Volume 1 – Arco 2

Capítulo 14: Batalha Tripla

Sem forças para continuar e com o corpo todo dolorido, Dusk foi lançado violentamente contra um muro, sem nem conseguir ver quem o atacou.

— Ai! Quem deu esse golpe sujo?

Mesmo com seus músculos e ossos pedindo por descanso, ele se esforçou ao máximo para não perder a consciência. Foi até sorte que o círculo de teleporte não o tivesse levado diretamente para o centro médico.

À sua frente, ele avistou o homem com quem conversou instantes antes do exame começar. Alto e musculoso, com pernas e braços grossos, seu porte bem definido era evidente debaixo do traje de luta. Com um largo sorriso no rosto, o homem se aproximou para pegar o orbe que o elfo havia deixado para trás. Para ele, com Dusk nocauteado, aquele prêmio seria seu.

— Olha como ele é. Além de acertar os outros por trás, ainda vai roubar o prêmio dos outros. — disse Dusk, tentando se levantar, mas suas pernas machucadas pelo impacto não o permitiam.

Quando o sujeito estava prestes a tocar na esfera avermelhada, um estouro alto ecoou. Era o som de um disparo de arma, e um projétil rasgou o ar. O homem foi jogado metros para longe, atingido em cheio no estômago por um projétil que caiu diante de Dusk. Como o exame não permitia mortes, o sujeito não foi perfurado.

— Garotos são tão descuidados, não acham?

Uma bela moça, segurando uma pistola, com o cabelo amarrado num rabo de cavalo, usando um cropped que deixava a barriga à mostra e calças folgadas, pousou na frente do orbe.

— Eu, Natasha, a maior pistoleira da resistência, serei a grande sentinela!

Agachando-se rapidamente, ela pegou a esfera que servia de passe no exame. Notando o sujeito com roupas de lutador se levantar após o tiro, Natasha decidiu fugir para um local mais calmo.

— Fedelha! Devolva! Isso é meu! — gritou o homem.

Frustrado e irritado, ele foi atrás da moça, que surpreendentemente era rápida em correr e realizar saltos precisos como uma acrobata.

— Agora tem uma espertinha e um lunático idiota. Esse exame está muito difícil. — choramingou Dusk. Tentando se automotivar, ele deu um tapa em suas bochechas. — Para, Dusk, não é hora para essas coisas. Foca no que você tem que fazer.

Sentado e com muita dificuldade, Dusk fez fluir mana pelo braço, e um fantasma branco se formou. Com propriedades de cura, o espectro entrou em Dusk, emitindo uma luz fraca que restaurou seus órgãos e músculos danificados. Mesmo assim, ele ainda sentia dor e exaustão.

— Não acredito, vou ter que lutar pela terceira vez?

Sem outra alternativa, ainda sentindo um pouco de dor, mas conseguindo se mover, ele se levantou, usando sua espada como apoio.

 

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Em um vasto campo verde, com grama baixa e uma árvore gigantesca e solitária, Natasha estava com sua pistola, mirando no tronco onde havia uma mira feita manualmente. Atrás dela, poucas pessoas a observavam com certa tensão em seus olhares. Algumas casas estavam espalhadas ao redor, mas ao longe, no horizonte, era possível avistar a imponente metrópole de Cradel.

Depois de respirar profundamente, concentrando-se no presente, Natasha pressionou o gatilho com o dedo indicador. O som do disparo ecoou, e a bala cruzou o ar em um instante, acertando o centro exato do alvo. Ela conseguiu essa proeza sem sequer infundir mana na pistola.

Na hora do almoço, ela e seus irmãos se reuniram em torno da mesa para apreciar o delicioso banquete que sua mãe havia preparado para celebrar uma data especial.

— Parabéns, filha, você conseguiu entrar para a resistência. Não sabe quão orgulhosa estou.

— Nossa irmãzona é demais! — concordaram as crianças.

Inspirados pelo exemplo e repletos de admiração, todos os seis irmãos mais jovens expressaram seus sentimentos de orgulho. Para eles, ter um membro da família nessa posição era motivo de grande celebração.

