Pt. 2 – Arco 3
Capítulo 39: Todos Querem Dominar o Mundo (2)
Quarto N. ???, Casa do Sol Nascente - 01:00 da madrugada, dezesseis de Julho.
Leonard, Einstein, Elin e David Goe encaravam a idosa que segurava uma submetralhadora.
— Venham comigo, agora! — gritou a velha raquítica fodida e com escoliose. — Demorei muito para encontrá-los, então vamos!
— Qual foi, quem é tu? — indagou o detetive.
— Pouco interessa. O mestre Panthael quer vocês. Então, venham imediatamente!
— Ah, cê é parça do Panthael…? — Ignorando completamente o fato dela estar armada, saiu correndo em sua direção para atingi-la com uma voadora. — Vai te foder!
Leonard conseguiu surpreender a velha com sua enorme velocidade, a derrubando junto da arma antes de qualquer tiro ser disparado. A submetralhadora caiu no corredor. Já a velha, não desistiu de lutar contra ele e mordeu sua perna.
— Desgraçada! — berrou, antes de acertar um chute no rosto dela com a outra perna.
Ainda assim, sua perna não se livrou dos dentes da idosa. Portanto, deu outro chute.
Mesmo quando a idosa desmaiou pela forte pesada, o investigador ainda precisou arrancar a dentadura que havia ficado presa na sua calça.
— Nossa, espancou a velha sem piedade nenhuma — comentou Elin.
— Cacetadas, o senhor matou uma idosa! — gritou Einstein.
— Às vezes, precisamos espancar idosas pra crescer na vida — afirmou o detetive. — E ela tá viva, então tá tranquilo.
Apesar de estar viva, a idosa vai ter que passar os próximos seis meses no hospital.
— Mas olha só… — David se aproximou e analisou pacientemente a mulher inconsciente. — Essa senhora é uma cliente antiga do hotel. Posso afirmar com certeza de que ela não é uma crypto, muito menos está aliada com forças que procuram pelos senhores.
— Ué, então por que ela estava agindo desse jeit… — Leonard rapidamente entendeu. — Hm, já tô vendo que existem cryptos capazes de controlar mentes.
— É. Existem.
— Está me dizendo que o detetive acabou de espancar uma senhora inocente? — Elin falou, esboçando um sorriso mórbido.
— Oh, meu Deus, o detetive vai para o Inferno! — Einstein se ajoelhou. — Papai do céu, por favor, livrai essa alma dos pecados que cometeste! Ele merece o perdão, sei bem disso!
Enquanto o feiticeiro chorava por sua alma, Leonard saiu para o corredor e agarrou a submetralhadora, dizendo:
— Olha só, se ela só estava sendo controlada, por que veio carregando essa arma?
— Autodefesa, acredito — respondeu David.
— Definitivamente — assentiu Elin.
— Sim. Isso é óbvio — concordou Einstein.
— Isso nem faz sentid–
Leonard sumiu da visão deles no momento em que foi atropelado por uma moto.
…
Quando se tocou de que estava sendo atropelado e empurrado para longe de seus colegas, Leonard saltou contra o piloto do veículo e atingiu um soco no rosto dele.
Como resultado, os dois caíram no chão do corredor e a moto escorregou para longe. O detetive se levantou rapidamente, com a perna esquerda fraturada.
O piloto, trajado com as vestimentas de um policial, se levantou. Estava dez vezes mais machucado, pois tinha a resistência de um humano comum. Mesmo assim, como se estivesse intacto, ignorou completamente toda a dor e aproximou a mão do seu coldre para sacar uma pistola.
— Nem vem! — Leonard berrou.
Uma raiz escarlate nasceu na mão do investigador e cresceu de forma espantosamente rápida, agindo como um chicote vivo que agarrou a pistola do policial e a jogou para longe.
Em seguida, Leonard partiu até o inimigo e o nocauteou com um soco.
“Isso daqui tudo tá ficando meio insano, tenho que me juntar aos outros para encontrar esse crypto controlador de mentes e matá-lo de uma vez antes que ocorram mais acidentes.”
BANG! BANG!
O detetive se assustou com o som repentino. Todavia, o que mais o espantou foi a dor imensa que sentiu. Quando olhou para baixo, entendeu que havia levado dois tiros. Um em cada perna.
