Pt. 2 – Arco 3

Capítulo 36: Virtual Insanity (1)

Área 40 - 00:40 da madrugada, dezesseis de Julho.

Um jovem morto é encontrado há poucas horas, jogado em uma sarjeta. Um homem rouba a televisão da própria mãe para vender e conseguir comprar drogas. Um casal apaixonado de adolescentes vão ao cinema. 

Mesmo adormecida, a mente de Bomba Lógica não descansava, captando ondas de rádio originadas de todos os cantos do país.

Os terroristas de Woodnation estão atacando a Casa do Sol Nascente, em Ravender City! 

Despertou em um susto. Saiu do quarto e correu o mais rápido que pôde até seu líder. Entrou na floresta escarlate, em meio a tropeços, se ajoelhando na frente da árvore gigantesca no centro do ambiente.

— Encontrei eles — revelou, precedendo a explicação da localização dos três procurados.

O rosto macabro de Panthael saiu de dentro da árvore e ele sorriu discretamente. Os buracos que haviam no lugar de seus olhos pareciam cada vez mais parecidos com vórtices negros a cada vez que a ciborgue o encarava. Ele abriu a boca seca e disse:

— São três… Escolha alguém para ir com você. O resto ficará encarregado de proteger Laertes e Hamlet.

— E você — acrescentou.

— É — sorriu. — Volte para cá com a pessoa que irá contigo.

— Ok.

Poucos minutos depois, ela voltou junto de Christopher.

— Oi, mestre — falou Christopher, quase aos murmúrios.

— É bom vê-lo — disse Panthael.

Panthael saiu de dentro da árvore em um pulo, pousando na frente dos dois. Christopher caiu pelo susto, e ele estendeu sua mão esquelética para ajudá-lo a se levantar.

— Me desculpe…! — falou Chris.

Panthael não responde, pois que o ajudou a se levantar, mudou totalmente o foco para conseguir manifestar seus poderes. 

Estendendo a mão para a direita, cerrou o punho. As veias de seu braço começaram a saltar. Os olhos mais atentos eram facilmente capazes de notar a circulação de energia negra passar por elas. Então, na frente dele, um ponto de luz com as cores do arco-íris nasceu.

— Nunca vi Einstein usar um truque mágico de teleporte no passado, então acabei sendo pego desprevenido quando ele, a Elin e aquele homem desapareceram — comentou Panthael. — Sorte a minha que a Transferência também me concedeu uma habilidade semelhante. E agora que os sistemas especiais de defesa da Área 40 foram desativados…

Um rosto impressionado se desenhou sobre a tela da ciborgue ao vislumbrar aquele ponto de energia suspenso no ar começar a crescer e tomar a forma de uma abertura, até chegar no momento em que virou uma verdadeira fenda no espaço-tempo; um buraco de minhoca que levava diretamente para a Casa do Sol Nascente.

— Passem.

Bomba Lógica e Christopher sorriram, atravessando o portal sem pensar duas vezes. A fenda fechou no segundo seguinte, de forma repentina. Poderia tê-los cortado no meio, se tivessem sido mais lentos.

Hall de entrada, A Casa do Sol Nascente - 00:45 da madrugada, dezesseis de Julho.

Uma ruiva de 1.60m e pele incrivelmente pálida chegou no recinto, vestida com uma capa de chuva escura. O rosto sardento dela denunciava uma evidente curiosidade, como se estivesse procurando alguma coisa — ou alguém.

Parou na frente do atendente, trazendo um sorriso charmoso.

— Quero um quarto, por favor — disse Billie, tirando do bolso uma boa quantia de dinheiro e entregando ao atendente.

— Ok… — falou o atendente. Ficou encantado com o rosto da mulher, e impressionado com os seus olhos de íris vermelhas. — Nome? 

— Billie.

— Sobrenome?

— Billie.

— Perdão? Falei “sobrenome”.

— É Billie também. 

— O seu nome completo é Billie Billie?

— Exatamente.

— Por que tem tanta gente estranha vindo pra cá? — murmurou.

Ela ouviu o barulho de passos. Olhou para trás e tomou um susto ao se deparar com um buraco de minhoca, de onde saiu uma ciborgue com roupa de atendente de telemarketing acompanhada por um jovem de cabelo grisalho.

