Pt. 2 – Arco 3
Capítulo 35: O Relato
Quarto N. ???, Casa do Sol Nascente - 00:40 da madrugada, dezesseis de Julho.
Leonard caiu de cara em um piso de madeira depois de acordar assustado e pular da cama.
— Eita preula… — Levantou, aturdido. — Onde tá o Einstein?
Elin, sentada em outra cama ao lado de David Goe, encarava o detetive calmamente. Em resposta à pergunta dele, apontou para uma terceira cama onde seu irmão dormia tranquilamente.
— Ele tá bem? — indagou Leonard.
— Sim — respondeu David. — É impressionante que tenha acordado antes dele.
— Ué… — Leonard olhou para seus braços e ficou chocado ao vê-los completamente curados. — Já se passou quanto tempo para que meu corpo já tenha se regenerado?
— Imagino que você já tenha uma capacidade regenerativa superior aos demais. Enquanto um crypto estiver em contato físico com o Coração, o nível de seus poderes serão aumentados. Foi isso que havia ocorrido com seu amigo. O mesmo aconteceu com o senhor ao tirar a relíquia da mão dele. É por isso que se curou tão rapidamente.
— Saquei… que zica. Calma aê, qual é a desse coração esquisito? O que ele é? Aliás, cê conhece o Amadeus Stevens, né?
— Muitas perguntas de uma só vez. Peço que não se preocupe, irei responder todas, estou apenas esperando que todos acordem. Isso foi um pedido da Elin.
— Ah, tendeu. Então, só preciso acordar o Einstein.
— Ei, ei, Leo, calma — falou Elin. — Deixe ele acordar sozin– Por que deu um soco nele?!
Após levar um baita murro do investigador, o hamster rolou até o chão, agonizando de dor em meio a lágrimas e berros infantis:
— Ai, ai, ai, ai! — Se ergueu com dificuldades. — Por que me bateu, detetive?
— Foi na zoeira — respondeu.
— Me magoou!
— Aí, para de drama.
— Nunca irei te perdoar.
— Era só o que me faltava — suspirou. — Vai, pode me dar um soco, eu deixo.
O hamster respirou profundamente, ficou firme e cerrou o punho para dar o soco de vingança.
Soco = esfera mágica explosiva e extremamente letal.
O detetive foi arremessado com força contra a parede, onde se formou uma cratera de tão forte que o impacto foi.
— Cacete! — resmungou, todo dolorido.
— Olha só, parece que estou cada vez melhor em controlar minha mana. Dessa vez, criei uma bolinha pequena para não matá-lo — disse o feiticeiro. — O senhor apenas ficará com queimaduras de terceiro grau na barriga pelo resto da vida!
— O quê?! — berrou o investigador.
— Meus parabéns! — Elin aplaudiu, orgulhosa.
— É mentira. A queimadura pode ser curada — explicou Einstein, em meio a gargalhadas enfadonhas. Isso se provou verdade quando ele atingiu o ferimento do colega com uma esfera de mana curativa.
Após o furdúncio, a situação foi explicada para o hamster e os três finalmente se sentaram em volta do dono do hotel. David Goe se levantou e ajeitou o bigode charmoso, pronto para iniciar a sua versão dos fatos:
— Tudo começou há vinte anos…
— Tá preula, precisa mesmo voltar tudo isso?
— Afirmativo.
— Belê, é bom que explique direitinho mesmo.
— Naquela época, eu era um homem que não conhecia o conceito de liberdade. Minha mãe era uma prisioneira, e eu também. Mas não foi apenas a falta de liberdade que herdei dela. Assim como vocês, possuo habilidades que podem ignorar as leis mais básicas do universo. Sou uma anomalia da natureza; um crypto.
“Gosto de chamar a minha singularidade de The House Of The Rising Sun, pois consigo controlar os objetos pelo qual possuo uma forte conexão sentimental, e o que mais uma pessoa tem conexão sentimental do que seu lar? Espere, o que está fazendo, garota?”
— Estou anotando essa frase — respondeu Elin, com o caderno já em mãos.. — Achei muito emocionante e motivacional. Pode continuar.
— Certo…
— Calma aí! — disse Leonard, quando o bigodudo estava prestes a retomar sua narrativa. — O que é uma “singularidade”?
— O quê? Vocês não sabem? As singularidades são os poderes dos cryptos do tipo esper. No caso, o conjunto de todos os nossos poderes.
