Volume 1 – Arco 2

Capítulo 18: Fumaça Insuportável

Um homem alto, por volta dos 30 anos, corria por uma rua deserta, cheia de carros velhos e abandonados, sem olhar para trás. Seu físico impecável e músculos definidos destacavam-se, como os de um fisiculturista.

“Preciso acelerar o passo, aparentemente existem apenas cinco etéreos para abater, entretanto, ainda há 39 em busca da posição de sentinela.”

Com sua atenção aguçada, ele percebeu movimentações ao redor. Alguns praticavam parkour pelos edifícios, enquanto outros marchavam na mesma direção que ele. Havia uma multidão considerável ali.

— Parece que, no final, haverá um grande confronto onde todos estarão lutando uns contra os outros — ele supôs.

 

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Em um edifício mais alto que os demais, uma mulher observava atentamente a rua abaixo, onde o jovem, Dusk Tedimir, estava lutando contra um Etéreo do tipo elfo que usava poderes de controlar fumaça.

Este confronto era tão envolvente e emocionante que a jovem devorava um balde de pipoca, já que, para ela, aquilo parecia cinema puro.

— Esse menino até que está segurando bem contra aquele monstro, nem parece que foi ele que eliminou 18 pessoas deste exame.

Ela começou a notar o que ocorria ao seu redor, várias pessoas, visivelmente apressadas e aflitas, corriam desesperadas em direção ao local onde Dusk se encontrava.

— Se ele quer ser tanto um sentinela, tem que acabar isso no próximo ataque, se não daqui a pouco tudo aqui vai ficar lotado. — Ela umedeceu os lábios ressecados. — Mas para mim não faz diferença nenhuma, só preciso de uma oportunidade para roubar o orbe de passe.

 

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A poucos quilômetros de distância, uma jovem empunhando um par de manoplas de ferro diminuiu a distância contra um Etéreo da espécie anã.

A criatura tentou, sem sucesso, atacá-la com seu pequeno machado. Contudo, com uma esquiva ágil e um golpe efetivo no centro do rosto, ela conseguiu derrotá-lo.

O corpo do monstro se desintegrou, transformando-se em pó. No local onde ele desapareceu, um orbe negro se materializou. Este era o bilhete de entrada para se tornar um sentinela.

— Olha Maurice!!! Consegui derrotá-lo. E você? Está tranquilo do seu lado?

Um jovem extremamente magro, tão esguio que até mesmo a brisa mais suave poderia levá-lo consigo, estava sendo perseguido atrás por outro Etéreo também da raça anã.

— O que está fazendo? — perguntou a moça.

— Esse anão é muito forte, não sei se consigo vencê-lo. Não quero ser eliminado!

— Só você tomar cuidado com o machado dele, de resto vai dar tudo certo.

— Falar é fácil, o difícil é fazer, mas vou tentar.

Ele rapidamente pegou um violão de suas costas e tocou uma melodia rápida com movimentos fortes e precisos. Ao mesmo tempo, lançou um feitiço verde contra o anão, que foi atingido diretamente e cortado ao meio.

— Aé!!! — comemorou a moça enquanto batia palmas. — você conseguiu. Viu só? Não precisa de muito reforço, você já é forte por si só, precisa trabalhar essa sua autoestima.

— Lá vem você com esse papo motivacional de novo. Não são tão boas quanto você com essas coisas.

— Se você continuar agir assim, vou ficar irritada e brava. Tenha um pouco de confiança pelo amor. Escuta aqui, além de usar magia musical que já é um grande feito por si só, ainda por cima você namora comigo, não sei porque fica agindo assim, tendo tudo isso.

— Sabe como é. Azar no dinheiro e na luta, mas sorte no amor — ele respondeu prontamente.

— Oh, sim. Assim que se fala — ela disse meio envergonhada.

— Vamos lá?

Os dois agora tinham um orbe cada deixado pelos anões e após um círculo mágico verde aparecer foram teleportados para fora dali ao mesmo tempo.

 

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Dusk, um jovem empunhando uma espada, tinha como meta tornar-se um sentinela. No entanto, Alred, um elfo feiticeiro, estava em seu caminho, representando um obstáculo em sua jornada. Portanto, para alcançar seu objetivo, Dusk precisava vencer Alred antes de tudo.