— Então, os calos que adquiri ao segurar uma arma valeram a pena. — Natasha parecia um tanto autocrítica, pois, embora desejasse fazer parte da resistência, também ansiava preservar sua beleza. Desviando o olhar das mãos, ela disse — Não vou pensar nisso, pois com o tempo as marcas do meu esforço vão sumir.

Para surpresa de todos, no meio da tarde, o local onde residiam foi invadido por Etéreos do tipo golems de pedra. O ataque devastador reduziu todas as casas a escombros, tornando-as inabitáveis. Infelizmente, o processo resultou em uma grande quantidade de feridos e mortos.

Embora Natasha fosse a única lutadora naquele local, ela teve dificuldade em causar danos, pois seus projéteis ricocheteavam ao atingir as criaturas de rocha. A tensão no ar era palpável, cada segundo trazia mais destruição e desespero.

Quando Natasha vislumbrou seu fim se aproximando nas mãos de uma colossal figura de pedra, um fio de cabelo púrpura cruzou sua vista. Uma mulher, empunhando um imenso machado, devastava todos os monstros ao redor num simples piscar de olhos.

 

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Natasha rapidamente adentrou um edifício e subiu as escadas com urgência, consciente de que havia pessoas atrás dela, à procura do orbe roubado.

"Pela memória de minha mãe e pelo futuro de meus irmãos, prometo que serei uma grande sentinela. Acabarei com cada monstro que cruzar meu caminho, assim como Ueno fez naquele dia."

Ao abrir a porta com ímpeto, ela se encontrou em um amplo terraço. Ao redor, apenas mais construções eram visíveis, sem indício de outras pessoas nas proximidades. Em meio à tranquilidade do ambiente, ela direcionou a esfera vermelha para o broche em seu peito, com a intenção de sair logo dali.

Nesse exato momento, um homem vestido com trajes de lutador despencou do céu como um meteoro, aterrissando com força no local. Seu impacto no chão causou um ligeiro tremor, fazendo Natasha perder o equilíbrio e deixar o objeto cair.

— É muita ousadia sua roubar as coisas dos outros!

— Olha quem fala. Não foi você quem pegou primeiro daquele rapazinho? — ironizou Natasha.

— Aquele? Deu muita brecha. Baixou a guarda e perdeu, assim é a vida.

Neste momento, uma nova figura emergiu da porta que leva ao terraço. O menino de cabelos grisalhos e olhos roxos, Dusk Tedimir, com sua espada em mãos, estava preparado para o combate.

— Eu só tenho uma pergunta… Como vocês saíram daquele ataque do elfo? Ele não tinha atingido toda a área do teste?

Esse tipo de questionamento surpreendeu ambos, pois esperavam receber ofensas ou insultos de sua parte devido ao furto que cometeram.

— Me protegi com uma barreira de Mana! — respondeu o homem.

— Eu estava no topo de um prédio, observando tudo. Parece que o ataque foi direcionado especificamente à área onde vocês se encontravam, pois fiquei segura onde estava.

Naquele instante, a esfera vermelha que Natasha havia deixado cair começou a rolar, parando exatamente entre eles. Os três desviaram seu foco para o objeto e, em seguida, para seus oponentes. Encontravam-se em um impasse.

Dusk pegou a bainha amarrada em sua cintura e guardou sua espada dentro dela. No entanto, isso não foi um sinal de rendição, pois em seguida adotou uma postura de combate.

— O que vai fazer? — perguntou o homem, atento ao movimento de Dusk.

— Eu tenho uma moral clara de não ferir outros humanos, só Etéreos, a menos que a pessoa mereça.

Natasha, Dusk e o homem lutador se encontravam em um dilema intenso. Qualquer um deles poderia tentar avançar e pegar a esfera, mas estavam cientes de que, se alguém o fizesse, os outros o impediriam. Portanto, a máxima cautela era necessária.

— Eu sou Natasha, faço parte do grupo de resistência de Cradel. Sou a soldada mais habilidosa que esse lugar já viu e sempre estou preparada para tudo. — Rompendo o silêncio predominante, Natasha moveu sua mão vazia para trás da cintura.

