A Garota Pet do Sakurasou Japonesa

Tradução: NiquelDBM

Revisão: NiquelDBM


Volume 3

Capítulo 2: Vamos considerar a paz

Como as pessoas podem se aproximar?

O que é “paz”?

Eles estavam no quarto horário, enquanto o barulho de “reclamação” vindo do estômago do Sorata não parava.

Ele olhava fixamente para as nuvens pela janela e pensava no eterno objetivo da humanidade.

Em frente ao quadro negro, a professora de Japonês Moderno, Koharu Shiroyama, cantava uma canção de ninar que poderia fazer até um bebê chorão dormir, com uma doce voz. Haviam cinco alunos que já haviam desistido de resistir e estavam dormindo esparramados em suas mesas. Tinha alguns alunos que fingiam estar lendo algo no livro, mas estavam apenas dormindo. A sala de aula inteira estava em um estado de preguiça. Isso sempre acontecia depois da primeira semana de volta às aulas.

Foi exatamente o que tinha acontecido durante o primeiro semestre, exceto por uma coisa...

O som do giz raspando no quadro negro podia ser ouvido.

Koharu tinha uma caligrafia excelente que não combinava com seu rosto ou sua voz. Também haviam sons de alguém cochilando atrás de Sorata. Essa pessoa devia estar de ótimo humor.

Além disso, também havia sons de algumas teclas sendo pressionadas.

Koharu tinha olhado ao redor da sala há um tempo para descobrir a origem do som, e a maioria dos alunos acordados na sala, incluindo Sorata, estavam nervosos. Eles estavam se arrependendo de não terem caído no sono mais cedo. Faltava pouca coisa para Koharu perder a paciência.

Sorata olhou para Nanami pelo canto dos olhos. Ela estava sentada com uma postura excelente, e estava escrevendo com uma expressão séria. Pela sua expressão, parecia que ela estava se concentrando bastante na lição, mas não podemos nos deixar enganar com isso. Quando as pessoas estão irritadas, elas tendem a não deixar seus verdadeiros sentimentos aparecerem. E era isso que Nanami estava fazendo no momento. O clima ao redor dela estava tenso. Se alguém a incomodasse, ela iria explodir. A razão pela qual ela estava irritada era por culpa de Sorata e da pessoa responsável pelos sons das teclas.

Nanami estava com esse humor desde que Rita começou a ficar no Sakurasou há uma semana atrás.

Até mesmo hoje, quando Sorata tentou falar com ela:

"— Bom dia, Aoyama.

— ...

— Então, sabe...

— Se você quer conversar com alguém, por que não vai conversar com a Rita?"

E assim, graças à essa fria resposta, Sorata não foi capaz de iniciar uma conversa. Nem mesmo um pai e sua filha adolescente conversariam tão pouco.

Sorata meio que sabia por que Nanami estava brava, mas ao mesmo tempo não sabia.

Ela provavelmente estava brava porque Sorata estava deixando Rita ficar no Sakurasou, mas ele não entendia por que ela estava tão chateada com isso.

Mas Nanami, na verdade, estava se comportando melhor do que uma certa pessoa, e essa pessoa, com quem Sorata estava realmente preocupado, era Mashiro. Ela deve ter ficado chateada porque Sorata se recusou a deixá-la ficar em seu quarto, então ela tem continuado a ignorar Sorata.

— Shiina, é de manhã. Acorda.

Quando ele foi ao quarto dela para acordá-la...

— Sorata é um idiota.

...ela respondeu de forma estranha.

— Shiina, hora de comer~.

Quando ele foi chamar ela para comer...

— Sorata é um idiota.

...ela respondeu algo parecido...?

— Shiina, seu telefone está tocando.

Quando ele disse isso a ela...

— Sorata é um idiota.

...ela atendeu o telefone e falou isso para a pessoa que estava ouvindo. Mashiro provavelmente estava determinada a contar para todo o mundo que Sorata era um idiota.

Mesmo quando seus olhos se encontraram por coincidência...

— Boo.

...ela tentou ameaçá-lo como um animal selvagem que está expulsando outro animal que está em seu território.

Essas ações feriam continuamente o coração de Sorata, como se fossem pequenas pontadas.

Era bastante doloroso ser tratado dessa maneira por uma garota. Na verdade, era quase deprimente.

A raiz dos problemas de Sorata, Rita, estava morando de graça no Sakurasou enquanto ficava no quarto de Sorata com um grande sorriso no rosto. Ela já estava amiga não apenas de Chihiro, que ela já conhecia antes, mas também de Jin e Misaki.

Em vez de uma saudação matinal, Jin a cumprimentou com:

— Rita, hoje você está linda como sempre.

Quando cumprimentada assim, Rita respondeu:

— Sim, eu ouço isso com frequência.

Ela sempre respondia essas coisas com um sorriso enorme no rosto. Até mesmo esta manhã:

— Será que poderíamos sair algum dia desses?

— Desculpe, minha agenda de encontros já está cheia durante os próximos dez anos.

— Então, daqui a dez anos, vou reservar todo o seu tempo.

— Isso parece um pedido real.

— É, talvez seja.

— Se ainda sentirmos o mesmo depois de dez anos, então vou considerar.

E eles estavam curtindo conversar assim.

Rita também se aproximou de Misaki, já que a mesma sempre vinha ao quarto de Sorata para jogar. Rita nunca havia segurado um controle de jogo, assim como Mashiro, mas seu nível de compreensão era bastante alto, então ela se acostumou a jogar quase todos os tipos de jogos rapidamente.

A coisa mais incrível, no entanto, era que Rita não se incomodava com as ações ou palavras extremas de Misaki.

Ela não reclamava do apelido “Ritan” e até ria do comportamento de alienígena de Misaki.

— Bem, vamos começar o Shiritori, com frases legais que você gostaria de falar pelo menos uma vez na vida!

— Espera aí, Senpai. Já estamos jogando um jogo agora!

— Então, eu começo. “Eu te darei metade do mundo!” Você precisa continuar com “O”, Ritan.

— Eu? Uhm, me deixe pensar um pouco... “Ouviu, motorista? Siga aquele carro lá na frente!” Então, o Sorata deve continuar com a letra“E”.

— O quê? Eu? “E”, “E”... “Então, qual você quer ouvir primeiro, as boas ou as más notícias?” É sua vez com “S”, Misaki-senpai!

— “Sabe, acho que ainda não estou preparada...” Continue com “A”, Ritan.

— “Acho melhor você dar as boas-vindas para a Rita Ainsworth.” É a vez de Sorata com “H”.

— “Hoje eu tô sem paciência, só me dá logo esse dinheiro!” Comece com “O”, Senpai!

— “Ou, se quiser pode dormir aqui hoje.” Ritan com “D”, certo?

— “Do infinito... e além!” Sorata, comece com “M”.

— As duas agora foram contra as regras, não foram?!

Isso aconteceu na noite passada e ficou claro que Rita estava se dando bem com alguns dos outros membros do Sakurasou.

Além disso, Rita estava obedecendo a regra de “aqueles que não trabalham não comem” e ajudava na limpeza, lavanderia e compras de supermercado para o dormitório.

— Você parece surpreso, Sorata.

— Eu não achava que você fosse o tipo de pessoa que soubesse limpar a casa.

— Não se esqueça que eu era a companheira de quarto da Mashiro antes.

Quando Sorata ouviu essa explicação simples, ele entendeu rapidamente. Mashiro era um desastre quando se tratava de trabalhos domésticos, então a companheira de quarto tinha que cuidar de tudo.

Se fosse para citar um ponto negativo de Rita, seria a forma com que ela dorme. Mesmo depois que Sorata saía de seu quarto durante a noite, já que era perigoso dormir com Rita no mesmo quarto, ela já tinha rolado da cama para o chão.

No entanto, quando Rita viu Sorata dormindo na cozinha pela manhã, ela disse,

"— Sorata, você tem que aprender a dormir melhor."

e sorriu.

Vendo a vida cotidiana dela assim, Sorata quase esqueceu do porquê ela estava ali.

Sorata teve que se lembrar que Rita estava ali apenas para levar Mashiro de volta para a Inglaterra. No entanto, durante a última semana, Rita não fez nada que desse a entender que ela estivesse tentando levar Mashiro de volta.

Mashiro estava tratando Rita da mesma maneira que estava tratando Sorata, mas ela não parecia incomodada com isso e sorria o tempo todo, então era difícil dizer se ela realmente iria levar Mashiro de volta.

No dia anterior, Sorata até acabou perguntando para Rita,

"— Ei, isso não é algo que eu deva estar perguntando, mas você tem certeza de que não devia estar tentando falar com ela?"

mas ela respondeu de forma bem simples:

"— Do jeito que está agora, nada que eu faça vai funcionar. Apenas darei um tempo para as coisas se acalmarem."

Com essa análise perfeita, Sorata suspirou. Isso porque Sorata só começou a pensar assim depois de tentar fazer de tudo para Mashiro voltar a falar com ele. Teria sido bom se ela tivesse lhe dito isso antes. Dois dias atrás, ele tentou dar alguns baumkuchen para Mashiro, mas falhou. No dia seguinte, tentou com o pão de melão de luxo, mas também não adiantou. A carteira de Sorata estava ficando cada vez mais vazia.

E, ao invés de agradecer Sorata pela comida,

"— Sorata é um idiota.

— Como isso seria idiota?!"

ela apenas respondia isso. Então Sorata ficou mais deprimido ainda e com vontade de chorar.

O relacionamento dele com Mashiro não estava melhorando em nada. Parecia estar piorando, na verdade.

Esta manhã, havia um papel na porta do quarto de Mashiro escrito “Proibido Soratas” e isso o machucou profundamente. Bem, obviamente, ele arrancou, amassou e jogou fora no lixo...

Ele não sabia mais o que fazer. Ele estava preocupado que a situação atual pudesse durar para sempre, então ele só podia suspirar.

*Suspiro*~...

Como as pessoas podem se aproximar umas das outras?

Alcançar a paz era difícil.

Enquanto Sorata refletia sobre esses pensamentos, ele ouviu algo se partindo ao meio. Voltando sua atenção para o quadro, ele viu Koharu tremendo de fúria com um giz vermelho quebrado na mão.

Koharu estava virada para a sala de aula com a testa vermelha. Ela estava prestes a explodir.

— Akasaka~

A pessoa que Koharu se dirigiu com uma voz gentil e forçada era o colega de classe de Sorata que estava sentado na diagonal atrás dele. Ele se sentava bem atrás de Nanami.

Olhando por cima do ombro, Sorata viu Akasaka olhando para a tela do computador com uma expressão séria. Ao invés de responder, ele ficou completamente calado enquanto continuava mexendo em seu computador.

— Ei, Akasaka~...

Sorata falou com ele.

Ryuunosuke começou a digitar no teclado.

De repente, o telefone de Sorata vibrou dentro de seu bolso. Querendo saber quem era em um momento como este, ele ligou o telefone por baixo da mesa. Era uma mensagem de Ryuunosuke.

— Estou bem ocupado agora.

— Fale comigo aqui!

Então, outra mensagem chegou.

— Fique quieto, Kanda.

— Fale com a boca!

Finalmente, Ryuunosuke olhou para ele.

— A Koharu-sensei está falando com você.

— Eu não quero responder aquela mulher, então diga para ela que eu permito que ela fale comigo.

— Diga você mesmo!

— Eu tô ouvindo vocês dois~.

Koharu inflou as bochechas como uma criança. Ryuunosuke não se incomodou em olhar para ela e continuou digitando.

— Akasaka, minhas aulas são tão chatas assim?

— Eu não penso dessa forma.

— Mesmo? Mesmoo~~?

Por um momento, Koharu parecia feliz. Mas isso durou apenas um momento muito curto.

— Eu simplesmente não estou interessado. Nem em você nem nas suas aulas.

Koharu ficou vermelha de novo. Se continuasse assim, alguma coisa ruim poderia acontecer.

— Você não precisa ficar triste com isso. Eu não estou interessado na maioria das coisas desse mundo, de qualquer forma.

