Volume 1 – Arco 1

Capítulo 3: Pôs Inscrição

Acima dos arranha-céus, dos carros voadores e dos drones de vigilância, o sol reinava absoluto. O céu era de um azul claro deslumbrante, sem nenhum sinal de nuvens para amenizar o calor. Era como se o próprio ar estivesse vibrando com o calor sufocante daquele dia de verão.

Sob a sombra refrescante de uma grande árvore em um banco de praça, Dusk bebia de uma garrafa d'água em grandes goladas, como se sua vida dependesse daquilo. O suor escorria pelo seu rosto em riachos, pingando de sua testa e formando pequenas poças em sua camisa. A cada gole, sentia um alívio momentâneo, como se a água fosse a única coisa que o mantinha de pé naquele calor insuportável.

Gwen, sentada ao seu lado, observava Dusk com uma expressão curiosa e um leve sorriso. Ela olhou para a pilha de garrafas na lixeira ao lado deles. Contando com a que ele segurava, Dusk já havia bebido quatro garrafas de 500ml.

— Você tá com muita sede mesmo, hein? — disse Gwen, balançando a cabeça. — Já foram 2 litros de água em menos de um minuto!

Dusk terminou a quarta garrafa e limpou a boca com as costas da mão. Apesar de parecer um maníaco por água naquele momento, um sorriso de pura satisfação apareceu em seu rosto, como se tivesse acabado de encontrar um oásis no deserto.

— Ah, assim está bem melhor! — exclamou ele, aliviado.

— Tá mais tranquilo agora? — perguntou Gwen, rindo da expressão dele.

— Sim! — respondeu Dusk, ainda ofegante. — Não sabia que ficar em uma fila por duas horas seria tão exaustivo. E esse sol... Será que não podia ter pelo menos uma nuvenzinha pra ajudar?

Gwen riu, revirando os olhos.

— Você só sabe reclamar, Dusk. Quando tá calor, você reclama que queria frio. Quando tá frio, você reclama que queria calor. Nunca tá bom pra você, né?

Dusk se deixou cair no banco, exausto, como se o calor tivesse drenado toda a sua energia.

— Vai me dizer que você não se incomoda? Eu tô aqui, praticamente derretendo, parecendo uma poça ambulante! — disse ele, desanimado.

Gwen deu um risinho zombeteiro.

— Duskzinho, você é um molenga! — provocou ela.

Enquanto zombava de Dusk, Gwen segurava um pote de sorvete extra grande, o presente de desculpas que ele havia comprado. O sorvete de chocolate estava derretendo levemente, formando pequenas gotas ao redor da borda. A cada colherada que Gwen levava à boca, ela fechava os olhos e sorria, balançando o corpo de leve, claramente aproveitando cada pedaço gelado.

— Tá bom o sorvete? — perguntou Dusk, olhando de canto de olho para o pote.

Gwen se virou rapidamente, escondendo o sorvete atrás de si, como se estivesse protegendo um tesouro.

— Nem vem, não vou te dar nenhum pedaço! — disse ela, assumindo uma postura defensiva, quase como se esperasse um ataque.

— Eu nem ia pedir, só tava perguntando se tá gostando, isso é tudo. — respondeu Dusk, levantando as mãos em sinal de rendição, tentando esconder o riso.

— Não interessa! — Gwen retrucou, levando outra colherada à boca, saboreando com um ar de vitória.

Vendo que não ia conseguir estender a conversa com Gwen, que estava completamente focada no sorvete, Dusk desviou o olhar para a praça. Observou o amontoado de pessoas enfileiradas à sua frente, uma fila que parecia não ter fim. Devia haver pelo menos umas 200 pessoas ali, todas esperando pacientemente sob o sol escaldante.

“Ainda bem que já fiz minha inscrição para sentinela”, pensou Dusk, suspirando de alívio. “Não sei se aguentaria ficar ali por mais tempo.”

Enquanto observava a fila à sua frente, Dusk notou a diversidade das pessoas que esperavam para fazer sua inscrição para se tornarem sentinelas. Havia todos os tipos de pessoas, de diferentes idades e etnias, todas unidas por um objetivo comum.

— Nunca tinha parado para pensar, mas tem muita gente querendo entrar para Thesena, né? — comentou Dusk, pensativo.

— Claro que sim! Quem não quer marcar seu nome na história como combatente de Etéreos? — respondeu Gwen, com um tom levemente sarcástico. — Mas, se perguntarem para mim, eu diria que passo.

