Volume 1 – Arco 2

Capítulo 11: O Que Estão Fazendo?

No coração da cidade de Cradel, conhecida pela alta concentração de residentes ricos, um edifício de mais de vinte andares se sobressaía dentre os demais. No último andar, Alexia Magus fazia daquele lugar sua hospedagem.

Com olhos e cabelos longos e soltos, com uma franja cobrindo a testa, todos de cor azul claro, Alexia estava desarrumada por ter acabado de acordar. Exatamente às 7 da manhã, o despertador tocou alto, surpreendendo-a.

As janelas do apartamento se abriram automaticamente, ajudando-a a despertar.

— Bom dia, Alexia Magus! — saudou uma voz artificial.

— Bom dia! — respondeu Alexia, bocejando profundamente e esfregando os olhos na tentativa de afastar o sono. Ela se espreguiçou, esticando os braços.

— Desculpe começar assim, mas você tem um dia lotado hoje.

— E quando é que não tenho? — perguntou Alexia, com um toque de humor.

— Terá o show de abertura e comemoração em Thesena e, além disso, você realizará o teste de admissão para sentinela.

— Só? Pensei que teria mais coisas. Bom, sendo assim, acho que terei tempo livre mais tarde. Que tal uma festa comemorativa quando eu passar como sentinela? — ela cogitou, sorrindo.

Depois de um farto café da manhã, Alexia foi para a academia em outro cômodo do apartamento e lá fez uma hora de treino. Após os exercícios, ela foi para o estúdio no mesmo prédio, onde passou boa parte da manhã ensaiando.

Depois de concluir todas as tarefas, Alexia puxou uma cadeira para descansar. Embora essas atividades possam parecer pouco cansativas, ela estava exausta, pois se dedicava completamente a cada uma delas.

— Lisa? Quanto tempo falta para os exames?

— Três horas — respondeu a voz robótica.

— Tem alguém famoso cobrindo o evento? Mostre para mim.

Uma tela de 50 polegadas se posicionou à frente de Alexia, exibindo uma visão superior do vasto campus de Thesena, incluindo todos os edifícios, residências e lojas construídas, bem como a intensa atividade daquele dia.

— Todo mundo aqui está animado para os exames. Além de termos a presença de Bennet Pardian e Alexia Magus, teremos também o comparecimento confirmado de Evelyn Bladow e Ais Pardian, dois capitães famosos.

Neste momento, o apresentador mudou bruscamente de assunto, introduzindo uma nova notícia.

— Acabamos de receber a seguinte informação: nesta quinta, anteontem, um grupo de amigos salvou e ajudou um grupo de sentinelas que estavam em missão, onde enfrentavam minotauros. Apesar de terem sido socorridos, dos 16 sentinelas, quatro morreram.

— Desligar! — pediu Alexia, parecendo não mais interessada.

A garota se levantou e foi até uma janela. Observou atentamente o horizonte, onde fogos de artifício coloriam o céu.

— Será que vou me sair bem no exame? É mais um passo para ser como ela.

Uma mini tela digital surgiu ao lado de Alexia, exibindo a imagem de um microfone e o nome de uma pessoa, Mília Faiz.

— Sua amiga está no telefone.

— Obrigada. — Com um toque suave, ela atendeu a ligação.

— Alô? Alexia? Você está aí? Será que minha voz está saindo direito? — Mília gritou.

— Oi, Mília?! Estou escutando sim.

— Desculpa, é que eu estava fazendo exercícios até agora. Estou ligando para te desejar boa sorte. Bom, se você passar, talvez eu possa ser a líder do seu esquadrão.

Alexia imediatamente levou a mão à boca, mas não conseguiu esconder sua risada.

— Está rindo do quê?

— Pensar em você como líder de algo é um tanto engraçado. Mas, pensando bem, acho que vai ser legal se estivermos juntas no mesmo grupo.

— Ei, escutei o que falou! Sou uma boa tenente, por ter sido uma excelente sentinela. Consegui esse posto, até apareci na TV esses dias.

Elas continuaram conversando por um bom tempo, até que o horário dos compromissos importantes de cada uma chegou.

 

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Em Cradel, Dusk dormia profundamente em seu apartamento. O sono era tão pesado que ele nem percebeu quando duas figuras entraram silenciosamente em seu quarto.

— Dusk, bora levantar! O dia chegou! — gritaram duas vozes ao mesmo tempo.

Sem entender totalmente a situação e ainda meio grogue, Dusk, por instinto, pegou uma espada de madeira que estava ao lado de sua cama e a apontou para os invasores.

— Que porra é essa? Vocês querem morrer? — ele gritou, ainda meio sonolento.

No entanto, os "invasores" eram Gwen e Harry, ambos segurando chaves nas mãos. Harry tinha um sorriso travesso no rosto, que contrastava com a expressão séria de Gwen.

— Ah, é só vocês? — Dusk abaixou a espada, ainda confuso, esfregando os olhos.

