Volume 3
Capítulo 3: Eu odeio amar isso com meu coração
— Isso não é bom.
Sorata ouviu uma voz desanimada vindo ao lado dele enquanto abria sua marmiteira.
Era um dia sem muito vento, mas o céu do outono os refrescava um pouco. Como estavam na última semana de setembro, o verão já havia desaparecido, e estava um clima bom.
Estava um pouco frio durante a manhã e a tarde, então alguns alunos já haviam começado a usar o uniforme de inverno ao invés do de verão.
Dos membros do Sakurasou que estavam reunidos no telhado, Mashiro e Nanami estavam usando mangas longas.
— O que foi, os tomates estão ruins?
Ryuunosuke estava comendo um tomate inteiro enquanto mexia no notebook.
— Tomates sempre estão bons. Não insulte os tomates. Eu confio neles mais que tudo nesse mundo.
Quando ele disse isso com uma expressão séria, Sorata ficou um pouco assustado.
— Quando você insulta um tomate, você me insulta também.
— Beleza, mas por que você tá com essa cara, então?
Jin pegou a marmiteira que Misaki o entregou mais cedo, enquanto eles estavam sentados em um pano, parecendo até um piquenique. Misaki tem feito marmitas para Jin todos os dias. Olhando bem, parecia até que eles dois estavam saindo. Agora Sorata entendeu o porquê Nanami estava fazendo um rosto surpreso olhando eles.
Era segunda-feira, o início de uma nova semana. Eles decidiram que, nas segundas, toda semana, a hora do almoço seria usada para discutir sobre o progresso no projeto para o Festival Cultural: o Gato Galáctico Nyaboron.
A única razão pela qual eles estavam tendo reuniões na escola era porque Ryuunosuke se trancava em seu quarto assim que chegava no dormitório.
Os seis membros, que eram Sorata, Mashiro, Nanami, Misaki, Jin e Ryuunosuke, estavam sentados em círculo.
— Por causa disso aqui.
Ryuunosuke virou a tela do notebook para o centro do círculo e o resto do grupo olhou para ela.
O que estava na tela era o cronograma de produção.
Foi feito por Ryuunosuke, o programador, que dividiu em seis partes diferentes: planejamento, cenário, gráficos, programa, roteiro e som.
Eles começaram no dia 9 de setembro, então teriam quase 2 meses para produzir tudo. Com os dois meses que tinham, eles separaram o prazo em 3 fases diferentes.
A primeira fase começou no dia 8 de setembro e durou 2 semanas, onde eles testaram o hardware do jogo. O roteiro e o design dos personagens também foram iniciados nesse meio-tempo. Vamos chamar esse período de "Fase de Testes".
Próxima: Fase de Desenvolvimento. Eles terão cerca de um mês para trabalhar. Durante esse tempo, eles deverão finalizar os gráficos, e também os sons, para que pudessem testar o jogo antes de ir para a próxima fase. A "Fase de Finalização" estava marcada para começar no dia 20 de outubro.
Atualmente, eles terminaram tranquilamente a primeira fase, e já estavam na segunda há uma semana.
— Ué, mas nós não estamos dentro do cronograma?
Nanami perguntou, confusa.
— Olha, nós estamos dois dias atrasados com os desenhos das partes do drama.
— Vou me apressar.
Disse Mashiro, enquanto enfiava alguns ovos fritos na boca.
— No momento, você já está produzindo trabalhos de alta qualidade em um ritmo super acelerado. Não dá para acelerar ainda mais se você continuar sozinha. O número de cortes que temos não é algo que pode ser feito por uma única pessoa. Precisamos obter alguma ajuda extra ou então teremos que reduzir o número de cenas. É perigoso fazer qualquer coisa sem um plano exato traçado. E esse trabalho todo não servirá de nada quando acabar o Festival Cultural.
— Não vou reduzir nada.
Mashiro estava enfrentando Ryuunosuke.
— Mas...
Mashiro o interrompeu.
— Quero que o Nyaboron seja perfeito.
— ...
Naquele momento, todos que estavam ali puderam se identificar com o que Mashiro disse, já que este poderia ser o último momento juntos que eles teriam.
Os olhos de Sorata e Nanami se encontraram. Ela estava com os lábios cerrados.
— Tá na hora de entrar em ação! Eu vou ajudar a Mashiron~!
Terminando seu almoço sem que ninguém percebesse, Misaki disse isso enquanto olhava os acompanhamentos de Sorata.
— Kamiigusa-senpai, você já está cuidando da parte da modelagem 3D, você não tem tempo para outras coisas. Além disso, temos que fazer a captura de movimento esta semana, então você precisa terminar os modelos.
— Então precisamos de reforços! Precisamos recrutar mais membros!
Misaki estendeu a mão para a lancheira de Sorata com seus pauzinhos para roubar um pedaço de frango frito, e ela comeu feliz. Sorata nem teve chance de dizer nada.
— Mas não será tão fácil tentar recrutar alguém.
— Eu não acho que tenha alguém na escola que gostaria de se envolver com o Sakurasou.
Nanami sorriu desconfortavelmente.
— E as pessoas talentosas já devem ter sido chamadas para outros projetos.
Os membros do Sakurasou não eram os únicos que pretendiam participar do Festival Cultural, afinal de contas.
Faltava cerca de um mês para o festival, mas toda a escola já estava fervilhando de emoção.
E graças aos preparativos do festival, muitos casais já estavam se formando.
A Suimei tinha uma cultura de crachás com cores diferentes para aqueles que estão namorando, para que se pudesse ver claramente se a pessoa tinha ou não um parceiro.
Até mesmo na sala de Sorata havia vários alunos que decidiram começar a namorar enquanto ainda se preparavam para o Festival Cultural. Ele só esperava não ter que ver esses mesmos alunos tristes no canto da sala pois terminaram antes mesmo do festival começar.
— Verdade, esse é o problema. Mas ainda assim, não tem como a Shiina fazer isso tudo sozinha.
Quando Sorata disse isso, Jin acenou com a cabeça. Até a talentosa Misaki teve que aceitar isso. Ela deveria saber melhor do que Sorata que, o que Mashiro disse, não era possível.
— Existe alguém.
— Alguém onde?
— Alguém que consiga ajudar?
Nanami reformulou sua pergunta.
— Sim.
Isso foi surpreendente. Era alguém do Departamento de Artes?
— Quem é?
Com a atenção de todos sobre ela, Mashiro disse o nome da pessoa.
— A Rita.
— Ah, sim...
Então havia essa opção! Rita não tinha nenhum compromisso, então estava livre, e ela com certeza tinha potencial para fazer isso. Sorata tinha visto os desenhos que Rita fez antes para o storyboard. Era de se esperar, visto que ela estudou ao lado de Mashiro desde que era jovem. A maneira como ela desenhava as linhas e suas técnicas eram completamente diferentes de uma pessoa comum.
No entanto, havia apenas um problema.
— Mas ela mencionou que parou de desenhar há muito tempo.
Deve ter acontecido algo sério para ela parar de desenhar mesmo se ela não fosse tão boa. E não era difícil perceber que o motivo envolvia Mashiro.
— A Rita não desistiria da arte tão facilmente.
— Mas ela mesma disse que desistiu...
— Ela não desistiria por nada no mundo.
— Porque você acha isso?
— Porque a Rita ama a arte.
Ouvindo essa resposta simples, Sorata não sabia o que dizer em seguida.
— Realmente, ela tem o talento que a gente precisa.
Ryuunosuke tirou os olhos da tela do notebook e virou para os outros verem.
O que estava na tela era uma página da Wikipedia. Estava escrito "Rita Ainsworth".
Embora fosse difícil de entender, pois foi traduzido automaticamente do inglês para o japonês, era o suficiente para entender o que queria dizer.
Havia uma foto de Rita ao lado de sua pintura que ganhou um concurso de arte.
Vendo isso, Sorata fez uma pergunta óbvia.
— Isso significa que ela já é uma profissional?
— Sorata, você está falando sério?
Mashiro deu a Sorata um olhar lamentável.
— Você não viu, Sorata?
— Vi o quê?
— Sobre o que você está falando, Mashiro?
Mashiro olhou para Sorata e Nanami com um olhar vazio. Sem saber o que estava acontecendo, Sorata e Nanami se encararam confusos.
— O desenho da Rita estava na exposição de arte.
— O que?!
— De jeito nenhum!
Sorata e Nanami ficaram surpresos.
— E para onde mais vocês estavam olhando?