— Ah, qual é, Gwen! Não é divertido derrubar os Etéreos? — insistiu Dusk, como se isso fosse óbvio.

Gwen lançou um olhar para ele, meio divertido, meio sério.

— Que pensamento mais ingênuo, Dusk. Divertido? Aqueles monstros são cruéis e sádicos. Um vacilo e você perde a vida. Meu irmão sempre me diz isso.

Dusk assentiu, lembrando-se das inúmeras vezes que ouvira essas palavras durante sua infância. Sabia que Gwen tinha razão, mas era difícil não pensar em ser um herói como algo empolgante. Tentando afastar esses pensamentos, ele desviou a atenção para o cartão em sua mão.

O papel dizia: "No dia 1 de fevereiro de 2309, na 1ª Base de Thesena, ocorrerá o exame dos sentinelas, a partir do meio-dia. Apresente este cartão junto com sua carteira de identidade para fazer a prova."

Era um comunicado direto e claro, e todos que haviam feito a inscrição haviam recebido um cartão igual. Gwen também tinha o dela, mas Dusk, com os braços cruzados e uma expressão de desânimo, não conseguia entender.

— Por que temos que fazer um exame de admissão? Não basta ter 17 anos, esperar nessa fila chata, e agora ainda tem que fazer uma prova? Isso desanima! — reclamou, balançando o cartão no ar.

Gwen revirou os olhos, claramente impaciente com o drama de Dusk.

— Dusk, você tá parecendo minha irmãzinha quando fica reclamando de tudo. Não percebe que eles precisam desse exame para testar nossa capacidade de combate? — explicou Gwen, com um tom de voz que misturava paciência e frustração.

— Mas eles não sabem quem são meus pais? Foram grandes capitães, os melhores do mundo! — disse Dusk, tentando usar isso como um ponto a seu favor.

— Ninguém vai esquecer o que seus pais fizeram por esta cidade, Dusk, mas você precisa entender que eles são eles, e você é você. Eles não se tornaram grandes combatentes da noite para o dia — respondeu Gwen, adotando uma postura mais séria.

— Já sei o que você vai dizer... "Não existe caminho fácil para o sucesso." — disse Dusk, imitando a voz de Gwen de forma brincalhona. — Mas é difícil. A situação já não é fácil e ainda temos que passar por essas coisas. Isso tira meu ânimo.

Gwen encarou Dusk com seus olhos rosa, agora sérios. A forma como o olhava era quase como se estivesse julgando-o.

— Você é burro ou o quê? — ela disse de repente.

Dusk a olhou, surpreso, tentando entender o que ela queria dizer.

— Como assim? — perguntou, confuso.

— Dusk, me responde uma coisa. Você jogaria uma pessoa comum, sem treinamento, no meio de um campo de batalha? — ela perguntou, a voz tingida com uma leve impaciência.

Dusk ficou em silêncio por um momento, refletindo sobre a pergunta. Se uma pessoa comum, sem magia ou habilidades de combate, fosse colocada contra um inimigo capaz de usar magia, o que ela faria? Nada. Mas quem, em sã consciência, colocaria uma pessoa despreparada numa situação dessas?

— Não faz sentido a sua pergunta. Nenhum tenente ou capitão colocaria um civil na linha de frente contra Etéreos. — respondeu ele, pensando em voz alta.

— Exatamente! — Gwen exclamou, apontando para Dusk como se ele finalmente tivesse acertado uma resposta difícil. — Por isso eles precisam avaliar nossa capacidade nesse exame, para saber do que somos capazes. É uma questão de segurança.

Dusk deu de ombros, compreendendo finalmente o ponto dela.

— Então, eles querem ver do que somos capazes? — perguntou ele, tentando confirmar seu entendimento.

— Isso mesmo, Duskzinho. — Gwen respondeu, um sorriso leve aparecendo no rosto. — Sem testes, sem provas, sem chances.

— Poxa, Gwen, podia ter falado isso desde o começo. Eu teria entendido na hora. — disse Dusk, soltando uma risada.

— Ah, mas aí não teria graça ver você tentando entender tudo por si mesmo, né? — Gwen provocou, rindo.

Os dois riram juntos. 

Por mais que Dusk às vezes pudesse ser cabeça-dura, Gwen sabia que ele tinha um bom coração e o desejo genuíno de fazer a coisa certa. E, com um pouco de orientação — e talvez alguns puxões de orelha —, ele chegaria lá.

