mundo, Dusk guardou a espada embainhada na cintura, onde uma corda a segurava.

— Demais, consegui!!! Essa é para quem duvidava de mim — comemorou Dusk, dando um salto de alegria com a pouca energia que ainda tinha e mostrando um largo sorriso no rosto. No mesmo instante, ele se virou para Kevin, o espadachim que ele encontrou e duelou brevemente quando foi enfrentar o Ogro no início do exame. — Viu só? Também consegui passar.

Kevin virou a cabeça de lado com desdém, mantendo uma postura fechada com os braços cruzados.

— Grande coisa, como se eu fosse me importar com isso. Você é tão fraco que comemora por coisas pequenas como essas. Ainda por cima, era nem para estar comemorando, quase perdeu um monte de vezes. É sorte sua estar aqui.

Antes que Kevin pudesse continuar com suas ofensas e críticas, Dusk se posicionou na sua frente e, com um dos dedos fazendo um sinal de negativo, ele o calou.

— Não importa. O que importa mesmo é que eu passei! — continuava a celebrar Dusk.

Interrompendo essa micro discussão, Ais Pardian bateu palmas. O som foi tão alto que ecoou por toda a sala.

— Muito bem, agora que todos que passaram estão aqui, faremos o seguinte. Iremos liberar vocês para descansarem e se recuperarem depois dessa atividade. A cantina está aberta, com muita comida esperando por vocês para a refeição do dia. Dentro de alguns minutos, nos encontraremos lá para fazermos a montagem dos esquadrões.

 

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Minutos depois, todos os participantes que passaram no exame e agora podiam se chamar sentinelas estavam em um novo local enorme, cheio de mesas compridas espalhadas por cada centímetro do lugar. Em um canto específico da sala, os alimentos estavam à disposição. Os acompanhantes que vieram com os examinados também estavam presentes, pois nesse local foi permitida visitação.

Sentados em uma mesa estava o trio de amigos. Dusk tinha um prato cheio de comida, Gwen tinha uma quantidade pequena, e Harry não tinha nada.

— Vai comer não? Já passou da hora do almoço. Se eu estivesse no seu lugar, não me aguentaria de pé com o estômago vazio — perguntou Dusk.

— Estou tranquilo. Não consigo comer nada. Sabe quão nervoso fiquei hoje? Primeiro foi minha apresentação, depois foi Stella contra aquele robô gigantesco, e em seguida foi acompanhar seu exame. Nossa, foi muita aflição.

Enquanto comia em silêncio, Gwen notou vários olhares dos demais no recinto na direção de Dusk.

— Duskinho?! Como foram suas batalhas? Não adianta esconder, todo mundo viu e percebeu que você estava em apuros. Primeiro enfrentou um Etéreo de nível Epsilon e depois enfrentou dois participantes.

Ao escutar essa pergunta, Dusk congelou. Uma palavra em específico saiu da boca dela sem que percebesse. Harry também teve a mesma reação que Dusk, ficando de boca aberta.

— Duskinho? Da onde veio isso? — questionou o próprio Dusk.

— É diminutivo do seu nome. É só uma forma carinhosa de falar. Veja isso como reconhecimento de minha parte, pois você se esforçou demais hoje. Até que fim vi algo digno da sua parte — comentou Gwen.

— Então quer dizer que mexi com seu coração?

— Mas quando você abre essa sua boca para falar, sempre acaba perdendo seus créditos comigo.

— Tá, tá, foi só brincadeira. — Dusk se encostou na cadeira e cruzou os braços, começando a relatar tudo o que aconteceu no exame com detalhes minuciosos, desde o combate contra o elfo até o confronto com aquela dupla.

Ele explicou como teve que usar conjuração verbal em alguns momentos para criar e fortalecer seus fantasmas, algo que foi necessária para sobreviver às lutas intensas.

— Ainda bem que no final, deu tudo certo — continuou Dusk. — Mas fiquei meio triste pela Natasha e pelo Lionel. Eles queriam tanto ser sentinelas.

