Pt. 2 – Arco 3

Capítulo 38: Todos Querem Dominar o Mundo (1)

Quarto N. ???, Casa do Sol Nascente - 00:55 da madrugada, dezesseis de Julho.

A mente do detetive explodia em contato com aquele tanto de informações.

— Meu Deus! — gritou alucinadamente, ajoelhado sobre o chão. — Áreas Secretas, Estados Unidos, Alemanha Nazista, União Soviética, Coração do Primeiro Homem, mitologia nórdica, cryptos, uma rebelião há vinte anos, maconha, jornada até a Noruega!!!

Totalmente chocado quanto a série de fatos revelados, caiu no chão e começou a convulsionar.

— Catapimbas, o detetive está sofrendo um ataque epilético! — gritou Einstein.

— Puts. — Elin falou. — Sabe de mais alguma coisa, David?

— O detetive morreu, irmã! Oh, Cristo, ele parou de se debater! Morreu, morreu! — Einstein berrou. — Ok, David, sabe de mais alguma coisa?

O dono do hotel recuou, desnorteado. Não conseguia parar de pensar sobre o quão estranhas eram aqueles três. Tomou um susto quando Leonard simplesmente se levantou como se nada tivesse acontecido.

— Isso é tão impressionante! — gargalhou o detetive. — Irei te perguntar algo, David; onde fica a tal Área 40?

— Em Woodnation.

— Isso! É 100% confirmado, rapaziada, aquela base subterrânea onde encontramos o Panthael é a Área 40 — disse, olhando para os irmãos. — Espera… vocês se lembram daquele lugar. Então, cês eram prisioneiros? 

Os irmãos trocaram olhares, totalmente pedidos, como se estivessem pensando em algo.

— Se este fosse o caso, vocês seriam bebês no momento da rebelião, creio eu — falou David, apreensivo.

— O Panthael ainda vive lá, junto de um monstro — disse Elin. — Laertes e Hamlet também devem viver lá, juntos de provavelmente mais alguns cryptos que trabalham junto do Panthael.

Einstein cruzou as pernas e encostou a mão sobre o queixo, tal qual um filósofo grego. Começou:

— Será que eles eram prisioneiros que viviam lá desde antes da rebelião, ou invadiram o lugar já abandonado para usar como base secreta para que possam planejar seus planos malignos de dominação mundial em paz?

— Calma aê, cês tem certeza que viviam lá já na vida adulta? — indagou Leonard.

— Ah, tenho sim — respondeu Elin.

— Lembro de estar lá quando vi Panthael assassinando o Galileu! — Einstein afirmou.

— Pô, mas como cês viveriam lá se seus companheiros de quarto fossem… os caras que agora querem matá-los? Tem algo de errado nessa história.

David Goe sentou charmosamente, observando a discussão. Leonard Mystery continuou: 

— Olha, acho que só tem essas opções: suas memórias estão erradas, cês moravam sozinhos na Área 40 (o que seria estranho pra cacete) e a turma do Panthael invadiu o lugar, ou… vocês todos eram parças. Ou, no mínimo, conviviam juntos.

— Protesto! — gritou o hamster.

— Aqui não é um júri.

— Está insinuando que eu e minha irmã éramos amigos daquele verme que matou o nosso irmão? Lave a sua boca, boboca pilantroso.

— Isso nem faz sentido. Vocês mesmo disseram que Laertes e Hamlet não reconheciam o Einstein — falou Elin.

O detetive sorriu. As teorias rondavam seu cérebro conspiracionista, que logo deduziu:

— Ué, cês dois supostamente moravam na Área 40, o Laertes e Hamlet também. Já é algo em comum. O que impede que a Área 40 seja o motivo da amnésia de vocês dois? E se Laertes e Hamlet também estiverem com amnésia? Mesmo que em um nível menor.

— Isso não faz sentido — resmungou o feiticeiro. — As suas teorias não fazem sentido algum, por que ainda tenta?

— Esse é o meu trabalho, hamster pançudo de uma figa!

David Goe alisava o bigode pontiagudo, escutando a conversa atenciosamente. 

— Realmente, não faz sentido algum — comentou o bigodudo. — Contudo, creio que já tenham entendido que os cryptos não fazem sentido. Tudo é possível.

— Verduras… será? — indagou Einstein.

Leonard se jogou na cama do quarto, reflexivo.

— Bem, de qualquer jeito, nem podemos provar nada. Mudando de assunto, e o Amadeus? Quando o encontrei, ele parecia ser só um velho caduco. Foi só com nossa conversa que ele acabou mudando completamente de ideia (e se transformando em um tal de “comunismo”). Só que, segundo o seu relato, David, esse velhote já tinha mudado de concepção há duas décadas. Estranho…

— Quanto tempo levou para fazê-lo mudar de ideia? — perguntou David.

— Um minuto.

O olhar pouco expressivo de David ficaram mais afiados enquanto ele analisava aquelas informações.

— Estranho… Pode ser que ele tenha ficado senil. Por isso, regrediu nas próprias concepções sobre o mundo. Então, o que quer que você tenha dito a ele pode tê-lo feito “despertar”... mesmo que de uma forma um tanto exagerada.

— Vai ser difícil descobrir. Ele deve ter sido executado pelos Homens de Preto depois que sumiu do hospital.

Einstein saltou na frente dos dois, animado para perguntar:

— Mas e o Bat-Maconha? Qual é a origem dele?

— Deve ser o guardião do Coração, aposto! — Leonard opinou. — Afinal, faz sentido que um bagulho tão poderoso daqueles seja acompanhado por uma espécie de espírito que impede as pessoas de usarem o artefato para seus próprios fins. O Einstein tinha praticamente virado outra pessoa quando tocou no Coração, como se tivesse sido possuído pelo tal do “Bat-Maconha”.