Mashiro falava como se a pintura de Rita superasse qualquer outra pintura naquela exposição. Mas Sorata não conseguia se lembrar de nada assim. Ele só conseguia pensar na pintura de Mashiro.
Rita nunca mencionou nada sobre sua pintura. Mas talvez ela simplesmente não quisesse mencionar isso.
Sorata podia se lembrar claramente da pintura de Mashiro, mas ele nem sabia se tinha visto alguma de Rita. Ele não conseguia se lembrar de nenhuma outra além da pintura de Mashiro.
Ficou bem claro que a diferença entre as habilidades de Mashiro e Rita era bastante grande.
— Bem, nós não temos mais ninguém para chamar. Só precisamos perguntar para a Rita primeiro. Se ela não quiser nos ajudar, reduziremos as cenas. Todos de acordo?
Com as palavras de Jin, todos ficaram em silêncio.
— Por enquanto, vou tentar pensar em algumas partes que podem ser cortadas. Tenho bastante tempo livre durante minhas aulas.
Parecia que Nanami queria interromper Jin para poder falar algo.
Mas antes que ela pudesse falar, Jin mudou de assunto.
— Então, mais alguma coisa que precisamos discutir para hoje?
— Ah, ainda tem algo a respeito da permissão do Comitê.
Nanami calmamente levantou a mão.
— Ohh, como esperado da Nanami! Então você conseguiu a permissão deles, hein?
— Não. Mas eles pediram para ver nosso projeto e, se estiver tudo bem, nos darão permissão.
— Então eles estão pedindo uma apresentação para o Comitê do Festival Cultural?
Nanami olhou para Sorata por um tempo.
Sorata teve um mau pressentimento sobre isso.
— Não. Tem que ser uma apresentação para o Comitê do Festival Cultural, o conselho estudantil da Suimei e o da universidade.
— É o quê?!
Teria até mesmo o conselho estudantil tanto do ensino médio quanto da universidade, hein.
— Isso não é ótimo, Sorata? Essa parte da apresentação do projeto fica para você, diretor.
Os olhos de Jin estavam rindo por trás dos óculos. Estava dando uma grande risada.
— Será amanhã depois da aula. O local será na sala de reuniões do conselho estudantil da Suimei.
— Calma, amanhã? Não vai dar tempo de preparar a apresentação!
— Não se preocupa. Se a apresentação falhar, o máximo que vai acontecer é eles saberem sobre nosso projeto e a gente perder a sala de cinema. Aí a gente ia precisar achar um local diferente para fazer escondido... Mas não se preocupa muito, não! Boa sorte, Sorata!
— Para com isso aí!
Ele agora tinha que usar todo o seu tempo durante as aulas da tarde para preparar uma apresentação para o dia seguinte. Nanami o ajudaria com isso...
A cada momento aparecia um imprevisto. Eles não tinham tempo para ficar se preocupando com tudo isso. Por enquanto, o mais urgente era se preparar para amanhã e pedir ajuda de Rita.
Quando ele estava fechando sua marmiteira, agora vazia, um anúncio da escola ressoou.
— Por favor, atenção.
Era a voz de uma aluna do Clube de Transmissão de Rádio.
— Jin Mitaka, do terceiro ano, por favor, venha à sala dos professores imediatamente. O professor Takatsu está procurando por você. Eu repito...
Ela repetiu o anúncio.
Quando tudo ficou quieto novamente, Jin se levantou.
Sorata olhou para Jin, mas ele fez um sinal sutil para Sorata ficar quieto.
Takatsu era o professor encarregado da troca de carreiras. Ele deve estar querendo falar sobre os exames de admissão externos.
— Ei, vocês dois, isso é injusto! Eu vi vocês dois se olhando! Me deixa saber o que é~!
Eles foram descobertos por Misaki, que não deixava passar nada.
— Por que ele te chamou?!
Misaki fez uma pergunta óbvia.
— Sei lá. Bem, não posso deixar ele lá esperando. Tô indo.
Jin saiu do telhado com essas palavras.
— Kouhai-kun, me fala.
Misaki empurrou a cabeça na direção de Sorata.
— Me fala o que vocês dois estão escondendo!
Ela agarrou o colarinho de Sorata e começou a sacudir para frente e para trás.
Ele sentiu que ia acabar vomitando o almoço caso isso acontecesse.
— E-Eu não sei de nada!
— O Jin tá agindo muito estranho esses dias~!
— É coisa da sua cabeça, Misaki-senpai!
Ela sacudiu ele ainda mais forte.
— Minha cabeça diz que vocês estão escondendo algo de mim~!
O sexto sentido de uma alienígena era realmente algo incrível.
— P-Para com isso, por favor... Eu... vou... vomitar...
— E aquele dia que ele foi para Ginza?
— … O que? Ginza?
Misaki finalmente parou de sacudir Sorata.
— Pera, cê realmente seguiu ele?!
— É claro!
Quando Misaki falou sem negar, Sorata ficou sem palavras.
Sim, Misaki realmente era o tipo de pessoa que não vê problema nem tem vergonha de invadir a privacidade de alguém...
Enquanto Sorata franzia o rosto para pensar na coisa certa a se dizer, Ryuunosuke fechou o notebook e se levantou.
— Se era o Takatsu chamando, então deve ser algo sobre mudança de carreiras.
Ele disse algo que era completamente desnecessário.
Ouvindo as palavras de Ryuunosuke, Misaki saiu correndo. Ela deve estar planejando seguir Jin.
— Ah, espera, Senpai!
A tentativa de Sorata foi um fracasso. Tudo bem em deixar ela ir? Embora ele não soubesse sobre o que Jin e Takatsu iriam falar, mas ao ouvir os dois, Misaki descobriria sobre os exames de admissão externos.
Sorata decidiu mandar uma mensagem para Jin.
— A Misaki-senpai está atrás de você.
— Eu sei.
Como esperado de um amigo de infância. Jin já sabia tudo sobre os padrões de Misaki.
Decidindo que a reunião estava encerrada, Ryuunosuke saiu do telhado sem dizer nada.
Então, o sinal tocou.
— Shiina, você tem aulas práticas durante a tarde, não tem? Você deveria se apressar.
— Certo.
Terminando seu almoço, Mashiro deixou o telhado enquanto tomava um pouco de chá vermelho em um copo de papel
Apenas Sorata e Nanami permaneceram ali.
Querendo aproveitar o resto da pausa para o almoço, Sorata se sentou em um banco. Nanami sentou na outra ponta do banco.
— Então você também já estava sabendo, né, Kanda. Sobre o Mitaka-senpai fazendo exames de admissão externos.
— Hein? Como você sabe disso?
— Eu descobri no início das férias de verão. Fui chamada para falar sobre minhas mensalidades atrasadas do dormitório e... ouvi o Mitaka-senpai e o Takatsu-sensei falando sobre isso na sala dos professores.
— Ah, naquele dia...
O dia em que Sorata pediu que ela fosse morar no Sakurasou. Também foi o dia que ele levou Mashiro para a escola para ela fazer a recuperação.
— Então a Kamiigusa-senpai ainda não sabe...
— Ele disse que ele mesmo contaria a ela.
— Eu não gosto disso.
— Nem eu, mas nós não podemos contar.
— Isso é verdade, mas... eu ainda não gosto disso.
Não havia muito o que Sorata pudesse fazer.
Depois de olhar para os pés por um tempo, Nanami olhou para o céu.
Outros alunos ao redor deles no telhado começaram a ir para a aula. Estava quase na hora das aulas da tarde começarem.
Nanami verificou a hora com o telefone.
— Aliás, você já está podendo fazer ligações?
— Eu não queria, mas a Kamiigusa-senpai pagou minhas dívidas com a cobradora... então minha linha já voltou.
Nanami estava com um sorriso amargo. Sorata entendia o motivo.
— Ela realmente gosta de fazer as coisas do jeito dela.
A conversa deles parou ali. Mas nem Sorata nem Nanami tentaram voltar para a aula. Isso porque ainda havia uma questão importante:
— Você acha que a Rita vai nos ajudar?
— Não sei.
Parecia que Nanami tinha a mesma pergunta em mente. Ela não ficou surpresa quando Sorata pegou, e ele já esperava isso.
"— Eu não pinto mais... Eu parei com isso."
O que Rita quis dizer quando disse isso na primeira noite que ela veio para o Sakurasou?
Sorata sabia que Rita não parou por questões de saúde. E ele sabia que ela não parou porque quis... Além disso, ficou claro que Mashiro era um dos motivos principais para Rita ter parado.