Enquanto os dois se divertiam conversando e aproveitando a sombra, o estômago de Dusk, que não havia comido nada no café da manhã e nem beliscado nada depois, resolveu dar um aviso sonoro. Um ronco estrondoso ecoou pela praça, chamando a atenção de alguns passantes. Dusk olhou para baixo, surpreso, e depois riu de si mesmo.

— Hum! Bateu uma fome forte agora, hein! — comentou ele, tentando disfarçar o constrangimento com uma piada.

Gwen, que ainda estava terminando seu pote de sorvete, olhou para ele com um sorriso travesso. Justamente quando estava colocando a última colherada na boca, ela ouviu o estômago de Dusk roncar alto, como se estivesse em protesto.

— Esse sorvete estava uma delícia! — provocou ela, lambendo a colher com um ar satisfeito. — Ei, Dusk, se estava com tanta fome, por que não comprou um sorvete também?

Dusk deu de ombros, assumindo um ar despreocupado.

— Sabe como é, né? Gastei muito esse último mês. O dinheiro foi embora tão rápido que nem vi para onde. Mas, pensando bem, ainda tenho uns trocados guardados. Dá pra comprar alguma coisinha pra comer.

Ele tentou manter a pose, mas a verdade era que o ronco de seu estômago havia denunciado sua fome. Mas, antes que a situação ficasse embaraçosa demais, algo inesperado aconteceu. Para surpresa de ambos, o estômago de Gwen também deu um leve ronco, não tão alto quanto o de Dusk, mas o suficiente para ser ouvido. Gwen imediatamente corou, suas bochechas assumindo um tom rosado enquanto sua expressão séria desmoronava.

— Olha só, também temos outro estômago reclamão por aqui! — zombou Dusk, aproveitando a oportunidade para se vingar da provocação anterior.

Gwen tentou manter a compostura, mas não conseguiu evitar um sorriso envergonhado.

— E daí? Estou com fome mesmo! — respondeu ela, cruzando os braços em uma tentativa de parecer desinteressada, mas a cor em suas bochechas a entregava.

— Poxa, mas você literalmente acabou de comer um pote de sorvete inteiro. Não está cheia, não? — perguntou Dusk, rindo da situação.

— Até parece que só aquilo saciaria minha fome — retrucou Gwen, revirando os olhos, mas ainda sorrindo.

Com os dois ainda meio envergonhados pela situação dos estômagos roncando, o som de uma notificação vinda de seus bolsos quebrou o silêncio. Era o toque característico de seus celulares, indicando uma nova mensagem recebida. Curiosamente, ambos receberam a notificação ao mesmo tempo.

Rapidamente, Dusk sacou seu celular transparente de última geração para ver quem havia enviado a mensagem. Ao ver o nome na tela, um sorriso amigável surgiu em seu rosto. Era de um velho amigo, Harry Carbess.

— Bom dia, Dusk! Tudo bem com você? Queria saber se quer almoçar no restaurante First Star? Também convidei a Gwen — dizia a mensagem.

Dusk terminou de ler e olhou para Gwen, que também havia tirado o celular do bolso e estava distraída lendo a mesma mensagem. Ela franziu ligeiramente a testa, concentrada nas palavras na tela.

— Gwen, você recebeu... — começou Dusk, ainda sorrindo.

— Sim, Harry também me convidou. — respondeu Gwen, sem tirar os olhos do celular.

Enquanto Dusk guardava o celular, suas memórias o levaram a alguns meses atrás, na última vez que tinham visto Harry, durante a cerimônia de formatura da escola preparatória. Era um momento cheio de nostalgia e boas lembranças.

— Faz um bom tempo que não vemos o Harry, né? — comentou Gwen, finalmente guardando o celular.

— Pois é. Eu gostaria de ter visitado ele antes, mas estava tão ocupado com os treinos e estudos que acabou não dando. — Dusk deu de ombros, um pouco constrangido por não ter encontrado tempo.

— Do jeito que você fala, parece até que tem uma agenda lotada, cheio de compromissos importantes — brincou Gwen, levantando uma sobrancelha, o tom de voz leve e descontraído.

— Ei, eu levo meus treinos e estudos de magia a sério! — respondeu Dusk, fingindo-se de ofendido, mas não conseguindo esconder o sorriso. Em seguida, levantou-se do banco, deu a volta e parou na frente de Gwen. Com um gesto exagerado, ele se curvou ligeiramente e estendeu a mão para ela, como um verdadeiro cavalheiro. — Mas, aproveitando a ocasião, minha querida amiga, gostaria de me acompanhar para um almoço no First Star? — perguntou, tentando soar formal e pomposo.

