Season 1
Quinto Conto: Mosquito
Por: Themis
— …e era assim que se andava pelas ruas naqueles dias. — A voz rouca e meio áspera do velho concluiu a história que manteve a atenção das crianças por algumas horas. Era um feito que somente as suas palavras conseguiam ter.
— Tio Sebastião, mas por que todo mundo tinha que andar de carro? — perguntou uma mãozinha curiosa.
— O que é um carro? — indagou outra.
Suspirando, o velho olhou para as crianças que o rodeavam. Todas pareciam iguais e diferentes ao mesmo tempo. As roupinhas feitas de fibras de cacto eram bem ajustadas, e adequadas para o ambiente árido. Os olhinhos curiosos estavam ávidos por mais histórias, mesmo com o sol começando a se pôr.
— Isso… é pergunta para outro dia. Vão, suas mães devem estar esperando vocês.
Os pequenos soltaram murmúrios de descontentamento, mas seguiram as instruções de Sebastião. Ele era um homem respeitado, o único com conhecimentos “de antes”. Antes do quê? Ninguém tinha certeza, apenas ele sabia — e não contaria tão cedo.
O velho olhou os pequenos cabritos correndo para suas tocas e sorriu ao pensar que logo cresceriam, e trariam os seus filhos para ouvir as suas histórias. Distraído, passou a mão nos pêlos esbranquiçados de Mosquito, seu companheiro de longa data.
— Quantos anos já fazem…?
Muitos. Mais do que se lembrava. Quantos dias formavam um ano mesmo?
— Eram mais de 300… — resmungou entre tossidas.
— Tá lembrando dos tais gregos, Tião? Aqueles caras que você disse que lutaram contra um bando de gente? — perguntou uma senhora que passava com um cesto cheio de cactos, que logo se tornariam novas roupas para os jovens.
— Na verdade, não, dona Sinhana. Era uma coisa que eu… sabia.
A senhora mostrou compreensão, mas não deu mais atenção. Como alguns, ela não entendia a sua função ali. Todos trabalhavam pela sociedade, fosse buscando mantimentos, fosse fazendo a manutenção da vila, mas Sebastião só conversava e contava historietas. Carros, prédios, poluição, eleições… Sinhana também já tinha ouvido sobre isso, também fora uma das crianças de Sebastião. Mas cresceu, e já não entendia a lógica dessas bobagens.
Sebastião se despediu e começou a andar. Passou pelas casinhas cuidadosamente construídas, com telhados bem amarrados para evitar goteiras nas raras chuvas que assolavam a região. Chegando na porteira que anunciava a entrada do vilarejo, aproximou sua mão de um totem que ali estava instalado.
Dele, uma luz vermelha surgiu e logo se apagou. Era um sistema que servia para identificação das entradas e saídas do local, embora ninguém soubesse exatamente como. Pensando nessa burocracia desnecessária, o velho, então, lembrou que em breve alguns vagantes passariam por ali, e que isso traria problemas para ele.
“Vou precisar trancar a porta…”
Depois de alguns minutos, chegou à sua casa. Ali, se virou e olhou a vila, segura entre cercas de arame enferrujado.
— Quem poderia imaginar que esse seria o destino da humanidade?
Distraído, não ouviu a porta abrir, nem percebeu a movimentação fraca e manca do velho cão. O animal parou ao lado do dono, observando-o com os olhos já turvos pela idade.
Homem e bicho, lado a lado. Essa era uma imagem que costumava representar a vida bucólica, as pessoas do campo que saíam antes do Sol para a lida, mas que, agora, mostrava uma solidão estranha.
As casinhas de sapê, mal distribuídas no terreno, criavam um contraste com o campo de antes, quando havia ao menos alguns animais, como vacas e galinhas. Nesse lugar, os adultos saíam antes do sol para buscar mudas, enquanto adolescentes e crianças ficavam na vila para brincar de trabalhar e ouvir histórias dos mais velhos — especialmente do velho Tião.
— Esse era o ideal buscado por todos aqueles filósofos? — se perguntou.