— Quero acreditar que a felicidade vem ao fazer aquilo que gostamos.
— Aoyama, o que você faria se tivesse um grande talento além de atuar? Por exemplo, como o da Shiina?
Nanami olhou para Sorata.
— Você vai ou não vai falar com a Rita?
Ela mudou de assunto.
— Acho que a Shiina não se importaria com isso.
— Não é sobre isso que estou falando.
— Eu sei. Mas há momentos em que você espera a ajuda de outras pessoas, não?
Sorata ficou com um pouco de medo de ter admitido seus próprios sentimentos ao dizer isso. Mesmo que houvesse a chance de Rita os ajudar, parecia que ela estava querendo negar isso...
— Mas... eu acho que a Rita quer que você peça a ela.
— Sim, acho que você tem razão.
A única razão pela qual Sorata concordou com Nanami foi para enganar a si mesmo, mas ele não podia dizer que pensava o contrário.
O sinal para o início das aulas da tarde tocou. Nanami se levantou do banco e Sorata fez o mesmo.
Ele olhou para o céu por um momento, como se estivesse procurando por algo. Mas tudo o que ele viu foram nuvens escuras de chuva que pareciam que iriam cair em breve. Isso refletia os sentimentos de Sorata no fundo de seu coração.
Sorata tirou os olhos do céu e correu para dentro do prédio como se estivesse fugindo de seu próprio coração.
Parte 2
Isso era bem raro, mas, depois da escola, Sorata, Mashiro, Nanami e Ryuunosuke, voltaram para casa juntos.
— Parece que vai chover.
Nanami disse enquanto olhava para o céu.
O céu não estava tão nublado durante a hora do almoço, mas agora, o céu azul não era mais visível atrás das nuvens escuras de tempestade. Graças às nuvens, a atmosfera estava escura e fria.
O humor deles estava sendo afetado pelo clima melancólico.
Eles estavam andando em uma estrada íngreme que fazia parte do caminho para o Sakurasou quando avistaram Rita à frente deles. Parece que ela estava voltando depois de fazer compras. Ela estava usando um avental enquanto segurava uma sacola de plástico.
— Rita!
Quando Sorata chamou seu nome, ela se virou e olhou para trás.
Ele rapidamente foi para o lado dela e pegou a sacola que ela estava segurando. A sacola estava cheia de legumes e frutas, então era bem pesada.
— O que tem para o jantar?
— Vou tentar fazer um prato que o Jin me ensinou.
Rita respondeu enquanto sorria.
Os cinco, agora incluindo Rita, continuaram a caminhar de volta para o dormitório.
Andando à frente do resto do grupo, Rita falava com orgulho para Mashiro sobre algumas receitas que Jin a ensinou. E andando atrás dela, Sorata olhou para as costas de Rita sem motivo.
Rita pediu a ajuda de Sorata e Nanami no dia da Exposição de Arte Moderna, mas ela não pediu para eles fazerem mais nada desde então.
Ela continuou a agir como de costume: sorrindo para tudo, brincando com Misaki, limpando algumas bagunças de Mashiro e fazendo algumas tarefas no dormitório.
Como eles não sabiam as reais intenções de Rita, Sorata e Nanami ficaram frustrados. Mesmo agora, enquanto Sorata olhava para as costas de Rita e depois olhava para Nanami, ambos inclinavam a cabeça em confusão.
Eventualmente, os cinco chegaram ao Sakurasou.
Então Mashiro parou Rita para falar sobre a coisa mais importante do dia.
— Rita, você poderia me ajudar em algo?
Prestes a girar a maçaneta, Rita se virou lentamente.
— Quer que eu te ajude a voltar para a Inglaterra, não é?
— Não.
— Que triste. O que é?
— Eu quero que você me ajude com o Nyaboron.
Rita parecia intrigada.
— Você sabe que estamos trabalhando em uma apresentação para o Festival Cultural, não é?
Sorata tentou explicar melhor.
— Precisamos de mais gente.
— Então você está me pedindo para fazer parte da equipe?
— Não conseguimos encontrar mais ninguém para nos ajudar. E ninguém conseguiria acompanhar o ritmo da Shiina, mas... a Shiina disse que você consegue, Rita.
— ...
Rita começou a pensar por um momento.
Observando ela, Sorata achou que ela iria concordar.
— Por favor, Rita.
Nanami pediu a ela também. Ryuunosuke ficou em silêncio e esperou pela resposta.
— Se esse é o seu pedido, então eu terei que recusar. Eu não sou tão boa quanto a Mashiro.
Sem nem uma única mudança em sua expressão, Rita recusou.
Ela se virou e tentou abrir a porta.
— Não, está errado.
— ...
— Você é boa, sim, Rita.
— Por favor, pare. Eu parei de desenhar. Prometi para mim mesma que nunca mais faria isso.
— Por que?
— ...!
Um som agudo de trituração pode ser ouvido. Rita tinha cerrado os dentes.
O som desagradável de dentes rangendo um no outro deixou um clima de tensão.
Rita virou-se lentamente. Seu sorriso brilhante de sempre não estava mais lá. A expressão fria congelou o ambiente rapidamente.
— Você é muito boa desenhando, Rita.
— Cala a boca...
— Rita?
O coração de Sorata afundou. A voz alegre de Rita sumiu... Sua voz estava quase irreconhecível.
— Por favor, não diga uma coisa dessas.
A garota na frente deles não era mais a Rita. A Rita que eles conheciam era uma pessoa gentil e sorridente. O que estava acontecendo?
— Eu não quero ouvir isso de você, Mashiro.
Sua voz era fria e tensa.
— Eu não quero que você me diga essas coisas.
Isso despertou o coração de Sorata. Ele nunca soube o que Rita escondia.
— Por que...?
Mashiro estendeu as mãos para Rita. Ela também se surpreendeu com a mudança repentina de Rita.
Rita olhou friamente para sua amiga.
— De quem você acha que é a culpa?
Rita sorriu friamente. Ela estava sorrindo, mas não era seu sorriso de sempre.
— Por que você acha que eu parei de desenhar?
Toda vez que Sorata ouvia a voz de Rita, ele ficava ainda mais assustado.
— Isso é tudo culpa sua, Mashiro.
O olhar de Rita perfurou Mashiro, e ela congelou.
— Por que...?
Mashiro repetiu essa palavra como uma criança que acabou de ser abandonada por sua mãe. Como se ela tivesse esquecido como dizer qualquer outra coisa...
—Eu não fui a única que largou a arte por sua causa, Mashiro.
— Por que...
— Então você realmente não se lembra. Todos nós te admirávamos, mas também te odiávamos muito, pois você estava em um nível impossível de ser superado, Mashiro.
Mashiro piscou silenciosamente.
A atmosfera começou a congelar ainda mais com as palavras de Rita.
— Você se lembra que estudávamos no estúdio do meu avô?
— Sim.
— Você percebeu todas aquelas crianças que deixavam o estúdio todos os meses, uma por uma?
— ...
— Você sabe quando e porquê elas fizeram isso?
— ... Não...
— Claro, você não lembra nem do nome ou do rosto dessas pessoas.
— ...
Mashiro concordou silenciosamente com o que Rita disse.
— Você realmente não lembra de nada. Você só tinha olhos para as suas próprias pinturas.
— Por que...?
Quantas vezes Mashiro repetiu essa palavra?
— Eu disse que é sua culpa. Por sua culpa, comecei a odiar a pintura, mesmo quando eu gostava tanto. E mais do que isso, comecei a desprezar a arte. Não aguento nem olhar para uma tela, um cavalete ou até mesmo um pincel.
O reflexo de Mashiro estava nos olhos bem abertos de Rita.
As pupilas de Mashiro tremiam de agitação.
Seria melhor para ela parar de ouvir agora. Para o próprio bem de Mashiro, seria melhor parar por aqui.
No entanto, Sorata não conseguiu parar Rita. Parecia que seus pés estavam presos no chão. Ele também perdeu a capacidade de falar.
— As crianças que estudavam no estúdio do meu avô eram mais que simples estudantes de artes. Eles eram estudantes de todo o mundo que estavam determinados a se tornar pintores famosos. Todos eram considerados prodígios e gênios em seus próprios países.
Mashiro e Rita deviam ser iguais a eles no começo.