Com uma expressão de incerteza, o homem vestido de lutador se voltou tanto para a jovem quanto para o menino. Nenhum deles se movia, então, tomando a iniciativa, ele foi o primeiro a avançar na tentativa de pegar o orbe.

Ao perceber esse movimento, Natasha revelou um cilindro que retirou de seu cinto. Ela lançou-o no chão próximo ao local onde o homem estava, fazendo uma densa fumaça subir. Era uma bomba de fumaça.

Surgindo da névoa, o homem avançou. Seu objetivo não era obter a esfera, mas sim atacar Natasha. Graças aos seus excelentes reflexos, ela evitou o ataque e contra-atacou com sua arma. No entanto, ele se defendeu com a mesma destreza. O embate continuou, com ataques e defesas alternados.

Em contrapartida, Dusk, perdido no meio da fumaça, não tinha mais senso de direção para encontrar o orbe. Para piorar, alguns projéteis disparados por Natasha em combate passavam perto dele, quase o atingindo.

— De novo com isso? Estou cansado de ver tanta fumaça num dia só.

 

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Em um belo dia, uma criança robusta nasceu. Desde o momento de seu nascimento, ele já exibia sinais de força, um traço que se tornou cada vez mais evidente à medida que ele crescia.

— Bom, alunos! A partir de hoje teremos um novo amiguinho, Lionel Forcie! — a professora o apresentou no primeiro dia de aula.

Apesar de sua pouca idade, com apenas cinco anos, ele já possuía uma formação muscular notável que despertou a atenção de seus colegas de classe. Nas aulas de educação física, ele se destacava nas corridas, atingindo altas velocidades em um curto espaço de tempo. Além disso, quando competia em disputas de queda de braço com os valentões, sempre saía vencedor.

Com o passar do tempo, Lionel percebeu que sua força não era resultado de esforço, mas sim de uma genética aprimorada ou adaptada, o que ele mesmo não sabia dizer. Para manter essa força, ele se dedicou ao treinamento e, aos 11 anos, já era capaz de levantar um carro com uma única mão.

Anos depois, ele aprimorou suas habilidades em estilos de luta como boxe e combate de rua. Além disso, ele começou a frequentar academias, onde se destacava por ser o único capaz de levantar os pesos mais pesados sem nenhum esforço.

Ao chegar em um estágio da vida onde precisava obter renda, ele decidiu se tornar um lutador profissional de boxe. Devido à sua incrível resistência e força, conquistou vários prêmios ao longo de sua carreira.

Depois de algum tempo, ele fez uma pausa em sua carreira como pugilista. Aspirava a fazer algo mais significativo, algo que deixasse sua marca no mundo. Perdido em seus pensamentos, ele estava em um bar com seus amigos, quando algo na TV chamou sua atenção.

Faltam poucos dias para os exames dos sentinelas. Muita gente já está animada. Teremos a presença de pessoas e celebridades famosas, como Alexia Magus e Bennet Pardian, além da aparição dos capitães, Evelyn e Ais — informou o jornalista.

 

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Os três indivíduos no terraço lutavam com todas as suas forças. Dusk, no entanto, estava fora do combate, concentrado em capturar o orbe vermelho. Enquanto isso, Natasha e Lionel continuavam sua batalha incansável.

De imediato, Lionel notou que Dusk estava prestes a pegar a esfera vermelha. Ele tentou intervir, mas um breve momento de distração resultou em um chute doloroso no estômago, seguido de um tirambaço no mesmo local. Embora estes não lhe causassem ferimentos mortais, pois Natasha não tinha permissão para matar, infligiram uma dor intensa e agonizante que contorceu o rosto de Lionel.

Mesmo possuindo uma incrível determinação para lutar e uma forte vontade de continuar, ele ignorou a dor e cerrou o punho.

— Eu sempre sou aquele que vence! De uma forma ou de outra.

Com um golpe intenso que provocou um tremor ao redor, ele desferiu um soco no piso, gerando inúmeras rachaduras. Rapidamente, o chão cedeu, formando um enorme buraco e fazendo com que todos despencassem para o andar inferior.

