Volume 1 – Arco 1

Capítulo 5: Mau Presságio

Já passava bem do meio-dia, e o trio de amigos — Gwen, Harry e Dusk — se aventurava por uma região distante. Eles haviam deixado furtivamente a segurança da grande barreira mágica que protegia a cidade de Cradel, algo que por si só já era arriscado. Agora, caminhavam por uma área desolada, a cerca de uma hora de distância da civilização mais próxima. O lugar estava completamente deserto, sem sinais de vida humana ou sequer de animais, e o silêncio opressivo só tornava a atmosfera mais estranha.

Harry, entre os três, era o único que exibia uma expressão de apreensão. Ele estava claramente desconfortável, o medo e a preocupação marcados em seu rosto. Sabia que vagar por aquela região era perigoso e não gostava nem um pouco da ideia de estarem tão longe da proteção de Cradel.

Gwen, como de costume, mantinha-se completamente inexpressiva. Qualquer tentativa de Dusk ou Harry de decifrar o que se passava em sua mente seria inútil. Ela era uma verdadeira muralha emocional, sempre calma e impassível, como se nada a perturbasse.

Dusk, por outro lado, era o oposto. Seus olhos brilhavam com uma empolgação incontrolável, o sorriso largo no rosto mostrando que ele estava realmente curtindo aquela caminhada. Para ele, aquilo não era apenas uma missão, era uma oportunidade de se divertir.

— Mal posso esperar para encontrar aqueles Etéreos e acabar com eles! — comentou Dusk, com uma empolgação contagiante, chutando uma pedra no caminho enquanto olhava ao redor, como se estivesse procurando por ação.

Harry, ainda nervoso, olhou para Dusk com um misto de incredulidade e preocupação.

— Você está mesmo confiante, hein? — disse Harry, ajustando os óculos, a cautela evidente em sua voz. — Acha mesmo que estamos prontos para enfrentar esses monstros?

Dusk virou-se para ele, rindo de forma descontraída.

— Que pergunta, Harry... Claro que sim! Sou forte, e só pra lembrar, os minotauros da Floresta Norte são de nível baixo. Não vamos ter problemas com eles. — respondeu Dusk, como se a resposta fosse óbvia.

Harry parou por um momento, respirando fundo antes de responder.

— Pode até ser que eles sejam de nível baixo, mas isso não significa que podemos relaxar. Manter a cautela e não baixar a guarda é essencial para que nada de ruim aconteça. — disse ele, sua voz cheia de preocupação.

Dusk riu novamente, passando o braço por cima do ombro de Harry de forma despreocupada.

— Ah, Harry, você adora ser o pessimista do grupo, né? Temos que ser positivos! — respondeu ele, com aquele típico entusiasmo que fazia tudo parecer fácil.

Harry suspirou, afastando o braço de Dusk com um sorriso meio torto.

— Não é pessimismo, Dusk. É ser realista. — corrigiu Harry, franzindo a testa. — Se a gente entrar de cabeça e subestimar esses Etéreos, vai acabar mal. E eu prefiro evitar isso, se não se importa.

Dusk balançou a cabeça, ainda sorrindo.

— Relaxa, cara! Nós três somos uma equipe sólida. Eu sei que você está preocupado, mas... — ele fez uma pausa, dando um sorriso mais suave. — Confia um pouco mais em nós, tá? E em você também.

Harry, apesar de sua cautela, não pôde deixar de sorrir levemente diante da confiança inabalável de Dusk.

— Ok, ok... Só não me faça me arrepender de ter saído de Cradel com vocês.

Dusk e Harry caminhavam lado a lado, com Gwen liderando o caminho à frente. Ela era a mais habilidosa entre os três quando se tratava de rastrear inimigos ou seres humanos. Sua habilidade de localizar tanto monstros quanto pessoas em um raio absurdo de distância era uma vantagem crucial, o que a colocava na frente, guiando o grupo com precisão.