— Então todos lá tinham esse tal "talento". Eles eram jovens, mas já eram artistas. Mas quando todos eles chegaram lá, eles descobriram que não eram nada em comparação com um verdadeiro gênio... Pela primeira vez em suas vidas, eles conheceram alguém que era melhor que eles... Era um lugar para isso, para eles saberem que sempre haveria competições na vida. No entanto, quando não conseguiam lidar com a pressão, paravam de pintar. Eles se consideravam especiais, mas quando deram de cara com a realidade, desistiram. Mas pensar em desistir quando você está triste é normal. Sim, não foi algo inesperado, mas ainda tinha você...
— Eu...?
— Isso mesmo. Não importa o quanto tentássemos, não poderíamos ser como você, Mashiro. Não poderíamos nem chegar aos seus pés. Você não tinha olhos para a gente, também... Você vivia apenas para a sua arte. Você rasgou e destruiu os sonhos e emoções de todos, e é assim que você está agora: vazia. Sempre que via suas pinturas, tudo que eu pensava era "Ah, ela realmente vive em um mundo diferente do meu". Foi ali que eu percebi o que é o verdadeiro talento. E sempre que eu me esforçava para melhorar em algo, você ia lá e fazia melhor. Como se aquilo não fosse nada para você.
Sorata e Nanami ouviam em silêncio e olhavam para Rita. Mashiro estava ouvindo Rita com uma expressão séria. Ryuunosuke só se importava com o clima, se iria chover ou não.
Rita voltou a falar.
— A única pessoa que sobrou no estúdio fui eu, mesmo tendo começado com mais de 30 alunos. Todos foram embora por sua causa, Mashiro. E você nem se importava com isso. Você nunca percebeu que eles foram embora.
— Eu...
— Eu não poderia te perdoar por isso, Mashiro... Então eu só te ajudei a se tornar uma mangaká pois pensei que, assim, você iria sumir. Eu te ensinei a usar um computador. Eu te ajudei a preparar sua viagem ao Japão. Eu só fiz isso para que você pudesse se humilhar na frente dos outros com seu mangá chato e aprender, nem que fosse um pouco, como é a vida de alguém que não tem talento. Mas por que você teve que estrear?!
Rita olhou para Mashiro com olhos furiosos.
— Rita, eu...
Rita tentou falar, mas as palavras não saíram de sua boca.
Sorata as interrompeu.
— Se você realmente pensava assim todo esse tempo, por que você veio?
Ele estava fazendo uma pergunta honesta
— Você não entende, mesmo depois de ouvir tudo o que eu disse, Sorata?
O olhar de Rita perfurou Sorata. Ele podia sentir a dor que Rita estava transmitindo de seu corpo mesmo quando ela estava tentando conter seus sentimentos.
Sorata queria desviar o olhar, mas não conseguia. Ele também sabia que não teria outra chance de ouvir os motivos de Rita se não fosse agora.
— Se fosse você, Sorata, você a perdoaria? Imagina você se esforçar tanto para conseguir algo, lutar para melhorar e conseguir o que deseja... e chega alguém que simplesmente faz isso com tanta facilidade! Como eu poderia perdoar alguém assim?! Por favor, diga!
— Esse é o seu motivo...?
Sorata estava cerrando o punho sem perceber.
— Eu voltei pois quero que a Mashiro se torne a artista mais famosa que existe, porque ela tem tudo que eu não tenho. Assim, poderei dizer com orgulho que já fui parceira da Mashiro Shiina. Se nem isso der certo, o que foi que eu conquistei na minha vida? Eu quero acreditar que a Mashiro carrega essa responsabilidade. Quero acreditar que eu tive um papel importante para o sucesso da Mashiro. Mas não acho que você vá entender, Sorata...
Ele não ia entender. Ele nunca teve seus sonhos destruídos antes. Ele nunca ficou cara a cara com um concorrente real ou enfrentou alguém com um verdadeiro talento. Então ele não conseguia entender ela. Sorata não tinha nada a dizer para Rita.
Todo esse tempo, Rita sempre continuou admirando Mashiro. Ele sempre observava Mashiro pintando de longe. Ela admirava o talento de Mashiro. Ela queria chegar ao seu nível, mas ela não conseguia. Por isso, ela começou a odiá-la. Mas ela não também podia odiá-la completamente. Ela não podia desistir de fazer Mashiro ter sucesso...
Ela, mais do que ninguém, sabia dos talentos de Mashiro e sobre o que ela era capaz.
Não havia nada que Sorata pudesse fazer ou dizer, além de ficar ali sendo encarado por Rita.
Depois de ficar em silêncio desde o começo, Ryuunosuke disse:
— Aproveitadora, já disse tudo que queria dizer?
Quando a chuva começou a cair mais forte, Ryuunosuke friamente tirou um guarda-chuva de sua bolsa.
— Se você já terminou, então saia do meio. Você tá no caminho.
Ainda sem sair do canto, Rita olhou para Ryuunosuke friamente.
Embora o olhar de Rita fosse o suficiente para fazer outras pessoas congelarem, Ryuunosuke parece não ter se importado. Além de não se importar nem um pouco com o que Rita estava fazendo, Ryuunosuke estava calmo, ele até matou um mosquito que estava em seu braço.
— Se você entendeu o que eu disse, então mexa-se. Você já tomou 15 minutos preciosos do meu tempo de trabalho.
— Em nenhum momento eu falei com você.
— Então você deveria ter me deixado passar. Fala sério.
— Ei, Akasaka.
Sorata tentou intervir.
Mas nem Rita nem Ryuunosuke iriam recuar tão cedo.
— Você pode simplesmente passar do meu lado e entrar.
— Eu odeio mulheres. Não quero nem chegar perto de uma.
— Eu já devia saber que um recluso que fica o dia todo no computador seria assim.
Rita falou isso zombando de Ryuunosuke.
— Olha, vou perguntar só pra ter a certeza, mas você tá tentando me ofender?
— Isso mesmo. Você percebeu? Aproveita e vai no psicólogo depois.
— Parece que você ainda não entendeu.
— O que você quer dizer com isso?
— Eu quis dizer para você pensar um pouco antes de falar, mas parece que nem isso você entende. Deixa eu te falar uma coisa: eu mesmo me considero um recluso, você não vai me ofender com isso. E aliás, eu confio em computadores, então, sim, eu fica o dia inteiro usando eles. O que você falou agora a pouco foi a mesma coisa que chamar um careca de... careca. Não tem como se ofender com isso. Talvez o Kanda se ofenderia, eu acho.
— Para de rir de mim...
Os olhos de Rita estavam cheios de ódio e emoções sombrias. Ela estava ainda mais estranha.
— Entenda melhor a situação. Eu não estou "zombando" de você, só acho que você é uma aproveitadora.
— Uhh, eu acho que você zombou dela, sim, Akasaka.
Sorata tentou falar, mas nem Ryuunosuke nem Rita olharam para ele.
— Vou aproveitar para dizer mais uma coisa. Para começar, nunca gostei da sua presença. Eu fui contra você ficar no Sakurasou, aliás.
— Ei, Akasaka. Já está bom.
— Cala a boca, Kanda. Pensa um pouco sobre eu ter que lidar todos os dias com essa aproveitadora e aquele sorriso forçado dela.
— Por que você acha que estou sempre sorrindo...?
— Eu sinceramente não me importo.
— Eu pintava quadros durante toda minha vida...
Rita olhou para Ryuunosuke na chuva. Ela não estava chorando, mas para Sorata, as gotas de chuva em seu rosto faziam parecer que ela estava.
— Desde que eu era pequena, meus pais e o meu avô me elogiavam por tudo que eu pintava. E como eu gostava de ouvir esses elogios deles, eu me esforçava ainda mais. Me esforçava para que eles pudessem me elogiar mais.
O avô de Rita até mesmo criou um estúdio em casa para ela, e acabou convidando outras pessoas para lá, incluindo Mashiro.
— Eu cresci ouvindo que seria uma grande artista um dia.
Rita começou a contar sua história de vida para Ryuunosuke.
— E aí? Onde você quer chegar?
— Mas desde que a Mashiro apareceu, as coisas começaram a mudar. No começo, eu só pensava nela como uma boa pintora...
— Rita...
— Pensei que estávamos competindo uma contra a outra enquanto vivíamos sob o mesmo teto. Mas isso era apenas no meu ponto de vista, nem a Mashiro via desse jeito. Até meus pais e meu avô admitiram que ela era melhor. Perdi toda a vontade de pintar e nem sabia mais o que queria fazer no futuro depois de ser esmagada pelos talentos da Mashiro.
Ryuunosuke passou o guarda-chuva para a outra mão, desinteressado.