Gwen olhou para Dusk por um momento, surpresa pela atitude inesperada. Seus olhos rosa brilharam com uma mistura de diversão e interesse. Ela sabia que ele estava brincando, mas algo na maneira desajeitada e sincera de Dusk a fez sorrir.

— Hmm, acho que posso aceitar esse convite. — disse ela, colocando a mão na dele com um toque de dramatização. — Afinal, quem sou eu para recusar um almoço com um amigo tão dedicado?

Os dois riram juntos, o som de suas risadas misturando-se ao burburinho suave da praça. Com as mãos ainda dadas, eles começaram a caminhar em direção ao restaurante, o sol brilhando acima e com o dia se tornando cada vez mais agradável.

Enquanto os dois caminhavam pela praça, um telão gigante à frente deles, que inicialmente estava fazendo propaganda de um produto qualquer, mudou de programação e começou a transmitir um comercial. Gwen não prestou muita atenção, mantendo seu olhar distraído em frente, mas Dusk parou instantaneamente, o olhar capturado pela nova imagem na tela.

No vídeo promocional, um grupo de mulheres, todas vestidas como feiticeiras, bruxas e conjuradoras, seguravam uma variedade de itens mágicos: cajados enfeitados, grimórios antigos e outros artefatos místicos. A música de fundo era intensa e cativante, cheia de mistério.

— Faltam quatro meses para a primeira etapa do concurso Ibess, para decidir a maior feiticeira de todos os tempos. Você, mulher, que ainda não fez sua inscrição, faça agora, antes que as vagas acabem! — anunciava uma voz empolgada.

Gwen, percebendo que Dusk havia parado para assistir ao anúncio, se virou para olhar também. Ela retirou a mão da dele, cruzou os braços e observou a tela com uma expressão de leve curiosidade, embora não parecesse tão impressionada quanto Dusk.

— Hum... Concurso Ibess? — comentou Gwen, arqueando uma sobrancelha, claramente sem muito entusiasmo.

Dusk olhou para ela, curioso.

— Você vai participar também? — perguntou, tentando esconder a excitação em sua voz.

Gwen deu de ombros, o olhar ainda fixo na tela.

— Para falar a verdade, não sei. Tenho vontade, mas meu ânimo é zero. Talvez, se bater aquela vontade repentina, eu me inscreva. — disse ela, em um tom despretensioso.

Dusk riu, conhecendo bem o jeito de Gwen. Ela sempre foi assim, deixando as coisas acontecerem conforme sentia. Enquanto conversavam, a tela do telão mudou para mostrar uma sequência de fotos das concorrentes mais promissoras dos anos anteriores. Uma delas capturou imediatamente a atenção de Dusk.

A imagem de uma garota com longos cabelos azuis e olhos da mesma cor, emanando uma aura de confiança e beleza, preencheu a tela. A aparência dela era tão impressionante que era digna de uma miss. Os olhos de Dusk se arregalaram ao reconhecê-la.

“Eu conheço essa garota?” — pensou Dusk, sentindo uma onda de nostalgia.

Algo sobre a aparência dela trouxe de volta memórias do passado, especificamente de quando ele era mais novo. Uma lembrança vaga surgiu, daquela época em que ele havia tomado uma decisão importante em sua vida. Ele ficou perdido em pensamentos por alguns instantes, tentando conectar as peças.

 

◇◆◇

 

Isso aconteceu anos atrás, quando Dusk tinha apenas 10 anos de idade. Naquela noite escura e carregada de tristeza, ele não estava em um lugar comum. Ao seu lado, em meio ao vasto campo, estava uma garota de sua idade, com longos cabelos loiros que brilhavam sob a luz pálida da lua e olhos esverdeados que refletiam tanto medo quanto desespero. Juntos, eles olhavam fixamente para o horizonte, onde podiam ver a cidade de Cradel em ruínas.

Cradel, uma vez vibrante e cheia de vida, agora era um cenário apocalíptico. Prédios destruídos desenhavam um horizonte quebrado, carros pegando fogo iluminavam as ruas, e corpos sem vida estavam espalhados pelo asfalto, um testemunho silencioso da destruição causada pelos Etéreos. No céu, uma horda de dragões etéreos sobrevoava os arranha-céus, suas sombras passando como presságios de morte, em busca de qualquer alma viva para incinerar com seus poderosos sopros de fogo.