— Onde está? O que planeja fazer? Até o presente momento, não conseguiu acertar em mim uma única vez. Como acredita que conseguirá me derrotar dessa maneira?

— Há. Porque quando atingi-lo uma vez, será o fim para você — disse Dusk.

Sem hesitação, Dusk disparou em direção ao elfo, preparado para derrotá-lo. No entanto, em resposta, Alred ergueu ambos os braços. Do meio da fumaça, enormes formas de correntes grossas e sólidas se elevaram e avançaram em direção ao jovem.

O jovem, ao perceber que aquilo possuía a força suficiente para esmagá-lo, desviou-se do primeiro objeto que atingiu o solo com extrema intensidade, arrancando até mesmo um pedaço dele. Esse cenário repetiu-se novamente, com novos objetos sendo arremessados contra ele, e mesmo assim, ele continuou a desviar.

“Que coisa. Como ele consegue usar a fumaça dessa maneira? Tenho que acabar com ele rápido, já estou me sentindo um pouco exausto.”

Dusk estava ligeiramente ofegante quando um emaranhado de correntes o envolveu, assemelhando-se a uma intrincada teia de aranha.

Sem temor diante daquele cenário, ele estendeu a mão e a mana fluiu através dela. Um feixe de luz branca surgiu e um fantasma da mesma cor se materializou, disparando contra as correntes que o cercavam. Foram destruídas assim que houve o mínimo contato.

“Esse espectro, ao contrário do outro, parece ser mais eficaz contra ele. No entanto, preciso ter certeza antes de agir. Enquanto o fantasma negro absorve energia de qualquer fonte mágica, este faz o oposto, liberando-a e causando uma espécie de sobrecarga. Minha mãe costumava se referir a esse processo como 'purificação mágica'.

Mais correntes de fumaça surgiam em sequência, preparadas para um ataque efetivo. O fantasma branco operava nessa situação, destruindo todas as correntes. Dusk, então, fez o fantasma se integrar à lâmina da espada, assumindo sua cor.

— Alma Benevolente, vê se não vai me deixar na mão. Entendeu? Antes de entrar completamente na espada a mãozinha do fantasma fez um sinal de positivo.

Dusk fluiu mana por toda sua perna, coxa e pés, assim o fazendo ganhar um boost de velocidade, deixando um rastro de correntes arrebentadas para trás.

— Magnífico. Você não para de me surpreender! — Na boca de Alred, um sorriso de satisfação não desaparecia.

— Consegue falar o mesmo agora? — perguntou o garoto bem próximo do elfo.

A lâmina da espada cortou o ar com imensa ferocidade, mas sem grande esforço. Alred se esquivou habilmente, deixando a lâmina passar ao seu lado que liberou um feixe de luz por onde passou.

— Wow!

O elfo, impressionado com a força de Dusk, estendeu a mão em sua direção, liberando uma forte rajada de fumaça. No entanto, um fantasma branco emergiu diante do garoto, servindo como uma espécie de escudo protetor.

— O que foi, não consegue me acertar? — zombou o jovem.

Dusk girou o corpo, dissipando sua forma fantasmagórica, e se preparou para avançar sobre o elfo

— Pare! — Uma voz grossa e masculina deu a ordem. — Ele é o último monstro remanescente na arena, então deixe que pessoas qualificadas lide com ele.

Um homem imponente de estatura alta estava rodeado de pessoas. No local, todos ali tinham sangue nos olhos como cães famintos.

— Mas eu quem está o enfrentando agora. Se eu perder aí sim, que viriam as suas vezes.

— Não compreendeu? Não estamos pedindo, é uma competição individual. Todos aqui estão em busca do mesmo objetivo, e o prêmio vai para quem conseguir primeiro. Esta é a regra.

— Estou lascado! — reclamou Dusk.

Quando o elfo percebeu o crescente número de pessoas, uma densa nuvem de fumaça cinzenta se ergueu, cobrindo toda a área. Parecia que ele estava preparando seu próximo truque.

— Quer dizer que vocês acabaram com meus amigos? Ainda chamam nós de monstros. Pois bem, vou devorar todos aqui depois que os matá-los. Que tal antes de mais nada, propormos um jogo? Será uma partida de pega-pega e vocês tentarão me alcançar.

Quando o Etéreo falou tais palavras, a fumaça agiu como uma plataforma para ele, impulsionando-o a voar pelos céus.

