Pt. 2 – Arco 3

Capítulo 34: A Ameaça do Bat-Maconha (3)

Caverna Subterrânea, Casa do Sol Nascente - 00:20 da madrugada, dezesseis de Julho.

Elin estava entre o seu irmão (controlado pelo Bat-Maconha), Leonard (que acabou de levar uma pedrada no rosto) e David Goe (acabou de revelar ser um vilão, do mal, vilanesco, maléfico, maligno).

— Eu falei! — Leonard se levantou, com o nariz quebrado, gargalhando. — Ele era do mal esse tempo todo! Eu falei! Eu falei!

David Goe manteve a postura inabalável, observando cada traço dos três. Ajeitou o bigode novamente e começou:

— Pelo visto, são todos cryptos. Como é o caso, saibam que não irei me segurar de forma alguma. Com isso em mente, digam-me: estão dispostos a lutarem comigo apenas para terem em mãos esse poder?

“Tô entendendo porra nenhuma”, pensou Leonard, já mais consciente. Antes de desenvolver uma resposta, foi interrompido pelo grito demoníaco de seu amigo hamster:

— Estou disposto a dar minha vida em nome do Coração

O detetive olhou para trás e viu aquele enlouquecido Einstein, com um monstro esverdeado flutuando sobre a sua retaguarda, como um demônio que incita o ódio nos homens.

— Tá louco? — indagou. — Larga esse coração agora, zé mané!

Maconha! — gritou o hamster, juntamente da criatura em suas costas. — O Coração é meu e o poder dele também! Me deixe em paz ou morra!

David Goe ajustou seu terno, deixando escapar uma pequena risada. Simplesmente deu às costas e foi embora.

“O cara deu no pé?!”, pensou Leonard.

Então, toda a caverna começou a tremer por conta de um poderoso terremoto. Rochas começaram a cair do teto, tudo passou a desmoronar de forma súbita e violenta. Um indício disso foi a grande rocha que despencou em direção do hamster.

Strange Magic… — Einstein murmurou, estendendo a mão para cima. Um orbe escarlate de mana surgiu sobre sua palma e foi disparado contra o projétil, que explodiu no meio do trajeto.

Porém, os acidentes não pararam naquele momento; logo após a explosão, vários dos projéteis que despencaram do teto simplesmente saíram do chão por conta própria e começaram a flutuar. Então, voaram na direção do hamster. Leonard e Elin gritaram para avisá-lo, mas ele sequer pareceu impressionado.

O feiticeiro tranquilamente criou diversos orbes de mana e os disparou em sequência, explodindo cada um dos destroços. Como se aquilo fosse a coisa mais fácil do mundo, apenas saiu correndo loucamente, focado no próprio objetivo.

— Ei! — gritou Leonard. — Pare com isso, fala com a gente!

— Maconha! — O louco gerou duas esferas mágicas de ar sobre as próprias mãos, as explodindo. Isso foi o suficiente para gerar uma ventania que impulsionou o seu corpo para longe. Ele sumiu entre as sombras da gruta.

Leonard tentou persegui-lo, mas isso era um desafio impossível naquele patamar. Arfou, desapontado e confuso.

— Droga. O que tá rolando?

— Viu aqueles feitiços? — perguntou Elin. — Ele está bem mais poderoso…

— Será que isso é culpa daquele coração bizarro e do bicho verde estranho?

— Nossa, SERÁ?

 

 

Enquanto os dois faziam teorias e corriam para fora da caverna, Einstein Heisenberg Holmes já tinha saído de dentro da gruta. Ele parou no banheiro masculino onde havia se iniciado sua batalha contra o Bat-Maconha. 

Agora, já era um só com aquela forma de existência, e a energia dele inundava seu corpo com poder.

Assim que saiu do buraco, uma privada simplesmente saltou do chão e voou em sua direção para atropelá-lo. Desviou por pouco, deixando ela quebrar ao bater na parede.

Depois, foi a vez de todas as outras privadas. Vieram voando tão rápido quanto a primeira, sendo guiadas por uma mesma intenção homicida. Precisou aniquilá-las com uma chuva de raios mágicos.

Saiu do banheiro, e percebeu que o inteiro hotel era seu inimigo. Pedaços do teto caiam em sua direção e assumiam a forma de espinhos para tentar matá-lo, buracos surgiam pelos chãos dos corredores para fazê-lo cair, as paredes despencavam.

Mesmo assim, se livrou de tudo através de acrobacias desumanas e do uso incrível de seus orbes de mana. Sentia o poder fluir por seus músculos, o tornando selvagem como uma fera da floresta. 

Logo fora capaz de encontrar o dono daquele lugar — parado em um dos vários corredores do hotel.

— MACONHA!!! — Sem conversa, disparou oito orbes explosivos na direção dele. Todos de uma vez. Sem se cansar nem um pouquinho.

David se virou singelamente, sem nenhuma reação adequada para a seriedade da situação.