— Que drama, Dusk. A gente só veio te acordar — disse Gwen, cruzando os braços.

— E que ideia brilhante foi essa de me acordar assim? Eu podia ter machucado vocês! — reclamou Dusk, tentando se recompor.

— Ah, qual é! Sabíamos que você tem o sono pesado. Foi a única maneira — respondeu Harry, rindo.

— Além disso, você sempre dorme até tarde. Hoje temos coisas para fazer — Gwen completou.

Dusk suspirou, ainda meio irritado, mas não conseguia evitar um sorriso. Afinal, eram seus amigos, e momentos como esse faziam tudo valer a pena.

 

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Na cozinha, os três estavam sentados à mesa, que tinha pães frescos, café quente, leite frio e um bolo caseiro. Era um café da manhã reforçado para um dia especial.

— Vocês estão de sacanagem. Só porque têm a chave daqui de casa, acham que podem entrar assim e me dar um susto desses? Já pensaram se eu tivesse atacado vocês com minha espada de madeira? — reclamou Dusk.

Apoiando o braço na mesa, Gwen recostou a cabeça na mão e apontou para seu amigo, que estava visivelmente nervoso com a situação.

— Fizemos isso para você se preparar desde cedo e não se atrasar, como ocorreu na quinta, quando íamos fazer a inscrição — apontou Gwen.

“Pelo jeito ela não vai esquecer do meu vacilo tão cedo.” pensou Dusk.

— Estão nervosos hoje? É um grande dia para todos nós — perguntou Harry.

Com um sorriso radiante e olhos incandescentes de entusiasmo, Dusk acenou afirmativamente com a mão.

— Estou tranquilo, desde que ocorra tudo bem. Caso contrário, não vou conseguir me acalmar.

— Da minha parte, sei que vou passar — falou Gwen. — E você, Harry? Quando é sua apresentação para virar cientista em Thesena?

— Vai ser às 11:30 da manhã, trinta minutos antes do seu teste. Estou um pouco nervoso. Planejei esse momento por dias, não posso cometer erros.

Do seu jaleco branco que sempre usava, Harry retirou um objeto. Era um cubo, ou melhor, Stella, a androide que ele mesmo havia criado. No entanto, algo estava diferente: em cada uma de suas seis faces, havia um círculo mágico desenhado.

— Não fala assim, Harry. Estarei com você. Se depender de mim, tudo vai dar certo — disse a voz de Stella, que saía do cubo.

Com uma expressão de surpresa, Dusk finalmente encontrou o momento perfeito para esclarecer uma dúvida que há tempos pairava em sua mente.

— Como conseguiu fazer isso? Parece um humano falando de verdade.

— Dentro da Stella, coloquei uma inteligência artificial bem sofisticada. Fiz alguns ajustes e agora ela parece bem real.

— Já vi várias IAs por aí que diziam ser sofisticadas, mas tinham um jeito muito robótico de responder. Desde a primeira vez que vi a Stella, parecia uma pessoa real. — Aproximando-se do cubo, ele reconheceu aqueles círculos mágicos que Harry usava. — Para que servem esses círculos? Quando lutamos contra os minotauros, ela não tinha isso.

— São limitadores de potência e força. Precisei colocar isso magicamente, pois algumas funções de combate haviam ficado perigosas. Não sei se fiz certo, mas pelo menos agora ela não fere ninguém.

Todos podiam perceber a tensão emanando de Harry. Sem dúvida, o projeto que ele desenvolveu é inovador e original. Contudo, essa incerteza poderia eventualmente se transformar em um obstáculo.

— Tenta fazer o seguinte: esvazie a mente e respire fundo. — Dusk fechou os olhos e juntou a ponta do dedo indicador e polegar. — Se conseguir focar no presente e não pensar nas possibilidades, fica mais fácil passar pelas situações complicadas.

— Já conheço esse método. A única coisa que não quero é travar na minha apresentação.

Gwen, que estava quieta até então, delicadamente saboreava sua xícara de café enquanto examinava cada parte do apartamento de Dusk.

— Até que esse lugar é grande e confortável — comentou Gwen.

— Concordo, tenho muito espaço para treinar. O preço não é muito caro. Ser filho de ex-capitães me dá uma vantagem, pois pago metade do preço do aluguel.

Por algum motivo, os olhos de Gwen começaram a vagar em todas as direções possíveis. Ela parecia estar em busca de algo, exibindo uma expressão de confusão.

— Dusk, você não tem um Etéreo de bicho de estimação, né?

— Por que eu teria algo assim? — ele perguntou.

— Porque estou sentindo energia Éter por aqui.

Dusk se levantou da mesa e dirigiu-se ao quarto. Após algum tempo, ele retornou com um pingente em mãos, que colocou no centro da mesa. O objeto era prateado, com uma rosa pendurada em seu cordão.

