Volume 1 – Arco 2
Capítulo 15: Quem pega o Ogro?
Após a abertura dos portões, as 100 pessoas designadas para realizar o exame dispersaram-se por toda a área, que se assemelhava a uma pequena cidade repleta por monstros.
Dusk e Gwen percorriam juntos uma rua quase deserta. Apesar da aparente calmaria, podiam ouvir ao redor, os aterradores gritos de monstros, o estridente barulho de metais se chocando e ocasionais explosões, pintando um autêntico quadro de guerra.
— Dusk. Acho melhor separar-mos aqui. Será melhor para nós dois se conseguirmos encontrar e derrotar um Etéreo sozinho — sugeriu Gwen.
— Sim, mas vamos combinar o seguinte: nada de nos sabotar, se um tiver lutando contra um monstro, o outro não pode interferir.
Acenando afirmativamente com a cabeça, Gwen deu alguns passos para se afastar, mas logo se virou de volta.
— É melhor você passar nesse exame, para lutarmos juntos na mesma equipe. Não é porque você vai estar sozinho, que poderá usar isso como desculpa — alertou ela.
— Pode ficar tranquila, claro que irei passar. Aliás, não estou sozinho, tenho os meus amigos fantasmas para me ajudar.
Um pequeno fantasma branco, do tamanho de uma bola de tênis, apareceu diante de Dusk. Ambos acenaram em despedida para ela.
━━━━━━◇◆◇━━━━━━
Em outra seção da área de testes, existia um local repleto de edifícios imponentes, variando de cinco a dez andares. Na rua em frente a esses edifícios, pessoas empunhavam espadas, pistolas ou até mesmo utilizavam suas próprias mãos para combater um monstro.
Assumindo uma postura observadora, uma jovem encontrava-se no topo de um edifício, recostada no parapeito, assistindo ao temível elfo eliminar diversos competidores. Sempre que os participantes se feriam ou estava à beira da morte, eram instantaneamente teleportados. Este efeito ocorria após o surgimento de um círculo mágico verde que emanava dos broches no peito.
A jovem girava habilmente uma pistola no dedo, enquanto seu longo cabelo, preso em um rabo de cavalo, dançava com o vento.
— Ainda não é hora de agir — ela comentou.
Com um amplo ponto de observação, ela avistou Dusk e um rapaz de cabelos longos e negros, empunhando uma espada, esse era Bennet Pardian, os dois corriam pela rua.
— Aquele, Bennet Pardian e o outro, os dois não merecem meu respeito. Sei que pensam só por serem filhos de pessoas famosas, podem tudo por serem privilegiados. Tenho certeza que eles tem tudo do bom e do melhor — ela fez um julgamento.
Apoiando a cabeça no parapeito, ela estendeu a mão e, com o polegar, apontou para um dos prédios.
“Pessoas de verdade, são aquelas que podem se levantar sem ajuda de ninguém. Por muito tempo tive que me esforçar ao máximo. Não tenho uma magia muito chamativa, contudo é eficaz. Em combate físico, sou um desastre! Treinei vários estilos, Karate, Kung fu e até capoeira, mas nada funcionou.” ela pensou.
Ela apontou sua pistola de forma ágil para o prédio que avistou ao erguer o polegar. Com um único tiro, a bala cortou o céu, atravessou uma vasta avenida e penetrou por uma janela aberta, atingindo um botijão de gás.
Kaboom!!!
Ao ver a imensa explosão ao fundo, um sorriso de satisfação emergiu em seu rosto, como se ela tivesse prazer em ter causado aquilo.
— Só que se alguém entrar na minha mira, não vai adiantar chorar, pois será o fim.
━━━━━━◇◆◇━━━━━━
Onde quer que Dusk passasse, ele conseguia ouvir ao fundo um grito bestial estrondoso. Como precisava ser rápido para encontrar um monstro e derrotar, ele corria com toda a velocidade possível.
O local parecia ter apenas prédios simples e antigos, todos bastante desgastados, com tijolos visíveis em muitos pontos. Na rua, carros enferrujados e o asfalto danificado contribuíam para o cenário de decadência.
Pouco adiante, presenciou uma cena incomum: o corpo de um homem voava pelo ar e, antes que colidisse contra um muro, um círculo mágico foi ativado, teleportando-o imediatamente.
Havia aproximadamente quinze pessoas, que, apressadas, viraram a esquina correndo a uma alta velocidade, como se suas vidas dependessem disso. Pedaços de muros e carros voavam logo atrás delas. Quem estivesse atirando tais objetos deveria ser alguém de grande força.
Uma criatura imensa de três metros apareceu, a mesma que havia atacado o portão segundos antes do início do exame. Era um Ogro com grandes presas afiadas.
Empunhando seu robusto bastão de madeira, ele atingiu o solo com tamanha intensidade que causou a formação de uma cratera no ponto de impacto.
— Covardes, vocês vão fugir assim? Cadê a honra? Parecessem até coelhos fugindo do predador! — provocou o monstro.