O hamster viu ele, quando prestes a ser atingido pelos orbes, simplesmente cair para dentro do chão. 

Era como se o inimigo estivesse em solo firme em um segundo, mas no outro, afundasse no mar. Parecia que o chão se tornara líquido, mas apenas para o dono do hotel.

Impressionado, Einstein se esqueceu de fazer os orbes voltarem para suas mãos. Os pedaços de magia se chocaram com as superfícies do corredor e uma série de poderosas explosões invadiram todo o recinto.

Vendo a onda de destruição se aproximar, por reflexo, estendeu a mão e criou um orbe de energia. O orbe rapidamente perdeu a forma e se transformou em uma barreira oval, protegendo ele da explosão.

— Catapimbas! Eu consigo fazer isso? Quer dizer… MACONHA!!!

Em questão de segundos, o corredor foi convertido no cenário de uma guerra. Metros e metros que englobavam não só o corredor, como também diversas salas e quartos, foram varridos da existência devido a explosão.

Sequer conseguiu se impressionar pelo visual apocalíptico que acabara de criar, pois logo escutou a voz serena de David Goe em seu ouvido:

— É assim que me derrotará?

Ao olhar para trás, encontrou o bigodudo saindo de dentro do chão.

Em seguida, todo o espaço destruído começou a regredir. As paredes se reergueram, as luzes voltaram, os quartos se refizeram, o corredor se recriou. Tudo voltou a ser exatamente como era antes da explosão.

— É de uma inocência surpreendente acreditar que pode lutar comigo na Casa do Sol Nascente e sair vitorioso.

— Cala a boca, boboca! — Einstein criou e disparou mais um orbe de eletricidade, que avançou como um raio na direção do alvo, mas mudou de percurso no último segundo e atingiu apenas uma parede. — O quê?

— Percebo que de nada adianta tentar convencê-lo. O poder do Coração já afetou sua mente. Apenas me pergunto se devo poupá-lo, ou se sua mente já foi permanentemente afetada.

— Maconha!

O feiticeiro estendeu suas mãos e se concentrou. Dez orbes elementais surgiram flutuando sobre suas palmas. Então, os lançou todos de uma vez na direção do homem.

— Já me decidi — afirmou David Goe, soltando um suspiro.

Todos os orbes ignoraram completamente o corpo de David, passando ao lado dele e explodindo apenas depois de se distanciarem. O show de cores em volta da figura completamente calma e confiante fora capaz de deixar Einstein espantado. Mesmo estando muito mais forte — tanto fisicamente quanto em questão de poder mágico —, nada parecia poder derrotar o dono do hotel.

— M-Maldito… — resmungou o hamster, recuando.

— Desistiu?

— Não!

— Ok.

— Ahn? 

Quando o hamster se deu conta, já não pisava em chão nenhum. Um buraco gigante surgiu abaixo dos seus pés. Dentro do buraco, fileiras e fileiras de lâminas. Se sentia dentro de um desenho animado. 

Caiu.

Strange Magic! — Em meio a queda, lançou uma esfera de ar para baixo. O orbe gerou uma explosão de vento que o atirou para cima, mas então, ele se deparou com outra fileira de espinhos (dessa vez, no teto do corredor). — Catapimbas!

Sua reação não pôde ser mais rápida do que seu corpo, que prestes a se chocar contra as lâminas do teto, fora agarrado por um emaranhado de fios.

Braços e pernas, todos eles foram agarrados por vários emaranhados de fios que saíam das paredes, o deixando suspenso no ar.

— Entregue-me o Coração. Última chance.

— Prefiro morrer.

— Oh, se é o caso…

— Espere! — gritou o detetive.

David Goe se virou, encontrando Leonard e Elin, que haviam acabado de chegar. Ambos transpiravam muito, cansados de tanto procurar pelos dois.

— Esse cara é meu irmão — afirmou Elin. — Aquele monstro está o afetando de algum modo. Por favor, não mate ele!

— O seu irmão deveria saber o que estava por vir quando decidiu roubar o Coração.

— Mano, te garanto que ele nem sabia desse papo aí de coração — declarou o detetive. — Viemos até este hotel por outro motivo.

— Qual motivo poderia trazer três terroristas para o meu hotel? — zombou.

— Primeiro, nem somos terroristas. Segundo, viemos aqui por causa de um cara chamado Amadeus Stevens, ele queria que encontrássemos alguma coisa que estivesse nessa coorden–

Silêncio.

— Pensando bem, acho que se pá viemos pegar esse coração estranho mesmo. Só que a questão é que não tínhamos ideia.

— Não está ajudando… — sussurrou Elin.

O homem de bigode, atento a algo, se virou para o investigador. Os olhos dele se arregalaram, perplexo com o que havia escutado.

— Disse “Amadeus Stevens”?

Quando prestes a desenvolver a pergunta, David Goe acabou caindo no chão. Sangue saiu de sua boca. Abaixando seus olhos, se deparou com o pedaço de madeira que havia atingido suas costas até atravessá-lo.

