Volume 1 – Arco 2

Capítulo 13: Complicações de Harry

O prédio de dez andares tinha um grande telão na entrada. Este mostrava imagens de um homem de meia-idade com um rosto agradável e duas jovens, provavelmente com 20 ou 22 anos.

Assim que Gwen, Harry, Evelyn e Dusk adentraram o local, o aspecto predominante que capturou suas atenções foi o ambiente altamente tecnológico. Robôs autômatos circulavam pela área, enquanto uma representação em miniatura do sistema solar adornava o teto. Nas paredes, quadros que lembravam tablets interativos acrescentavam um toque futurista ao espaço.

— Estou nervoso — falou Harry.

— Faz cinco minutos que diz isso. Já tentou tomar um copo d'água, para se acalmar um pouco? — perguntou Dusk.

Todos utilizaram o elevador para subir ao último andar. Harry ainda tinha um corredor a enfrentar, pois, ao final deste, na última sala, estava o verdadeiro teste que ele deveria enfrentar.

— Tenta respirar um pouco. É bem provável que você se saia mal se tiver desse jeito e todo seu esforço de criar Stella terá sido em vão. Acreditamos que pode superar isso. — Tentou motivar Gwen.

— Top 10 frases motivacionais — brincou Dusk, enquanto abraçava seu amigo pelo ombro. — Faça o que minha mãe dizia. Quando tiver com vergonha, esqueça das pessoas ou da situação e foca naquilo que importa, no seu caso seria apresentar, Stella.

— Ok! Vou tentar — concordou Harry.

Jogando o corpo descartável na lixeira, o qual utilizou para beber água, ele percorreu o corredor. Chegou à última porta, onde se deparou com um rapaz alto, elegantemente vestido com um paletó, que usava óculos escuros.

— Aqui está fechado para as apresentações para cientista — o moço alertou.

— Nosso amigo aqui vai participar também — falou Dusk.

— Não posso liberar a entrada. O horário combinado era 11: 30 agora são 11:37.

— Vai barrar só por 7 minutos?

Percebendo que o segurança não permitiria a passagem deles, uma atmosfera tensa começou a se instalar. No entanto, Evelyn Bladow se aproximou daquele homem.

— Oi! Deixa esse menino entrar. É culpa parcialmente minha por ele ter atrasado — Quando ela disse isso, o corpo do segurança tremeu todo de medo.

— N… Não posso. São ordens de superiores.

— Quem? Daniel White ou Alice Deacki? Pode ficar tranquilo, eu falo com eles caso aconteça alguma coisa. Então faz esse favor, deixa esse garoto entrar. Só para avisar, ele é filho da diretora daqui — ela tentou persuadir.

Após sua insistência, o homem visivelmente tenso cedeu, abriu a porta e sinalizou a liberação da passagem.

— Boa sorte! — disseram ao mesmo tempo, Gwen e Dusk animados com que ela fez.

Antes de perderem o amigo de vista, eles o observaram respirar fundo, reunir coragem e, antes de entrar, acenar positivamente com a cabeça.

— Gostaria de ir lá apoiá-lo — disse Dusk.

— Não podemos, só permitem a entrada de cientistas, pesquisadores e daqueles que vão fazer as apresentações — explicou Evelyn.

Dirigindo-se ao canto mais remoto da sala, Dusk se aproximou de uma janela. Ele lançou um olhar para o exterior, onde uma grande multidão se aglomerava, portando cartazes com o nome de Evelyn e fotografias dela.

“Ela é bem popular. Isso é fama de capitão?”

— Dusk, como conseguiu essa espada? — perguntou Evelyn tentando puxar dialogo.

— Antes de vir para cá, usei o item Forja de Espada para sintetizar minha alma nessa espada, para ter uma arma boa e resistente.

Gwen e Evelyn ocuparam assentos próximos para se sentar e descansar, enquanto aguardavam o término da apresentação de Harry para os cientistas.

— Sabia que seu pai, Ronnos, na época dele, ficava carregando uma espada para cima e para baixo. E sempre estava na companhia da Aliyah, eram um casal fofo demais — comentou a capitã.

— Eu era bem maneiro mesmo. Quer saber? Um dia vou ser que nem eles eram, um grande capitão e derrotar um monte de Etéreos — disse Dusk.

Por algum motivo, Evelyn se recostou na cadeira, encostando a cabeça na parede e fechando os olhos. Delicadamente, ela estendeu a mão com a palma aberta para cima.

— Essa sua frase me fez lembrar do passado.

 

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Nas lembranças de Evelyn, ela se via aos 19 anos de idade. Duas pessoas de seu grupo estavam desacordadas no chão, contudo, algo ainda mais perturbador capturava sua atenção.

Um colossal dragão se apresentava imponente diante dela. Após emitir um rugido estrondoso, os olhos da criatura se fixaram nela com intensidade.

No entanto, a visão de um casal surgiu diante dela como um lampejo. Um homem de cabelos negros e curtos empunhando uma espada, e uma mulher com longos cabelos brancos e olhos de um roxo cintilante.