Um indivíduo se posicionou diante de Dusk. Sem fôlego, ele se apoiou no joelho com as mãos enquanto tentava regular sua respiração.
— O que aconteceu? — perguntou Dusk.
— Não é óbvio? Fomos atacar aquele monstro, porém ele ficou irritado e agora está vindo atrás da gente.
Uma mulher empunhando duas adagas e um homem utilizando manoplas em ambas as mãos, avançaram contra o Ogro.
O homem, com seu punho cerrado, desferiu um golpe preciso com sua luva de ferro. No entanto, o Ogro aparentou não sentir qualquer dano, permanecendo imóvel.
Aproveitando a oportunidade, a mulher cravou a ponta da adaga no monstro, mas isso também não teve efeito.
O ogro brandiu seu porrete contra eles, mas eles habilmente se esquivaram. Em sincronia perfeita, cada um deles desferiu um golpe preciso na cabeça do ogro.
— Que ridículo. Como um soldado de elite, darei a vocês uma morte rápida — anunciou o monstro.
Ele pegou a dupla com suas mãos e começou a pressioná-los. Todos, incluindo Dusk, tentaram ajudar. No entanto, o teleporte foi ativado e os dois foram desclassificados.
— O que foi isso? Espremi com toda força, mas minhas mãos não ficaram sujas de sangue.
Ao perceber que ser pegos significaria perder, os outros continuaram correndo, deixando Dusk para trás.
— Você não vem? — perguntou aquele que recuperou o fôlego.
— Não, vou derrotar ele primeiro.
— Impossível vencer essa coisa, mas isso é ótimo, assim ganhamos tempo para fugirmos.
O monstro esverdeado, de presença ameaçadora, avançou de maneira imponente, fazendo tudo tremer, até ficar frente a frente com o garoto..
— Vejo que você é um guerreiro de coragem. Vai lutar pra valer ou vai fugir também?
Empunhando a espada que Dusk havia adquirido mais cedo, ele a desembainhou, revelando sua lâmina levemente curvada de cor cinza. O cabo apresentava uma combinação de preto e branco, e a arma, ao todo, media 105 centímetros.
— Minha filosofia é a seguinte, primeiro bato e se precisar depois fujo — falou em tom de brincadeira Dusk.
Dusk não achou onde colocar a bainha da sua espada. Usou uma corda que achou, amarrou na cintura e colocou a bainha atrás. Com a espada pronta, se preparou para lutar e foi ao encontro do Ogro.
O enorme bastão foi atirado em Dusk, que com habilidade desviou por escorregar. Aproveitando uma abertura, ele fez um corte exato no joelho do monstro.
No entanto, a ferida que ocorreu, logo cicatrizou. O ogro tentou pisoteá-lo, mas Dusk habilmente se esquivou. Ambos ganharam impulso e suas espadas colidiram outra vez, desta vez parecendo estar em um confronto acirrado.
Tanto o monstro quanto o jovem se encontravam em um embate de força, no qual a derrota aguardava aquele que cedesse primeiro.
De repente, surgiu um indivíduo que acertou um chute na costela do Ogro, fazendo-o ser lançado a uma distância considerável e derrubar dois muros em seu trajeto.
Aquele que fez isso, parou na frente de Dusk, ele tinha cabelo espetado laranja assim como a cor de seus olhos, esse tinha um olhar de superioridade.
— Não entra no meu caminho, eu irei derrotar esse monstro — ele declarou.
O jovem que arremessou a criatura para longe era o mesmo que estava envolvido em uma discussão minutos antes, situação na qual Evelyn teve que intervir.
— Estou lutando com ele no momento — argumentou Dusk.
— Aquela troca de golpes? Se você fosse bom, acabaria com ele rápido.
Com os ombros caídos, os olhos de Dusk pareciam ligeiramente desanimados, refletindo um total desânimo.
“Ele tem um ponto”
— Eu estava apenas o testando, para ver se ele aguenta com todo meu poder — deu uma desculpa Dusk.
— Você não entende! Que cara irritante!
De maneira ágil, o jovem de cabelos cor de laranja desembainhou uma espada de suas costas, onde estava guardada. Com um movimento rápido, ele lançou contra Dusk, que se defendeu por reflexo.
— Eu vou derrotar esse Etéreo, não se meta. Entendeu? Caso contrário as coisas vão ficar feias pro seu lado. — gritou com tom ameaçador aquele sujeito.
— O que isso? Agora você se perdeu! Primeiro, você dá um golpe baixo, pegando o Ogro de surpresa, coisa que claramente eu faria. Segundo, tenta roubar meu adversário e número três, você me ataca sem um aviso prévio. Imagina se eu tivesse desatento, teria morrido com certeza.
— Sua voz me irritando demais, e aliás, se eu visse que era fraco, avisaria antes de atacá-lo e desmaiaria.
— Entendi, chegarei assim nè: Eu vou dar um golpe em você, provavelmente vai desmaiar, mas fique tranquilo. Aí faz como se fosse a coisa mais normal do mundo?