— A pintura era meu mundo. Era minha vida. Era tudo o que eu tinha. Mas quando me disseram para parar... Quando meu próprio avô me disse para desistir, já que eu não nunca seria melhor que a Mashiro, já que agora minhas pinturas serão só uma coisa qualquer...! Mesmo assim, eu continuei com a Mashiro... Eu...
— Rita, para, por favor...
Mashiro falou.
— Eu sei o quão tolo e vergonhoso é dizer que quero ter um papel importante na vida da Mashiro! Por favor, não me faça dizer esse tipo de coisa!
Os olhos dela ficaram com algumas lágrimas no canto, enquanto ela olhava para Ryuunosuke com uma cara assustadora. No entanto, ela não derramou nenhuma lágrima. Ela já deve ter chorado tanto antes, que já não tinha mais lágrimas para derramar, e ela também não parecia estar se sentindo triste.
Sorata percebeu como Rita estava se sentindo: desesperada. Ela estava no fim da linha. Não havia mais nada que ela pudesse fazer.
— E você acha que sabe como eu me sinto?! Você não sabe como é ouvir que um dia tudo dará certo, que seus sonhos irão se tornar realidade, mas, do nada, alguém os destrói! Isso é tudo culpa sua, Mashiro! É culpa sua por existir...
Ver Rita com raiva fez Sorata dar um passo para trás. Ele não sabia o que pensar sobre a situação. Nanami estava em silêncio, apenas se molhando na chuva.
Mashiro estava paralisada.
O único que parecia não se importar com o que estava acontecendo era Ryuunosuke. Ele pegou o telefone e estava escrevendo umas coisas. Ele não se importava com o que Rita dizia. Ele estava apenas agindo normalmente. Ele não estava sendo influenciado pelo clima nem pelas emoções de ninguém, ele estava apenas sendo ele mesmo.
— Não vai falar mais nada?
—Sério? Eu posso falar?
— Claro, se eu te perguntei, é porque você pode.
— Então, eu quero perguntar uma coisa. De tudo que você falou, quais dessas coisas vieram, realmente, do seu coração?
— O que?
Os olhos de Rita começaram a tremer em confusão.
— Eu entendo que você cresceu com grandes expectativas ao seu redor e, por isso, tentou atender a essas expectativas, mas descobriu que você não era tudo isso que falavam. Mas pelo que você disse, não me parece que você pintava porquê queria.
— Para, por favor...
Quem disse isso foi Mashiro, tentando proteger Rita de Ryuunosuke.
— O quanto mais você vai me humilhar...?
A voz de Rita falhou, mas eles conseguiram entender claramente.
— Você realmente gosta de ficar analisando as pessoas assim?! Você é um lixo!
Levantando o braço, Rita tentou dar um tapa em Ryuunosuke.
No entanto, antes que ela pudesse encostar nele, Ryuunosuke se esquivou do golpe.
— Se você pensou que isso iria realmente funcionar comigo, tem mais alguma outra coisa errada com você.
— Nossa!
A raiva que crescia dentro de Rita explodiu.
Empurrando Mashiro pro lado, Rita levantou o outro braço para jogar a sacola de plástico em Ryuunosuke. Por reflexo, Nanami segurou Mashiro.
— Para com isso, Rita!
No entanto, Sorata disse isso tarde demais
As coisas da sacola voaram em direção a Ryuunosuke. Ele deu um passo para trás e desviou. Os ovos quebraram quando caíram no chão, a farinha voou e os tomates foram esmagados.
— Peça desculpas aos tomates.
Mais brava do que antes, Rita gritou novamente:
— Você é um lixo!
para Ryuunosuke, e correu. Ela correu pelo mesmo caminho que eles acabaram de vir. Ela rapidamente desapareceu na chuva.
— Akasaka, temos que procurar ela!
— Pra quê? Para ela gritar comigo de novo?
— Claro que não!
— Vai você, Kanda. Vai ser mais rápido assim. Aqui, pega o guarda-chuva.
Deve ter sido por causa da calma de Ryuunosuke, mas Sorata entrou também entrou para dentro do Sakurasou. Ele já estava encharcado da chuva.
— É isso que eu não gosto em você.
Ryuunosuke parou.
— E o que seria "isso"?
— Esse seu jeito de não se importar nem um pouco com os sentimentos das pessoas!
— É, até que isso é normal vindo de você, Kanda. Olha, eu sou assim de forma não-intencional, então eu não posso fazer nada para mudar isso.
Dizendo isso, Ryuunosuke entrou em seu quarto.
— E-Ei! Espera!
Mas, na mesma hora, Sorata ouviu algo caindo.
Quando ele olhou ao redor, viu Mashiro caída no chão.
— M-Mashiro! Você está bem?
Nanami tentou ajudá-la a se levantar, mas os olhos de Mashiro estavam fora de foco.
— Ei, Mashiro?
— Eu...
Jin e Misaki colocaram a cabeça para fora da cozinha, eles já estavam em casa pois tinham chegado mais cedo. Nanami explicou aos dois o que havia acontecido.
— O que foi, Mashiro?
— A Rita me odeia...
Mashiro sussurrou como se ela estivesse dormindo.
— Eu não sabia...
Sorata não conseguia pensar em nada para dizer a ela.
— Eu não sabia...
— Não sabia o quê?
— O que a Rita pensava...
Com essas palavras, Sorata teve calafrios. Essa era a talentosa pintora Mashiro Shiina.
Rita não precisava ficar tão angustiada com isso. Embora elas tenham estudado juntas desde que eram jovens, Rita nunca conseguiu alcançar Mashiro. Mashiro era uma figura distante, e isso era o que a tornava a Mashiro Shiina.
— Eu ainda não sei...
— Bem...
— Você sabe, Sorata?
— Não tudo, mas acho que sei uma parte...
Sorata nunca chegou a se sentir igual a Rita. No entanto, ele não gostaria de competir contra Mashiro na mesma área. Isso porque o resultado seria dolorosamente óbvio.
Mas a realidade era diferente. Ao olhar para Rita, ele aprendeu que o resultado foi muito mais humilhante do que ele jamais imaginou, e muito mais impactante.
Ele finalmente conseguiu entender o que Rita quis dizer antes.
"— Você vai ser destruído se ficar perto da Mashiro. Assim como eu fui..."
Era isso que ela queria dizer com ser "destruído". Ele percebeu o quão desesperador era.
Sorata ficou paralisado só de pensar nisso. Ele estava assustado.
— Me diga, Sorata.
Olhando para ele, Mashiro parecia um gato de rua abandonado.
Gotas de chuva caíram de seu cabelo molhado que estava grudado em suas bochechas.
Mas Mashiro não seria capaz de entender. Afinal, ela ainda não entendeu mesmo depois que Rita falou aquelas coisas tão claramente.
— Shiina, alguma vez na vida você já sentiu inveja de alguém?
Jin, Misaki e Nanami se aproximaram para ouvir o que Mashiro tinha a dizer...
— Inveja...?
— Tipo, pensar coisas como "Eu queria saber fazer algo assim" ou "Essa pessoa é incrível, gostaria de chegar nesse nível".
Com a cabeça baixa, Mashiro caiu em pensamentos profundos. Sua expressão ficava mais vazia a cada segundo.
— Eu... não.
Como já era esperado, essa foi a resposta de Mashiro.
— Entendi.
Sorata percebeu que era impossível explicar isso para ela.
Segurando as mãos dela, ele ajudou Mashiro a ficar de pé. Ele tentou levá-la para dentro do dormitório, mas Mashiro não soltou suas mãos.
— Vou procurar ela com a Misaki. Vocês podem ir tomar um banho.
Jin calçou os sapatos.
— Certo.
— Você toma banho primeiro, Aoyama. Seria ruim se você pegasse um resfriado.
— Tudo bem.
Ainda encharcada, Nanami correu para o banheiro.
— Você também, Shiina. Eu vou ir procurar a Rita.
Jin e Misaki passaram por Sorata e saíram.
— Equipe de busca da Ritan, bora~!
Deu para ouvir o barulho do motor da mini-van.
Sorata tentou sair para procurar Rita, mas Mashiro ainda não soltou suas mãos.
— ... Eu também vou.
— Não, você...
— Por favor.
Ouvindo o Mashiro dizer isso ainda molhada da chuva, o coração de Sorata estremeceu. Ele não podia dizer não a ela. Já que, se fosse ele no lugar de Mashiro, iria querer encontrar Rita, não importa o que acontecesse.
— Certo.
Sorata avisou para Nanami, que estava no banheiro, e correu para fora com Mashiro.