— Deve ser isso. Consegui quando enfrentamos os minotauros. Um deles estava usando-o, e peguei porque parece que tem propriedades mágicas. Pensei em vender para ganhar uma boa grana.

— De fato, tem muita energia saindo dele. No mínimo, você receberia uns 500 mil ou 600 mil créditos — disse Gwen.

Harry, que acompanhava atentamente a conversa, ergueu-se da cadeira e, apontando para o amigo, mostrou a tela do seu celular, onde estava aberta uma janela de um aplicativo de compra e venda.

— Venda online. Você consegue atingir um grupo de pessoas mais amplo. Com certeza, vender por aqui, você pode alcançar famosos ou até pessoas com muita grana.

Com a mão no queixo, Dusk ponderava sobre essa possibilidade. No entanto, algo ainda pairava sobre seus pensamentos.

— Pode ser, mas não confio nesses lugares. O que você acha, Gwen?

— Partilho da mesma opinião. É melhor ir na SVCET, o Setor de Compra e Venda de Espólios de Thesena. Lá, eles pagam bem, e o dinheiro arrecadado é direcionado 20% para Thesena e os outros 80% vão para os necessitados e refugiados de guerra.

Segurando o pingente mais uma vez, Dusk se ergueu da cadeira. Seus olhos cintilavam com um brilho intenso após ouvir sobre aquele lugar.

— Pode mostrar onde fica isso? — ele pediu.

 

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Os amigos chegaram a uma loja comercial a 45 minutos do apartamento, onde uma bela coleção de espadas forjadas era visível logo na entrada. Ao seguir em frente, viram muitos itens à venda, parecendo um grande supermercado. O local era bem organizado e dividido em diferentes áreas. Havia amuletos, livros antigos, armas brancas, armas de fogo, círculos mágicos, artefatos, grimórios e muito mais.

Os olhos de Dusk brilhavam como pequenas estrelas, sempre iluminados ao descobrir algo novo ao seu redor.

— Que maneiro! Se eu pudesse, compraria tudo.

No momento em que Dusk notou algo na prateleira, Gwen o cutucou, desviando sua atenção.

— É no balcão de atendimento que faz a venda, não aqui.

— Estava só dando uma olhada — tentou se justificar.

Os três, ao atravessarem toda a loja, logo localizaram a área de vendas. Ali, encontraram um moço quase adormecido sobre o balcão. Assim que os viu, ele rapidamente se recompôs e adotou uma postura profissional.

— Pois não. Sejam bem-vindos à casa de espólios de Thesena! Desejam comprar algo ou vieram fazer negócios? — falou de forma pomposa o atendente.

Ao se aproximar do balcão, Dusk cuidadosamente retirou um pingente de rosa prateado de seu bolso, colocando-o sobre a mesa. O atendente, ao vê-lo, teve um breve tremor.

— Quero vender isso.

— É uma peça e tanto, permita-me verificar a quantidade de energia armazenada? Assim consigo te dar um preço ótimo.

Utilizando um dispositivo que se assemelhava a um detector de metais portátil, ele o moveu sobre o objeto e uma luz laranja acendeu.

— Uau!!! Isso tem energia de um monstro nível Alfa. Onde você conseguiu isso? — perguntou desconfiado.

— Foi numa missão de eliminar minotauros, um deles usava isso.

Com uma sobrancelha elevada, o moço parecia inicialmente duvidar das palavras de Dusk, porém, logo relaxou.

— Ok. Faz bastante tempo que não recebemos algo desse nível. Olha, consigo oferecer 1 milhão e 200 mil de créditos. O que acha?

Dusk e Harry, surpresos e confusos, abriram a boca em silêncio absoluto. Seus olhos pareciam querer saltar para fora, como se nunca tivessem visto algo semelhante. Estavam tão chocados que quase subiram no balcão.

— Tudo isso? — perguntaram juntos.

— Sim. Acha pouco?

— Claro que não, já esperava por isso — disse Dusk, tentando recompor sua postura, para não mostrar animação ou afobação.

“Tenho que manter a calma, senão esse cara pode se aproveitar e tentar abaixar o preço,” ele pensou.

— Vai, Dusk, eu sei que vai aceitar. Estou com pressa, quero ir a Thesena depois que terminarmos. Preciso estar lá em 15 minutos.

Confuso, Dusk se voltou para sua amiga. No entanto, algo chamou sua atenção e, sem dizer uma palavra, ele atravessou rapidamente a loja.

— O que deu nele? — perguntou Harry.

— Vai saber, ele é maluco assim mesmo — respondeu Gwen.

Momentos depois, Dusk retornou com um grande sorriso. Ele vinha do setor de artefatos mágicos e, em sua mão, segurava algo que parecia ser um minúsculo graveto, aproximadamente do tamanho de uma caneta.

— Quero comprar isso!

O objeto possuía a forma de uma espada embainhada, porém, em uma escala muito menor e completamente feito em madeira, lembrando arte de entalhe.


Continua no Capítulo 6: Novidades Inesperadas



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