— Bem, o que você tem feito esse tempo todo, Akasaka-kun?

Ryuunosuke voltou a digitar no teclado.

O telefone de Sorata vibrou novamente.

— Mesmo que eu explicasse, ela não entenderia. Não vou perder meu tempo com isso. Diga a ela para calar a boca.

— E como eu vou dizer isso a ela?!

— Hmmph. Não importa~. Então vocês dois vão me tratar assim, né. Vou contar para a Chihiro.

Parecia que Koharu estava chateada. Parece que até mesmo um adulto pode agir de forma infantil. O que alguém deve fazer para se tornar um adulto de verdade?

— Calma aí, eu não tenho nada a ver com isso! Não me coloca no meio, não.

Assim que Sorata disse isso, ele recebeu uma mensagem.

— Somos amigos, certo?

— É, mas você que se resolva!

— Ei, Kanda, pare com isso.

Enquanto ninguém na turma falou nada, quem finalmente interviu foi Nanami, que estava ao lado dele. Ela estava olhando para Sorata com raiva.

— A professora está triste. Não a trate tão informalmente como se fosse sua amiga.

Por algum motivo, Koharu estava olhando para Sorata.

— Vou ser má com o Kanda hoje. Primeiro, por que você não se levanta e lê o livro didático em voz alta para a sala?

— Por que eu?!

— Assuma a responsabilidade como membro do Sakurasou.

Quando Sorata olhou para Nanami, ela o encarou com um rosto que dizia “Se você me colocar no meio disso, eu te mato!”.

Sorata se levantou a contragosto para ler o livro em voz alta.

Graças a Ryuunosuke, Nanami estava com um humor pior do que estava antes. Como Sorata poderia se desculpar com ela?

Mas, no entanto, ele tinha que obedecer a professora. Incomodar os colegas ao seu redor não era o problema, e sim que, se ele não fizesse isso, ele iria se encrencar ainda mais com Nanami depois.

Depois de ler o livro, Sorata se sentou, mas Koharu o fez se levantar de novo para contar à classe sobre como o protagonista estava se sentindo em uma determinada cena do livro. Depois, Koharu o fez levantar novamente para ler mais e também para escrever algumas coisas no quadro.

Enquanto isso, Ryuunosuke estava quieto, então Sorata pensou que ele estava refletindo sobre seu comportamento, mas ele estava errado. Ryuunosuke já havia esquecido o que havia acontecido antes e estava apenas mexendo no telefone. Ele só estava quieto pois tocar na tela do telefone não fazia barulho.

Ver Ryuunosuke assim fez Sorata sentir raiva, mas ele continuou a cumprir as punições injustas de Koharu. Finalmente, Koharu o deixou ir depois de quase 30 minutos e Sorata finalmente pôde se sentar em sua cadeira novamente.

Sorata olhou para Koharu para ler seu humor, mas parecia que ele não precisava mais se preocupar com ela por agora.

Quando se sentiu seguro, Sorata olhou para Nanami para ver como ela estava. Nanami estava concentrada e o olhar de Sorata foi completamente ignorado.

Depois de pensar por um tempo, Sorata moveu sua mesa em direção à de Nanami. Ele escreveu algo em um papel e mostrou para ela.

— O que você quer jantar?

Nanami olhou para Sorata.

— Por que você não pergunta para a senhorita dos peitos grandes?

As palavras dela doíam nele. Nanami estava atacando fortemente desde o primeiro golpe. Mas não foi um começo ruim, considerando que ela poderia tê-lo ignorado. De agora em diante, Sorata precisava usar suas habilidades de persuasão, embora ele não tivesse nenhuma...

— Não é como se eu gostasse dos grandes.

Quando Sorata mencionou os tamanhos dos seios, ele olhou para Nanami. Ele não considerava os seios de Nanami pequenos. Notando para onde Sorata estava olhando, Nanami jogou uma borracha nele.

— Ai!

Depois que a borracha bateu na testa de Sorata e caiu no chão, ele a pegou e devolveu para Nanami.

— Pervertido.

— Você tá julgando as coisas de forma precipitada novamente.

— Não, eu já entendi tudo, resto humano.

Assim, ele foi degradado de lixo humano a apenas restos logo no início do segundo semestre. A persuasão não funcionou? Não, ele não podia desistir agora.

— Enfim, vamos conversar.

— A pessoa com quem você deve conversar é a Mashiro.

Quando Nanami mencionou as preocupações de Sorata, ele parou de mover seu lápis no papel.

— Por quanto tempo você vai evitar a Mashiro?

— Não é como se eu estivesse evitando ela.

— Verdade?

— Talvez.

— Faça uma pergunta para si mesmo.

— Que pergunta?

Quando Nanami terminou de escrever e afastou a mão para revelar o que havia escrito, o lápis na mão de Sorata começou a tremer.

— Se ela deve ou não voltar para a Inglaterra.

Sorata colocou a mão por cima para tentar cobrir os borrados do que ele acabou de escrever.

— Ela disse que não iria voltar.

As letras estavam totalmente tortas e tremidas.

— Nem você acredita nisso.

Acreditar em quê? Acreditar em quem? Na Mashiro? No que Mashiro disse? Ou ela estava falando sobre o sentimento dele de aceitar o que Mashiro disse?

Tudo começou a se acumular e pesar no coração de Sorata. Mashiro disse para Rita que não voltaria, mas com o tempo, a memória de Sorata começou a ficar confusa sobre o que Mashiro realmente disse, ele nem conseguia lembrar se foi realmente isso o que ela tinha dito.

— Realmente está tudo bem se ela for embora?

“Não, não está nada bem” foi a primeira coisa que veio à mente dele. Mas ele não estava certo se poderia escrever isso. O lápis não se moveu nem um milímetro em cima do papel.

Ele sabia que não queria que Mashiro fosse embora. Mas não tinha certeza se Mashiro deveria voltar ou não para o mundo artístico, então ele não estava certo do que realmente sentia. Para Sorata, ambos os sentimentos eram verdadeiros.

— Hoje poderia ser o dia.

— Que dia?

— O dia em que os pais da Mashiro virão buscá-la.

O coração de Sorata apertou. Isso deixou uma ferida invisível em seu coração. Ele não sabia como eram os pais de Mashiro. Ele não sabia o que eles poderiam fazer. No entanto, ele sabia que adultos pensavam de maneira diferente da dele.

No último dia das férias de verão, Sorata percebeu que ele ainda era apenas um pequeno sapo no meio de um enorme lago, grande e fundo. Foi no dia em que ele se apresentou para o “Vamos fazer um jogo!”.

Dolorosamente... se os pais de Mashiro realmente tentassem levá-la de volta, poderia ser muito simples para eles fazerem isso. Como Rita disse, tudo o que eles tinham que fazer era desmatricular Mashiro da escola. Isso também tiraria os lugares em que Mashiro poderia ficar. Seja na Escola Suimei ou no Sakurasou, Mashiro não seria permitida a ficar ali. Mesmo que os membros do Sakurasou tentassem fazer algo contra a decisão, Sorata achava que eles não seriam capazes de mudar nada.

Então, Sorata podia visualizar Mashiro voltando para a Inglaterra muito claramente.

Uma semana foi mais do que suficiente para ele entender a seriedade da situação.

— Coisas irreversíveis podem acontecer.

As palavras de Nanami penetraram profundamente no coração de Sorata. Ele começou a escrever para liberar parte da sua dor.

— Não é justo escrever essas coisas logo agora.

Nanami ficou surpresa quando leu, e olhou para Sorata de canto de olho.

— Eu fui dura. Desculpe.

Tudo o que Nanami disse era verdade. No entanto, Sorata não era maduro o suficiente para desistir de Mashiro apenas porque entendia a situação, nem imaturo o suficiente para protestar contra. Ele ainda não conseguia tomar uma decisão, e seus pensamentos estavam por toda parte.

Atualmente, ele desejava que Mashiro não fosse embora, mas pensando no futuro, sentia que Mashiro deveria voltar para o mundo artístico, como Rita havia dito.

Ele tinha medo de que os pais de Mashiro viessem buscá-la e que ela desaparecesse para sempre. Nos últimos dois ou três dias, o coração de Sorata estava como uma bússola quebrada, apontando para seus pensamentos de forma espontânea.

— Precisamos tomar uma decisão.

Nanami olhou para Sorata depois de escrever isso. A partir disso, ele foi capaz de perceber que Nanami também estava preocupada com a situação. Ela estava preocupada com o fato de que Mashiro poderia partir e também não conseguia decidir com clareza. É por isso que eles tinham que tomar uma decisão logo.

Ele tinha que encarar a realidade da qual estava fugindo.

Mesmo que isso significasse que seria ainda mais doloroso do que já está agora, ele tinha que fazer isso. Se quisesse seguir em frente, teria que aguentar as palavras duras de Nanami.

— Vou conversar com a Shiina sobre isso.

Sorata escreveu isso em um canto do livro.

— Como quiser.

Na resposta de Nanami, Sorata sorriu levemente.

Koharu estava falando algo. Sobre como precisava de um namorado, como queria se casar e outras coisas aleatórias que não tinham nada a ver com a aula. O que tinha de errado com os professores dessa escola? Principalmente Chihiro e Koharu. Além disso, os sons do teclado se misturavam com os devaneios de Koharu. "Toc toc... toc toc" e assim por diante...

Mas de repente, os barulhos pararam. Desta vez, o som de alguém mexendo em uma bolsa pôde ser ouvido. O som vinha da cadeira diagonal atrás de Sorata... a cadeira atrás de Nanami. Era impossível não se distrair.

Naturalmente, Sorata olhou para onde vinha o barulho.

Ele deveria dizer algo pelo menos. Nanami fez o mesmo que Sorata e olhou para trás.

A pessoa que os dois olhavam era o morador do Quarto 102 do Sakurasou: Ryuunosuke Akasaka. Ele tirou uma vasilha de almoço da bolsa. Dentro da vasilha tinha umas coisas vermelhas. Eram quatro tomates. Nada mais, nada menos do que quatro tomates. Parecia que ele só ia comer tomates.

Ryuunosuke pegou um e, mesmo ainda estando em aula, abriu bem a boca e deu uma mordida. Ao fazer isso, o suco e algumas sementes espirraram de dentro do tomate. Algumas delas voaram e caíram na testa de Nanami.

Pela primeira vez em sua vida, Sorata pôde ouvir a paciência de alguém esgotando. Pode ter sido coisa da cabeça dele, mas ele tinha certeza de que ouviu. Com a mudança repentina de humor em Nanami, Sorata se conteve de reclamar com Ryuunosuke.

Nanami limpou friamente as sementes com um lenço.

— Eu tenho me segurado desesperadamente na última semana, mas agora já deu... — A voz que vinha de Nanami era incrivelmente fria — Não importa se você era um recluso...

Ryuunosuke parecia não se importar com nada... Na verdade, ele nem sequer pensou que Nanami estava falando com ele, enquanto dava outra mordida no tomate.

— Pare com isso...

Ryuunosuke pegou o segundo tomate.

— Estou falando com você, Akasaka!

Toda a turma prendeu a respiração e virou a atenção para os três. Sorata, Nanami e Ryuunosuke eram o centro da tempestade.

— Estamos em horário de aula. Pare com essa conversa fiada, Rabo de Cavalo. Você está incomodando a professora e nossos colegas. Olhe, eles estão olhando para você.

— Não quero ouvir isso de alguém que só traz tomates para o almoço!

Não, normalmente, alguém apontaria o fato de que as pessoas não devem comer tomates com tanta audácia na sala de aula.

— Tomates são altamente nutritivos. Todo mundo deveria comer.

Embora Sorata não quisesse interromper, ele não teve escolha. Todos os seus colegas de classe e Koharu, que era a professora, estavam contando com ele. Então ele disse:

— Acho que a Aoyama não estava falando nesse sentido...

— Eu sei. Tomates contêm um alto nível de licopeno. Aliás, você sabia que o tomate é, na verdade, uma fruta?

— Mudou de assunto agora, Aoyama? E por que você sabe tanto sobre tomates?!

— Kanda, fique quieto!