A garota ao lado de Dusk olhava para toda aquela devastação com olhos arregalados, a expressão em seu rosto era de puro desespero. Ela estava de joelhos, as mãos cobrindo a boca, tentando conter os soluços que rasgavam sua garganta. Lágrimas de tristeza e ódio escorriam por suas bochechas, marcando trilhas no rosto sujo de fuligem.

— Mamãe! Papai! — ela gritava, a voz embargada pelo choro, a dor em suas palavras ressoando no ar noturno.

Dusk, ao seu lado, lutava contra o próprio desespero. Ele se recusava a chorar, seus olhos ardendo de raiva e frustração. Com um olhar firme, encarava a cidade destruída. Em sua mão, segurava com força uma espada feita de cristal, a luz refletindo em suas facetas brilhantes. Ele apertou o cabo com tanta força que os nós dos seus dedos ficaram brancos.

— Se eu fosse mais forte... Se eu tivesse poder suficiente... Eu estaria lá, lutando ao lado dos meus pais — declarou Dusk.

A garota ao seu lado compartilhou do mesmo sentimento. Ambos estavam unidos por um desejo profundo de vingança e justiça, alimentados pela visão da destruição de Cradel. Lentamente, com uma determinação renovada, eles levantaram suas cabeças, encarando a cidade devastada à sua frente.

— No dia em que eu virar um capitão, vou acabar com todos os Etéreos! — declararam ambos ao mesmo tempo, suas vozes firmes e cheias de convicção ecoando na escuridão.

As palavras, ditas em uníssono, surpreenderam os dois. Eles se entreolharam, surpresos, mas logo um entendimento silencioso se formou entre eles. Havia um brilho de determinação nos olhos de cada um, uma promessa silenciosa que transcendia palavras.

Dusk foi o primeiro a romper o silêncio, a raiva e a tristeza ainda fervendo dentro dele.

— Estou cansado desses Etéreos. No dia em que eu virar um capitão, vou eliminar todos esses monstros do planeta. Não vou descansar até que todos estejam destruídos.

A garota assentiu, os olhos ainda cheios de lágrimas, mas agora havia uma chama ardente em seu olhar.

— Eu também. No dia em que me tornar capitã, vou fazer com que paguem por cada vida inocente que tiraram! — declarou ela, sua voz agora cheia de força.

Dusk estendeu a mão, os olhos fixos nos dela, como se estivesse selando um pacto.

— Então, é uma promessa? — perguntou ele, a voz baixa mas cheia de determinação.

— Sim, é uma promessa. — respondeu ela com firmeza, apertando a mão dele.

Ali, sob o céu estrelado, com a cidade em chamas à distância e o rugido dos dragões preenchendo o ar, os dois jovens fizeram uma promessa que mudaria suas vidas para sempre. Uma promessa de lutar, de nunca desistir, de proteger aqueles que amavam e de erradicar a ameaça dos Etéreos para sempre.

 

◇◆◇

 

Gwen, notando a expressão de Dusk, cutucou-o de leve no braço, trazendo-o de volta ao presente.

— O que foi? Conhece ela de algum lugar? — perguntou Gwen, agora mais interessada na expressão de Dusk do que no concurso em si.

— Acho que sim... Ela me lembra alguém que conheci quando era pequeno. — respondeu Dusk, ainda um pouco distraído. — Só não consigo lembrar exatamente de onde.

Gwen sorriu, vendo a expressão de Dusk. Era raro vê-lo tão intrigado.

— Bom, se for mesmo alguém do seu passado, aposto que vai descobrir em breve. Talvez seja um sinal pra você assistir ao concurso de perto, hein? — provocou Gwen, dando-lhe um leve empurrão de brincadeira.

Dusk riu, balançando a cabeça.

— Quem sabe, né? Talvez seja mesmo.

Os dois continuaram a caminhar, agora lado a lado, Gwen ainda com os braços cruzados e Dusk com as mãos nos bolsos. Por mais que Gwen tivesse pouco interesse no concurso, ela sempre estava disposta a apoiar Dusk, mesmo que isso significasse acompanhar suas ideias mais inusitadas.

— Só não me faça entrar nesse concurso por você, hein! — brincou Gwen, olhando para ele de lado.

— Não se preocupe, Gwen. Eu já tenho minhas próprias preocupações! — respondeu Dusk, piscando para ela.



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