— Como é? — Dusk ficou surpreso com essa nova habilidade do elfo.

Todos os presentes iniciaram uma corrida frenética atrás do elfo fugitivo, e Dusk não foi exceção, sua posição como sentinela dependia disso. Graças à sua velocidade excepcional, Dusk rapidamente se destacou, juntando-se a um grupo seleto de cinco outros indivíduos na liderança.

Quando Alred acreditou estar seguro, um adversário surgiu em sua frente, pronto para desferir um golpe com os pés em seu peito. A ação foi tão rápida que Alred não conseguiu evitar o impacto e acabou atingindo o chão. No entanto, com uma resposta ágil, o elfo lançou uma nuvem de fumaça contra o oponente, eliminando-o imediatamente.

Os seis atacantes ágeis aproveitaram o momento de vulnerabilidade para lançar seus golpes, contando também com Dusk entre eles. No entanto, como já havia feito anteriormente, Alred ergueu uma barreira ao seu redor, bloqueando com êxito todos os ataques.

— Eu consigo quebrar isso — afirmou Dusk.

Antes que conseguisse utilizar seu espectro, ele observou Alred se preparar para outro ataque, batendo a palma da mão no chão. Como resultado, uma grande nuvem de poeira se ergueu, gerando uma intensa onda de choque que lançou todos nas proximidades para longe.

Dusk voou vários metros e colidiu fortemente com um muro, causando uma forte dor em seus braços, pernas, costas e cabeça.

Apesar de estar consideravelmente debilitado, ele conseguiu, mais uma vez, criar um fantasma benevolente. Assim como havia feito alguns dias atrás, ele o utilizou para curar suas feridas.

— Ainda bem que o fantasma branco tem propriedades mágicas.

Enquanto se recuperava no canto para retomar a batalha, ele direcionou sua atenção ao elfo, que estava novamente sendo cercado por uma multidão de pessoas.

De repente, uma senhora lançou uma bola de boliche que, à medida que rolava em direção ao monstro, aumentava de tamanho progressivamente.

Com uma única mão, ele produziu uma nuvem de fumaça, destruiu a bola e, usando o mesmo efeito, atacou e eliminou a mulher rapidamente.

Ao perceber que o monstro era um adversário formidável, cinco espadachins, cada um com suas armas e características únicas, se apresentaram. Eles faziam parte do quinteto com o qual Dusk havia se juntado para o ataque, e todos iniciaram a batalha de maneira destemida.

O primeiro lançou um ataque que visava rasgar o tronco da criatura de baixo para cima, porém, graças à uma hábil esquiva, o golpe falhou. Como consequência, foi atingido pelo feitiço lançado pela criatura.

Já o segundo parecia um corredor, buscando uma oportunidade para atacar. Mas antes que pudesse agir, o monstro se aproximou rapidamente e o eliminou da competição.

Os três remanescentes entraram em estado de alerta máximo. Eles reconheceram a necessidade de união para combater tal ameaça. Assim, cada um assumiu uma posição estratégica, iniciando o ataque e bloqueando todas as possíveis rotas de fuga de Alred.

No entanto, o resultado permaneceu o mesmo. Com um movimento de mãos, várias correntes enormes surgiram da névoa ao seu redor, atingindo diretamente o trio.

No meio disso, uma caixa caiu precisamente onde o Etéreo se encontrava. Graças ao seu reflexo rápido, ele conseguiu escapar. Foi então que ele notou uma garota segurando um smartphone. Ao olhar para a caixa que caiu, ele não o reconheceu. No entanto, era um ícone de um aplicativo de bate papo, materializado em forma real.

Outro ícone estava prestes a desabar sobre ele, mas com sua precisa mira e força adequada, ele conseguiu neutralizar o ataque. Um amplo sorriso então surgiu em seu rosto.

— Que magia interessante. Estou conhecendo um monte de coisas novas hoje. Vamos ver como consegue lidar com isso?

Por trás da garota, uma vasta quantidade de fumaça se ergueu, imponente como um tsunami. A onda desceu com uma força avassaladora, deixando-a sem tempo para reagir. Antes que pudesse perceber, já estava submersa nela.

— Todo mundo aqui é fraco? Tem ninguém para me entreter e mostrar magias novas? — reclamou o elfo.