O velho cão deu um meio latido, confirmando a dúvida do homem, que passou a mão na sua cabeça.
— Sabe, Mosquito, quando eu era menino, não entendia como alguém poderia viver sem internet e outras tecnologias. Mas lembro que minha avó dizia que na época dela não existia nada do tipo. É… estranho.
Enquanto dúvidas e questionamentos passeavam pelas cabeças desocupadas, os dias passavam na mesma monotonia de sempre. Embora já tivessem se passado anos do evento mais marcante da história da humanidade, Sebastião ainda estranhava o novo estilo de vida das pessoas.
Ele, que viveu todas as mudanças da sociedade, não conseguia aceitar plenamente o fato de viver “no meio do mato” e ainda ter que ficar feliz com isso. Mas não existia mais internet, nem energia elétrica, nem escolas, nem…
— Nada! Essa porcaria de natureza! Esses merdas que se dizem humanos! Nem medicina esses bostas sabem mais! Por quê? Por que tivemos que abandonar tudo? — Lágrimas escorriam pelo rosto de Sebastião enquanto acariciava a cabeça do seu melhor amigo.
Mosquito era velho. Sempre foi velho. Pelo menos para as pessoas da vila.
Mas, para Sebastião, era um filhote. O pequeno filhote que conseguiu esconder nas roupas enquanto fugia anos antes. O cãopanheiro que o ajudou a sobreviver durante todo o tempo que esteve perdido na região desconhecida, até encontrar a população daquela vila, formada por diversas famílias quebradas e esquecidas.
— Eu vou achar alguém pra te ajudar, meu velho. Eu… não vou te deixar ir assim. — Uma determinação que há anos não era vista emergiu de dentro de Sebastião.
Lentamente, pegou o vira-lata no colo e se levantou. Com passos firmes, foi para a vila, esperando amparo. Alguém ali devia saber fazer alguma coisa para salvar o bicho.
— É o Seu Tião! — gritou uma criança que viu o velho se aproximar. — E o Quito!
A vila entrou em alvoroço. Crianças correndo de um lado ao outro, adultos tentando pará-las, velhos distraindo um ou dois estranhos que estavam por ali de passagem.
“Parece que escolhi um mau momento…”, ironizou Sebastião. Nunca seria um bom momento.
— O que faz aqui, Sebastião? — perguntou uma mulher que segurava duas crianças esperneantes pelo braço. — Você nunca desce nesse período do ano. Pensei que odiasse os vagantes.
O julgamento nos olhos da mulher era claro. Ela não o queria ali.
Sebastião parou e olhou para os outros vilões. Ela não era a única que tinha essa opinião, e ele sabia disso, mas tinha que tentar.
— Eu… sei que vocês não sabem o que fazer pra me ajudar. Eu sei disso, vocês sabem que eu sei, e eu sei mais que vocês.
— Esse cara é o doido da vila, Epaminondas? — Uma voz desconhecida se sobressaiu às demais.
— Algo do tipo, Jonas. Mas nada com o que você deva se preocupar.
Sebastião sentiu o peito tremer. Era isso que ele era ali? O louco da vila? O esquisito isolado que ninguém gosta, mas que todos toleram?
Engolindo o orgulho ferido, o velho não respondeu. Estabilizou as emoções tomando um instante de silêncio e falou:
— Eu preciso de ajuda.
Silêncio total.
Um pedido completamente inesperado e único. Era a primeira vez em toda a história do lugar que Sebastião pedia ajuda, então todos se espantaram.
— Hahahahaha! Vocês vão ajudar o louco da vila? Esse tipo de gente é melhor nem chegar perto! — debochou o outro vagante.
As crianças ficaram confusas, mas a maior parte dos adultos parecia concordar com isso. Eles não ajudariam Sebastião.
— O… o Mosquito. Ele…
Querendo impressionar os visitantes, Epaminondas cuspiu no chão próximo dos pés daquele que o ensinara tudo o que sabia e disse:
— Quem liga pra um saco de pelos e ossos inútil que tudo o que faz é comer a nossa comida? Vá arranjar o que fazer, velho.