— … Sim, desculpe.

Atrás dele, Koharu disse ”Então você não consegue fazer nada contra eles, né...”, mas Sorata decidiu ignorar ela.

— Fala logo o que você quer, Rabo de Cavalo.

— Não coma durante a aula.

— São suplementos. Eles me fornecem os nutrientes de que preciso para evitar a deterioração do meu corpo.

— Espere até a hora do almoço.

— Ficar sem comer é prejudicial para o corpo.

— E por que tem que ser sempre tomates?! Não dá pra variar um pouquinho, não?! — Sorata até entendia o motivo, mas perguntou mesmo assim...

— Porque não é prático ficar preparando algo diferente toda vez. Para maximizar meu tempo de trabalho, tenho um menu fixo. Não posso perder tempo pensando em diferentes alimentos que posso ter, já que, a cada vez que fizesse isso, estaria perdendo o tempo que poderia estar fazendo outras coisas. Com tomates, não preciso prepará-los de nenhuma maneira, então posso economizar tempo, e também posso comê-los com uma mão enquanto trabalho com a outra. Além disso, com um menu fixo, você adquire uma rotina de estilo de vida que aumenta sua concentração. Então eu recomendo para você, Rabo de Cavalo, já que você tem que vir à escola, ao curso, aos seus trabalhos de meio período e as reuniões de organização do festival escolar. Me tenha como exemplo.

Nanami provavelmente não sabia que havia tantas razões específicas para os hábitos alimentares estranhos de Ryuunosuke. Ela lutou para pensar no que dizer em seguida.

— E-Enfim, preste atenção na aula. O barulho da comida é bastante irritante.

— Aqueles que estão realmente se concentrando na aula, não se distraem com um barulho como esse. Então, se as pessoas nem estão se concentrando na aula, não iriam se incomodar com isso de qualquer maneira. Além disso, a única razão pela qual ainda venho à escola é para passar de ano e me formar. Para alcançar essas duas coisas, preciso apenas marcar a presença e ir bem nas provas. Então, não preciso prestar atenção na aula. Isso é tudo.

Nanami, que havia ficado brava até um momento atrás, agora tinha uma expressão confusa. Sorata entendeu por que ela estava assim. Em vez de ficar com raiva, ela devia estar pensando coisas como “O que ele está dizendo?”.

Mas Nanami não ia recuar agora.

— É por isso que eu não gosto de mulheres. Elas não conseguem raciocinar direito pois deixam suas emoções falarem mais alto. É ultrajante você tentar forçar o seu senso de justiça em mim. É problemático você pensar que as suas regras devem se aplicar a tudo. O mundo não gira em torno de você, Rabo de Cavalo. Ele gira em torno de mim.

— Não piora a situação!

— Shiroyama-sensei, me dá esse dicionário que está na mesa.

— Armas estão proibidas, Aoyama! Se acalme! E não dá pra ela, sensei!

Koharu devia estar do lado de Nanami, porque ela apenas deu o dicionário na mão dela.

— Ele vai estar limpo quando eu devolver.

— Com o que você vai sujar ele?!

Então o sinal tocou, notificando que a aula tinha acabado.

— Agora~, a aula de hoje terminou. Aoyama, você pode ficar com o dicionário~.

Koharu rapidamente encerrou a lição e fugiu da sala de aula. Os outros alunos ficaram em silêncio. Enquanto isso, Ryuunosuke havia terminado todos os tomates. Havia apenas as folhas dos tomates ali dentro. Ele se levantou depois de colocar a vasilha de volta em sua bolsa.

— Akasaka, não brigue.

— A violência não resolve nada. Eu só vou ao banheiro.

Ryuunosuke virou à direita e caminhou. Sorata e Nanami observaram ele caminhar pelo corredor em silêncio.

— Kanda.

— Oi?

— Me faça um favor. Por favor, me deixe te bater.

— A violência não resolve nada.

— De quem é a culpa pelo o que acabou de acontecer aqui?

— Ei, ei, ei, vamos conversar sobre isso! Por favor, ouça o meu lado da história!

Depois, ele ficou todo o tempo do almoço tentando acalmar Nanami.

Mas os esforços de Sorata foram inúteis, porque durante a 5ª aula, que era de inglês, Nanami e Ryuunosuke entraram em guerra novamente, com Ryuunosuke usando a nova versão da Maid-chan no volume alto.

— Akasaka! O que você acha que é a escola?!

— Um lugar cheio de jovens sem objetivos na vida.

— Você acabou de se tornar um inimigo de todos os alunos.

Sorata percebeu que alcançar a paz era difícil.

Parte 2

Depois de fazer a limpeza, Sorata foi para as salas de aula de arte. Ele foi lá para buscar Mashiro, que vivia se perdendo por aí.

*Suspiro…*

Sorata suspirou. O dia foi bem difícil para ele.

A partir de hoje, ele provavelmente não iria mais conseguir dormir na aula, já que a guerra de Nanami e Ryuunosuke iria continuar amanhã também. Era o pior cenário possível, pois de um lado estava Nanami, que era teimosa e defendia suas ideias com unhas e dentes - igual à Misaki -, e Ryuunosuke, que era ainda mais teimoso que Mashiro quando se tratava de fazer as coisas do seu próprio jeito, lutando juntos.

O caminho para a paz seria bastante longo.

Do lado de fora da janela, ele podia ver o pôr do sol. Ele olhou para o céu, que já estava tingido de vermelho. O ar de outono soprava uma brisa leve lá fora.

Um grupo de estudantes usando regatas passou correndo pelo lance de escadas. Eles eram do clube de atletismo. Sorata notou o rosto de um de seus colegas do ano passado, enquanto eles passavam correndo. Como os alunos do terceiro ano estavam perto de sair da escola, o número de sócios do clube diminuiu muito, pois eles evitavam continuar nos clubes até o final do ano.

Os estudantes do segundo ano estavam se esforçando ao máximo tentando animar seus juniores, mas não parecia estar funcionando… Porém, dava para ver que eles estavam determinados em liderar o clube mesmo após os alunos do terceiro ano saírem.

Embora ainda faltasse quase meio ano para a formatura do terceiro ano, a maioria deles já saíram dos clubes. O resto dos membros do clube deve ter respeitado as decisões deles. Pelo menos era o que parecia.

Vendo o clube de atletismo passar, Sorata continuou para as salas de aula de arte. Elas ficavam do outro lado do corredor, em um prédio separado. No primeiro andar ficavam as salas dos clubes, no segundo ficavam as salas de música e só no terceiro que ficavam as salas de arte.

Assim que chegou ao terceiro andar, Sorata sentiu um cheiro um pouco diferente... Antes de abrir a porta, ele percebeu que havia mais pessoas dentro da sala além de Mashiro.

Então, ele abriu a porta e encontrou Mashiro lá dentro.

Além de Mashiro, Sorata viu alguns outros alunos com os quais ele já estava familiarizado. Eles eram colegas de classe de Mashiro.

A aula já havia terminado, então o professor já havia saído. Só estava na sala alguns alunos guardando seus materiais enquanto conversavam entre si.

A sala de aula estava em um clima descontraído, todos conversando e rindo juntos. No entanto, Mashiro era diferente. Ela estava em um canto da sala onde o teto era um pouco mais alto. Ela estava pintando em uma tela com um pincel. Seus outros colegas estavam conversando sobre um site de vídeos que eles acessaram ontem. Eles também estavam conversando sobre visitar algumas lojas a caminho de casa. No entanto, nenhuma dessas vozes chegavam em Mashiro. Era como se houvesse uma parede invisível que ficasse em volta dela.

Para Mashiro, a única coisa presente naquela sala era a tela.

Os alunos saíram da sala depois que terminaram de colocar as coisas deles nas bolsas. Um a um, eles foram embora e alguns até voltaram algumas vezes para tentar dizer algo a Mashiro. No entanto, havia uma coisa em comum em todos que voltaram: Nenhum deles conseguiu falar nada com Mashiro.

Vendo essa cena, Sorata ficou triste por ela. Mashiro não tinha amigos.

Cinco minutos depois de Sorata entrar na sala, apenas eles dois permaneceram. Mashiro nem percebeu que ele estava ali. Ela nem sabia que tinha alguém ali. Para Mashiro, não importava o que as outras pessoas fizessem… Era exatamente a mesma coisa que acontecia quando Mashiro estava trabalhando em seu mangá. Ela ignorava tudo ao seu redor quando estava se concentrando em alguma coisa.

Sorata se sentiu ainda mais distante de Mashiro depois disso.

Embora Sorata estivesse olhando para ela por um tempo, Mashiro não o notou. Havia apenas a tela entre eles. Ela deveria conseguir ver ele ali.

…Para onde você está olhando?

Sorata pensou que ele não existia no mundo de Mashiro.

Normalmente, as pessoas a descreveriam como talentosa ou genial, mas, depois de vê-la com os próprios olhos, não seria tão fácil de colocar isso em palavras.

Ele não entendia nada de arte, mas era inegável que ele podia sentir algo em Mashiro que ninguém mais possuía.

Só olhar para ela o dava calafrios.

Ela tinha uma aura ao seu redor que tornava ainda mais difícil se aproximar dela. Sorata veio até aqui para falar com ela, mas seria difícil fazer isso agora… As palavras de Sorata não alcançariam Mashiro.

Sorata saiu da sala e fechou a porta, se escorando nela.

Ele só podia esperar até Mashiro terminar.

Sorata ficou lá esperando. Esse seria o momento perfeito para ele conversar com Mashiro. Foi assim a semana toda.

Mesmo que surgisse uma oportunidade de conversar com ela, algo acontecia. Sorata estava com muito medo de tomar uma decisão repentina. A razão pela qual ele ainda estava sorridente, era porque ele não queria que isso se tornasse algo tão sério. Ele percebeu que isso não deveria continuar mais...

Hoje mesmo pode ser o dia em que os pais de Mashiro virão para levá-la de volta.

Sorata tirou o telefone do bolso. Abrindo os contatos, ele foi para o contato com o nome de “Mashiro Shiina”. Descendo até o número dela, Sorata apertou no botão de mensagem. Ele fez isso por impulso.

Ele começou a digitar tudo o que estava em sua mente.

Acho que não vou conseguir te falar pessoalmente, então vou falar por mensagem.

Ele apertou o botão de enviar.

Ele continuou a digitar um pouco mais.

— É confuso para mim, também.

Enviar.

— Tipo, do nada você vai ser levada de volta para a Inglaterra? É muito repentino para mim.

Ele enviou a mensagem novamente, mas não houve respostas. Mashiro provavelmente estava tão concentrada em sua pintura que nem percebeu.

— Não sei nem o que pensar depois de saber que seus quadros poderiam até mesmo entrar para a história.

Ele releu a mensagem para se certificar de que fazia sentido, mas não teve vontade de reescrever ela de outro jeito.

— Mas, também, não consigo te imaginar indo embora.

Sorata continuou a digitar todos os pensamentos que vinham em sua mente. Seu orgulho já não importava mais.

— Há momentos em que você simplesmente não consegue descobrir uma resposta para algo.

Esta foi a única maneira que ele encontrou de contar seus sentimentos para Mashiro.

— Não é fácil, sabe.

Expressando seus pensamentos e preocupações honestas, Sorata continuou a enviar as mensagens.

— O que exatamente é “arte”?

Foi algo que ele digitou, mas Sorata riu disso depois.

Quando parou de rir, ele pensou no que dizer a seguir.

— Não estou do lado da Rita. Pode ter certeza.

Ele estava confiante no que escreveu.

— Mas talvez eu também não esteja do seu lado, Shiina.

O que ele estava digitando era algo totalmente sincero. Por um momento, ele se perguntou se deveria realmente enviar isso ou não. Mas ele não queria ficar mudando de ideia, e estava sendo teimoso consigo mesmo.

— Enfim, o que eu ia dizer mesmo?

Ele tentou se lembrar de seus próprios pensamentos.

— Ah, sim. Eu vim aqui para te dizer uma coisa.

Ele se lembrou.

— Eu li o seu mangá na revista.

Isso mesmo, ele poderia dizer isso com orgulho.