Os nomes dessas duas pessoas eram Ronnos e Aliyah.

 

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— Graças a eles estou viva e falando com você — disse Evelyn em tom nostálgico.

Gwen ouviu o relato com atenção. Percebendo isso, a capitã logo exibiu um sorriso amigável, apesar de parecer um tanto desconfortável.

— Gwen? Somos amigas há bastante tempo, certo? Sei que quer ser uma capitã, mas nunca me disse o motivo. Por que virar uma?

— Também estou curioso. — Interessou Dusk.

Ajustando-se em sua cadeira, ela uniu as mãos e entrelaçou os dedos, usando-os como suporte para o queixo. Enquanto isso, seu olhar se perdia na parede, ou melhor, no vazio.

— Sabe, a Sarah. Em memória dela que busco isso — Gwen respondeu.

— Sarah? — questionou Dusk confuso.

— Minha irmã caçula que tive a muito tempo. Infelizmente, ela não está mais aqui. Ela foi uma das pessoa doce em vida. Nunca comentei dela antes para você, pois é uma história longa e complicada, que não precisa ser contada hoje.

O jovem compreendeu que insistir neste assunto causaria grande dor à sua amiga. Ele sabe o quão doloroso pode ser reviver certas memórias. Apesar delas serem em sua maioria positivas, notar que não tem mais ao lado, machuca demais.

— Vamos fazer o seguinte. Você em nome da Sarah. Eu pelo meus pais. Prometemos virar capitães, certo? — propôs Dusk.

— Sim! — ela respondeu determinada.

Observando a empolgação dos dois amigos, Evelyn se levantou com graça, posicionou-se à frente deles, ergueu a cabeça e colocou a mão na cintura para começar.

— Admiro o entusiasmo de vocês. A motivação é um excelente combustível, assim como amar o que se faz e possuir resiliência para enfrentar situações desafiadoras. Isso, para mencionar apenas algumas das qualidades necessárias. A vida de um combatente de Etéreos não é um mar de rosas, considerando que em muitas de nossas missões, acabamos perdendo companheiros. Somos constantemente rodeados pela morte, seja ao eliminar monstros conscientes ou ao presenciar a queda de nossos amigos diante deles, e às vezes, enfrentamos a possibilidade da nossa própria morte.

Após o discurso e relato da capitã, Dusk percebeu uma atmosfera tensa se formando. Ele, que detesta se encontrar nesse tipo de situação, sentiu-se forçado a agir.

— Pesou um pouco o clima — ele comentou.

Neste momento, a porta por onde Harry entrou, localizada atrás de Evelyn, se abriu. De lá, surgiu um grupo de dez pessoas vestindo jalecos brancos. Enquanto alguns pareciam entusiasmados, outros demonstravam ceticismo.

Dentro daquele grupo, Dusk e Gwen identificaram Harry, seu amigo. Ele parecia muito pálido e confuso.

— Harry! O que aconteceu? Deu tudo certo? — chamou Dusk.

Seu amigo, ao notar sua presença, sentiu um alívio imenso ao ver seus parceiros do lado de fora, aparentava estar um tanto ansioso.

— Pensei que vocês estariam andando por aí — comentou Harry.

— Até parece que abandonaremos você? — falou brava Gwen.

— Foi muito rápido? Não acha? — perguntou Dusk.

— Sim, na verdade, tinha só 4 para fazer as apresentações, e como chegamos um pouco depois, dois já tinham feito e o terceiro estava terminado.

— Vamos lá Harry, temos uma agenda lotada, queremos vê-la em ação — chamou um dos de jaleco.

Dusk, percebendo o tom condescendente com que foi chamado, ficou ainda mais perplexo com a situação.

 

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No mesmo prédio, todos se dirigiram ao quinto andar e adentraram uma nova sala. Nesse recinto, Gwen, Evelyn e Dusk tinham permissão para entrar. O espaço interno era vasto, com um grande círculo desenhado no centro do piso e cercado de acrílico.

— Embora minha apresentação tenha sido ok e tenha falado as coisas praticamente na pressa. Fiz o meu melhor. Algumas informações, sem querer deixei escapar, incluindo o fato dela ser uma grande lutadora. Praticamente todos os cientistas ficaram curiosos e pediram para ver Stella em ação. O combinado foi o seguinte, se ela ganhar eu passo e vira um cientista, mas se perder, nunca mais poderei tentar a vaga aqui.

Dentro daquele círculo, uma imponente porta se abriu e, emergindo do solo, surgiu um colossal robô. Este possuía uma cabine espaçosa, duas pernas estendidas e dois braços minúsculos, porém plenamente funcionais.

Retirando o cubo do bolso, Harry materializou sua androide, Stella, que assumiu sua forma humana.

— Poxa Harry, por que me deixou mutada? Tinha um monte de coisas que queria falar, te dá apoio, mas me deixou calada. — ela reclamou fazendo beicinho.

Todos os cientistas presentes aplaudiram ambas as máquinas, porém, a ovação foi mais intensa para Stella, pois reconheciam que se tratava de uma conquista significativa.