Algumas crianças tentaram protestar, mas suas bocas foram cobertas pelas mãos de suas mães e de qualquer outro adulto que estivesse por perto. Os adultos que discordavam não ousaram se opor, afinal, não teriam para onde ir se saíssem dali.
— Epaminondas. — esbravejou Sebastião. — Vai trair quem já salvou a sua vida? Foi ele quem te salvou quando criança!
— Então vocês tão fazendo isso tudo por causa de um bicho pulguento e sarnento? Quem ainda usa animais esses tempos? Não sabiam que é crueldade ter animais de “estimação”? — zombou Jonas. — Meu amigo, aqui tu não vai ter ajuda não. Se vira nos trinta aí.
— Isso mesmo. Ninguém mais te aguenta aqui, Sebastião. Você não faz nada pra ajudar e fica aí, comendo de graça! — gritou alguém ao fundo.
Logo, todos da vila estavam gritando contra ele. Até as crianças, talvez por acharem que tudo não passasse de uma grande brincadeira. Ver essa cena e ouvir essas vozes, fez o aperto no peito de Sebastião aumentar, e o esboço de uma lágrima surgiu nos seus olhos.
— Se é isso o que vocês têm a dizer, se preferem agradar vagantes que vêm e vão quando querem, que usam vocês e que o máximo de ajuda que dão é ajustar o portão, então eu não tenho mais nada a fazer aqui.
Sua figura era sombria, mas forte. Seus passos firmes fizeram todos parar o que faziam, e ninguém mais abriu a boca. Ninguém seria capaz de impedi-lo, e eles sabiam disso.
Era a hora. Ele não ficaria ali nem mais um segundo.
— A tristeza do teu pranto é mais triste quando eu canto…
Sebastião não era novo. Há muitos anos não era novo. Então sempre se lembrava das coisas, de mais coisas do que devia, como sempre admitiu.
— A canção que te escrevi…
Mosquito, porém, era novo. Tinha nascido há poucos dias quando aquilo aconteceu, então não conheceu o mundo de antes, apenas o de agora.
“Mas não é como se um cachorro pensasse nessas coisas…”
— E os teus olhos, neste instante, brilham mais…
O velho e o cão não sabiam que Sebastião podia andar tanto em tão pouco tempo. Em menos de duas horas, chegaram a uma cidade. Ou o que antes fora uma cidade.
Algumas ruínas ainda existiam, mas agora, eram lar de plantas e animais silvestres. O chão ainda apresentava resquícios do asfalto que para os moradores, mal se diferenciava de qualquer outra rocha. Andando mais um pouco, logo viram os casebres distribuídos no que antes fora o centro da cidade.
Eram melhores que as casas de sapê da vila, mas não eram como os prédios da memória de Sebastião. Na verdade, lembravam as histórias dos elfos que leu quando criança — ou as casas na árvore dos filmes americanos.
— Que a mais brilhante das estrelas que já vi.
Olhando mais atentamente, existiam alguns veículos que pareciam com os carros de antes. Eram como carros que flutuavam a alguns centímetros do chão, e que eram rápidos como gaviões mergulhando na direção da presa.
Isso ativou a curiosidade de Sebastião, que nunca saíra da vila desde a sua fundação. Inquieto, foi impelido a se aproximar e observar mais.
Logo, viu que tinha pessoas ali. Pessoas diferentes. Pessoas com olhares diferentes, emoções diferentes.
Sebastião sentiu o velho coração pulsar mais forte no peito. Andando mais, ouviu pássaros cantando e vozes soando. Seria um evento? Ficou curioso com a sintonia entre as aves e o ressoar da canção.
Então, andou para mais perto das pessoas, e sentiu um calor mais humano do que o que pensava sentir na vila de onde saiu. Ninguém ali o conhecia, mas todos o cumprimentavam calorosos e mostravam preocupação com o animal em seus braços, mas ninguém podia ajudá-lo.
Claro, ninguém nunca poderia ajudá-lo. Sebastião estava sozinho no mundo, lutava sozinho desde sempre, e não seria agora que isso mudaria.
Mas isso poderia mudar.