— Seu mangá é muito bom. Eu não tô mentindo.

Mas não era isso que ele queria dizer.

— É, acho que vim aqui apenas para dizer isso.

Pensando que esta seria a última vez, ele apertou o botão de enviar. Depois de enviar a última mensagem, ele olhou silenciosamente para a tela do telefone com uma sensação de dever cumprido.

No entanto, de repente ele percebeu algo e abriu as mensagens novamente.

— Pera aí, você sabe ler as mensagens, né?

Só de pensar em ter que ler as mensagens em voz alta para Mashiro… Ele preferiria morrer ao invés de fazer algo assim.

Segurando o telefone, Sorata bocejou. Deve ter sido porquê ele está dormindo mal desde que começou a dormir na cozinha.

Olhando fixamente para a ponta de seus pés, ele ouviu um som. Concentrando-se no som, ele percebeu que era o som de um piano. Vinha do andar de baixo, das salas de música.

Mas foi então que ele sentiu o telefone vibrar.

Era uma mensagem. Seria Misaki enviando novamente uma mensagem diretamente do espaço sideral? Ou seria Jin pedindo para ele comprar alguma coisa? Havia também a possibilidade de ser Chihiro o chamando.

Ele abriu o telefone para poder ler o que era.

Ele não conseguia ler… Não havia nada escrito na mensagem.

Mesmo sendo uma mensagem vazia, Sorata estava se sentindo feliz e nervoso ao mesmo tempo.

Isso porque o remetente era Mashiro.

Escondido atrás da porta, Sorata espiou dentro da sala de aula e viu Mashiro se curvando. Ele podia ver a luz fraca de seu telefone. Mashiro estava mordendo os lábios enquanto apertava alguns botões com uma expressão preocupada.

Então, o telefone de Sorata vibrou novamente.

— Sa.

Isso era tudo o que estava escrito na mensagem.

— O que você está tentando digitar?!

Sorata falou.

Mashiro se virou e olhou para ele.

— O que significa esse “Sa”?

Sorata perguntou.

— “Sa” de “Sorata é um idiota”.”

Mashiro ainda não entendeu que ela teria que apertar o botão “Sa” mais algumas vezes para chegar em “So”.

— Então você sabe como ler mensagens.

— A Ayano me ensinou.

Ayano era o nome da editora do mangá de Mashiro, a quem Mashiro deve muitos agradecimentos. Deve ser difícil ser editora de Mashiro.

Sorata imaginou o quão difícil deve ter sido para Ayano ensinar Mashiro a enviar mensagens.

Sorata se levantou e caminhou em direção a Mashiro.

— Ei, Sorata.

— O quê?

— Até que essas coisas chamadas “mensagens” são úteis.

— Sim, mas é assustador quando você envia apenas uma única letra ou só metade de uma palavra.

— Então me ensine.

Mashiro estendeu o telefone para ele.

Ela estava com um rosto cheio de expectativas. Sorata ficou feliz por eles estarem conversando pela primeira vez em algum tempo.

— Tudo bem.

Quando Sorata começou a apertar os botões do telefone, Mashiro se aproximou dele e olhou para a tela. Seus ombros se tocaram, deixando Sorata nervoso.

Mas, naquele momento, o telefone de Mashiro, que estava nas mãos de Sorata, começou a vibrar. O telefone de Sorata, que estava em seu bolso, também vibrou.

— ~ Emergência! Emergência! Todos, voltem para o Sakurasou! ~

Era uma mensagem de Misaki. A mensagem estava enfeitada ao redor com efeitos e emojis do app de mensagens.

O que estava acontecendo?

Quando Sorata olhou para o rosto de Mashiro, ele a viu inclinando a cabeça de maneira fofa.

Se era uma emergência, o que poderia ter acontecido? E se os pais de Mashiro tivessem chegado... Não. Se fosse esse o caso, Misaki teria enviado uma mensagem mais adequada.

— Quero enviar uma mensagem assim.

Mashiro apontou para a mensagem de Misaki na tela.

— Eu também não sei muito bem como faz esses negócios aí…

— Eu quero.

— Tudo bem, tudo bem. Eu vou te ensinar no caminho.

Então, eles voltaram para casa enquanto Sorata ensinava Mashiro a enviar mensagens.

Havia muito mais coisas que Sorata queria dizer a Mashiro.

Embora ele não soubesse quanto tempo ainda tinha com Mashiro, ele sabia que seu tempo diminuía a cada segundo.

Sorata se sentiu frustrado consigo mesmo por não ser capaz de fazer nada a respeito, mesmo já sabendo de tudo que iria acontecer. Mas, por outro lado, ele sentiu que isso não era tão ruim. Mashiro estava ao seu lado, e ela parecia feliz.

Isso era o suficiente por enquanto. 

Parte 3

Depois de esperar por Nanami, que estava atrasada devido ao seu trabalho de meio período, a reunião do Sakurasou começou.

— Eu convoquei todos aqui por um grandioso motivo!

Misaki estava no centro da mesa da cozinha enquanto levantava o punho para o alto. Sua saia balançava e quase dava para ver o que havia por baixo.

— Kamiigusa-senpai, vai dar pra ver! Senta logo!

— Não precisa se preocupar, Nanamin! Eu tô usando um shorts por baixo!

Então era por isso que quase dava para ver, mas não tinha nada lá.

— Kanda, você parece um pouco triste com isso.

— O que você tá dizendo, Aoyama?!

Segurando Misaki pelas costas, Jin a desceu da mesa.

Até mesmo a alienígena ficou em silêncio ao ser segurada por uma pessoa que ela gosta.

Na mesa estavam Chihiro, Misaki, Jin, Sorata, Mashiro e Nanami, nessa ordem. Ryuunosuke estava participando por uma sala de bate-papo pelo computador, porque ele não saiu de seu quarto desde que chegou da escola. Jin sabia que isso iria acontecer, por isso pegou o computador mais cedo.

Eles também perguntaram a Rita se ela queria participar, mas ela estava enfrentando um chefão em um jogo de RPG. Ela disse

"— Por favor, não fale comigo agora. O destino do mundo está em minhas mãos."

com um olhar sério em seus olhos, então eles a deixaram em paz. Rita disse que havia chegado no nível final de um jogo que começou naquele mesmo dia enquanto os outros membros do Sakurasou estavam na escola.

— Então, qual era a “situação de emergência” que a Misaki-senpai mencionou?

— Pessoal! Chegou a hora de enfrentarmos este dia perigoso!

— Um dia?

— Finalmente reunimos todos os poderosos guerreiros do Sakurasou! Vamos juntar os nossos poderes para fazer a melhor apresentação e dominar o Festival Cultural!

Não entendendo o que foi dito, Sorata e Nanami fizeram um rosto de dúvida. Jin estava tomando seu café com um rosto feliz enquanto digitava no computador. Mashiro estava desenhando algo em seu caderno de rascunhos.

— Senpai, por favor, explique de uma forma que humanos normais possam entender.

— Não fala isso, Kouhai-kun! Você tem que ser capaz de sentir isso com o corpo!

— Sentir o quê?

— Cê não acha que todos nós deveríamos fazer algo com amor pelo Sakurasou?! E você se diz um “humano”, Kouhai-kun?! O sangue fervente da juventude não corre nas suas veias?!

Sorata olhou para Jin, para pedir ajuda.

— Ela tá dizendo que devemos fazer algo para o Festival Cultural com os membros do Sakurasou.

— Aah…

Ao lado de Sorata, Nanami fez uma expressão que dizia que ela havia entendido uma coisa ou outra.

Mas o que eles iriam fazer?

— Eu e a Mashiron seremos responsáveis pelo visual! O roteiro obviamente será feito pelo Jin e o Dragon vai programar! Nanamin fará as vozes e o Kouhai-kun vai ser o diretor!

Misaki acrescentou dizendo que deixaria os feitos sonoros para outra pessoa enquanto continuava apontando para Sorata. Ele olhou para a ponta da mão de Misaki e piscou sem entender. A reação de Nanami não foi diferente.

Mashiro olhou por cima de seu caderno de rascunhos.

— Quer dizer que…

O que Misaki disse foi inacreditável.

Os membros do Sakurasou iriam trabalhar juntos em um só projeto.

Sorata olhou ao redor da mesa redonda da cozinha, para os rostos dos membros do Sakurasou.

Realmente, Misaki tinha um talento para criar animações sozinha. Nem precisa falar sobre Mashiro, já que ela era uma pintora mundialmente famosa, e ainda era uma mangaká. O mesmo pode ser dito sobre o programador e desenvolvedor de jogos, Ryuunosuke, apenas olhando para a Maid-chan, a IA de resposta automática, que ele mesmo desenvolveu.

Com o roteirista das animações de Misaki, Jin, e a estudante de dublagem, Nanami, a possibilidade de criar algo incrível era muito alta.

Seja no aspecto visual ou no aspecto tecnológico, era possível fazer algo muito bom.

Só de pensar nisso, Sorata sorriu sem pensar.

— Kouhai-kun, por quê cê tá sorrindo assim?!

— Desculpe... só acho que vai ser muito divertido.

— Bom, deixando de lado a ideia de apresentar algo no Festival Cultural, tenho uma pergunta.

Nanami levantou levemente a mão.

— Claro, Nanamin, pergunta o que quiser!

— Teríamos permissão para participar do Festival Cultural pelo Sakurasou? Eu estou no Comitê de Planejamento do Festival Cultural e lá eles são bem rígidos com essas coisas.

O Festival Cultural era realizado todos os anos sob estrita supervisão, para que a comunidade local não fosse colocada em perigo.

O olhar de todos caiu sobre a professora, Chihiro.

Ela estava abrindo uma lata de cerveja.

— Já faz uns 10 anos que eles não nos dão permissão.

Isso era algo óbvio. Com os alunos problemáticos que moravam no Sakurasou, não dava nem para imaginar o que aconteceria se eles participassem de um evento como o Festival Cultural.

— Mas mesmo assim os membros do Sakurasou fizeram algo durante esses 10 anos.

— Já entendi onde você quer chegar…

Nanami suspirou novamente. Ela já sabia a resposta.

— Vamos participar escondidos.

Jin falou como se não fosse nada de mais.

— Então temos algumas restrições. Uma é que não podemos apresentar algo por muito tempo, e a outra é que precisamos encontrar um local para isso.

No ano passado, eles aproveitaram o curto intervalo de tempo de troca entre o clube de atuação e o clube de música na quadra para realizar uma breve história, com Misaki usando uma máscara. O roteiro foi escrito por Jin.

— O Ryuunosuke disse “Sem problemas”.

Jin disse a eles o que Ryuunosuke havia dito na sala de bate-papo.

— Acho que vai ser divertido.

Misaki acrescentou.

— Não deve ter problemas.

— Eu vou deixar vocês fazerem isso, mas precisarão de permissão da escola.

— Deixaremos isso para você, Aoyama. É ótimo termos um pessoa do Comitê com a gente.

— Eu não vou pegar leve!

— Não se preocupe tanto com isso, Aoyama.

Jin deu um sorriso maldoso. Ele estava basicamente dizendo a ela que não importava se ela conseguisse ou não a permissão. Se Nanami não quisesse fazer algo sem a permissão, então ela teria que conseguí-la de alguma forma.

— Kanda, você tem que me ajudar.

—Hein? Por que tá me colocando no meio?

— Você me prometeu antes.

Nanami sussurrou para ele. Falando nisso, ele se lembrava de uma promessa desse tipo.

— Mas e o que nós vamos apresentar?

— Eu já decidi que iremos usar a sala de teatro este ano~!

Esse lugar era uma sala de cinema, que havia sido equipada com equipamentos de última geração.

— Tendi. Aliás, qual era mesmo a capacidade máxima de assentos lá?

Sorata se lembrou de ter visitado aquele lugar antes.

— Uns trezentos assentos, eu acho.

Nesse caso, era quase tão grande quanto um pequeno cinema de verdade.

— Por favor, Sensei, pare eles.

Nanami sussurrou para Chihiro.

— Eu não~. Ia ser muito chato fazer isso~.