— Chegamos! — Bomba Lógica exclamou.

— Onde os nossos alvos estão? — questionou Christopher, olhando para os arredores. — Imagino que esse hotel seja bem grande.

— É melhor nos separarmos para procurá-los. Tome cuidado.

— Obrigado. Boa sorte.

Billie revirou os olhos rubros diretamente para os dois. 

— Olha só! — falou a ruiva, chamando a atenção da dupla. — Eu esperava que iria encontrar as minhas presas, mas não que elas viriam até mim. São amigos dos terroristas?

— Quem é a senhorita? — Christopher recuou.

— Pelo visto, essa daí trabalha pro governo — deduziu Bomba Lógica. — Moça, não estamos interessados em você no momento. Pode só parar de encher o saco? Temos coisas mais importantes para fazer.

Como resposta, Billie partiu para o ataque. A velocidade dela revelou-se desumana e explosiva, e criou uma onda de choque que derrubou tanto o atendente quanto alguns objetos ao redor.

Bomba Lógica não teve reflexo e muito menos tempo para reagir. Quando percebeu, já estava estirada contra uma parede, onde se formou uma cratera devido ao impacto. 

Olhou para frente, encarando a ruiva. Depois, olhou em volta, analisando o ambiente destruído. Observou as pessoas correndo. Entre elas, Christopher, que se misturou na multidão para não ser perseguido pela ruiva. “Ainda bem que essa miseresenta escolheu a mim para golpear, ele teria morrido na hora se estivesse no meu lugar.”

Bomba Lógica voltou-se novamente para a inimiga, cuspindo um feixe de energia contra o rosto dela.

— Eita, essa foi quase — disse Billie, se esquivando do disparo sem nenhuma dificuldade. — Ué, cadê o cara que estava contigo?

— Por que pergunta a mim?

O rosto-monitor da ciborgue começou a brilhar em um forte tom azulado. A tela se tornou uma espécie de portal e ela levou a mão para dentro da tela, tirando uma foice de dentro. A arma, feita de energia, brilhava no mesmo tom de azul.

— Pra que arma? — indagou Billie. As unhas dela começaram a crescer rapidamente, até se tornarem verdadeiras garras. — Tenho que ser rápida, porque tenho outras presas. Peço, por favor, que não se esforce muito.

— Você pode ser bem rápida, mas aquele golpe me acertou apenas porque fui pega de surpresa. Boa sorte, porque vai precisar.

Uma avançou na direção da outra, dando início a uma trocação insana de golpes muito rápidos para que fossem compreendidos pela mera visão humana. As duas eram como borrões velozes percorrendo toda a sala em meio à uma briga caótica e violenta.

No fim, quando o cansaço bateu, elas pararam nos extremos opostos do hall de entrada do hotel. Ambas ficaram ofegantes, cheias de cortes e cobertas de sangue.

Mesmo assim, voltaram a lutar em seguida. Avançaram novamente, segurando os golpes uma da outra com suas respectivas lâminas. Voltaram a trocar ataques segundos depois. A luta continuava acirrada.

Isso até Billie ter a garganta atravessada pela foice.

Bomba Lógica deu um chute no estômago de sua inimiga, a jogando para longe. 

— Como imaginei, não foi rápida o bastante — zombou, girando a própria arma apenas pelo estilo.

Ela quase se virou para seguir com a missão, mas desistiu quando viu a ruiva simplesmente se levantar como se nada tivesse acontecido.

— Vai precisar se esforçar mais um pouco — afirmou Billie, enquanto o ferimento na garganta se fechava em um ritmo espantoso. O mesmo começou a acontecer com todos os outros machucados que sofrera até então. — Só que, como falei, não é necessário. Só morre logo, é mais fácil. 

“Ela se regenera? Sacanagem”, pensou a ciborgue, respondendo:

— Se quer jogar no easy, então pare de encher o meu saco. Sequer sou amiga daqueles terroristas.

— Ainda assim, é uma crypto. Vou te capturar.

— Vai ganhar o que com isso?

— Um aumento no meu salário, talvez. Assim, vou poder comprar um anel muito bonito e caro para a minha namorada.



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