— Ei, esse robô parece Seraph. Aquela que criou as magias base — comentou Evelyn.

— Isso é sério? Stella, não tínhamos combinado de você pegar referência de alguém desconhecido? — agora quem foi que reclamou foi Harry.

— Sim, mas achei essa mulher muito bonita, mas fala a verdade, não pareço uma modelo nessa aparência?

Nesse momento, outro cientista se aproximou de Harry, que aplaudia com uma atitude esnobe.

— Olha só. Mal consegue controlar sua máquina? Quem diria? Essa androide vai dar nem pro cheiro.

— Não caia na onda dele não, ele está tentando te abalar, fica esperto — disse Dusk.

Harry percebeu a situação, coçou a parte de trás da sua cabeça, tentando aliviar a tensão. Ele deu um profundo suspiro.

— É brincadeira. É comédia. Claro que tenho o controle — ele deu essa justificativa.

— Sei. Quero que fique sabendo. Nosso robô é o Z4, se acha que esse androidezinho tem chances, sugiro que pare de se iludir.

Os demais telespectadores podiam perceber um clima intenso se formando. Evelyn e Gwen, por sua vez, puxaram uma cadeira e se acomodaram, enquanto Dusk ficou de pé ao lado do amigo para apoiá-lo.

— Stella, vai acabar com tudo. Essa lata de sardinha não tem chances — gritou Dusk.

— É o que veremos — disse aquele rapaz.

Stella se posicionou na ampla arena, enquanto os cientistas presentes pegaram seus celulares para registrar o iminente combate.

— Finalmente, vou ver um pouco de ação hoje? — comentou Evelyn.

— Tem uma torcida? — perguntou Gwen.

— Na verdade, não. Conheço quase nada dessa área, só sei um pouco do Z4, pois eles ajudam um pouco no combate contra Etéreos.

Utilizando um tablet, o cientista acionou diversos comandos, ativando uma série de funções que revelaram várias metralhadoras incorporadas no imponente robô. Além disso, inúmeros feixes de mira a laser estavam direcionados para Stella.

— Para deixar as coisas interessantes, ativei o modo de controle nível alfa, se for desistir, a hora é agora, antes que ela fique toda destruída.

Ajustando os óculos em seu rosto, Harry desviou sua atenção para a androide que parecia retribuir seu olhar. Ambos, então, concordaram com um aceno positivo.

— Confio na Stella — ele respondeu.

— Z4, Ataque!!!

— Stella, modo C3!!! — declarou Harry.

Inclinando levemente a cabeça e arregalando os olhos, Stella parecia bastante perplexa com o que acabara de ouvir.

— Oi? Certeza?

— Sim! Vamos ir contudo — declarou Harry.

Aproveitando um momento de distração, uma série de balas da metralhadora atingiu Stella, enquanto o punho colossal de Z4 a esmagou.

— Mas já? Ficou batendo papo, olha só o que aconteceu. Hahaha!!! Ela não era uma lutadora excepcional? — perguntou sarcasticamente o cientista.

— De fato, eu sou. Aprendi várias técnicas de luta baixando dados e ebooks da internet. Sei que parece impossível, mas na internet se acha tudo — apontou Stella.

Um líquido cinza escorreu por baixo do punho do Z4 e, emergindo dele, Stella se reconstituiu, completamente reconstruída.

Num piscar de olhos, ela se aproximou do robô, com os punhos cerrados, exalando uma força notável, e então, gritou.

— Se Harry pediu para ir com tudo. Então assim será!!!

Ela atingiu a máquina com grande força, que ao mínimo contato, deformou-se como papel de baixa qualidade.

Um enorme buraco foi criado na parte central da máquina e o impacto do golpe foi suficiente para estilhaçar todo o acrílico protetor.

O Z4, já sem qualquer reação, colapsou totalmente no solo. O nível de destruição ultrapassou todas as expectativas, deixando todos atônitos. Até Evelyn, surpreendida, se levantou ao presenciar tal cena.

— Como foi Harry? Embora eu possa usar só 60% da minha capacidade total, por causa desses círculo mágico que você colocou em mim, achei prudente usar só 5% da capacidade do modo C3.

— Boa escolha, não pensei na hora direito — respondeu Harry.

Sem exceção, todos, exceto aqueles dois, estavam pálidos e boquiabertos, como se tivessem presenciado algo extraordinário. E, de fato, ninguém poderia imaginar que o robô seria derrotado com um único soco.

O primeiro a sair desse transe foi Dusk, que prontamente raciocinou e se voltou para o cientista que até um instante atrás estivera desmoralizando-os.

— Vai falar o que agora? Viu nem o que o atingiu. Hahaha. — Ele virou para o seu amigo. — Aí, Harry, agora você é um cientista aqui.

— Não sei, tem que ver se vão manter a palavra.

Com uma expressão de surpresa e ainda aparentando certa perplexidade, ele e os demais acenaram afirmativamente a aprovação e para comemorar, tanto Dusk e Stella abraçaram Harry.

— Conseguiu! — disseram juntos.



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