—Aoyama, você sabe que a Chihiro-sensei só se preocupa com a cerveja e com as reuniões, né? Você já sabe que isso não vai adiantar de nada, né?

— É, tô sabendo…

— Apenas não me incomodem com isso.

Chihiro se levantou para pegar outra lata de cerveja enquanto dizia isso, e depois voltou para seu quarto. Ela deveria cumprir seu dever como professora e tentar impedi-los... Não, neste caso, talvez eles devessem estar felizes que ela não tentou intervir.

— Quero que façamos algo que só é possível em um Festival Cultural~! Quero fazer algo que só o Sakurasou pode fazer~. Eu quero fazer algo~. Eu quero fazer algo~. Ei, Kouhai-kun~!

Algo que só pode ser feito em um Festival Cultural? Só em um festival. Em um festival…

— Acho que já sei!

Pensando no que Misaki havia dito, Sorata teve uma ideia.

Misaki subiu na mesa de quatro e rastejou em direção a ele.

— O quê?! O quê, hein~?!

— Senpai, desgruda um pouco!

Sorata afastou a cadeira para trás um pouco. Olhando de canto de olho para Jin, ele estava com uma expressão levemente irritada como já era esperado. As ações de Misaki eram um incômodo. Misaki ainda estava na mesa enquanto olhava para Sorata.

— Então, com a Misaki-senpai e a Shiina, eu sei que seremos capazes de criar algo incrível visualmente.

— É claro.

— E nós temos o Dragon com a gente, então podemos transformar em um jogo~!

Sorata concordou.

— Mas não acho que isso seja suficiente para nos destacarmos em um Festival Cultural, e nem que precisaríamos de uma sala de cinema apenas para isso.

— Mas vai fazer muito sucesso se for numa tela grande, as pessoas vão poder ver melhor!

— Bem, isso é verdade, mas seria chato se apenas uma pessoa controlasse o jogo enquanto todos os outros assistem.

— Aí é verdade. Mas não seria mais chato se fosse só um vídeo que não dá pra controlar? O que você sugere, então?

— Estava pensando em algo que envolvesse os espectadores também…

Misaki não conseguia entender o que Sorata estava dizendo, e fez um rosto de dúvida.

— Por exemplo…?

A pessoa que perguntou foi Nanami. Ela deve ter ficado um pouco interessada na ideia de Sorata.

— Por exemplo, dependendo da cena, o personagem se moveria quando o público batesse palmas. Ou até mesmo acenar ou gritar em uníssono já serviria. De qualquer forma, acho que o que pretendo é algo que todo mundo faz em sincronia. Um jogo em que você derrota inimigos enquanto avança. Algo assim… talvez?

Certamente foi difícil tentar explicar com palavras as ideias que ele teve. Sorata tentou o seu melhor para explicar de forma adequada, mas todos ficaram em silêncio.

Talvez não tenha sido claro o suficiente. Ou talvez a ideia fosse ruim. Todos continuaram em silêncio, e Sorata começou a se sentir envergonhado por ter falado sério assim.

— É isso, Kouhai-kun!

Quem concordou com ele foi Misaki. Animada, ela se levantou.

— Parece divertido, Sorata.

— O fato de que todos participarão juntos deixa tudo melhor.

Jin e Nanami também aprovaram.

Apenas Mashiro parecia não ter entendido.

— Gritar para unir o sono?

Dizendo isso, ela inclinou a cabeça para o lado.

Depois explicamos para ela.

— O problema é se isso é realmente possível.

— Nós podemos apenas perguntar para o Ryuunosuke.

Jin colocou o computador na frente de Sorata.

Ryuunosuke estava presente a reunião inteira, mesmo que por bate-papo.

Sorata digitou no teclado para fazer uma pergunta.

— Então, você acha que dá certo?

— Normalmente, seria impossível.

A resposta veio imediatamente.

— Então não é possível para você, Akasaka?

— Não se precipite. Eu disse que normalmente seria impossível.

— Então só é possível se não for “normal”?

— Isso.

— Fala sério.

— Podemos utilizar um sistema de captura de movimentos. Um programa de reconhecimento de voz para captar as conversas, gritos ou palmas. Essa tecnologia toda existe e funciona, então podemos usá-la.

— Mas um sistema de captura de movimentos pode captar tanta gente ao mesmo tempo?

— Não é um problema. Com a capacidade máxima da sala, irá funcionar. Eu tenho um plano.

Que cara confiante. Ele era bem confiante.

— Bem, que bom que irá funcionar tecnicamente, mas onde vamos conseguir um dispositivo desses aí que você falou?

— Sua ideia me deixou interessado. Vou entrar em contato com uns desenvolvedores de hardware que conheço, então espera um pouco.

— Claro!

Durante algum tempo, não houve nenhuma mensagem de Ryuunosuke.

— Ele está falando com eles agora?

Nanami perguntou, olhando desconfiada para a tela do computador.

— Provavelmente.

— Que tipo de pessoa é o Akasaka, afinal…?

— Ele é o embaixador do Reino dos Tomates e, também, nosso colega de classe.

— Ah, sim... Por que todos ao meu redor são tão estranhos, hein?

— Está me incluindo nisso?

— É claro.

— Hein?! Sério?!

— Terminei de negociar o acordo. O dispositivo chegará na próxima semana.

— Cara, você é realmente incrível.

— No entanto, não podemos cobrar nada das pessoas. É apenas para uso promocional, temos que usá-los e devolver depois.

— Eu nem sonharia em fazer uma coisa dessas, então não tem problemas!

Olhando por cima da tela do computador, Sorata viu Misaki, Jin, Nanami e Mashiro olhando para ele.

— Ele disse que conseguiu!

Misaki agarrou Mashiro e Nanami e as abraçou com força.

— Então, agora precisamos planejar os personagens que faremos e, também, o enredo. Não vai dar tempo de fazer tudo do zero. E não é como se todos aqui tivessem tanto tempo livre assim para fazer isso.

Verdade, Jin tinha razão.

Mashiro estava ocupada com seu mangá sendo publicado e Ryuunosuke tinha que trabalhar em seus projetos para empresas.

Mesmo que eles pudessem arrumar um tempo livre, Misaki tinha que trabalhar em seu projeto de animação que estava fazendo, e Nanami estava ocupada com o curso de dublagem e empregos de meio-período. Jin tinha que estudar para os exames de admissão da universidade. Até Sorata estava ocupado aprendendo a programar e escrevendo uma proposta para entregar em janeiro para o “Vamos fazer um Jogo!”. Eles precisavam de mais de 2 meses para iniciar o projeto se fosse para fazer tudo do zero.

Enquanto pensava isso, Mashiro puxou as mangas de Sorata.

— Hum? Você pensou em algo?

Mashiro acenou com a cabeça.

— Nyaboron.

— Ohhh, é isso, Mashiron!

Misaki reagiu antes de todos.

— …Tá falando daquilo? Bem, acho que pode dar certo, já que é legal para os adultos também.

Jin assentiu depois de lembrar o que era só ao ouvir o nome. Como esperado do amigo de infância de Misaki.

O Gato Galáctico Nyaboron lutava contra monstros gigantes do mal, então se encaixava no conceito de Sorata.

Para as partes de explicação da história, eles poderiam atuar... não, com Mashiro no time, eles poderiam fazer algumas animações simples e passá-las na tela. Para as partes da batalha, eles poderiam fazer uma cena impactante com os modelos 3D de Misaki e deixar os espectadores participarem das ações em uníssono.

Com o esboço atual, Sorata sentiu que seria capaz de criar algo verdadeiramente espetacular.

— O que é um “Nyaboron”?

A única que não sabia sobre era Nanami.

— Venha ao meu quarto mais tarde.

— Boa, Sorata.

Jin riu.

— Huh? P-Pra quê? O que você quer comigo?!

— Só pra avisar, não é nada tarado.

— E-E o que é, então?

Usando seu sotaque, Nanami perguntou timidamente.

— Teve uma vez que a Misaki-senpai e a Shiina entraram no meu quarto e desenharam nas paredes. Esse “Gato Galáctico Nyaboron” é um dos personagens que a Misaki-senpai criou.

— E-Então era isso…? Aqueles desenhos nas paredes são isso, afinal…

— Então eu terei algumas reuniões com você e o Ryuunosuke. Devemos planejar um cronograma antes de começarmos, para que possamos ter uma ideia do que estamos fazendo, né?

— Ah, eu também acho.

— Então, nós, garotos, vamos ficar juntos até o final do projeto. Vamos fazer isso por dois meses seguidos, hein.

Por causa do longo trabalho árduo que estava diante deles, Jin sorriu de forma cansada.

Vendo isso, Sorata pensou em algo. Jin havia mencionado antes que ele não poderia ir dormir na casa de ninguém por um tempo. Então era isso que significava…

Em comparação com Jin, Sorata estava um pouco empolgado com isso.

Naquele momento,

— Salvar o mundo é tããão bom.

Rita entrou na cozinha. Ela estava com um rosto bastante satisfeito. Parece que ela conseguiu zerar aquele jogo de RPG.

— Rita.

Prestes a abrir a porta da geladeira, Rita se virou surpresa quando Mashiro chamou seu nome. A reação de Rita não foi algo inesperado, já que Mashiro não falou com Rita durante a semana toda.

— O que foi, Mashiro?

Rita estava sorrindo alegremente.

— Durma no meu quarto.

Sorata fez um “Ehh” e Nanami olhou para Mashiro, surpresa. Como se estivesse acompanhando uma partida de tênis, Misaki estava olhando para trás e para frente, alternando os olhares de Mashiro para Rita e de Rita para Mashiro.

Jin se levantou de sua cadeira e voltou a encher seu café na bancada da cozinha.

— Posso saber o porquê disso do nada?

— Você não pode mais ficar no quarto de Sorata.

— Por que?

— Porque é perigoso.

— Mesmo eu não correndo risco nenhum no quarto do Sorata? Olha, ao contrário do Jin, o Sorata não tem nenhuma experiência com essas coisas.

Ao ouvir isso, Jin concordou, balançando a cabeça para cima e para baixo.

— Eu sei disso, mas ainda é perigoso.

Até Mashiro concordou com Rita.

— Até você?! Rita, cê sabe o quão difícil foi para me segurar?! Isso soa como uma ofensa para mim!

— Sorata, quieto.

Por algum motivo, Mashiro olhou para ele com um olhar tenso.

— Ei, não sou eu que tô errado, né?!

Ele tentou pedir o apoio de Nanami.

— Só cala a boca.

Estavam o tratando como uma criança.

— Eu não me importo de dormir no seu quarto, Mashiro.

A expressão de Mashiro suavizou.

— Porém, tenho um pedido em troca.

Rita sorriu maliciosamente.

Ela ia dizer a Mashiro para voltar para a Inglaterra com ela?

— Diga.

Quando Mashiro respondeu, os olhos de Rita se iluminaram de forma suspeita e ela se virou para Sorata ao invés de Mashiro.

— Por favor, venha comigo em um lugar no domingo.

— O que?

— Em outras palavras, estou te chamando para sair. Você tá feliz?

— P-Pra quê?!

Quem respondeu primeiro foi Nanami.

Mashiro também estava intrigada.

— Você pode vir comigo no domingo, ou você quer que eu continue no seu quarto e fique com a sua “primeira vez”?

— Ficar com o quê?! Para com isso!

— Então cê tava interassada no Sorata, né, Rita. Por isso você não ligava quando eu dava em cima de você.

— Isso mesmo. Eu sinto muito.

— Ah, que isso~. Não se preocupa. Tô feliz pelo meu lindo calouro que finalmente se tornará um adulto.

— O-O que vocês dois tão falando aí?!

O rosto de Nanami ficou vermelho brilhante.

— Só isso não basta, Ritan! Você está subestimando o vínculo que eu construí com o Kouhai-kun depois de muitas noites sem dormir! Se você acha que pode roubar ele de mim com apenas um encontro ou dois, tá muito enganada! Da última vez, nós ficamos a noita toda acordados!

— Ei, Kanda. O que você fez com a Kamiigusa-senpai?!