Dusk então virou-se para sua amiga, que comia silenciosamente sua comida. Ele estava curioso para saber mais sobre o teste dela, pois não tinha visto nada sobre isso.

— E você, Gwen? Como foi o seu teste? Quem você enfrentou? — perguntou Dusk.

— Se bem me lembro, em nenhum momento vimos como foi o seu combate — comentou Harry.

Gwen colocou o talher em seu prato de forma graciosa, como uma dama, e cruzou os braços. Ela levantou a cabeça e mostrou um grande sorriso de satisfação, com um toque de deboche.

— Não querendo me gabar, mas nem teve uma luta direito. Eu enfrentei uma fadinha, e apenas dela me olhar uma vez foi o suficiente para eu colocá-la na minha ilusão.

Dusk e Harry cruzaram olhares, completamente chocados. Se outras pessoas ouvissem esse relato de fora, pensariam que era mentira e que ela queria contar vantagem, mas Dusk sabia melhor do que ninguém sobre a habilidade dela, pois ele esteve dentro da ilusão alguns dias atrás.

— Essa sua magia de ilusão é muito roubada. Quando estamos dentro dela, não dá para saber o que é real ou não. Só dá para ter uma noção depois que acaba — disse Dusk, balançando a cabeça.

— Verdade, né. As coisas correram bem e deu tudo certo. Mas será que você não está em uma ilusão minha agora? — perguntou Gwen, em tom de brincadeira.

— Não, espero que não. Mas se eu estiver, não me tire dela. Estou bem aqui — respondeu Dusk, também em tom de zombaria.

Nisso, Dusk avistou o espadachim de cabelo laranja espetado que portava uma longa espada embainhada nas costas, o mesmo que ele encontrou e duelou brevemente no início do exame.

— Kevin! Não quer se juntar a nós para almoçar? — convidou Dusk.

No mesmo instante, Kevin se virou, com os olhos cerrados e veias pulsando na testa, parecendo completamente irritado com a proposta.

— Claro que não. Nunca me juntarei a um fracote — respondeu Kevin com desdém.

— Poxa! Estou tentando esquecer nossa briga no exame, mas você vem com essa hostilidade toda sem motivo? Desse jeito não dá, você é muito chato!

Kevin ameaçou dar um passo na direção dele para tirar satisfação.

— Como é? Eu, chato? Quem está chamando para fazer coisas ridículas é você.

Nesse instante, uma figura imponente e cheia de presença se levantou da cadeira. Era uma jovem de cerca de 17 anos, com cabelos longos e franja na testa de cor azul, combinando com seus olhos da mesma cor. Era Alexia Magus, a cantora pop número um. Ela ergueu uma taça com bebida.

— Pessoal!!! Vamos fazer um brinde? Foi um desafio complicado de passar, mas no final, deu tudo certo.

Kevin, ao ver aquela tentativa de socialização, virou o rosto e estalou a língua em repulsa.

— Que ridículo. Comemorar por derrotar criaturas fracas. Eles não devem conhecer o terror de enfrentar um monstro muito mais forte que você.

— Olha só, o amigo chato do grupo ataca novamente — brincou Dusk, rindo.

Sem perder a compostura pelo comentário do espadachim, Alexia respondeu com calma:

— Se não quer participar, é só não erguer a taça.

Seguindo o exemplo dela, Dusk foi um dos primeiros a levantar seu copo. Ao ver isso, outras pessoas fizeram o mesmo, e logo todos seguiram o exemplo. Por último, Gwen, meio relutante, entrou na onda.

— Levanta o seu também, Harry — disse Dusk.

— Mas eu não faço parte dos sentinelas — respondeu Harry, hesitante.

— Mas agora você é um cientista, então quer dizer que faz parte de Thesena também — insistiu Dusk.

— Exatamente! — concordou Gwen, sorrindo.