O feito impressionante de força demonstrado por Lionel deixou Natasha e Dusk um tanto confusos. Apesar do golpe inesperado, ambos conseguiram aterrissar de maneira segura. Agora, encontravam-se em uma sala de estar pequena, rodeada por escombros e envolta em poeira, o que dificultava a localização de Lionel ou até mesmo ver algo com precisão.

Aumentando sua atenção à situação, ambos observaram a esfera avermelhada rolar e se posicionar novamente entre eles.

— Fica paradinho, ok? — sugeriu Natasha.

Levantando a pistola para atacar, ela direcionou sua mira para Dusk. Antes mesmo de estar totalmente na linha de fogo, ele se atirou para trás, caindo da mesa. No entanto, aproveitou o movimento para chutar o lado do móvel, fazendo-o tombar e se transformar numa barricada improvisada.

— Não adianta se esconder, vou destruir essa defesa rapidinho.

“Pior que ela tem razão, se continuar assim ficarei encurralado,” pensou Dusk, ao avistar uma pedra ao seu lado. Imediatamente, uma ideia surgiu em sua mente.

Natasha, alerta, percebeu algo sendo arremessado em sua direção vindo de trás da mesa. Instintivamente, ela atirou no objeto, que se despedaçou ao ser atingido. Foi só então que percebeu que eram pedaços de concreto maciço do teto.

Ela percebeu que aquilo poderia ser aproveitado como distração. Sem demora, Dusk, que se lançou em alta velocidade, avançou em sua direção, pronto para atacá-la com sua espada embainhada.

— Que fofo, um homem usando a cabeça para me enfrentar. Mas não vai adiantar nada, pois minha munição sempre acerta o alvo, não importando se eu erre ou acerte.

Com um disparo preciso e ágil, o projétil viajou na direção de Dusk, algo inevitável e impossível de se esquivar.

Porém, nesse instante, todo o braço do garoto assumiu uma tonalidade branca graças a um efeito de magia.

— O que acontece se eu usar a minha alma benevolente nessa coisa?

Com a bala próxima de acertá-lo, Dusk concentrou mana em seu braço, permitindo que sua mão interceptasse a bala antes que ela o atingisse, capturando o projétil firmemente em sua palma. Um pequeno brilho branco vazou entre seus dedos.

— Como pensei, tem magias embutidas nas suas munições.

Quando disse isso, soltou a bala e, enquanto caía, ela explodiu, liberando um feixe de luz, a mesma que nesse instante saiu do braço de Dusk.

— O que foi isso? — perguntou Natasha, meio sem entender.

— Simples, foi só uma sobrecarga mágica. Imbuí tanta energia nela que ela não aguentou e fez, Puff!

Dusk chegou bem perto de Natasha, movimentando sua espada para golpeá-la. Ela desviou-se no reflexo e, sem espaço e tempo para mirar e atirar, tentou desferir uma coronhada. Mas, usando o cabo da espada, ele se defendeu do ataque.

Eles prosseguiram com uma troca de golpes rápidos e curtos, porém precisos e diretos. Não havia margem para erros, pois a qualquer instante Natasha poderia acertar um tiro ou Dusk poderia atingi-la com seus golpes ou magia.

— Você não entende? Eu preciso me tornar uma sentinela, preciso do dinheiro para sustentar meus irmãos, pois não ganho nada sendo da resistência — falou Natasha.

Um golpe vindo dela foi direcionado e bloqueado por Dusk, que percebeu uma diminuição de força inconscientemente, significando que as palavras eram verdadeiras.

— Mas que papinho! Salvar outras vidas. Proteger quem amamos. Servir de combatentes para ter um futuro para as próximas gerações, isso que importa.

Emergindo inesperadamente de debaixo dos escombros que haviam caído sobre ele, Lionel retornou. Embora parecesse não estar bem ao proferir essas palavras, suas frases eram, ainda assim, genuínas.

— Para um soldado que vai mudar o futuro, é necessário primeiro ter força... isso tenho de sobra.

Quando disse isso, Lionel, agora com mais intensidade e força, socou o chão. Desta vez, com tanta força que toda a estrutura do prédio estremeceu, fazendo com que tudo e todos desabassem seis andares.


Continua no capítulo 15: Para se tornar um sentinela

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