Nanami perguntou.

— Ela tá falando sobre jogos! Calma aí, Aoyama!

Murmurando baixinho para si mesma, Nanami desviou o olhar.

— E aí, como vai ser? A escolha é sua, Mashiro.

Rita foi ficando cada vez mais ousada.

Os olhos de Sorata encontraram os de Mashiro. Era impossível dizer o que ela estava pensando, mas ela continuou olhando nos olhos dele. Enquanto Sorata tentava entendê-la, ela se virou para Rita.

Com uma expressão relutante, Mashiro aceitou.

— Não me venda assim!

— Quando formos, só nós dois, vou te mostrar umas coisinhas incríveis~.

Rita falou isso com uma vez sedutora, e o rosto de Sorata rapidamente corou. Ela colocou os dedos nos lábios, a fazendo parecer ainda mais sexy.

— O-O que você vai mostrar a ele?!

— Coisas incríveis, como eu disse.

Rita sorriu ao responder a pergunta de Nanami.

Rita cruzou os braços e se inclinou sobre Sorata. Ao fazer isso, ela sussurrou no ouvido dele:

~ Eu vou te mostrar a verdadeira Mashiro. ~

Ela parecia um demônio sussurrando em seu ouvido, e suas palavras penetraram Sorata. Parecia que seria impossível escapar de suas tentações.

— Se afaste do Sorata.

Mashiro puxou o braço de Rita.

— Só estou me despedindo dele.

Rita estava claramente provocando Mashiro, e ela estava sorrindo com os olhos enquanto continuava olhando para Sorata.

O que Rita quis dizer com “a verdadeira Mashiro”? Sorata não fazia ideia e era por isso que ele queria saber. Ele queria saber mais sobre sua vida na Inglaterra, suas habilidades como pintora. Mas, além disso, Sorata queria mais informações sobre Mashiro, para que ele pudesse pensar sobre qual era a melhor decisão para ela.

Ele esteve pensando nisso desde que Rita chegou.

— Então, por favor, espere ansiosamente pelo domingo.

Rita sorriu brilhantemente.

— Faz o que quiser.

Ao ouvir Nanami dizer isso, Rita se virou para ela, que estava junta de Mashiro, e disse:

— Se vocês estão mesmo tão preocupadas com o meu encontro com o Sorata, podem nos seguir se quiserem.

— N-Nós não vamos fazer isso!

Nanami negou imediatamente.

— Caso mudem de ideia, são mais do que bem-vindas para nos seguir.

Ainda sorrindo brilhantemente, Rita saiu da cozinha ao dizer isso. Dava para ouvir seus passos enquanto ela subia.

Ela provavelmente estava indo para o quarto de Mashiro.

— Eu deveria deixar minha agenda livre no domingo.

Dizendo essas palavras perturbadoras, Jin estava tentando segurar o riso enquanto se divertia da cara de Sorata.

— Você não vai nos seguir!

Jin respondeu com um “Tá, tá…” enquanto saía da cozinha.

— Você não pode escapar de mim, Kouhai-kun!

— O que é isso que você fala com tanto orgulho?!

Seguindo Jin, Misaki também saiu.

Nanami também se levantou de seu assento e declarou:

— Eu obviamente não faria algo como seguir vocês.

— Sim, Aoyama, você nunca faria algo assim.

— C-Claro...

Nanami desviou o olhar desajeitadamente e fugiu da cozinha, indo para seu quarto.

Os únicos que ficaram ali foram Mashiro e Sorata.

— Sorata, você está muito íntimo da Rita.

— E isso é minha culpa?

— Mesmo sendo o meu mestre.

— Que raciocínio é esse?!

— Se eu não posso ter o Sorata…

— Se você não puder…

— … eu não posso viver.

— E isso faz sentido, mesmo, hein!

Parte 4

Era sábado, terceira semana de setembro, um dia antes do encontro com Rita. Embora estivesse um tempo bom lá fora, Sorata não saiu de dentro do Sakurasou desde que acordou.

O dia já havia acabado e as estrelas brilhavam no céu.

Com uma expressão séria, Sorata estava olhando para a tela do computador. Na tela, estava o enredo para o “Gato Galáctico Nyaboron”, que Jin havia completado.

Sendo encarregado do papel de diretor, o dever de Sorata era ler o enredo e pensar em coisas visuais e sonoras que iriam se encaixar na cena.

Com isso em mente, Sorata estava trabalhando duro nas cenas dramáticas de Nyaboron.

Após algumas discussões com Jin e Ryuunosuke, eles decidiram usar algumas animações em flash para as partes de ação. Então, para fazê-las, eles decidiram colocar Mashiro.

Para as cenas de batalha, foi decidido que Misaki as faria, já que iriam ser renderizadas em 3D.

Algo com o qual Sorata estava tendo problemas no momento era como ele poderia fazer Mashiro entender como desenhar as animações.

Como cada corte era diferente do anterior, Sorata tinha que discutir cada um com ela.

Então, no final, Jin teve a ideia de fazer Sorata desenhar um storyboard contendo cada corte com os ângulos apropriados. Por exemplo, se não houvesse uma cena que ligasse a transição entre o drama e as partes da batalha, eles não seriam capazes de criar um vídeo suave.

Foi Ryuunosuke quem disse que essas cenas eram necessárias para produzir um trabalho de alta qualidade. Mas pareceu mais com um “Apenas faça o que eu tô te dizendo para fazer.”.

Uma coisa que Sorata percebeu quando começou a trabalhar com os outros membros como uma equipe foi que eles eram extremamente bons no que faziam. Mesmo a animação mais simples de Misaki era incrível, e Ryuunosuke parecia entender de tudo, não importava com o que ele estivesse trabalhando. Mashiro já fazia tudo isso inconscientemente.

Até Jin parou de dormir na casa de suas namoradas e começou a ficar mais noites no Sakurasou. No dia em que os três garotos terminaram a história base, eles adormeceram no quarto de Jin. Nanami fez uma expressão perturbada quando foi vê-los pela manhã, isso porque Sorata e Jin, dois meninos, estavam dormindo na mesma cama. É óbvio que qualquer um ficaria incomodado com aquela cena.

A única razão pela qual Ryuunosuke não estava no quarto com eles era porque ele estava participando da discussão pelo chat, no quarto ao lado. Se possível, Sorata queria esquecer o calor de Jin.

Não havia sentido em adiar, então Sorata começou a desenhar a primeira cena do Gato Galáctico Nyaboron no papel de storyboard que Misaki deu a ele.

Ele desenhava uma cena, mas logo em seguida fazia uma igual, o que não mudava em nada o progresso da animação. Os farelos da borracha começaram a acumular no papel. Ele não estava progredindo em nada. Ele levou quase 30 minutos para desenhar uma cena que ele achasse razoável.

Misaki falou calmamente que teria mais de 300 cenas, como esperado de uma alienígena. Ela disse que isso era equivalente a 1 minuto em uma produção de anime. Na velocidade atual, Sorata levaria quase 9.000 minutos. Se ele trabalhasse 8 horas por dia. Levaria quase 20 dias. Não era algo que um humano normal é capaz de fazer.

— Sorata, o que você tem feito desde manhã?

Quando ele se virou para a voz que vinha atrás dele, Sorata quase gritou.

Olhando por cima dos ombros, ele viu Rita, que tinha acabado de sair do banho. Ela estava vestindo o pijama que recebeu de Mashiro e estava olhando por cima da mesa, para o storyboard, enquanto secava o cabelo. O cheiro de seu sabonete e shampoo faziam cócegas no nariz de Sorata.

— Bem, Sorata, para você é... como devo dizer... Deve ser cansativo pra você, já que só você parece ter entendido bem a situação.

— Isso era para ser um elogio?

— Bem, sim. Mas você sabe qual a situação de que estou falando, né?

Sorata, obviamente, sabia. Ele sabia sobre como Mashiro poderia voltar para a Inglaterra em breve e que ele não tinha como fazer nada para evitar isso.

— Eu não queria dizer isso, mas você não acha que deveria aproveitar melhor o tempo que ainda vocês ainda têm juntos?

Mashiro também estava animada com o Nyaboron. Todas as noites, ela visitava o quarto de Sorata e ficava ali desenhando. Quando ela terminava uma ilustração, ia para o quarto de Misaki mostrar.

— Se essa é a maneira japonesa de dizer adeus a ela, então isso não importa para mim.

— Não é isso…

— Mas deixando isso de lado, isso aqui é bastante conceitual.

Rita olhou para o storyboard em cima da mesa.

— Sério? Tô bem confiante com esta cena.

— Por favor, nunca mais desenhe nada, Sorata.

Rita tinha um olhar muito sério em seus olhos.

— Hein?! Por que?!

— Porque é quase como um insulto.

— Eu sou tão ruim assim?

— Você está desenhando enquanto pensa na cena final?

— Não, estou apenas desenhando o que quer que apareça na minha cabeça.

— Além disso, você deve usar os desenhos ao seu redor como referência. A observação é a base do desenho.

Rita apontou para os desenhos na parede. Os desenhos do Gato Galáctico Nyaboron, que Misaki e Mashiro desenharam, ainda estavam nas paredes. Não ia sair até Sorata lavar bem…

— Por favor, me empresta aqui.

Rita pegou o lápis da mão de Sorata, ainda por cima de seus ombros. Ele conseguia sentir o calor dela em suas costas. Era difícil resistir à pressão. Ele estava se segurando ao máximo. As armas estrangeiras eram tão poderosas assim?

— Uhh... Rita-san?

— Presta atenção.

Ele foi repreendido.

Tentando se distrair do peso em seus ombros, Sorata se concentrou na mão de Rita e, logo, ele conseguiu tirar ela da mente.

A maneira como Rita segurava o lápis era um pouco semelhante a Mashiro, e seus traços eram suaves, como os de alguém bem experiente. Sempre que ela passava o lápis pelo papel, o desenho ganhava vida, e Sorata não conseguia tirar os olhos do papel. Ela ligava as linhas suavemente para formar o desenho. Após cerca de um minuto, Rita conseguiu reproduzir um desenho do Nyaboron no storyboard, exatamente como o que Misaki havia desenhado na parede.

— Isso é incrível.

Naquele momento, Sorata começou a sentir o coração de Rita batendo mais rápido em suas costas. Rita começou a tremer como se estivesse sendo eletrizada, até que largou o lápis e se distanciou de Sorata.

— O que aconteceu?

— N-Não é nada.

Rita se virou de costas. Sorata não conseguia ver qual expressão ela estava fazendo.

Quando ela se virou para encará-lo de volta, ela estava com seu sorriso de sempre.

Seguindo o conselho de Rita, Sorata olhou intensamente para o desenho do Nyaboron na parede. Desta vez, Sorata fechou os olhos para tentar imaginar a imagem finalizada e abriu os olhos para esboçá-la.

Ele começou a desenhar assim, e depois de umas duas vezes, ele foi se acostumando lentamente.

— Será que eu sou um gênio?

— Então até você faz piadas sem graça às vezes.

Rita estava desanimando Sorata.

— Você é experiente em desenho, eu ainda tô aprendendo a fazer isso!

Usando um scanner que Misaki o emprestou, Sorata escaneou as partes finalizadas do storyboard e anexou as imagens em um documento. Com isso, o planejamento para as partes do drama acabou.

Para mostrar o documento a Ryuunosuke, Sorata enviou o arquivo por e-mail e abriu o programa de bate-papo. Por sorte, Ryuunosuke já estava online.

— Akasaka, por favor, olha o documento que te enviei.

— Entendi. Espere um pouco.

Como não era longo, Ryuunosuke provavelmente iria ver agora mesmo.

Ele respondeu logo depois de ver:

— Bom trabalho. Então, de agora em diante, quero que você gerencie cada um dos membros da equipe. Um criador de jogos deve ter alta habilidade de comunicação. Quando você se torna produtor ou diretor de um grande projeto, precisa ser capaz de liderar cerca de cem funcionários.

— Olha, eu tava pensando em algo já faz um tempo.

— Em quê?

— Qual é a diferença entre um diretor e um produtor?