Vendo o velho continuar sua cambaleante caminhada pelas ruas de terra batida e passar por lugares que ainda se recordava vividamente e locais que mais pareciam borrões de um passado distante, um motorista se ofereceu para ajudá-lo a chegar ao seu destino.
Tião queria carregar Mosquito até encontrar o lugar que mantinha algum aspecto do antes, mas aceitou a gentileza do desconhecido, que o levou até a casa de tratamento.
— Não confie nessas coisas, meu caro. Ninguém deve viver mais do que a natureza permite. Brincar com a saúde é ir contra a vontade de Deus, e isso nunca é uma boa ideia.
Sebastião agradeceu o conselho, mas corrigiu o rapaz, enquanto acalmava o amigo em seus braços: — Meu jovem, se fosse contra Ele, porque o próprio fazia milagres? Não usar os dons e habilidades para ajudar quem precisa que é pura estupidez. Retroagir os conhecimentos que poderiam salvar vidas por mero “equilíbrio com a natureza”? Isso vale mesmo a pena? Não precisa me responder, apenas… pense nisso.
Os dois se despediram, e o velho se virou para analisar o local.
Na porta daquela casa de tijolo e sapê encontrou uma velha placa com uma única cruz toscamente pintada na madeira ressecada com tinta laranja. O vermelho deixou de brilhar nas vestimentas e sinais quando as cochonilhas passaram de ingrediente para parte da paisagem.
Quando bateu à porta, ouviu lá de dentro uma voz aguda responder “já vai”, algumas coisas caindo e passos leves se aproximando.
— Vem logo, por favor… — A ansiedade estava ali, e não sairia. Ele queria gritar, mas temia assustar quem quer que estivesse chegando. Aqueles míseros segundos pareciam séculos, quando pensava na vida do seu melhor amigo se esvaindo entre os dedos.
— Ei, tio. Eu não falei que já tava vindo? Pra quê a pressa?
Sebastião viu a porta abrir e ouviu a voz, mas não viu quem falava. Parecia uma…
— Criança?
— É… cê deve ter batido a cabeça. Nunca viu uma criança antes? É claro que sou um… um… qual era o nome mesmo… ah! É claro que sou um anão. Um médico anão.
Era um garotinho que vestia roupas esfarrapadas e tinha o cabelo desgrenhado. E, pela bagunça visível pelo vão da porta, estava claramente morando sozinho.
— Não tenho tempo para brincadeiras. Preciso de um médico. Ou seja lá como vocês chamam quem cuida dos doentes por aqui.
— Eu sou um médico! Já falei. Olha aqui meu xaleco — o pequeno apontou com orgulho para as roupas mais sujas que as patas de Mosquito. — Sou o único médico das redondezas, mas… tô ocupado. Então procura outro, velhote.
Depois de falar, o menino tentou fechar a porta, mas foi impedido pelo pé de Sebastião. O homem não sabia o que dizer, estava angustiado demais para se expressar. Velha e nova guarda se encararam até que Mosquito soltou outro gemido angustiado.
— Ei, ei… — murmurou Sebastião, aproximando o rosto do amigo. — Vai ficar tudo bem.
O menino olhou para o animal nos braços do homem e entendeu. Não sabia o quê, exatamente, mas entendeu.
— Traz ele aqui. — falou, indicando uma cama que, ao contrário do resto da casa, estava limpa.
Por algum motivo, Sebastião seguiu as ordens do menino. Depositou o cão sobre a superfície com cuidado e ficou ao seu lado, passando a mão nos pelos grisalhos. A criança, então, indicou uma cadeira para ele, que a puxou para ficar ao lado do amigo enquanto o “médico” trabalhava.
— Nossa… nunca vi um cachorro tão velho em toda a minha vida… Ele tá doente mesmo?
— Claro que está doente, o Mosquito ainda tem muito o que viver.
Talvez tenha sido o desespero na voz do homem ou sua expressão de aflição que fizeram o garoto não dizer o que gostaria e, mesmo que em vão, começar a examinar o pobre animal.