— Em?
— Deixe-me dar um exemplo. Imagine um esper que consegue voar, é super-forte, é super-resistente e pode levitar objetos com a mente. Você imagina que ele possui quatro poderes completamente diferentes, certo?
— É óbvio.
— Só que, na realidade, todos esses poderes são apenas manifestações de um único poder principal, no caso, uma única singularidade. Pode ser que a singularidade se baseie no esper exercer a força de sua mente para levitar coisas, uma telecinesia. Então, a forma básica dessa singularidade seria a levitação de objetos, mas hora ou outra, o esper aprendeu a levitar o próprio corpo para alçar voo. E, posteriormente, aprendeu a usar a singularidade para criar uma espécie de aura mental que repele de forma automática projéteis e ataques que tentarem acertá-lo, assim como para exercer uma pressão poderosa em quem for atingido por um de seus golpes. É assim que funcionam os poderes de um esper.
— Calma aí, cê tá falando, então, que todos os espers possuem apenas um único poder?
— É. E todas as suas capacidades, por mais diferentes que sejam, se derivam deste de poder. Claro, existem exceções de espers com mais de uma singularidade, só que é algo muito mais raro.
— Quanta doideira, papai do céu! — exclamou Einstein. — Só que faz sentido. O meu Strange Magic faz várias coisas diferentes, mas tudo se baseia no controle de uma energia medonha que meu corpo cria e que gosto de chamar de mana.
— Isso faz sentido quando falamos do Strange Magic ou do Secret Bohemian — comentou Leonard. — Mas nós já lutamos contra um cara chamado The Cock Dwayne Johnson e, se me lembro bem, o cara parecia ser um esper. O poder principal dele parecia ser o de ter uma espiga de milho que funciona como uma metralhadora no lugar do pau! Só que, além disso, aquele careca safado também tinha uma força e resistência sobre-humana. Explica essa aí, ô do bigode.
— Nunca ouvi falar de uma espécie de mitofera tão singular, então acho seguro assumir que esse homem seja mesmo um esper — disse David. — Nesse caso, vale lembrar que “capacidades físicas sobre-humanas” são os efeitos mais comuns de se ver em inúmeras singularidades. Talvez, a singularidade desse homem peculiar faça com que toda a sua fisiologia seja modificada para suportar... sua o quê?
— Espiga de milho peniana — respondeu, com toda a normalidade do mundo.
David só percebeu naquele momento o quão absurdo era o assunto em questão e perguntou a si mesmo se esse The Cock Dwayne Johnson não poderia ser algum tipo de alucinação coletiva. Entretanto, tentou manter a compostura e continuar o raciocínio:
— Nesse caso, a espiga de milho seria apenas uma dentre algumas diferenças entre ele e um humano comum.
— Hm, bem, faz sentido. Calma aí, acho que o meu poder de criar raízes surgiu quando fui infectado por uma planta medonha, que com certeza também era um crypto. Só que eu (aparentemente) já era um pouco mais forte, resistente e veloz que um humano comum, além de conseguir me curar mais rápido. Isso significa que tenho duas singularidades?
— Olha, pensando bem, talvez…? Ou pode ser que aquela planta apenas tenha amplificado as capacidades naturais de seu poder inato, pois é bem raro que alguém adquira uma singularidade por meios externos, embora não seja realmente impossível. Não dá para descartar nenhuma das duas possibilidades, entretanto..
— Ok, ok — falou Elin. — Muito interessante, mas podemos falar sobre isso depois. Pode continuar a história, senhor?
— É claro — afirmou David.
“Elin, a senhorita me explicou bem o nível de conhecimento sobre o assunto que vocês possuem, e admito que isso me espanta um pouco. Portanto, me esforçarei para deixar tudo o mais claro possível.
“É extremamente raro, mas em todos os cantos do mundo, ocorrem essas anomalias. A nossa origem é um verdadeiro mistério. Somos dotados de capacidades singulares que podem ir contra as leis mais simples da física, seja voar, cuspir fogo, levitar objetos… já foram catalogados os mais variados tipos de cryptos, mas nossos limites são desconhecidos.
“Essa frase é clichê, mas sinto que é a mais capaz de explicar a nossa situação atual: o desconhecido causa medo. É esse o motivo dos cryptos terem sido temidos em todas as épocas… transformados em lendas, contos de terror, teorias da conspiração.”
Leonard levantou a mão, animado.