— É hora das aulas emocionantes da Maid-chan.

Parece que Ryuunosuke não se incomodou em falar que não seria ele quem iria explicar.

— Olá, Maid-chan, há quanto tempo.

— A distância também é importante nos relacionamentos, né?

— O que você tá dizendo?

— Por favor, esqueça essa piada, agora! Eu sou apenas uma empregada!

Calma, isso era pra ser uma piada? Ele se perguntou o que aconteceria se ele realmente discutisse com a empregada sobre essa piada desajeitada. Embora quisesse muito, ele estava com muito medo de que ela enviasse algum vírus para seu computador.

— De qualquer forma, pode explicar, por favor?

— Parece que o Sorata-sama finalmente se pôs em seu devido lugar.

Sorata sentiu que Maid-chan estava zombando dele ainda mais que antes, mas decidiu pensar que isso era apenas coisa da cabeça dele.

— Por enquanto, vou explicar da forma mais simples possível. O diretor, que, daqui pra frente, irei abreviar para Dir., lidera um projeto. Enquanto o produtor, que, daqui pra frente, irei abreviar para Prod., gerencia o projeto tomando medidas de precaução.

— E qual é a diferença?

— Então, quando eu digo “liderar um projeto”, eles dão ordens aos membros da equipe e trocam ideias, até chegar no resultado final desejado. O Dir. que dá a última palavra nos projetos, ele tem um papel muito importante.

— Tendi…

— Embora alguns pensem que o Dir. tem que lidar com tudo, já que ele tem que trabalhar com os designers gráficos, programadores, a equipe de som e depuradores, é necessário um conhecimento geral das áreas. Além disso, como os desenvolvedores dependem muito do trabalho em grupo, é recomendável construir um bom relacionamento entre os membros. É por isso alguém com boas habilidades de comunicação são os melhores para a área. Para você, Sorata-sama, que treme só de ver uma garota, pode ser muito difícil (Haha)

— Você realmente pensa isso de mim?!

— Mas, é claro, não é como se a equipe fosse estar em harmonia a todo o tempo.

— Então você vai ignorar minha pergunta.

— Sendo a pessoa que comanda o rumo do projeto, você precisa ter uma forte vontade de lutar por seus pontos de vista. Mesmo quando alguém da equipe discordar, você precisa ser a pessoa que irá rever tudo que disseram, e conversar entre a equipe para chegar no melhor resultado para todos. Eu acho que você precisa ser a bússola do projeto. Caso contrário, o projeto começará a sair dos trilhos e, eventualmente, o jogo se tornará um desastre. Bem, obviamente, se você apenas juntar todas as ideias ditas, o resultado ia ser uma bagunça total.

— Acho que entendi.

— Claro, não estou dizendo que o Dir. pode fazer tudo do jeito dele. Às vezes, eles não conseguem mudar aquilo que queriam, ou, às vezes, precisam persuadir e convencer a equipe, mesmo sendo contrariado. Se o que o membro da equipe está dizendo está certo, então é melhor aceitar isso e seguir desse jeito. Essas relações que você constrói com os membros de sua equipe podem durar e te ajudar para a vida toda e se tornarão uma grande motivação para outros projetos. Ouvir algo como “Eu acho que esse cara deveria trocar de profissão~” significaria o fim de sua carreira. Portanto, acho que ser diretor é ser um pouco de cada. Uma pessoa que, quando necessário, mudará as ideias da equipe para algo melhor, e, também, aceitará quando suas ideias não encaixarem naquele projeto. É muito raro ter uma pessoa que tem tudo o que foi dito acima.

— Então, esse é o Dir. ideal?

— Para mim, sim.

— E o Prod.?

— Eles trabalham longe do real desenvolvimento dos jogos e gerenciam o cronograma, as taxas de produção e contratam as equipes necessárias para tirar o projeto do papel. Às vezes, eles gerenciam as publicidades ou os perfis nas redes sociais. Realmente depende da empresa, mas em geral, você poderia dizer que o Dir. é responsável pela qualidade do jogo, enquanto o Prod. é responsável pelas vendas. Em outras palavras, o Dir. precisa tornar o jogo interessante, enquanto o Prod. precisa tornar o jogo um sucesso.

— Então, que tipo de pessoas são adequadas para o trabalho?

— Pessoas que têm o dom de ler a economia com uma visão objetiva.

— Existem pessoas que podem fazer isso?

— Ah, acho que tem um a cada milhão… Algo assim, né?

— A possibilidade é muito baixa!

— As pessoas geralmente falam isso, mas não dá para saber se algo dará certo até tentar.

— Hmm~

— Mas já aconteceu de algumas pessoas saberem antes de tentar. Ah, o pensamento de “Vamos fazer, isso vai ser um sucesso!” não se limita apenas aos Prods. Por exemplo, parece haver pessoas no mundo da fama que realmente conseguem sentir se sua audição foi bem sucedida ou não. E os sentimentos geralmente se tornam realidade, aparentemente.

— Sentidos aguçados, hein!

— Por favor, não tente contar piadas.

Maid-chan estava sendo severa. Ela sabia contar piadas, mas Sorata, não...?

— Mas deve haver pessoas que façam os dois papéis, tanto do Prod. e o Dir., certo?

— Sim, existem. Mas, sinceramente, dependendo das pessoas ou da empresa, não é como se houvesse uma diferença grande entre os dois. Em alguns casos, o Dir. pode assumir a gestão enquanto o Prod. dá ordens aos desenvolvedores. Cada caso é um caso.

— Foi isso que eu pensei.

— Então também ajudará se você ler algumas entrevistas com Dir. e Prods., enquanto tenta adivinhar qual é qual, uma vez que existem alguns Prods. que tentam levar os créditos por um jogo no qual eles não participaram tanto do desenvolvimento. Espero que você tenha isso em mente a partir de agora.

— Sim

— Ótimo. As aulas da Maid-chan acabam por aqui.

— Sorata, com quem você está falando?

Rita perguntou depois de olhar para a tela no meio do bate-papo.

— Com a Maid-chan.

Sorata explicou sobre Maid-chan o mais rápido que pôde antes de ser mal interpretado por Rita. Sobre como era originalmente uma IA de resposta automática que Ryuunosuke, seu vizinho de quarto, fez, mas agora foi melhorada ainda mais para que pudesse falar em áudio.

— Quando você diz “quarto ao lado”, você está falando daquela garota esquisita que nunca sai do quarto?

— Ele é um cara! Além disso, onde você aprendeu a falar essas coisas?!

Seriam estes os efeitos dos jogos?

— O que você tá dizendo? Você não vai me enganar desse jeito.

— Até o nome dele é Ryuunosuke, um nome masculino. Ainda tem dúvidas?!

Rita ainda parecia suspeitar dele.

— Você quer ver ele no banheiro hoje à noite?

— Eu posso?

Embora ele estivesse apenas brincando, Rita parecia um pouco feliz com a ideia.

— Kanda, seu trabalho. Venha à minha porta.

Falando no diabo... Sorata saiu para o corredor como lhe foi dito. Na frente da porta ao lado de seu quarto, havia um objeto em forma de geladeira.

Ryuunosuke obviamente não estava à vista. Não fazia muito sentido, mas não é como se Ryuunosuke fizesse algo sem um motivo. Então, Sorata reuniu toda sua força e levantou a coisa parecida com uma geladeira e a levou para seu quarto.

Sentado na frente de seu PC, Sorata perguntou a Ryuunosuke.

— Não me lembro de ter pedido uma geladeira.

— Esse será nosso hardware de desenvolvimento de jogos. Deixe-o ao lado do seu PC.

Sorata fez o que lhe foi dito.

— Sorata, você está agindo de uma forma muito suspeita.

Realmente parecia, já que ele estava agindo da forma que lhe era ordenada pelo bate-papo. Sorata moveu cuidadosamente a “geladeira” e a colocou ao lado do PC.

— Por que tem que ser tão grande?!

Era muito maior do que ele imaginava. Era 10 vezes maior do que Sorata pensou que seria. Havia o logotipo do hardware impresso na lateral.

Deixando sua surpresa de lado, Sorata seguiu as instruções de Ryuunosuke na tela para configurar o sistema. Ele conectou o cabo na tomada, conectou atrás do PC, assim como a webcam e o microfone nas portas USB.

Ele fez isso em alguns minutos.

Ele ligou o hardware. Em pouco tempo, a tela de inicialização do dispositivo apareceu no monitor. Ao contrário das versões comerciais, não tinha anúncios da fabricadora nem nada desse tipo, por isso parecia ser algo bem simples.

Ele continuou a receber instruções de Ryuunosuke. Primeiro, ele teve que baixar os arquivos necessários que estavam no servidor compartilhado do Sakurasou. Então, ele teve que extrair a pasta que continha o programa chamado “Gato Galáctico Nyaboron”, que Ryuunosuke desenvolveu.

— Ele deve abrir quando você clicar no arquivo executável.

Quando ele fez o que Ryuunosuke disse, Sorata viu um monte de letras voando pela tela. Parecia que os dados estavam sendo transferidos.

Foi Rita quem notou primeiro que algo apareceu na tela.

Sorata seguiu Rita e olhou também.

Um modelo 3D de Nyaboron, que Misaki modelou, apareceu.

— Nossa, funciona mesmo!

— Ainda é muito cedo para se surpreender.

— Pera aí, cê tá ouvindo?! Você pode me ouvir?! Você me grampeou? Você colocou escuta no meu quarto?!

— É fácil adivinhar qual seria a sua reação.

— Ah, é mesmo?

— Se, quando você estiver na frente da câmera, aparecer a mensagem “Reconhecido”, então está funcionando.

Ele colocou a webcam, que estava conectada ao hardware do jogo, em cima do monitor. Depois de se afastar um pouco, uma mensagem apareceu dizendo “Digitalizando”, e após cerca de 3 segundos, a mensagem “Reconhecido” apareceu.

Mas ele não sabia o que tinha que fazer a seguir. Ele não conseguia ler as instruções de Ryuunosuke pois estava longe do PC. Então ele se afastou do monitor e digitou no teclado do PC.

— É chato ficar fazendo isso, então venha me ajudar aqui no meu quarto!

— Obviamente não.

— Não consigo ver a tela do PC com as instruções, é longe do monitor do meu quarto.

— Então peça ajuda a outra pessoa. Não tem ninguém aí com você?

— Só a Rita.

— Tá falando da aproveitadora que está sempre com um sorriso forçado no rosto?

Sentindo a estranha escolha de palavras de Ryuunosuke, Sorata olhou para Rita. Ela olhou de volta para ele e sorriu.

O sorriso parecia autêntico e natural para ele.

— Não me parece forçado.

— Seus olhos são de enfeite? Você não sabe nada sobre mulheres.

Realmente, era verdade que Sorata não sabia tanto quanto Jin quando o assunto era mulheres, mas ele não esperava ouvir isso de Ryuunosuke.

Por enquanto, ele voltou para a frente da webcam.

— Rita, você pode de ler as instruções que o Akasaka vai mandar?

Respondendo “Claro”, Rita olhou para a tela do computador.

— Ele disse “Quando você levantar as duas mãos para o alto, vai sair raios dos olhos dele”.

Sorata levantou ambas as mãos para o alto, e Nyaboron disparou raios azulados de seus olhos.

— Uau, isso é incrível!

— E agora disse “Quando você bater palmas ainda com as mãos para cima, os raios ficarão maiores”.

Então, ele começou a bater palmas com as mãos para cima.

— Nossa, tá parecendo aqueles macaquinhos de brinquedo... Eita, eu falei isso em voz alta.

— Guarde seus pensamentos apenas para si mesma!

Conforme ele batia palmas mais rápido, os raios, gradualmente, ficavam maiores. Mas, eventualmente, quando ele bateu palmas ainda mais rápido, uma nuvem de fumaça saiu do rosto de Nyaboron. Aparentemente, estava superaquecendo.

Como o reconhecimento de voz também foi adicionado, ele fez o golpe da pata de almofada quando Sorata gritou “Nyaboron!”. Quando Sorata gritou “Força!”, ele acenou para a tela.