Com um pouco de hesitação, Harry levantou seu copo. Kevin, que havia sido contra aquela ação, deixou o espaço e foi para um canto isolado, enquanto um grito de comemoração ecoou pela sala, mostrando os ânimos elevados de todos.

— Ora! O que está acontecendo aqui? Uma festa comemorativa e não me chamaram? Eu adoro festas. Que falta de tato — reclamou alguém, entrando na sala.

Aquela que disse essas palavras era uma mulher de presença marcante. Assim que entrou, todos os olhares se voltaram para ela instantaneamente. Era Evelyn Bladow, seguida por Ais Pardian, o líder dos capitães. Os dois se dirigiram para o centro da cantina, atraindo grande atenção.

Logo atrás deles, doze indivíduos com características peculiares entraram. Dusk reconheceu que não faziam parte do grupo dos capitães, mas somente alguns na sala reconheceram os rostos de alguns que entraram.

— Oi, Mília! — Alexia Magus gritou para uma das pessoas que entraram, e, correspondendo, uma mulher acenou de volta com a mão.

— Agora que vocês já devem estar de barriga cheia e com um pouco de energia renovada, vamos dar prosseguimento — anunciou Ais, segurando um tablet. Ele rolou a tela do aparelho enquanto Evelyn, ao seu lado, tentava espiar disfarçadamente.

— Foram montados grupos de quatro pessoas que farão parte de esquadrões. Fiquem atentos aos nomes e seus respectivos companheiros, pois só falarei uma única vez.

Ais começou a listar os nomes em voz alta. Com cerca de 50 pessoas presentes, a apresentação foi um pouco demorada.

— Bennet Pardian, Asta Toring, Maurice Gunce e Oliver Liru — anunciou Ais.

As pessoas mencionadas levantaram as mãos ao mesmo tempo. Entre elas, Bennet Pardian chamava mais atenção, com uma semelhança notável ao capitão Ais, sendo seu único filho.

— Os próximos serão, Dusk Tedimir, Gwen Deacki...

— Que legal, a gente conseguiu ficar na mesma equipe — comentou Dusk, animado.

— Sim — concordou Gwen com um sorriso.

— ... Alexia Magus e Kevin Dramus.

Embora Dusk tivesse pouco conhecimento sobre a cantora Alexia Magus, ele já tinha uma base sólida do que esperar de Kevin, com quem já teve desavenças durante o exame. Por isso, ao ouvir o nome de Kevin, fez uma careta de desaprovação.

“Fazer o quê? Não dá para ganhar todas. Pelo menos tenho a Gwen no grupo,” pensou Dusk.

Enquanto refletia, ele notou algo incomum. Gwen trocou uma piscadela estranha com Evelyn, que retribuiu com o mesmo gesto. Era evidente que tinham aprontado algo juntas.

“Hum! O que será que elas fizeram?” Dusk se perguntou, intrigado.

A dinâmica prosseguiu, com mais nomes sendo anunciados e mais esquadrões sendo formados. Ao todo, doze grupos foram criados com os 50 novos sentinelas, mas, estranhamente, dois indivíduos ficaram de fora sem ter um grupo para entrar.

— Os dois que sobraram serão colocados em outra equipe, formando dois esquadrões com cinco membros. Além disso, adotaremos um novo método hoje... — disse Ais, rolando a tela do tablet.

Evelyn interrompeu Ais, com um brilho nos olhos e um entusiasmo quase infantil:

— Aqueles que obtiveram um orbe vermelho neste exame podem fazer uma mudança, tanto na sua equipe quanto no teste em geral. Só é permitido um movimento. Aqueles que ainda têm esse material, apresentem para todos.

Levantando-se da cadeira, Alexia Magus mostrou um objeto que parecia uma bolinha de gude avermelhada. Seguindo o exemplo dela, Dusk também se levantou e mostrou seu orbe, conquistado após derrotar Alred, o elfo. Outros três indivíduos fizeram o mesmo.