Caiu no chão, agonizando de dor. Ao se virar para trás, encontrou outro policial, com uma pistola em mãos . “Maldito, me acertou pelas costas…”
— Se tivesse aceitado vir comigo, eu não teria sido obrigado a fazer algo tão radical — falou o homem. — Só fiz isso para impedi-lo de correr.
— Maldito desgraçado… — fraquejou. — Por que não aparece com o teu corpo real? Covarde!
— Covarde? — Uma expressão de ódio puro logo se desenvolveu no rosto do policial. — Eu sou covarde? Logo eu, que estou disposto a fazer de tudo para que o mundo se torne um lugar melhor? E vocês? Vocês são a ponte para isso acontecer, mas só ficam fugindo, com medinho de morrer. Morrer fazendo isso deveria ser um alívio, porra!
— Tá me dizendo que eu deveria me sentir honrado em morrer para que seu líder se torne mais forte ou algo do tipo, só porque ele supostamente vai tornar o mundo um “lugar melhor”? E o que seria esse “melhor”? Aquele mano azul pode muito bem só querer, sei lá, acabar com os sitcoms… ok, isso tornaria o mundo um lugar melhor, mas não ao custo da minha vida ou da vida de meus amigos. Vai te lascar, trouxa. Qual é a de vocês? Por que gostam tanto desse cara?
— É simples. Ele tem um plano.
— Plano do quê?
— Acabar com tudo isso. Essas guerras imundas que sempre são motivadas por líderes arrogantes. A pobreza, a fome. Leis ridículas. Governos construídos em cima de crenças estúpidas. E, por fim, acabar com as coisas que as elites fazem em segredo. Afinal, foi isso o que nos levou até este ponto.
— Então… cês querem criar uma nova ordem mundial?
— Nunca parei para pensar nisso, mas é. É exatamente isso o que queremos.
Um sorriso horrendo cresceu no rosto do investigador, que como um homem das cavernas, começou a comemorar:
— Caramba. Eu sabia! Eu sabia! Eu sabia! Eu sabia!
— O que foi?
— Ah, cara, que felicidade! Eu sabia que iria investigar alguma coisa envolvendo os Illuminati algum dia!
— Illuminati…?
— Isso! Illuminati! Cês também querem implantar chips na Coca-Cola para controlar mentes? Espera… é assim que seu poder funciona?!
— Qual é a desse cara…? — murmurou. — Por isso que odeio pessoas.
Aproveitando que o sujeito sob o controle do policial ficou distraído, Leonard arrancou a Mystery Gun do bolso e a destravou com um movimento rápido para disparar uma rajada de frio que congelou o corpo do policial em um instante.
“Ótimo, mas ainda não devo abaixar a guarda. Esse policial era só mais uma vítima de um crypto que controla mentes. Não tenho a mínima ideia de quantas pessoas nesse hotel estão sendo controladas…”
Com mais um inimigo derrotado, o detetive olhou para trás, diretamente para o quarto onde seus amigos estavam. Conseguia ver várias pessoas entrando no quarto como se fossem zumbis. Sons bem altos e violentos também saíam de dentro do cômodo.
Voltou os olhos para suas pernas ensanguentadas. “Droga…!” Mesmo que em meio a risadas há poucos instantes, a verdade era que a dor nunca cessava. Descrevê-la como insuportável já chegava a ser inútil, pois passou por tantas coisas nos últimos tempos, que a dor física tornou-se algo corriqueiro.
Por isso, arrancou partes da farda de um dos policiais inconscientes e usou os trapos para estancar seus próprios sangramentos. “Rastejar até lá vai demorar… e se eu gritar para chamá-los, por causa dessa barulheira toda, eles nem vão conseguir me escutar…”, pensou. “Já sei!”
…
Uma horda de civis e policiais invadiram o quarto, aparentemente controlados por um terceiro, e partiram na direção dos três.
Elin percebeu que usar os seus poderes seria desnecessário; nocauteou um policial ao socar sua garganta e roubou o cacetete dele, que fora usado para nocautear todos os outros “fantoches” que tentavam atacá-la.