Nessa situação, mais de 30 pessoas se reuniram ao redor dele, todas com expressões intensas e dentes cerrados. O ambiente estava carregado de tensão e angústia, era possível sentir a atmosfera pesada.

Após se recuperar com a magia do fantasma branco, Dusk esbofetou suas próprias bochechas, uma maneira de se reanimar e prosseguir. Ele recuperou sua espada caída e, com a cabeça erguida, retomou o confronto.

— Bora lá.

Assim, ele tentou se infiltrar entre aquelas pessoas, mas Alred, o indivíduo no centro de tudo, começou a gritar a plenos pulmões para garantir que todos o ouvissem.

— É engraçado. Por que todos que enfrento acham que precisam me encurralar para me vencer? Acham que sou um animal indefeso? — perguntou Alred.

Todos ouviram suas palavras, que foram basicamente um insulto dele para os outros. Irritados, começaram a protestar ruidosamente contra ele.

— Vou acabar com isso rápido, prometo. Estou morrendo de fome e pelo que vejo, tenho um grande banquete. — O elfo fechou os olhos. — Permita-me compartilhar um breve relato histórico sobre mim. Houve uma ocasião em que participei de uma guerra. O evento ocorreu na cidade de Nertley e está vívido em minha memória. Fui cercado por vários adversários, o que me levou a acreditar que seria o meu fim. No entanto, tive que recorrer ao meu trunfo para conseguir escapar.

Elevando a mão com a palma aberta, uma densa nuvem de fumaça começou a se mover naquela direção, formando-se então em um espiral gigantesco, um imenso Vortex. O que aconteceria era incerto para todos, mas uma coisa era segura: um ataque devastador estava a caminho.

Mesmo de longe, Dusk percebeu a formação daquela magia. Ele podia sentir que a energia emitida era extremamente alta, e sabia que precisava agir rapidamente para evitar problemas.

— Se protejam! — declarou Dusk.

— Calado, Ele é só um monstro qualquer, não tem poder para eliminar todos aqui — disse um sujeito desdenhando do que foi dito.

— Não é hora de bancar o arrogante! — alertou Dusk, levando o braço para frente.

— Aquele que sobreviver a isso terá a honra de me enfrentar, em meu potencial máximo — expôs Alred.

À medida que o vórtice mágico se intensificava, um silêncio profundo e surpreendente tomou conta. Nem um batimento cardíaco podia ser ouvido. Todos ficaram alertas, temendo que essa calma pudesse indicar uma tragédia iminente. Não deu outra, depois de um mega estrondo a magia do Etéreo se expandiu rapidamente pela área em segundos.

Aconteceu algo tão intenso que aqueles na vanguarda foram instantaneamente teleportados para fora do exame. Grandes nuvens de fumaça se dispersaram enquanto o espiral eliminava cada um deles. Era como estar diante de um furacão violento.

Após conjurar um espectro branco que bloqueava a magia, ele se encontrou em uma posição segura. Contudo, aqueles ao seu redor não desfrutavam da mesma proteção. Assistiu, impotente, enquanto todos desapareciam na fumaça e eram eliminados.

— Para com isso, idiota!

Num ato de fúria, Dusk expandiu o tamanho de seu fantasma, e ao fazê-lo, gerou uma imensa explosão. Esta resultou em uma elevação de energia branca tão intensa que era visível mesmo a grande distância.

A situação era inescapável; a fumaça já havia se espalhado por todos os cantos, tornando impossível enxergar até mesmo a própria mão estendida à frente. Permanecer perdido nesse ambiente é um convite para ficar sufocado e passar mal.

Depois que o ar se aquietou e dispersou, a figura solene e solitária do elfo era a única coisa que restava. Contudo, ele não estava sozinho. Com a respiração ofegante e marcas de ferimentos no rosto e nas mãos, Dusk ainda permanecia de pé.

— Você não para de me surpreender. Quanta garra! quanta força de vontade! Vejo nada assim há tempos.

Esforçando-se para controlar sua respiração e manter a calma a fim de tomar uma decisões boas, Dusk, ainda com a espada em prontidão, direcionou-a para o elfo, mantendo uma expressão séria no rosto.

— Eu sei pouco sobre você e isso não me importa. No entanto, há algo de que estou certo. Pessoas como você, eu só quero encher de porrada!!!



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