Mesmo enquanto corriam, Mashiro não soltou a mão de Sorata. Então Sorata segurou levemente a mão dela e rapidamente desceu a ladeira na frente do Sakurasou enquanto corriam.
— Vamos encontrá-la, eu tenho certeza.
Ele não tinha certeza. Ele não sabia o que iria acontecer.
"O que iria acontecer...?"
Pensar nisso fez Sorata se sentir ainda mais inseguro.
Mas ele não podia hesitar agora. Ele tinha que encontrar Rita.
— Sim.
Mashiro respondeu baixo.
Eles passaram pelo parquinho. Ele olhou ao redor, mas não conseguiu ver ninguém ali. Depois, chegaram a um lugar com dois caminhos. Um caminho levava à escola, enquanto o outro levava ao distrito comercial e à estação.
Como ele não podia soltar Mashiro e procurar separadamente, ele pegou o caminho para a estação.
Depois de correr por todo esse tempo, Sorata começou a ficar sem fôlego. Mashiro também estava cansada e ofegante. No entanto, ela não iria parar.
Não exatamente no distrito comercial, Sorata avistou uma pessoa que estava curvada e encostada em um poste.
A silhueta curvada e triste parecia de outra pessoa, mas certamente era Rita.
— Por favor, vá, Sorata.
— Está tudo bem eu ir?
— Não sei...
— ...
— Pode ser que eu deixe a Rita com raiva de novo...
— Shiina...
Ele podia sentir a mão de Mashiro tremendo.
Então ela estava com medo. Com medo de ser odiada por Rita...
Ele percebeu o quanto Rita significava para Mashiro. Mashiro estava completamente preocupada com Rita, mesmo que Mashiro não ligasse para ninguém.
Rita era uma pessoa preciosa para Mashiro. Ela foi sua única amiga durante 10 anos desde que Mashiro tinha 6 anos.
Não era uma situação que Sorata podia entrar no meio.
Mas ele queria ajudar as duas...
— Fica aqui.
— Certo.
Sorata soltou a mão de Mashiro e caminhou em direção a Rita.
A cada passo que ele dava, um som ecoava pelas poças de água, e depois sumia na chuva.
O cabelo loiro de Rita agora parecia branco por causa da chuva.
Suas roupas estavam grudadas em seu corpo e seus ombros estavam tremendo de frio. Seus olhos não pareciam ter lágrimas.
Mesmo depois de Sorata se aproximar dela, Rita não demonstrou nenhuma reação.
Ele segurou o guarda-chuva sobre ela para a abrigar da chuva.
Ela nem tentou olhar para ele. Ela não queria que ele a visse naquele estado.
— Eu te invejo, Rita.
Ela não respondeu nada.
— Você tem um lugar reservado no coração da Shiina. Um lugar só para sua voz, seu coração e para você.
— ...
Eles não conseguiam ouvir mais nada além das proprias vozes graças às gotas da chuva. Tudo o que existia ali era Sorata e Rita.
— A Shiina que conheço decide tudo sozinha e não presta atenção em mais ninguém além dela mesma. Ela é muito... solitária.
Rita ainda estava ali parada. Sorata se perguntou se ela realmente estava ouvindo. No entanto, ele ainda tinha coisas para falar.
— Eu percebi que a Shiina é muito solitária, pois... ninguém nunca vai conseguir fazer parte do mundo dela.
— ...
— Eu não acho que a Shiina tenha amigos próximos. E eu não gosto disso, mas não há nada que eu possa fazer. Não importa o quanto eu tente...
— ...
— Desculpa... tô ficando com vergonha.
Sorata sorriu levemente ao dizer isso.
— ... Você tem razão.
Rita respondeu a ele, ainda estava olhando para baixo.
— Eu não gosto disso, mas... Rita, você é diferente.
— Você está enganado, eu sou apenas mais uma pessoa que entrou e saiu da vida da Mashiro.
— Não, não é nada disso. Eu te garanto que não é.
Rita olhou para cima e se levantou. Os olhos dela ainda estavam sem lágrimas.
— Eu realmente te admiro. Conseguir viver com a Shiina por 10 anos é algo incrível.
— Ouvir isso de você não me deixa feliz.
— Bom... as pessoas geralmente desistiriam dela.
— ...
— As pessoas desviam o olhar daquilo que querem evitar. Pensar que você precisa fazer algo que pode te machucar é algo que ninguém quer. Porque ninguém gosta de sentir dor.
— ...
— Não é como se eu não fosse assim, também... Mas eu sei que algo bom vai surgir através dos desafios. Só que não é tão simples quanto parece.
— É, acho que tem razão.
— Quero ser alguém que não fuja dessas coisas. Quero superar essas coisas. Assim como você, Rita.
— Sorata, você veio até aqui só para me animar? Ou foi para se animar?
— Nem eu sei.
Quando Sorata sorriu, Rita também sorriu levemente.
— E esse sorriso, qual é?
— ... Provavelmente ainda é um sorriso forçado.
O sorriso era apenas uma máscara que ela usava para esconder seu verdadeiro eu, que estava despedaçado. Sorata agora entendia a razão pela qual ela fazia isso.
— E pensar que aquele garoto fofo me descobriu desde o começo...
— Ele vai ficar com raiva se você o chamar assim.
— Tendi, obrigada pela informação.
— Ei, ei, será que dá para vocês dois pararem de brigar?
— Não dá. Isso porquê ele é um lixo.
— Olhando de longe pode até parecer assim, mas o Akasaka não é uma pessoa ruim. É apenas a personalidade dele.
— É por isso que ele é um lixo. É injusto demais ele ser a única pessoa que realmente não se afeta com essas coisas.
— Vou ter que concordar com isso.
Como Ryuunosuke nunca se importou com o que pensavam dele, sempre que ele se envolvia numa briga, ele virava um tipo de saco de pancada verbal.
— Mas é exatamente como ele disse.
— O que?
— Eu sempre culpei a Mashiro sem pensar em mim mesma primeiro. Eu esqueci quem eu queria me tornar e o que eu queria fazer.
— Ah...
— Mas ainda acho ele um lixo.
Parecia que ela ainda tinha coisas para acertar com Ryuunosuke.
— Vocês dois são bons amigos, hein, Sorata.
— Acho que "amigos" não é bem o termo certo...
— Ué, por quê? Vocês dois são amigos, sim.
— Bem, acho que nós somos... Como devo dizer... Sabe aquele amigo que você ainda não gosta muito? É meio que assim.
— ...
Rita ficou em silêncio.
— Ehh, esqueça o que eu acabei de dizer. Parece que eu estava falando mal dele!
— Não, isso foi bom! Você pode estar certo. À medida que você vai conhecendo algúem, vocês dois começam a ver os pontos positivos e negativos um do outro. Aceitá-los como parte de sua personalidade é algo realmente maravilhoso.
— Sério?
— Sim, mas eu ainda não gosto dessa personalidade dele.
Rita parecia insatisfeita. Era uma expressão que ela nunca fez antes.
Sorata começou a rir por causa do rosto de Rita.
— Ei, para de rir.
— Desculpa, mas acho que essa é melhor.
— O que?
— É ótimo ver você sorrir, mas acho que essa cara combina mais com você.
— Você não vai me seduzir com essa conversinha fiada.
— Eu não tô tentando fazer isso!
— Nossa, que surpresa. No estado que eu estou, eu cairia facilmente em qualquer papinho que você me jogasse.
— Se você tá agindo assim, é porquê já tá normal de novo, não é?!
Rita sorriu novamente, dizendo que ele podia estar certo. Esse era outro sorriso forçado?
— Aliás, a Shiina veio também.
Olhando para trás, Sorata viu um pedaço do guarda-chuva na parede da esquina.
Enquanto ele olhava para o guarda-chuva, Mashiro colocou o rosto para fora para observar.
Fazendo contato visual, Sorata fez sinal para ela vir.
Um pouco hesitante, Mashiro foi na direção deles. Com Sorata no meio delas, Mashiro e Rita se encararam.
Nenhuma delas tentou falar algo.
Sorata ficou em silêncio também.
— Eu não gosto de você, Mashiro.
Com as palavras repentinas de Rita, Mashiro ficou nervosa.
— Quando éramos colegas de quarto, você costumava deixar suas roupas e calcinhas jogadas por todos os lados. Você colocava seus brócolis no meu prato, mesmo eu odiando brócolis...
— ...
— Uma vez você saiu sozinha e acabou se perdendo... Adivinha quem foi te procurar? Todas as vezes que você bagunçava algo, era eu quem tinha que limpar.