— Estou errado? Pelo menos irei estar avisando.
— Foda-se, voce esta todo errado na situação — zombou Dusk.
Enquanto os dois adolescentes discutiam, o Ogro apareceu confuso e desorientado entre os destroços do muro caído.
Antecipando um possível ataque a qualquer momento, ele recolheu o porrete que havia caído e se armou. Porém, ao direcionar seu olhar para os garotos, viu os dois em meio a uma discussão, trocando golpes de espadas como se fossem duas crianças.
— Horr!!! Vocês fedelhos como ousa me fazer de bobo, não importa quem chegou primeiro ou por último. Sou o verdadeiro oponente, então prestem atenção em mim. Como soldado, tenho a honra de ser guerreiro.
Tanto Dusk quanto o jovem que acabara de chegar, estavam parados em uma pose de combate quando ouviram aquelas palavras.
— Veem logo me enfrentar, por acaso estão com medo também? — ameaçou aquele monstro.
— Não enche estamos num papo sério, para ver quem vai te enfrentar — disse Dusk.
— Isso não vale a pena, sei que sou o mais forte entre nós aqui — falou Kevin.
Com seu grande porrete de madeira, o ogro bateu no chão e lançou um olhar ameaçador, seguido de um rugido alto de seu âmago.
Aquele não foi um grito comum. Com o som produzido, os corpos dos dois meninos foram impulsionados para trás pela onda de impacto.
Um ogro verdadeiramente assustador, despertando medos sutis e completamente enfurecido, avançou contra a dupla.
— Sendo membro da família Dramus, é meu dever eliminar todo Etéreo que entrar no meu caminho. Kevin Dramus!!! Grave esse nome, daquele que trouxe o seu fim.
Kevin assumiu a dianteira, posicionando-se para correr. Ele inclinou o corpo, apoiando-se com a palma da mão no chão, e posicionou sua longa espada atrás de suas costas.
— Segunda forma: Garras de Fronus!!! — ele disse.
Um dragão se manifestou ao redor de Kevin, possuindo um corpo esguio coberto de escamas. Sua cauda, longa e flexível, estava armada com pequenos espinhos. Possuía também, asas imensas que emergiam de seus ombros, lembrando as de um morcego.
Ele parecia ser um ser real, porém Dusk percebeu que, na verdade, era uma aura, já que conseguia discernir Kevin no centro daquela criatura impressionante.om pequenos espinhos. Ele também tinha enormes asas que saíam do ombro parecendo de um morcego.
Como um vulto, ele surgiu próximo ao Ogro. Com movimentos ágeis de sua espada, desferiu três cortes precisos. Simultaneamente, a sua aura de dragão, dotada de enormes garras, rasgou o Ogro no mesmo local por onde a lâmina passou.
Devido a isso, o corpo do Etéreo se fragmentou em três partes: superior, médio e inferior. Como resultado de sua derrota, a criatura se desintegrou em pó. No local onde desapareceu, uma esfera de cor preta caiu e a aura de dragão que envolvia Kevin se dissipou.
— Olha que danado!!! Roubou meu adversário seu larápio safado! — disse indignado Dusk.
— Larápio? Quem que usa essa palavra hoje em dia? Mas foi isso mesmo otário! Não prestou atenção, perdeu. — Despediu Kevin acenando com a mão.
Ao tocar o orbe no peito onde se encontrava o broche, o círculo mágico verde foi ativado, provocando um teletransporte imediato. Isso deixou Dusk com cara de tacho.
━━━━━━◇◆◇━━━━━━
Kevin estava em uma sala espaçosa, com uma mesa enorme no centro. Ais Pardian e Evelyn Bladow estavam sentados, com suas atenções totalmente focadas nele.
Havia várias cadeiras vazias, no entanto, algumas já estavam ocupadas por aqueles que terminaram o teste rapidamente. No total, havia cinco pessoas ali.
— Meus parabéns, foi um dos primeiros a passar — disse o capitão sentado na ponta da mesa, Ais.
Ignorando as palavras que foram direcionadas a ele, Kevin virou as costas para a dupla e ocupou um assento vazio, estrategicamente isolado dos demais.
— Ais, você está perdendo respeito, hein! — Brincou com a situação Evelyn.
Kevin fechou os punhos e os apertou com força como se tivesse reprimindo algo, ele apertou os dentes, suas sobrancelhas profundamente franzidas, parecia que poderia explodir de raiva a qualquer momento.
— Esse exame foi nada de mais. Minha viagem pelos outros países foram mais desafiadoras. Precisei só de 5 segundo contra meu oponente, fraco. Se não fosse por aquele moleque seria mais rápido ainda — falou Kevin.
“Posso deixar que ninguém me atrapalhe. Em nome de Colin Dramus, o maior espadachim que já existiu, prometo atingir meu objetivo.”
A declaração que ele fez em voz alta foi evidentemente para atrair a atenção. No entanto, mesmo concentrada na projeção holográfica que exibia os demais participantes, Evelyn foi a única que se interessou pelo que o garoto disse.