— Nunca vi aquilo em toda a minha vida — afirmou o dono do hotel. — Para ser justo, também nunca cheguei a tocar no Coração com minhas próprias mãos. Já vi alguém tocar nele antes do Einstein, mas o resultado foi bem diferente. A pessoa simplesmente morreu.

Einstein negou com a cabeça. Braços cruzados. Ele brandou apressadamente:

— Olhem só, o Bat-Maconha me atacou do nada e me levou até o Coração do Primeiro Homem. Peguei o Coração porque… Não sei, mas me senti extremamente atraído para ele. Então, vocês se lembram bem, ele possuiu o meu corpinho! O que isso pode significar? 

David Goe olhou para o nada, com as linhas de sua testa ficando dobradas. Inúmeras incógnitas ficavam estampadas no rosto enigmático dele. As perguntas aumentavam a cada segundo, mas nenhuma resposta surgia.

— É… acho que serei incapaz de responder. Talvez, a teoria do investigador esteja certa e aquela criatura realmente seja uma espécie de espírito guardião. Ainda assim, fico cheio de dúvidas. Como acabei de falar, já vi outra pessoa entrar em contato com o Coração e isso resultou em morte, ao invés de possessão. Além disso, é compreensível que alguém se sinta atraído a obter o Coração, devido ao imenso poder que é emanado a partir dele. Só que o espírito em si levar alguém até o Coração me soa muito estranho, já que isso nunca ocorreu antes.

— Acho que aquele bicho queria que meu irmão pegasse o Coração, para conseguir possuí-lo — disse Elin. — A questão é… por quê? 

— Ora bolas! — exclamou o feiticeiro. — Deve ser porque sou um gostosão.

Todos ignoraram o comentário.

— Tá tudo conectado, rapaziada — afirmou Leonard, repentinamente.

Os olhos deles se concentraram no rosto sorridente do detetive, que levantou o dedo e começou:

— Olha só, Elin, lembra de quando conversamos e chegamos na conclusão de que todas as coordenadas do Amadeus possuem conexão com alguma coisa dele?

— Lembro.

— Einstein, eu e você nos sentimos atraídos pela Árvore do Panthael. Einstein também se sentiu atraído pelo Coração, e vou ter que dizer pra cês, também senti algo do tipo! Eu poderia ter apenas puxado o Coração com minhas raízes, mas… agarrei firmemente. Na real, adorei a sensação de tocar naquele troço!

— Isso quer dizer que O Coração do Primeiro Homem tem relação com a árvore do Panthael — concluiu a artista.

— Sim. Com a árvore do Panthael e também com aquela planta esquisita que encontrei no laboratório abaixo da mansão do Amadeus. Os dois me deram a mesma sensação esquisita, e também senti a mesma coisa com o Coração. Elin, diz aê, tu sentiu ou não algo com o Coração?

— Pior que sim…

— David, e você?

— Não. Sendo bem sincero, sempre senti repulsa ao olhar para esse artefato. Acredito na sua hipótese, detetive. Isso deve estar intrinsecamente relacionado a vocês. Seja lá quem seja aquele familiar, o surgimento dele deve ser uma reação ao fato de vocês estarem próximos do Coração do Primeiro Homem.

— “Familiar”? — Leonard questionou. Tanto ele quanto os dois irmãos encararam David com uma expressão interrogativa. 

— Oras, esqueci que vocês também não conhecem esse termo. Familiares são… É complicado de explicar, mas são seres de energia que se conectam com os corpos de outras pessoas, pessoas que se tornam os "mestres" delas. Os familiares passam a viver atrelados aos corpos dos mestres, e podem ser conjurados por eles para servi-los. O familiar pode ser o espírito de um crypto, seja mitofera ou esper. Mesmo se o familiar for destruído, o mestre poderá conjurá-lo novamente em questão de tempo. O servo vai simplesmente retornar a vida.

— Isso me parece ser exatamente como o chihuahua demoníaco do Laertes funciona — sussurrou o detetive para os dois irmãos. — Talvez, o rato do Hamlet também seja um familiar.

David continuou:

— Acredito que o Bat-Maconha seja um familiar. Um familiar especial, que se aloca primordialmente no Coração do Primeiro Homem para depois tomar controle da mente daqueles que entrarem em contato com o artefato.

Os olhos de David refletiam a luz da lâmpada enquanto ele falava. Continuou:

— Caso queiram descobrir mais sobre o Coração, o próximo destino de vocês é a casa de um amigo meu.

Tirou tanto um pedaço de papel quanto uma caneta do bolso, para escrever algo antes de entregar o papel para o detetive.

— Calma aê… — Leonard leu o endereço. — O teu amigo mora no Havaí?

— Exatamente. O nome dele é Springsteen. É o homem que realmente encontrou o Coração do Primeiro Homem. Ele saberá responder as dúvidas restantes de vocês, acredito.

— Ok. Muito obrigada, senhor — disse Elin.

— Estamos muito contentes com as respostas que você nos deu, homem dos bigodes! — exclamou Einstein. — Estamos cada vez mais próximos de entender as doideiras onde nos metemos.

— Isso aí. Cê elucidou bem muitas de nossas dúvidas — disse Leonard. — Elucidou? Nossa, que palavra estranha, por que meti essa do nada?

De repente, a porta do quarto desabou. Os quatro se viraram e arregalaram os olhos enquanto uma velhinha invadia o quarto com uma submetralhadora em mãos.

— Venham comigo — falou a velha, levantando a arma até a direção deles. — O mestre Panthael espera por vocês.



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