— Me desculpa.
Mashiro se desculpou.
— Você usava minhas tintas e meus pincéis sem pedir...
— Desculpa.
— E a lista continua.
— Desculpa.
Mashiro olhou para baixo.
— E eu também não gosto que você não fale sobre si mesma.
Com essas palavras, Mashiro apertou ambas as mãos.
Mas ao contrário de antes, ela não abriu a boca. Ela também não olhou para cima.
— No que você está pensando, Mashiro?
— Eu não sabia...
— Sabia o quê?
— Eu não sabia o que você pensava.
— E agora?
— Ainda não sei.
Mashiro balançou a cabeça.
— Foi o que eu pensei. Afinal, você é a Mashiro.
Rita parecia conformada.
— Eu não sabia, mas...
— Isso é o que eu mais odeio em você...
Com os lábios ainda cerrados, Mashiro olhou para cima. Sorata podia sentir que Mashiro estava falando muito sério agora.
— Mas... eu realmente gostava de pintar com você, Rita.
Com as palavras inesperadas de Mashiro, os olhos de Rita se arregalam.
— Eu não pensava em mais nada...
— Mashiro...
— Porque eu não me considerava solitária quando estava ao seu lado, Rita.
Rita rapidamente ficou tensa, como se estivesse tentando suprimir algo...
— Achei que tudo daria certo se eu tivesse você...
— Você...
— Mas eu estava sendo muito egoísta...
— Não, não é isso.
A voz de Rita era quase inaudível.
— Me desculpe por não ter percebido antes.
— Não...
Levada por suas emoções, Rita pulou em cima de Mashiro.
Rita se agarrou a Mashiro e começou a chorar enquanto enterrava o rosto no peito de Mashiro. As lágrimas, que se pensava estarem esgotadas, começaram a cair de seus olhos.
— Você não é egoísta!
— Rita?
— Você não era a única! Eu estava feliz! Eu ficava feliz sempre que pintava ao seu lado também, Mashiro!
— ... Sério?
— Sim! Eu sempre quis pintar com você! Mas você nunca parecia feliz. Eu tinha medo... Eu tinha medo enquanto via você pintar... Eu pensava que era a única que nos via como amigas...
Mashiro abraçou com força o corpo molhado de Rita.
— Rita... obrigada.
— Mashiro... Mashiro...
— Obrigada por tudo até agora.
— Sinto muito, Mashiro. Eu... Eu...
— Então, Rita, por favor, não desista...
— Sim! Eu quero continuar pintando... Quero pintar para sempre! Eu quero pintar todos aqueles dias que nós passamos juntas! Essas são memórias preciosas para mim! Eu melhorei ainda mais graças a você... então é claro que não quero parar de pintar!
— Sim.
— Mashiro... me desculpe.
— Rita, pinte muitos quadros.
Rita continuou a chorar e desabafar seus sentimentos que vinha reprimindo.
Sorata percebeu que o coração das duas estavam conectados. Mesmo que elas não expressassem isso em palavras, apenas por estarem ali, juntas, elas estavam mais unidas do que qualquer outra coisa no mundo. Era por isso que esse vínculo não podia ser quebrado ou interrompido por um estranho como Sorata, e isso fazia as outras pessoas sentirem inveja dessa proximidade.
Tudo começou em um grande estúdio com um teto alto. E lá dentro havia crianças que pintavam quadros. No início, havia cerca de 30 alunos, mas os números foram diminuindo um a um. No meio da partida de todos, as jovens Rita e Mashiro permaneceram lado a lado enquanto continuavam a pintar. Eventualmente, aquelas duas foram as únicas que permaneceram naquele lugar. Naquele lugar calmo e solitário. Não havia mais brincadeiras. Não havia mais sons de risos. Havia apenas as duas pintando.
Lentamente, elas começaram a andar juntas, e criaram um forte vínculo. Elas foram as únicas que sobraram ali, mas não estavam sozinhas, pois uma tinha a companhia da outra.
Pensando nisso, os olhos de Sorata começaram a ficar vermelhos e ele tentou cobri-los com o guarda-chuva.
No entanto, a chuva começou a ficar mais fraca e, eventualmente, parou de vez.
— Eu preciso me desculpar.
— Hein?
Rita olhou para Sorata com uma cara confusa.
— Para aquele garoto bonito.
— É, eu acho que sim. Por que não compramos alguns tomates para ele no caminho de volta?
Mashiro e Rita concordaram.
Naquele momento, a luz do sol poente brilhou sobre eles. Ele olhou entre as nuvens chuvosas.
Sorata começou a andar primeiro. Olhando para trás, ele viu Mashiro e Rita andando de mãos dadas. Ele sorriu ao ver isso.
— Seu rosto tá dando medo, Sorata.
— Não precisa falar!
— O Sorata é sempre assim.
— E você ainda consegue piorar tudo!
Mashiro e Rita riram alto.
— Esse foi o primeiro sorriso real da Rita.
Sorata sentiu que estava querendo sorrir também, mas se segurou. Se ele fosse agredido verbalmente novamente, arruinaria seu bom humor. Ele não queria fazer algo tão estúpido assim.
Parte 3
Para voltar para o Sakurasou, Sorata entrou em contato com Jin e Misaki, que os levaram na mini-van.
Levou apenas 3 minutos para chegar ao Sakurasou. Rita entrou primeiro no banheiro para aquecer o corpo. Mas antes de entrar, Rita puxou o braço de Mashiro e a levou para dentro do banheiro também. Mashiro também estava encharcada.
Quando estava fechando a porta do banheiro, Rita disse:
— Você gostaria de se juntar a nós, Sorata?
E Sorata respondeu:
— Eu posso?
normalmente.
— Deixa de ser tonto!
Nanami deu um tapa na cabeça dele com uma toalha.
— Eu vou deixar que você dê uma espiadinha.
E Rita fechou a porta completamente depois de dizer isso.
— Mas ela disse que deixava...
Sorata tentou pedir permissão a Nanami.
— Mas eu não deixo.
Não que Sorata realmente fosse ter a coragem de espiar...
Sorata secou a cabeça com uma toalha que Nanami entregou a ele.
Ele voltou ao seu quarto para se trocar.
Depois de secar seu uniforme molhado e organizar a roupa suja, ele subiu para o quarto de Mashiro. Claro, era apenas para buscar algumas roupas secas para as pessoas no banho se trocarem.
Sorata encontrou Nanami novamente na frente do quarto.
— Obrigado pela toalha.
— De nada.
O quarto de Mashiro estava muito arrumado. Obviamente, foi Rita quem arrumou mais cedo.
Sorata rapidamente pegou algumas roupas do armário. Ele também pegou duas calcinhas. As roupas de Mashiro e as roupas de Rita eram bastante fáceis de escolher.
No entanto, o problema nem era conseguir uma calcinha.
Mas e os sutiãs? Mashiro e Rita tinham tamanhos bem diferentes.
— Ei.
— O que foi?
— O sutiã da Shiina não cabe nela, né?
Sorata fez uma pergunta muito pessoal para Nanami.
— Provavelmente não.
— Então você poderia emprestar um para ela?
— Pede para a Kamiigusa-senpai. Os meus também não cabem nela!
— Ah... uhh... Desculpa.
Sorata olhou para os peitos de Nanami sem querer.
— E pra onde você tá olhando agora?!
Era difícil dizer se Nanami estava corando porque estava envergonhada ou porque estava com raiva.
— Então você poderia pedir a ela por mim? Eu não quero que o Jin-senpai me mate.
— Eu já ia fazer isso de qualquer jeito!
Sorata seguiu Nanami e saiu da sala.
Ele terminou o que tinha que fazer quando desceu e entregou a muda de roupas para Nanami depois que ela pegou alguns sutiãs de Misaki.
Sorata passou um tempo em seu quarto enquanto esperava as duas saírem.
Depois que Mashiro e Rita terminaram de tomar banho, Sorata as levou para a cozinha.
No centro da mesa tinha hotpot. Estava fervendo e tinha um cheiro muito bom.
— Vamos jantar hotpot hoje?
— Nós estamos tendo uma festa de boas-vindas, então, sim, vamos jantar hotpot. É a tradição do Sakurasou.
Jin explicou a ela.
— Boas-vindas para quem?
— Claro que é pra você, Ritan~!
De repente, Misaki explodiu um confete.
Atingida pelos fios de papel e fitas que agora voavam pela sala, Rita arregalou os olhos de surpresa.
— Para mim? Sério?