— Alexia, como você foi uma das primeiras a se pronunciar, você começa. Qual mudança você quer fazer? — perguntou Evelyn.

Ais tocou o ombro de Evelyn e tossiu fortemente, tentando disfarçar algo.

— Evelyn, você esqueceu de mencionar algo sobre os tenentes? — sugeriu Ais, de maneira sutil.

— Ah, sim, me desculpem, não foi por mal, me adiantei um pouco. — Parecendo meio sem jeito, Evelyn abaixou a cabeça em sinal de desculpas. — Estes são os nossos Tenentes. Eles serão os líderes de cada esquadrão, criando táticas e estratégias no combate contra os Etéreos.

Um enorme silêncio abateu sobre a sala enquanto Evelyn retomava sua atenção para Alexia.

— Posso falar agora? — perguntou Alexia, recebendo um aceno positivo de Evelyn. — Ótimo! Quero escolher a Tenente Mília como líder do nosso grupo.

Ela apontou para uma moça de cabelo roxo usando um penteado com dois rabos de cavalo. Mília vestia um uniforme padrão, assim como os outros doze tenentes e capitães, que se destacavam por seus acessórios e trejeitos marcantes.

— Você foi direto ao ponto escolhendo um líder. Que bom, isso nos poupa tempo — disse Evelyn, satisfeita.

Evelyn então se voltou para Dusk, que não se intimidou com o olhar afiado da capitã. Ele levou a mão ao queixo, refletindo sobre algo.

— Posso mudar qualquer coisa mesmo do exame? — confirmou Dusk, recebendo um aceno afirmativo de Evelyn. — Então vou fazer o seguinte: aqueles dois que enfrentei, Lionel e Natasha, quero que eles tenham passado no exame e façam parte dos sentinelas, como desejavam.

Todos na sala ficaram boquiabertos com a atitude ousada de Dusk, pois ele poderia ter retirado alguém do grupo ou feito mudanças mais vantajosas para si mesmo. No entanto, escolheu ajudar outras pessoas.

— Em todo o tempo que estou aqui, nunca vi uma sentinela ter tal atitude — comentou Evelyn, impressionada.

— Tem certeza disso? — confirmou Ais, intrigado.

Dusk balançou a cabeça afirmativamente, sentindo-se satisfeito por dentro. Apesar de poder ter sido egoísta naquela situação, ele reconheceu a grande vontade que Lionel e Natasha tinham para se tornarem sentinelas.

Depois das mudanças feitas pelos outros três indivíduos com o orbe vermelho, dois pediram para trocar de lugar com outros sentinelas e o último escolheu remover um membro da equipe em troca de outro. Assim que todos os movimentos foram concluídos, os capitães começaram a designar os onze tenentes para cada grupo de forma aleatória, restando apenas Mília e mais duas pessoas.

— Como Mília foi escolhida pelo grupo de Alexia como comandante, ela assumirá rapidamente a função. Os dois que sobraram serão juntados a Lionel e Natasha, conforme o pedido de Dusk — informou Evelyn.

— Agora que todos estão cientes de seus grupos, farei um pronunciamento como líder dos capitães — disse Ais. — Estou satisfeito com os novos recrutas deste ano. Vejo muitos potenciais à minha frente. Depois de muitos anos, vejo tanta gente talentosa reunida. Espero que tenhamos uma ótima convivência e que honremos o legado de Thesena. Com a ajuda de vocês, espero que consigamos acabar com os Etéreos e pôr fim a esta guerra infernal.

Com o discurso de Ais, a sala explodiu em aplausos e gritos de euforia. A atmosfera era de pura energia e excitação.

— E eu? Não vou receber aplausos também? — brincou Evelyn, provocando risos e uma nova rodada de gritos e aplausos em seu nome. — Assim está melhor.


Continua no Capítulo 17: Inicio Como Um Sentinela

Apartir do Próximo Capítulo começa o Arco 3



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