— Pergunte.
— Então existem cryptos que inspiraram a criação dos monstros e deuses mitológicos? Putz, adoro esse plot.
— Bem, eis a questão; foram os cryptos que criaram as lendas, ou as lendas que criaram os cryptos? Somos aqueles que inspiram os mitos, ou a força da mente humana é tão poderosa que a demasiada crença nos mitos faz com que eles se tornem realidade?
“Essa é uma pergunta que sou incapaz de responder. Porém, como já falei, é fato que os humanos normais naturalmente temem os cryptos — sempre nos tratando como demônios, ou deuses com vontades que não podem ser contrariadas. Não sou eu quem vai dizer quais e quantas civilizações foram afetadas por pessoas como a gente, mas direi como somos tratados atualmente.
“Nós somos armas.
“É assim desde antes da Segunda Guerra Mundial, quando certas nações descobriram nossa existência. Não sei dizer bem como tudo começou, mas foi questão de tempo para que dezenas de nós fôssemos aprisionados em bases militares subterrâneas para sermos cobaias dos mais diferenciados experimentos. O intuito, como disse, sempre foi nos usar como armas em guerras.
“É difícil saber em qual nação começou, mas sei que aqui, nos Estados Unidos, existem dezenas dessas Áreas Secretas. Também já ouvi sobre casos de muitos cryptos que fugiram da União Soviética. A Alemanha Nazista, quando em seu auge, também conseguiu muitos deles e foi a pioneira na criação de super-soldados. Quando digo isso, não me refiro a cryptos, mas sim a humanos geneticamente alterados para serem capazes de simular uma pequena porção das nossas habilidades.
“Agora que contextualizei, posso voltar a mim. Nasci em uma dessas bases. Uma base daqui, dos Estados Unidos, chamada Área 40. Da mesma forma que todos os cryptos que tinham o azar de serem filhos de prisioneiras, fui tirado de minha mãe antes mesmo de conseguir memorizar o rosto dela. E sequer me lembro a idade que eu tinha quando os testes começaram.
“Como perceberam, sou dono de um poder acima da média; mas não se enganem, isso não fazia com que eles tivessem medo de me matar. Existiam alguns cryptos com habilidades de cura, assim como o Einstein, e isso motivava os cientistas a serem o mais imaginativos o possível quando se tratava dos experimentos.
“Um belo exemplo disso foi o primeiro experimento em que acabei por ser submetido. Eles desejavam descobrir se eu possuía alguma imunidade à dor, ou uma regeneração naturalmente avançada. Lembro de ter sido amarrado em uma cadeira e amordaçado. Começaram a atirar dados contra mim. Por mais doloroso que tenha sido, não se comparava ao que veio depois; canivetes, alicates, martelos… precisou de horas tortuosas para que finalmente chegassem na conclusão de que minhas pernas quebradas não iriam se regenerar por conta própria.
“Também teve aquela vez em que queriam saber como meu corpo reagiria em contato com metais líquidos. Não houve nenhuma reação sobrenatural quando meu olho esquerdo entrou em contato com prata derretida, fora uma dor insuportável. Tenho certeza que nenhum daqueles cientistas alguma vez sentiram algo parecido, pois mesmo diante de uma situação tão asquerosa, nada era maior do que a indiferença de seus olhares. E depois falam da crueldade dos nazistas...
“Os anos se passaram e eu cresci como alguém sem a capacidade de fazer a mais básica escolha, afinal, nunca fui livre. O meu dia-a-dia era ficar em minha cela, virado para a parede, até que chegasse a hora dos testes. Nunca fiz amigos, falava apenas quando necessário. Não fazia nada que não fosse uma ordem dos guardas ou cientistas.
“Isso até o dia da rebelião.
“Parecia ser mais um dia normal. Eu estava em minha cela, parado e virado na direção da parede. De repente, a minha cela se abriu. Me virei, desacreditado, vendo que todas as outras celas também foram abertas. Todos os prisioneiros fugiam e lutavam contra os guardas.
“Mesmo assim, continuei totalmente paralisado.
“O que mudaria se eu saísse? Aquilo era apenas uma balbúrdia. Seria questão de tempo para que os detentos voltassem para dentro e fossem todos castigados. O único resultado possível.