Ao olhar para trás, encarou o monstro verde que flutuava atrás de Einstein, há metros de distância. A criatura sorriu, arrancando um pedaço da fantasia do hamster. O pedaço rasgado de roupa simplesmente mudou de forma ao entrar em contato com Bat-Maconha, virando mais um pedaço de madeira.

— Droga, me distraí… — resmungou David, vendo o projétil ser furiosamente lançado na sua direção.

Agora ciente do ataque, moveu o pescoço de relance. O projétil seguiu o movimento, mudando de rota e atingindo a parede.

Todavia, Bat-Maconha não desistiu. Destruiu com as mãos os fios que prendiam Einstein. Depois, acertou o próprio Einstein com um puta chute. Isso fez o hamster sair voando como um meteoro na direção de David.

— MACONHA!!! — gritou o projétil vivo. Em questão de instantes, alcançou o dono do hotel.

Por um momento, Bat-Maconha e Einstein se tornaram um único ser, dividindo ambos um mesmo espaço de existência. Fundidos, dispararam uma série de socos contra ele:

— MACONHA MACONHA MACONHA MACONHA MACONHA MACONHA MACONHA MACONHA MACONHA MACONHA MACONHA MACONHA MACONHA MACONHA MACONHA MACONHA MACONHA MACONHA MACONHA MACONHA MACONHA MACONHA MACONHA MACONHA MACONHA MACONHA MACONHA MACONHA MACONHA MACONHA MACONHA MACONHA MACONHA MACONHA MACONHA MACONHA MACONHA MACONHA MACONHA MACONHA MACONHA!!!!

Os golpes foram tão fortes e velozes que ultrapassaram quaisquer limites humanos. David foi se afastando o mais rápido possível, usando seu poder para criar inúmeras e inúmeras paredes em sua frente que eram atingidas pelos golpes em seu lugar, mas todas eram facilmente destruídas pelos punhos do hamster demoníaco — que sequer parava de avançar em seu impulso descontrolado.

Até que parou momentaneamente, devido a um susto.

Isso porque Leonard Mystery simplesmente resolveu entrar na frente de David Goe. Ele armou os braços de forma defensiva e começou a receber todos os golpes do feiticeiro possuído.

— Leonard, o que está fazendo?! — gritou Elin.

— Mas… por quê? — indagou David.

— Nem pensem em se meter! — berrou Leonard. Não recuava, mas a cada golpe que recebia, mais seu corpo era jogado para trás.

— MACONHA MACONHA MACONHA MACONHA MACONHA MACONHA MACONHA MACONHA MACONHA MACONHA MACONHA MACONHA MACONHA MACONHA MACONHA MACONHA MACONHA MACONHA MACONHA MACONHA MACONHA MACONHA MACONHA MACONHA MACONHA MACONHA MACONHA MACONHA MACONHA MACONHA MACONHA MACONHA MACONHA MACONHA MACONHA MACONHA MACONHA MACONHA MACONHA MACONHA MACONHA!!!! — gritava Einstein, sem parar de socá-lo.

Foram questão de segundos para que os braços do detetive começassem a sangrar. Demorou menos para que ficassem roxos. A força avassaladora queria destruí-los.

Isso até o momento em que ele se abaixou, deixando os punhos de Einstein passarem por cima do seu corpo. Então, pulou e atropelou o rosto do seu amigo lunático com um chute que o atirou para longe.

O hamster desabou, nocauteado. A criatura verde saiu de dentro do seu corpo e evaporou, igual a um espírito.

Elin ficou abismada com a cena, incapaz de compreender como aquilo pôde acontecer. Afinal, seu irmão se encontrava em um estado muito mais poderoso que Leonard. Ao se virar para a figura do detetive, falhou em esconder o susto.

Ele estava parado, de pé, coberto de feridas e sangue. Os seus braços tinham sido quebrados; era possível até mesmo ver partes de seus ossos escapando para fora da pele. Ele desabou. O olhar perdido de tanta dor.

Elin correu até Leo, junto de David Goe. Observando mais atentamente, percebeu que raízes vermelhas saíam do seu braço.

— Espera… — Abriu a mão dele, encontrando o tal Coração.

David Goe soltou um sorriso sarcástico, perplexo.

— Ele estava apenas esperando uma brecha para chutá-lo, certo? — disse para a artista. — Queria chutar seu irmão apenas para deixá-lo desconcentrado, e assim ter a oportunidade de usar essas raízes estranhas para arrancar o Coração de sua mão. Admito que a estratégia foi interessante, embora também tenha sido um atestado de insanidade para o seu amigo.

Elin continuava sem palavras. O dono do hotel levantou, ainda sorridente.

— Certo, as coisas vão acalmar a partir de agora. Sigam-me. Levarei você e seus amigos até um lugar mais seguro, onde seremos capazes de ter uma conversa particular.



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