Pt. 2 – Arco 3

Capítulo 32: A Ameaça do Bat-Maconha (1)

Banheiro masculino, Casa do Sol Nascente - 10:01 da noite, quinze de Julho.

Einstein permaneceu parado, dentro do box, enquanto a criatura humanoide caminhava pelo banheiro.

Aquela coisa humanoide, coberta por uma gosma amarelada, tinha por volta dos dois metros de altura. Era robusta e verde, com olhos cintilando em vermelho e dentes amarelos afiados. Vestia algo parecido com um pijama. A metade superior do seu rosto era coberta por um capuz parecido com a cabeça de um morcego.

  Maconha… maconha… — resmungava a estranha forma, com uma voz frágil e esfomeada.

Percebendo que ele parecia se aproximar, o feiticeiro fechou a porta lentamente. Agora, só poderia contar com a audição. Continuava escutando, de segundo em segundo, os passos pesados daquilo.

A cada segundo que passava, mais forte o som se tornava. Chegou uma hora em que já não sabia se aquela coisa ainda estava vindo em sua direção, ou se havia alcançado um método sobrenatural para surgir em suas costas.

Olhou para trás. Nada.

Então, o som dos passos foram diminuindo com o passar dos segundos, até o banheiro ser dominado pelo mais puro silêncio. Abriu a porta lentamente, passando os olhos pelo ambiente. Foi deste modo que entendeu; a criatura realmente sumiu.

Saiu para fora do box em um salto, contente e curioso. “O que era aquilo?”, pensou. “Talvez seja o motivo desse lugar ser a quarta coordenada! Tenho que persegui-lo e levá-lo até meus companheiros…”

MACONHA!!!

Quando olhou para trás, se deparou com a repentina cena; uma fenda se formando na parede e a enorme criatura saltando através dela. Einstein não foi capaz de se esquivar a tempo, sendo derrubado.

O monstro cerrou o punho, o mesmo que fez um buraco na parede, e avançou um poderoso soco na sua direção.

Strange Magic! — Uma esfera mágica de ar surgiu sobre a palma do feiticeiro, que a arremessou contra o inimigo.

Maconha! — berrou a aberração, sendo atirado contra o teto ao ser atingido pela ventania mágica.

— Fique parado! — disse o hamster ao se levantar, observando o bicho desabar no chão. Já havia conjurado duas esferas mágicas de eletricidade sobre as mãos, apontando-as na direção do bicho. — O que é você? O que faz aqui? Me conte tudo o que sabe, mequetrefe!

— Maconha… maconha, maconha, maconha. Conha. Conha. Maconha.

— O senhor só fala isso?

— MACONHA!!! — Socou o chão com força.

Algo muito inesperado aconteceu.

Um pedaço do pavimento, ao entrar em contato com o punho do bicho, simplesmente começou a mudar de forma. O que uma vez já foi um piso de banheiro, misteriosamente se transformou em um amontoado de raízes e plantas.

As raízes, como se com vida própria, se esticaram e avançaram na direção do hamster — que por pouco se desviou de três delas.

— Droga! — resmungou ao ter um dos braços capturado por uma quarta raíz, que simplesmente se entrelaçou sobre seu membro igual a uma corrente.

Porém, Einstein conseguiu se soltar ao invocar um orbe de chamas que queimou a raiz. Percebeu que aquela aberração era mais poderosa do que imaginava à primeira vista. E olha que a primeira coisa que imaginou quando viu aquele bicho com dois metros e dialeto limitado a gritar “MACONHA” foi: “Carambolas, acho que estou lascado pra dedéu!”

Por isso, assim que se libertou, saiu correndo para fora do banheiro o mais rápido que pôde.

“Cacetadas, esse monstro é muito casca-grossa. Será que tento derrotá-lo sozinho ou procuro minha irmã? Nós dois devemos dar conta dele!”

Os pensamentos foram interrompidos quando suas costas foram atingidas.

O soco do inimigo, mesmo que de raspão, doeu tanto quanto um tiro. Einstein saiu voando para fora do corredor, parando no restaurante do hotel, onde se chocou contra uma mesa. A mesa partiu no meio e os clientes espantados se afastaram em meio a gritos.

— Ai, ai, ai… — Einstein se levantou com dificuldades, observando a sua fantasia de dado (agora rasgada) cair do seu corpo. Agora, todos viam o traje de hamster que estava por baixo do disfarce.

— Não é aquele terrorista?! — gritou um dos clientes.

“Maldita mídia manipuladora!”, pensou.

O monstro saltou para fora do corredor, parando em sua frente, com aquele olhar tenebroso e sorriso selvagem.

— Fujam! — gritou Einstein.

“Ele é bem forte. Vejo que não poderei poupar esforços aqui. Ele nem sabe falar direito, então interrogá-lo seria inútil.” Disparou duas esferas de chamas contra o inimigo.

Ao ver aquela coisa atingindo outro soco no chão, o feiticeiro se assustou, pois uma árvore adulta simplesmente cresceu na frente da criatura em um instante e serviu como escudo para protegê-lo dos disparos de fogo. Mas claro, fogo é fogo; então, a árvore entrou em combustão.