Einstein, impressionado com as habilidades de luta da sua irmã, tentou imitá-la e falhou miseravelmente. Após levar alguns socos, decidiu apelar, atirando esferas de eletricidade fracas contra todos os seus alvos para deixá-los inconscientes. “Só preciso me concentrar para usar pouca mana e não dar danos sérios a ninguém…”, pensou.
David Goe apenas ficou sentado, deixando a casa atingir todos os inimigos que se aproximavam. Era comum ver vigas saindo das superfícies para atacar os “fantoches”, junto de vasos, um ventilador e camas.
Demorou um pouco para que a batalha terminasse com todos os inimigos derrotados.
— Finalmente… — comemorou Elin, ofegante. — Atacar sem ser para matar é muito complicado.
Repentinamente, uma moto saltou para dentro do quarto. Sobre o veículo, se encontrava um ferido Leonard Mystery.
— Qual foi, galera, sentiram saudades?
— Leonard! — exclamou o hamster, saltando para cima dele na intenção de abraçá-lo.
— Ei, calma aí, tô machucado! Levei dois tiros! Sério, um em cada perna!
— Catapimbas! Vou curá-lo, calma.
Enquanto o detetive era curado pelo feiticeiro, Elin vagava pelo quarto, observando atentamente as vítimas inconscientes do crypto controlador de mentes. Tentava analisá-las, ver se encontrava alguma coisa em comum em cada uma delas.
— Todos estão manchados de sangue — concluiu.
— Nós acabamos de agredi-los — falou David.
— É, verdade.
“É cada diálogo merda…”, pensou Leonard, enquanto era curado. Depois da magia curativa ter consertado completamente suas pernas, ele finalmente conseguiu se levantar. Provavelmente, apenas a magia curativa seria incapaz de lidar com ferimentos daquele nível. Só que, em união com as capacidades regenerativas sobre-humanas do detetive, a história mudava.
— Valeu, parça — falou para Einstein.
— Por nada, amigão.
— Aí, galera, acho que devemos sair daqui. É questão de tempo para que aquele covarde mande mais pessoas inocentes para tentar nos matar.
— Isso é verdade — assentiu David. — Precisamos sair daqui o mais rápido possível para encontrar o corpo verdadeiro deste crypto.
Dito e feito. Os três saíram do quarto e iniciaram a caminhada pelo corredor. As portas de todos os quartos vazios foram arrombadas, como se os humanos controlados tivessem passado por vários cômodos antes de encontrá-los.
Os corredores estavam vazios. Provavelmente, todos civis que habitavam os arredores do hotel haviam usados para invadir o quarto.
— Como vamos encontrar esse paspalhão? — indagou o hamster.
— Posso lidar com isso — disse David. Subitamente, o olho esquerdo dele desapareceu de seu rosto. No lugar do olho, surgiu um espaço brilhante de energia. Sem nenhum sangue.
— O que é isso?! — gritou o detetive.
— A preocupação é desnecessária — explicou o dono do hotel. — A minha singularidade também faz com que eu consiga me fundir com este hotel. Fiz isso com todo o meu corpo quando lutei contra Einstein para desviar de um golpe, mas também posso usar deste artifício para transportar partes de mim pelo hotel… embora meu corpo interprete como se tais partes não tivessem desaparecido, o que evita sem sangramentos ou coisas semelhantes.
— Algo me diz que cê se aproveita disso com frequência — disse Leonard.
— Sim. Costumo fazer isso com meu olho para ver se está tudo bem pelo hotel. Foi desse modo que os vi entrando no subsolo. Agora, farei meu olho passear pelas paredes do hotel até encontrar alguém suspeito… Oh!
— O que foi?
— Pelo visto, será fácil saber quem é o crypto… o hall foi destruído e o hotel todo está dominado. É como uma epidemia. Todos viraram fantoches deste maldito!
— Ferrou…
— Isso é sério? — questionou Einstein.
— Como fui perder a atenção desse jeito? — David murmurou.
— Foi culpa nossa — respondeu Elin. — Você se esqueceu de cuidar do hotel porque estava conversando conosco. Droga.
— De qualquer modo, temos que matar esse covarde. Se preparem. Em breve, iremos nos deparar com muitos inimigos.
O olho de David retornou, mas junto de um grito de dor e muito sangue.
— Encontrei o desgraçado! Ele deu uma dedada no meu olho! Maldição, que dor terrível!