“Mas, quando vi aquele prisioneiro, lutando por sua vida… e ele implorando a mim para ajudá-lo… algo acordou em mim. Vê-lo ser espancado pelos guardas apenas por lutar pela própria liberdade me fez despertar um ódio imenso. Uma raiva oculta que, ao se revelar, me relembrou de toda a dor injusta que senti em cada um dos experimentos. Corri para fora da cela na intenção de salvá-lo e nós dois, juntos, derrotamos o guarda. Já não tinha como voltar depois daquilo. Portanto, me aliei aos fugitivos.
“De alguma forma, os sistemas da base tinham sido dominados por algum dos prisioneiros, pois os portões se abriam e fechavam sempre ao nosso favor. Depois de pouquíssimo tempo, eu e vários outros cryptos guiados por aquele homem que salvei conseguimos encontrar a saída da base. No momento em que saí, vislumbrei a bela imagem do sol querendo cegar os meus olhos desacostumados com aquela luz que eu jamais tinha visualizado. O problema era que, naquele mesmo momento, notamos que haviam diversos soldados e helicópteros cercando a saída da Área 40. Esperavam ansiosamente pela gente.
“Um helicóptero que sobrevoava sobre nós precisou apenas de alguns mísseis para acabar com a liberdade e a vida de dezenas de cryptos.
“Quando me dei conta, eu já estava caído, entre os corpos irreconhecíveis dos meus aliados mortos. Alguns cryptos permaneceram de pé por tempo o suficiente para matarem a horda de soldados e destruírem os helicópteros, mas no final, terminei como o único sobrevivente entre uma montanha de cadáveres e um mar de sangue. Machucado e com medo de ser encontrado por outro grupo de soldados, me levantei e saí correndo sem olhar para trás.
“Fiquei aliviado de ter escapado, porém, algo me assombra desde aquele dia. Quando já muito distante, vi um feixe verde de luz irromper sobre a área da base subterrânea, como uma explosão. Nunca descobri a origem daquilo. Talvez tenha sido uma espécie de bomba especial, que dizimou todos os envolvidos com o incidente. Acredito nisso porque, posteriormente, descobri que a Área 40 fora fechada para sempre e abandonada. Mesmo assim, nunca encontrei outro crypto que tenha fugido de lá, o que me leva a acreditar que todos realmente foram mortos naquele dia.
“Demorei pouco para fugir do país. Passei anos vivendo à margem da lei, sem uma moradia fixa e me mudando de tempos em tempos. Roubava inicialmente para me alimentar, e depois comecei a fazer coisas cada vez mais perigosas, usando discretamente meus poderes sempre para me dar bem. Me arrependo muito do que já fiz no passado, pois tudo pelo que passei me tornou alguém totalmente desprovido de empatia por qualquer um que não fosse a mim mesmo. Principalmente, quando se tratava dos comuns.
“Nunca, em toda minha vida, eu havia encontrado um humano que carregasse em sua mente algum sentimento de culpa. O sentimento que, para mim, precisava ser inerente a todos eles por tudo o que me fizeram passar. Mesmo sabendo que a esmagadora maioria sequer sabia da existência de pessoas como a gente, eu tinha certeza de que a humanidade se voltaria contra nós no momento em que nos tornássemos de conhecimento público. Na verdade, sendo bem sincero, acredito nisso até hoje.
“Um dia, dois anos após minha fuga da Área 40, aconteceu algo que mudaria o resto da minha vida.
“Nesse dia, um homem de idade avançada veio até mim. O seu olhar carregava uma culpa pesada, que fazia qualquer um se questionar o que ele fez no passado. Um ser humano comum nunca seria capaz de decifrar a origem daquele sentimento, mas eu sim. Pois lembro-me bem da vez, há muitos anos, em que o vi trajado de jaleco. Aquele homem se apresentou como Amadeus Stevens, e ele mesmo revelou que já foi um cientista da Área 40.
“‘Como ousa ter a coragem de dizer isso para mim?’, gritei, enfurecido. Quando ele começou a falar com aquela voz fraca e velha, acertei um soco no seu rosto, o suficiente para derrubá-lo. Então, me deitei sobre ele e comecei a golpeá-lo furiosamente, por incontáveis vezes.
"A cada soco, minhas memórias dos anos de sofrimento que vivi naquele antro maldito se repetiam cada vez mais em minha mente. Mesmo assim, os meus punhos continuavam, pois precisavam despejar todo aquele… aquele ódio reprimido em alguém que merecesse. E ele merecia.