— E aí, Gwen? Já encontrou algo? — perguntou Dusk, a curiosidade e impaciência óbvias em sua voz.

Gwen nem sequer se virou. Em vez disso, ergueu uma mão no ar, indicando que ele parasse de falar e ficasse em alerta. O gesto foi firme e silencioso, uma clara ordem para que todo permanecessem atentos.

Dusk entendeu o sinal e, de imediato, focou seus sentidos ao redor, tentando captar qualquer sinal de perigo. Seus olhos percorriam a área ao redor, como se esperasse ver algo se mover nas sombras.

Mas antes que pudesse mergulhar na busca, Harry, já visivelmente irritado, deu-lhe um leve empurrão no ombro.

— Ei, Dusk, você tem que deixar a Gwen fazer o trabalho dela em paz. Já é a oitava vez que você pergunta a mesma coisa! — disse Harry, sua voz carregada de frustração.

Dusk virou-se para ele com uma expressão de surpresa, que logo foi substituída por um sorriso debochado.

— Não posso mais perguntar, não? Eu só quero ajudar de alguma forma também. — respondeu Dusk, cruzando os braços, sem perder o tom descontraído.

Harry estreitou os olhos, claramente irritado com o comportamento despreocupado de Dusk.

— Mas desse jeito, você só atrapalha! Gwen tem o controle da situação. Ficar insistindo só piora as coisas. — rebateu Harry, o tom de voz subindo levemente à medida que sua paciência se esgotava.

Enquanto os dois continuavam a discutir lá atrás, Gwen franziu a testa, fechando os olhos para se concentrar. Ela estava focada em rastrear qualquer sinal de vida ou presença ao redor, mas o barulho que Dusk e Harry faziam estava começando a irritá-la. A perturbação era tanta que sua habilidade estava sendo afetada.

Finalmente, ela parou abruptamente, virando-se para os dois com uma expressão de pura irritação.

— Dá para vocês dois pararem?! — gritou Gwen, sua voz carregada de frustração. O tom era firme e cortante, o suficiente para silenciar a dupla imediatamente. — Façam o que quiserem, mas parem com essa bagunça atrás de mim! Estou tentando nos manter vivos aqui, e vocês dois estão atrapalhando!

A intensidade de sua voz, combinada com o olhar mortal que lançou para Dusk e Harry, foi o suficiente para que ambos parassem instantaneamente. O silêncio que seguiu foi quase ensurdecedor, e tanto Dusk quanto Harry ficaram imóveis, como crianças que acabaram de ser repreendidas.

Gwen respirou fundo, fechando os olhos novamente, retomando sua concentração. O ar ao redor parecia mais denso, como se algo estivesse se movendo nas sombras, fora do alcance da visão imediata. Após alguns momentos de silêncio, ela abriu os olhos de repente, o brilho neles agora mais intenso e alerta.

— Há algo à frente. — disse ela, a voz baixa, mas carregada de tensão. — E está perto. Muito perto.

Dusk e Harry, embora ainda sob o efeito da repreensão, rapidamente se prepararam, as expressões sérias substituindo qualquer vestígio da discussão anterior. A atmosfera mudou, ficando carregada de antecipação. Eles sabiam que Gwen raramente errava nessas situações.

O vento começou a soprar de forma mais fria, e o som de passos pesados, embora distantes, começou a ecoar ao redor. O grupo ficou em silêncio absoluto, esperando pelo que estava por vir.

Um som agudo e estridente de metal colidindo com metal ecoou pela floresta, cortando o silêncio como uma lâmina. O barulho reverberante fez o coração de Dusk disparar, e ele imediatamente olhou ao redor, tentando entender o que estava acontecendo. Poucos metros à frente, as árvores começaram a balançar violentamente antes de algumas delas caírem ao chão com um estrondo, como se algo gigantesco tivesse passado por ali. Logo em seguida, uma bola de fogo surgiu no céu, rasgando o ar em direção ao horizonte.