— Sabe… — comentou. — Antigamente, existiam muitos outros como você. Um pouco mais velhos, mas ainda como você. Pessoas que tinham coragem de ajudar os outros, não essa tolice de seguir a natureza e deixar que os pacientes morressem para manter o "equilíbrio”. Eu mesmo até quis ser um deles, mas não me dou muito bem com sangue, sabe? Na época, decidi virar escritor…
— Escritor? — perguntou o pseudo-anão enquanto encostava o nariz no focinho do pobre cão.
— Isso, era moda antes de pararem de usarem papel para os livros… Foi bom enquanto durou, não vendi muitos livros, mas não me arrependo, até porque foi com o meu maior fracasso que conheci minha esposa…
— A história era tão ruim assim?
— Mediana eu diria, mas ela achava a melhor de todas, lia todo dia antes de dormirmos, até nomeou o Mosquito em homenagem ao vilão…
— Vilão? — perguntou de canto de boca enquanto ouvia os falhos batimentos do cão.
— O cara mal, um gangster metido a sabichão.
— Jurava que vilão é quem mora em vila, mas se tu tá dizendo…
— Desculpe… às vezes começo a falar e esqueço de parar… as pessoas da vila onde moro dizem que pareço uma matraca…
— Uma bem desafinada por sinal, mas me acostumei com a Dona Nalha fazendo o mesmo.
— Foi ela quem te ensinou? Digo, a cuidar de gente.
— Mais para obrigou, mas, sim, foi ela — Com um último exame nos olhos cinzentos de mosquito, o garoto passou a organizar seus equipamentos — Arquiteta.
— Arquiteta?
— Era o que ela fazia antes de tudo ficar mais fácil, mas, depois dos gigantes de concreto caírem, teve que aprender a cuidar de gente.
O rapaz e Tião se encararam por algum tempo, ambos sabiam o que seria dito, mas nenhum tinha coragem de dizer, o rapaz não queria magoar o velho e o velho não queria aceitar a dura verdade.
— Sabe? Acho que Mosquito quer passear, fiquei sabendo que a praia fica linda nessa época do ano.
Sebastião deu uma risada de autodepreciação antes de dizer:
— É, acho que sim. Quando filhote, ele adorava correr atrás das ondas… por que não vem junto? Mosquito adoraria a companhia.
— Claro, já estava saindo de qualquer forma.
E, assim, partiram, homem, criança e cão no colo, lentamente pelas ruas de chão batido. Pelo caminho, Tião contava suas histórias ao garoto que as ouvia em silêncio, talvez por respeito, talvez por educação.
O velho contou sobre seus tempos no exército, quando sua maior preocupação era pintar o meio fio da cor certa. Contou sobre seu primeiro carro, sobre suas desventuras, sobre seu primeiro amor e sobre seu último amor. Contou sobre as partes boas da vida e aquelas não tão boas assim. Falou e falou até ouvirem o som do mar.
— Ouça Mosquito, estamos chegando, só mais um pouco e estaremos correndo pela areia.
Não demoraram a chegar, avistaram as ondas quebrando sobre os rochedos. Ao fundo, viram as plataformas de habitação flutuando mar adentro, como os velhos barcos que costumavam descansar naquele porto.
Tião se sentou próximo a uma palmeira, ainda se lembrava de tê-la plantado, ainda se lembrava dos piqueniques que fez alí.
— Vamos sentar um pouquinho, Mosquito, minhas pernas doem um pouco.
O velho continuou sentado por muito tempo, apreciando o Sol se pôr por trás das habitações. Enquanto o Sol ia descansar, o velho passou a cantarolar aquela canção, cantarolava enquanto acalmava seu companheiro.
Tião só parou de acariciar o cão quando fechou os olhos, assim como Mosquito. Tião estava sorrindo quando caiu no sono e estava dormindo quando não acordou. Mosquito parecia feliz quando deu seu último latido e, assim como seu dono, decidiu ir descansar.
Aquele garoto ainda conta essa história sempre que pode, conta a história do último resquício da antiguidade que o novo mundo já viu. E, sob aquela palmeira, hoje descansam três lápides…