“Quando terminei, Amadeus ficou irreconhecível. O rosto inchado, cortado e cheio de sangue. Mesmo assim, o velho não fugiu, nem reclamou da dor ou me atacou. Apenas se ajoelhou e implorou pela minha ajuda.
“Admito que aquilo me trouxe uma revolta profunda. Como poderia, um humano, se curvar para um crypto na intenção de pedir ajuda? ‘Quando vocês precisam de um crypto, não imploram por ajuda, mas sim os forçam a ajudá-los! O que mudou?’
“A resposta que recebi me deixou sem palavras, de tão confuso que fiquei: ‘Nada mudou, por enquanto’.
“Ele me contou que fora o único homem que trabalhava na Área 40 a sobreviver, assim como fui o único crypto a sair vivo de lá. Explicou-me que a rebelião matou a todos, fossem prisioneiros, guardas ou cientistas. Então, afirmou que as Áreas Secretas deviam acabar e que precisava fazer aquilo junto de alguém que vivenciou na pele toda a dor causada por aquelas coisas. É fascinante; ele fez todas aquelas coisas com a gente, para depois ficar todo arrependido como se fosse algo que desse para mudar?
“Juro que não entendi, mas mesmo sendo totalmente inseguro com humanos, encontrei nele uma sinceridade tão estranha e real… mesmo assim, recusei o pedido de ajuda. Pouco me importava com o que ele acreditasse. Não faria nada de graça. Mas Amadeus imediatamente me mostrou uma maleta de dinheiro, e então, aceitei pensar no assunto.
“Em questão de tempo, eu parti em uma jornada ao lado dele e de outros quatro cryptos que trabalhavam como caçadores de recompensas. Foi uma duradoura e perigosa viagem até a Noruega, onde encontramos em uma cripta aquilo que Einstein achou abaixo deste prédio: O Coração do Primeiro Homem.
"A relíquia, esquecida pelo tempo, logo revelou ser extremamente poderosa. Ela fora cultuada pelos povos nórdicos durante a Era Viking. Acreditava-se que era o coração do primeiro homem a ser criado, que segundo uma lenda a muito tempo esquecida, morreu tentando escalar a Yggdrasil — a árvore que sustentava todos os nove mundos dos mitos nórdicos.
"Ao encontrar o Coração, pela primeira vez em minha vida, nasceu a dúvida que revelei a vocês: seriam os cryptos os criadores dos mitos, ou os mitos os criadores dos cryptos? Somos nós aqueles que inspiram as lendas, ou a mente humana é tão poderosa que é capaz de tornar lendas reais apenas ao acreditar-se muito nelas?
“O Primeiro Homem que deu início a sua própria lenda, ou a crença dos povos em sua existência que fez seu coração brotar a partir do chão?
"Independentemente da resposta verdadeira, digo a vocês que Amadeus me pagou, não só com muito dinheiro, mas também com o próprio Coração. Tentei negar, pois todo aquele poder me amedrontava, mas ele sumiu antes que conseguisse me ouvir.
“A verdade é que Amadeus reconhecia a minha incapacidade de confiar em outra pessoa a ponto de entregar algo daquele nível a qualquer um. Também conhecia bem a minha força. E de modo algum eu poderia deixar a relíquia com ele. Poderia estar arrependido ou seja lá o que fosse, mas nada poderia anular tudo o que fez no passado.
“A questão é que nunca cheguei a entender o motivo de toda aquela jornada, para apenas entregar esse item tão poderoso a mim. O que Amadeus Stevens planejava? Pensei que, um dia, aquele velho retornaria e explicaria tudo, mas isso nunca chegou a acontecer.
"Bem, após isso, simplesmente criei uma identidade falsa, fiz uma cirurgia plástica para alterar meu rosto e usei todo o dinheiro adquirido para poder criar a Casa do Sol Nascente. Me escondi aqui, em uma das maiores cidades do país, porque ninguém me procuraria neste lugar. Apesar de toda a minha cautela, sequer me procuravam na realidade, pois Amadeus Stevens fora o único a descobrir de minha sobrevivência; e isso apenas depois de dois anos intensos de pesquisa. O resto do governo acreditava que todos os cryptos da Área 40 tinham de fato morrido na rebelião.
“Enfim, guardei o Coração do Primeiro Homem abaixo do hotel para que ninguém fosse capaz de roubá-lo. E ninguém jamais conseguiu chegar perto dele, até que vinte anos se passaram e vocês três chegaram."