— O que está acontecendo? — perguntou Dusk, a voz carregada de confusão, seu olhar percorrendo a área em busca de respostas.

Gwen, com os olhos ainda fechados, estava imersa em sua magia. Sua concentração era palpável, como se estivesse sentindo cada movimento, cada vibração ao redor. Ela estava usando sua habilidade de rastreamento para captar o que estava além da visão imediata, e seu rosto se contraiu levemente enquanto processava as informações.

— Minotauros... — murmurou Gwen, sua voz baixa, mas firme. — Têm humanos também... quatro no total. Eles estão lutando. — Sua expressão ficou ainda mais tensa. — Nossa... tem muitos minotauros ali, uns 28... não, 30! — completou ela, claramente preocupada com a quantidade de inimigos.

Harry, ainda processando o que Gwen disse, balançou a cabeça em descrença.

— Por que tem pessoas aqui? — murmurou ele para si mesmo, a voz carregada de preocupação e surpresa. Não fazia sentido para ele que outros humanos estivessem tão longe da proteção de Cradel, ainda mais em um lugar tão perigoso.

Dusk, sem perder o ritmo, olhou de lado para Harry e soltou uma risada nervosa.

— Aposto que eles vão perguntar a mesma coisa pra gente. — comentou, tentando manter o tom leve, mas a tensão era evidente em sua voz. — Gwen, qual é a situação lá?

Gwen franziu ainda mais a testa, seus braços se cruzando instintivamente enquanto seus sentidos ampliados captavam mais detalhes do que acontecia à frente. Ela cerrou os dentes e estalou a língua, um gesto raro que demonstrava a gravidade da situação.

— Eles estão encurralados... os humanos estão cercados de todos os lados. Se não fizermos nada, eles vão ser massacrados em questão de minutos. — disse ela, o tom grave, quase sombrio.

Antes que Gwen pudesse terminar, Dusk já estava se movendo. Num impulso, ele disparou para a direção do perigo, seus olhos brilhando de determinação.

— O que estamos esperando, então? Vamos logo! — gritou Dusk por cima do ombro, a adrenalina correndo em suas veias. Ele não podia simplesmente ficar parado enquanto pessoas estavam em perigo.

— Dusk! Espera! — chamou Harry, mas seu grito foi abafado pelo som das árvores quebrando à distância e o rugido ameaçador dos minotauros que agora se tornava audível.

Gwen abriu os olhos de repente, a visão clara da batalha se materializando em sua mente. Ela conseguia ver os minotauros avançando com brutalidade, os machados gigantes em suas mãos cortando o ar, prontos para desferir o golpe final nos humanos encurralados. Eles não tinham muito tempo.

— Ele vai se meter em problemas se não for mais cuidadoso. — disse Gwen, com a voz fria, mas preocupada. Ela rapidamente começou a seguir Dusk, sabendo que a situação exigia urgência. — Harry, se prepare, isso vai ficar feio.

Enquanto corriam em direção à luta, o som dos rugidos dos minotauros ficou mais alto, e o cheiro de fumaça no ar misturava-se ao de sangue e suor. Dusk estava na frente, impulsionado pela sua coragem — ou talvez imprudência — enquanto Gwen e Harry o seguiam, com a tensão aumentando a cada passo.

Ao se aproximarem, puderam ver, ao longe, os humanos cercados. Os minotauros os pressionavam cada vez mais, suas armas colossais balançando no ar, prontas para o ataque final.

O coração de Dusk disparou, e sua mente já estava formulando estratégias. Ele não podia falhar, não agora. Gwen, com sua visão mágica aguçada, já estava calculando os próximos movimentos, tentando achar um ponto fraco nos inimigos. Harry, por mais cauteloso que fosse, sabia que não tinha escolha a não ser se preparar para o pior.



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