— Eles vão te dar as boas-vindas, você querendo ou não, então só aceita.
Nanami sorriu de um jeito desajeitado, enquanto se lembrava como foi a festa dela.
— Não, estou muito feliz. Obrigada.
Rita se curvou para eles.
Jin rapidamente a levou para seu assento e a sentou. Ele foi quem fez o hotpot. Ele era uma pessoa muito boa.
Depois de arrumar a mesa, Sorata e Jin invadiram o quarto de Ryuunosuke e o arrastaram para fora.
Chihiro chegou da escola bem na hora.
Com todo o grupo reunido, uma guerra feroz se iniciou, e ganhará quem pegar o máximo de carne e vegetais que puder.
Embora Rita fosse a figura principal da festa, ninguém pegou leve com ela. Mas isso foi o que fez esse momento ficar marcado para sempre em suas memórias.
— Ah, Senpai! Você pegou do meu prato!
— Você é ingênuo, Kouhai-kun! Nós não temos inimigos na hora de comer hotpot! Comer ou ser comido, eis a questão!
O monstro chamado Misaki comeu toda a carne restante.
— É o que?! Isso é trapaça!
— Kamiigusa-senpai, por favor, fique quieta enquanto estiver comen... Ei, devolve a minha carne!
— Este é um mundo para os fortes, Nanamin!
— Eu não vou pegar leve com você se você vai ser assim!
Agora, até Nanami estava começando a mostrar comportamentos estranhos, mas normais para o Sakurasou.
— E você, Shiina, não coloca os cogumelos no meu prato!
— É um presente.
— Se você não queria, era só não pegar!
Antes que Sorata pudesse parar de falar, Mashiro rapidamente colocou mais alguns cogumelos em seu prato.
— Kandaaa, cabou a cerveja.
— Você é a única pessoa daqui que bebe, então vá pegar!
Com um rosto de "Calma, calma", Jin passou uma lata de cerveja para Chihiro.
— Já entendi tudo. Então, comer hotpot significa guerra!
Eles acabaram ensinando para Rita uma parte da cultura japonesa que não existia realmente.
Na mesa, Ryuunosuke estava mastigando silenciosamente alguns repolhos, que quase ninguém brigava para pegar.
Vendo Ryuunosuke assim, Sorata lhe deu a última almondêga que tinha sobrado.
— Não coma apenas vegetais. Aqui, come um pouco de carne.
Olhando para Sorata e pensando em silêncio, Ryuunosuke colocou a almôndega na boca.
Enquanto mastigava silenciosamente, ele estendeu a mão para a panela, pegou alguns cogumelos e colocou no prato de Sorata para agradecer.
— De nada, viu.
— Eu não queria mais cogumelos!
Depois de comer todo o udon, ele estava cheio. Todos os outros pareciam estar cheios também.
Enquanto bebia um chá preparado por Jin, Rita de repente se levantou e sentou ao lado de Ryuunosuke, que estava sentado em frente a ela.
— Hmm...
— Não se aproxima. Já tô até me arrepiando.
— Então você realmente odeia as mulheres, hein...
Com um sorriso travesso, Rita estendeu a mão para cutucar Ryuunosuke de brincadeira.
Sentindo o perigo imediato, Ryuunosuke instintivamente se levantou e se escondeu atrás de Sorata enquanto dava as ordens para ele:
— Kanda, impeça que essa mulher se aproxime mais.
— Eu não sou escudo, Akasaka.
— Me pergunto o que aconteceria se você realmente encostasse numa mulher, já que você nos odeia tanto...
— Sai de perto!
Dessa vez, Rita olhou para Sorata.
— Você sabe o que acontece?
Sorata sabia que Ryuunosuke iria desmaiar e ficar com urticária no local encostado, mas ele não podia entregar seu próprio amigo, então ficou em silêncio.
— Que maravilha, a amizade dos homens é linda. Se você não quer falar, então não vou mais perguntar.
— Tanto faz. Só diz logo o que você quer, Aproveitadora.
Rita olhou diretamente para Ryuunosuke por cima dos ombros de Sorata. Sorata sentiu como se estivesse sendo observado e ficou um pouco nervoso.
— Sinto muito por antes. Eu fui muito grosseira.
— Reconhecer seus próprios erros é um ato de virtude.
Ryuunosuke ainda estava falando alto e confiante, mesmo estando escondido atrás de Sorata.
— Acho que não deveria ter pedido desculpas, afinal.
— Já disse tudo que queria?
— Não, ainda tem algo.
— Então vai logo, eu quero tomar banho.
— Então você gostaria que eu te contasse enquanto lavo suas costas?
— Ah! Lava as minhas também!
Jin entrou na conversa.
— Mitaka-senpai, não tá na hora pra isso!
Nanami falou para Jin.
— Desculpa, Aoyama. Amanhã eu peço para você, já que está com ciúmes.
— Eu não estou com ciúmes!
— Não se preocupa, eu também vou lavar você bem direitinho.
— E-Eu tô com medo de perder algo precioso, então eu recuso!
Aqueles dois estavam conversando, mas só um deles estava se divertindo.
— Então, o que você quer?
— Por favor, me deixe ajudar no Festival Cultural.
A atenção de todos estava voltada para Rita quando ela disse isso.
Sentado ao lado dela, Mashiro soltou um suspiro de alívio. Ela parecia estar feliz.
Enquanto isso, Chihiro bebeu a cerveja sem se importar.
— Seu pedido foi aceito. O resto você resolve com o Kanda.
— Farei isso imediatamente.
— Eu também vou te emprestar meu notebook mais tarde. Você precisa redesenhar apenas as partes que eu separei.
— Com quem você acha que tá falando? Eu confio muito nas minhas habilidades, viu?
— Pare de se gabar. Eu quero resultados.
— Então você vai me tratar melhor quando eu mostrar bons resultados.
Rita tinha um sorriso malicioso.
Era apenas Sorata que estava sentindo uma disputa entre Rita e Ryuunosuke? Não, definitivamente não era só ele.
— Depois da tempestade é que vem a calmaria, né?
Jin resumiu a situação apropriadamente enquanto bebia sua xícara de chá.
— Isso não é tão ruim...
Nanami parecia ter desistido.
— Agora nosso time tá completo~! Não há ninguém que possa nos parar agora! Espere por nós, Festival Cultural!
Misaki gritou, como de costume
— Rita, estou feliz que você está melhor.
Mashiro sorriu aliviada. Era a primeira vez que Sorata a via sorrir assim.
De repente, o telefone do dormitório tocou.
— Kanda, telefone.
Chihiro ordenou a ele enquanto abria outra lata de cerveja.
— Por que eu?!
Por que Chihiro sempre dava ordens a ele mesmo tendo outras pessoas para fazer aquilo?
— Alô? Esse é o número do Sakurasou, o dormitório da Suimei.
— Posso falar com a Mashiro Shiina?
Era uma voz que Sorata nunca tinha ouvido antes. Era uma voz profunda e calma.
Sorata podia ouvir eles se divertindo na cozinha. Dava para ouvir Misaki gritando. Nanami estava reclamando por algo que Jin fez, como sempre.
Aquelas vozes soaram muito distantes para Sorata.
O que ele acabou de dizer? Mashiro Shiina... Mashiro Shiina...
— Pode passar o telefone para a Sengoku?
Com a mão trêmula, Sorata apertou o botão de espera.
— É pra você, Sensei!
Ele gritou para a cozinha.
Com o rosto vermelho brilhante devido ao álcool, Chihiro caminhou em direção a ele.
Ela estava perguntando quem era, mas Sorata não sabia responder. Mas isso por si só já era uma resposta. Chihiro olhou para a cozinha. Talvez ela estivesse tentando ver Mashiro de lá.
Ela pegou o telefone. Ela apertou o botão para tirar da espera.
— Alô, é a Chihiro. Ah, tio, há quanto tempo. Oh, cê tá em Narita? Sim, sim, eu tô bem. Hmm, não muito... Sim...
Sorata sabia que era feio ouvir a conversa dos outros. Ele sabia disso, mas não conseguia sair dali. Mashiro deve ter estranhado Sorata não voltar para a cozinha e colocou a cabeça para fora para olhar.
Chihiro finalmente desligou o telefone.
Com um som de "ufa", ela soltou um longo suspiro.
Levantando a cabeça, Chihiro olhou para Mashiro e Rita, e disse:
— Ele vem te buscar amanhã.
Sorata pôde ouvir uma porta se fechando dentro de sua cabeça. Chegou a hora de dizer adeus...