Neste ponto, todos do restaurante fugiam desesperadamente pelo corredor oposto. Exceto por um senhor, que ficou para acertar um chute na canela de Einstein.

— Aí! — gritou o feiticeiro, caindo. — Fuja, por favor!

— Fugir de você? Nem ferrando! Não sei de qual demônio recebeu esses dons, mas me recuso a recuar!

  — Não de mim, mas do…

Com um mero salto, a criatura feroz o alcançou.

— Fuja! — Einstein atingiu o rosto do monstro com um raio. — Não brinca com a minha paciência que se não eu te transformo em pipoca, velho chatão!

Toda a coragem do senhor se esvaiu em um instante, mais pelos xingamentos de Einstein do que pelos ataques do monstro verde, e ele saiu correndo junto de todos os outros civis.

Enquanto isso, aproveitando da criatura estar cambaleando devido ao último golpe, Einstein atingiu ela com outro raio. Em seguida, repetiu o ataque, agora atirando uma esfera de chamas.

— Maconha! Maconha! — urrou, caindo no chão, em chamas.

— Toma! Toma! Toma! — começou a presenteá-lo com uma chuva elemental de ataques mágicos, sem parar por um único instante.

Os gritos de horror da criatura foram tão desesperados e agonizantes que, em um momento, Einstein chegou a sentir dó. Isso até que os gritos pararam, pois a criatura fora completamente carbonizada, perdendo qualquer resquício de vida que algum dia teve.

Em seguida, o corpo simplesmente evaporou, como se sequer tivesse chegado a existir.

“Mas que coisa mais estranha…”, pensou. “Ele simplesmente saiu de dentro do banheiro, logo depois de eu ter entrado. Além disso, as pessoas nem pareciam vê-lo. Sei que um terrorista é muito assustador, mas aquele bicho era um monstro! Deveriam ter se assustado mais com ele e gritado ‘monstro!’ ou coisa do tipo! Mesmo assim, aquele cara que me chutou parecia ignorá-lo completamente e só correu quando usei meus poderes.”

Se levantar foi um desafio para o hamster, que sentia dores por todo o corpo. Mal conseguia se aguentar de pé, muito provavelmente havia quebrado alguma coisa quando foi golpeado. Até tentou usar sua magia de cura, mas tinha gasto toda a mana para eliminar o inimigo.

“Merda, agora que perdi o meu disfarce e todos me viram, vai ser questão de tempo para que os homens de preto apareçam. Preciso dar um jeito de avisar Elin e Leonard, mas primeiro…” 

Voltou ao banheiro, encarando a cratera de onde aquele ser tinha saído. “Então é daqui que veio o… qual seria o nome dele? Bem, ele tinha orelhinhas de morcego e ficava gritando ‘maconha’. Então, vou chamá-lo de Bat-Maconha”, pensou. “Espera, maconha não é aquela coisa que os hippies usam? Será que esse bicho veio parar aqui por causa daquele hippie lá, o Laertes?!”

Pensativo, enfiou a cabeça dentro do buraco.

Se impressionou ao fazer isso, pois percebeu que aquilo não era uma simples fenda, mas uma passagem a algo muito maior. 

A escuridão realmente dificultava qualquer análise, mas com apenas uma olhada, já conseguia perceber que parecia haver outra fenda muito mais funda no interior da parede.

E, de lá…

MACONHA!!! — Outro Bat-Maconha saltou para fora do buraco e o atingiu com um chute.

— Mas… — Einstein desabou imediatamente, completamente atordoado.

Com a visão turva, não conseguiu ver mais do que seu braço sendo segurado pelo monstro. Começou a ser puxado pelo pavimento do banheiro. Tentou se soltar, mas a dor era tamanha que qualquer movimento tornava-se um desafio. Usar o Strange Magic, naquele estado, também era totalmente inviável.

Quando se deu conta, já estava dentro do buraco, junto do Bat-Maconha. Fora puxado até as profundezas daquela fenda de escuridão, sendo capaz apenas de sentir um forte cheiro de carniça invadir suas narinas. De repente, foi jogado sobre um chão de terra. Olhou pelos arredores, e enxergou apenas um monte de nada sobre todo aquele ambiente parecido com uma caverna. Se levantou com dificuldades e olhou para frente, desacreditado com o que se deparou.

Era um coração. Não de uma carne morta. Pulsava com mais vivacidade que o coração de muitos humanos, mesmo sem estar dentro de um corpo, e emanava uma luz poderosa que fazia Einstein se arrepiar completamente; pois em tal luz, sentia uma sensação difícil de compreender. Algo “celestial”.

Tentando se aproximar, acabou caindo devido suas fraquezas.

Entretanto, com uma estranha atração pelo que estava vislumbrando, começou a rastejar lentamente. Sentia naquela coisa um conforto assustador, como se aquilo fosse o que estivesse procurando por todo esse tempo.

Refletindo sobre isso, lembrou-se de Galileu, seu irmão. Lembrou-se de tudo o que passou na esperança de encontrá-lo e na decepção que lhe atingiu quando recordou do que aconteceu naquele fatídico dia. O momento em que o homem sem olhos encontrou seu irmão e o matou cruelmente.



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