— Onde o merdinha foi? — perguntou o investigador. — Temos que ir lá antes dele fugir!
— Banheiro. Logo abaixo da gente!
— As escadas estão longe. Nunca que vamos chegar antes dele fugir — falou Elin.
— E quem disse que precisamos de escadas? — Leonard sorriu e encarou Einstein. — Explode o chão aí.
— É para já, compadre!
Uma esfera carmesim de mana pura foi o suficiente para criar uma fenda no chão à frente deles. Apressados, eles pularam imediatamente para dentro do buraco. Pararam, convenientemente, há metros de distância do banheiro — de onde um sujeito acabara de sair.
— Ah! — o homem gritou como uma gazela asmática, escorregando e se virando para o lado oposto. Embora jovem, tinha cabelos grisalhos e usava um casaco de tricô digno de um idoso.
Ele tropeçou.
— Não me matem, por favor! — berrou desesperadamente. Estava coberto de sangue.
Leonard saltou na direção dele, já com o punho cerrado; o punho impiedoso partiu para cima do grisalho, tal qual um meteoro.
Entretanto, acertou apenas o chão.
O grisalho ficou com os olhos arregalados, como se tivesse acabado de rever a própria vida em um único segundo. Observou o punho enorme parado ao lado. Em seguida, se virou para o rosto amedrontador do detetive.
— Matar? Cê vai ser o nosso hóspede, mermão — afirmou Leonard. — Temos perguntas para fazer. Qual o teu nome?
— Christopher.
— Chris, né? Me diz, que merda é essa que cê tá fazen–
Leonard ficou sem reação ao perceber que o grisalho havia acabado de cuspir na sua cara.
— Qual é a tua?!
Christopher se levantou desajeitadamente, se afastando sem tirar os olhos do detetive. Uma horda de pessoas hipnotizadas que vieram de outros corredores surgiram na retaguarda do grisalho e pararam, sob o comando dele.
— Não adianta mais lutar, “Christopher” — afirmou David. — Você está em meu domínio!
De repente, toda a confiança do dono do hotel se foi. David se ajoelhou no chão, atingido por uma dor monstruosa, e começou a gritar ainda mais que antes.
— O que está acontecendo? — indagou o feiticeiro.
Christopher exibiu um sorriso de felicidade genuína, digno de alguém que acabou de fugir da morte.
— O que você fez, seu merda?! — Leonard avançou na direção do inimigo, mas fora subitamente agarrado.
Ele olhou para trás e percebeu que aquilo que o segurou pelo ombro foi uma mão, que havia saído de dentro da parede ao seu lado. A mão de David.
Virando-se para trás, viu que o próprio David estava desaparecendo enquanto tinha o corpo absorvido pelo chão do hotel. Logo depois, o mesmo David saiu de dentro da superfície, mas agora ao lado de Christopher.
— Ele já está sob o meu controle — afirmou Christopher. — Era o mais forte de vocês. Venham comigo.
Leonard, Elin e Einstein começaram a recuar, desacreditados. Já haviam visto o potencial dos poderes de David Goe e tinham certeza de que batalhar contra ele seria um desafio. Afinal, ele tinha controle absoluto sobre toda a estrutura da Casa do Sol Nascente.
— É isso, é o sangue! — Elin exclamou. — Acho que quem entra em contato com o sangue dele vira vítima da hipnose. Todas aquelas pessoas controladas que tinham invadido o quarto estavam sujas de sangue… e ele deve ter jogado sangue no olho do David quando deu aquela dedada. Me entendem? Se entrarmos em contato com o sangue dele, vamos ser controlados.
— Isso é verdade, seu merda? — perguntou Leonard. — É verdade?!
O sorriso de alívio de Christopher, de um segundo para o outro, ficou cheio de malícia. O detetive limpou o próprio rosto e percebeu que o cuspe que tinha sujado seu rosto tinha sangue.
“Nem fodendo.”
Com um movimento, Leonard se soltou e sacou a Mystery Gun, furioso. O inimigo se escondeu atrás de David Goe.
— Toda a situação desfavorece a vitória de vocês — afirmou Christopher. — Aconselho que simplesmente desistam enquanto ainda podem, pois ninguém é páreo para a minha singularidade. Ninguém é páreo para o Rule The World!
“Eita, pensa num carinha dramático.”