As partes básicas da batalha já estavam programadas. Sorata mau podia esperar para que fosse tudo concluído.

Depois de admirar o programa, ele se afastou da webcam.

Rita saiu do PC, e Sorata falou tudo para Ryuunosuke.

— Está ótimo. A precisão do programa de reconhecimento também é muito boa. Não imaginei que fosse funcionar tão bem.

— Estou feliz que está tudo dando certo por enquanto.

Deixando esse comentário feliz, Ryuunosuke saiu do bate-papo.

Quando Sorata esticou os braços, ele olhou para Rita e ficou se perguntando sobre algo.

— Aliás, por que você veio ao meu quarto?

— Eu vim para falarmos sobre nosso encontro de amanhã.

— Nós realmente vamos fazer isso…?

— Você achou que era mentira? Poxa, eu tava tão animada… Agora tô triste…

Rita encolheu o queixo e olhou para Sorata com olhos de cachorrinho. Foi um golpe certeiro para o coração compassivo de Sorata.

— Ah, não é isso, não! Não é como se eu tivesse esquecido ou não quisesse ir, é só que eu me perguntei se está tudo bem eu ir em um encontro com você, Rita… ou algo assim!

— Não precisa negar isso tão desesperadamente. Eu sei o que você está querendo dizer, Sorata.

Rita sorriu como se fosse algo engraçado. Parecia que ela o tinha na palma de suas mão.

— Então, o que vamos fazer amanhã? Não pensei em nada.

— Por favor, não se preocupe com isso. Fui eu quem te convidou, então eu planejo para onde vamos.

— Ah, tudo bem.

— E eu planejei tudo muito bem, então, por favor, aguarde ansiosamente para amanhã.

Dizendo isso, Rita começou a vasculhar o quarto de Sorata. Ela verificou todas as roupas, abriu os armários sem a permissão dele e começou a vasculhar as roupas enquanto cantarolava.

— Vou avisando logo agora que, por aqui no Japão, mexer no armário de alguém sem permissão não é legal igual nos jogos de fora que você joga.

Mesmo se for em algum jogo estrangeiro, fazer isso pode ser bem perigoso...

— Se você estiver vestindo algo que não combina com nosso encontro, seria vergonhoso para nós dois.

— Para onde nós vamos?! Me diz logo agora, por favor!

— Segredinho~.

Rita colocou o dedo nos lábios e sorriu maliciosamente.

Essa, sem dúvidas, foi uma visão bem… legal.

Por fim, Rita escolheu uma camisa branca simples e uma calça jeans cinza escuro que transmitia uma sensação de calma.

— Use isso amanhã. Caso contrário, não posso garantir a sua segurança.

— Pra onde você vai me levar?!

— Por favor, experimente a roupa, só para termos a certeza.

Rita colocou a mão na cintura de Sorata e tentou tirar a calça dele.

— Para com isso! É perigoso! Vai aparecer!

— Já vi muitos em esculturas e tal, então eu já tô acostumada com isso.

— Mas eu não tô acostumado a mostrar ele para as pessoas!

Em questão de segundos, Sorata foi encurralado no canto de sua cama.

— Os homens devem aceitar melhor as coisas.

— O que é mesmo que você quer que eu aceite?!

— Só tira de uma vez!

Rita continuou puxando as calças dele para baixo de forma desorganizada. Desse jeito, quando ela puxasse, a cueca também iria sair junto.

— Ei~, não puxa assim! Vai sair! Eu acho que vai mesmo!

— Não vou falar dele para ninguém, então não se preocupe.

— Se você falar algo sobre ele para alguém, aí sim eu vou enlouquecer! Socorro!

— Sorata, posso entrar?

Infelizmente, Mashiro entrou em seu quarto.

— O que vocês estão fazendo?

— Com o que se parece?

— Parece que ela está indo para cima de você.

— É, é isso!

Por um momento, Rita soltou as calças de Sorata.

Mashiro olhou para Rita com um olhar ameaçador. Era extremamente raro ver Mashiro demonstrando qualquer tipo de emoção. Pode ser até que essa seja a primeira vez.

— O que foi, Shiina?

— O desenho de Nekosuke e Nekoko.

No caderno de esboços que Mashiro mostrou, havia os desenhos para as partes do drama. Eles foram desenhados em três direções diferentes: frente, lado e verso.

Os personagens pareciam mais jovens do que os personagens que Mashiro costumava desenhar em seu mangá shoujo. Foi incrível ver como ela era capaz de ser tão versátil em seus desenhos. O que estava desenhado nas páginas tinha potencial para ser apreciado por jovens e idosos no festival.

— O que a Misaki-senpai disse?

— Ela me abraçou e disse “Eu te amo~!”.

— Então está perfeito.

— Isso era tudo que faltava?

— Sim, acho que está tudo bem por enquanto.

Quando ele olhou de volta, seus olhos encontraram os de Rita. Pensando que Rita queria dar uma olhada também, Sorata estendeu o caderno para ela.

— Não estou interessada.

Rita respondeu friamente e desviou o olhar.

De repente, o som de um telefone vibrando os interrompeu.

— Sorata, estão te ligando.

— Ah, pode pegar para mim, por favor?

Mashiro pegou o telefone que estava na mesa. Mas, por algum motivo, ela abriu o telefone, apertou o botão de atender e o colocou no ouvido como se fosse seu.

— Alô?

Sorata nem soube como reagir a isso.

— Eu sou Mashiro Shiina… Eu moro com… o Sorata. Hum... meu mestre...

— Olha o que você tá falando pra uma pessoa que você nem conhece!

Mashiro olhou para Sorata.

— Você me disse para pegar.

— Sim, pegar para mim!

— Que língua difícil de entender.

— Você que é difícil de entender!

Ela entregou o telefone para Sorata.

— Ela me disse para passar o telefone para você.

Com uma cara de tédio, Sorata pegou o telefone.

— Alô?

— Maninho, o que tá acontecendo?!

Com o grito repentino vindo do telefone, Sorata o afastou da orelha rapidamente. Ele já até sabia quem que estava ligando. Sua irmãzinha, Yuuko.

— Você tentou estourar meu tímpano?

— Eu liguei para ver se você estava bem! Você me deve respostas por isso de agora a pouco!

— Vai demorar muito para explicar...

— Você está vivendo uma vida cheia de amor e sonhos junto com aquela garota, agora, é?! E o que ela quer dizer com “mestre”...? Se ela falou que você é o “mestre” dela... Isso não significa que vocês já fizeram aquilo?!

Atrás da voz de Yuuko, Sorata ouviu seu pai - que Sorata desejava não ser da mesma família dele - dizendo “O quê? Morando juntos?”, “Mestre?!”, “Sorata, seu garanhão! Que inveja eu tenho de você!”, “E-Espere, querida! Era brincadeira, você é a única para mim, então guarda essa faca na cozinha, por favor!”, mas ele ignorou esses comentários, já que agora não era um bom momento para isso. Se a mãe dele realmente fizesse algo com aquela faca, Sorata ficaria sabendo amanhã pelo jornal.

— Ouça com atenção, Yuuko. Não estamos morando juntos exatamente. Não estamos saindo e ela não é minha namorada.

— Mas ela disse que você era o mestre dela! Isso significa que ela é seu animal de estimação?!

— Não pense essas coisas. Eu tô falando que não é isso.

— Então vocês são do tipo que só fazem aquilo por apenas uma noite e depois fingem que não rolou nada?!

— …Yuuko, você sabe o que tá dizendo?

— Claro que sei! Eles até deram uma palestra sobre isso para as meninas. Até meu corpo já está se desenvolvendo!

— Hm, eu não sei como reagir a isso sendo seu irmão.

— Você deveria estar feliz!

— Isso me transformaria num tarado por irmãs…

— Sim, sim!

— Não concorde com isso assim!

— Droga~…

— Agir desse jeito faz você parecer ainda mais infantil, então pare com isso. Você vai para o ensino médio no próximo ano, certo? Eu tô muito preocupado com você.

— E-Ei! Então o problema é que somos irmãos de sangue? Você quer que sejamos meio-irmãos?

— Pensando assim, ser meio-irmão seria melhor do que ser ser seu irmão de sangue, mas você ainda seria minha irmãzinha.

— Não acredito que você me falou isso! Eu estou triste, vou encher o travesseiro de lágrimas a noite toda. De qualquer forma, Maninho, eu sou contra vocês dois morarem juntos!

— Não, só escuta…

Com um bipe, sua irmãzinha desligou na cara dele.

— Por que as pessoas ao meu redor não esperam eu terminar de falar…?

— Quem era?

Mashiro perguntou com uma expressão séria.

— Então você sai com mais garotas, Sorata?

— O que você está dizendo?! É a minha irmãzinha, a Yuuko. Irmã de sangue! Ela liga de vez em quando lá de Fukuoka.

— Você deve estar bem desesperado para tentar pegar até a própria irmã…

— Não, não é nada disso! Deixa eu explicar…

No entanto, Rita não quis ouvir o que Sorata tinha para dizer. Ela estava bocejando alto.

— Se você tá com sono, vá dormir! Vai ser ruim pra sua pele se perder sono!

— Você tem razão. Amanhã é o nosso tão esperado encontro.

Com um sorriso questionável, Rita saiu da sala. Com os lábios cerrados, Mashiro olhou para ela enquanto ela saía.

— Shiina, você deveria dormir também.

—…

— Shiina?

— Amanhã.

— O quê?

— Tome cuidado.

— Com o quê?!

— Para que não te roubem algo importante.

— Você realmente acha que eu ficaria parado se alguém tentasse me roubar? Não se preocupe, eu não sou tão fraco assim.

— E você também não pode roubar a dela.

— Não precisa se preocupar com isso. Eu também não sou talentoso nessa área.

Sorata se sentiu mal consigo mesmo ao dizer isso.

— Então estou feliz.

— Tudo bem. Então vá dormir, Shiina.

— Sim. Boa noite.

Mashiro se virou na porta e acenou levemente. Com a cabeça baixa timidamente, Sorata acenou para ela também.

Ela tem suas próprias coisas para se preocupar, mas parecia que Mashiro não reconhecia isso. Assim que Mashiro saiu da sala, parecia que um buraco havia se aberto no coração de Sorata. Ele poderia vê-la novamente amanhã de manhã, mas isso não seria mais possível caso Mashiro voltasse para a Inglaterra. O buraco dentro de seu coração se tornaria cada vez maior?

Sem deixar suas emoções virem à tona, ou sem ficar cara a cara com elas, Sorata estendeu a mão para o caderno de desenho sobre a mesa.

— Não é como se eu estivesse tentando criar memórias...

Após dizer isso, Sorata voltou ao trabalho.

Parte 5

No dia seguinte, era domingo, e Sorata saiu do Sakurasou com Rita, quando ela foi buscá-lo em seu quarto.

Eles pegaram um trem conhecido, juntos, na estação, e seguiram para Shinjuku. Chegando lá, eles trocaram para uma linha de metrô de cor laranja e se dirigiram para nada menos que Ginza, uma área cheia de adultos.

Assim que pisaram na plataforma, Sorata ficou nervoso e começou a ficar tenso.

As pessoas ao redor deles eram muito mais velhas e não havia nenhum estudante do ensino médio à vista. Sem se incomodar com isso, Rita se movia habilmente entre a multidão. Sorata ficou feliz por não estar vestido tão casualmente como quando vai fazer compras. Foi por isso que Rita o arrumou tanto.

No caso de Rita, ela estava usando as mesmas roupas que usava quando chegou no Sakurasou, seu único conjunto de roupas que eram realmente dela. Sob a blusa impecável, suas curvas eram bem enfatizadas e ela usava uma saia plissada de cintura alta. Sem nenhum desconforto, ela se misturava bem entre a multidão, como uma filha de uma família rica que estava fazendo compras. Vendo assim, Sorata era o mordomo que carrega as coisas que ela compra?

— Uh, Rita? Por que você não me diz para onde estamos indo agora?

Enquanto eles viravam a esquina em uma estreita viela, Sorata perguntou para Rita, que estava à frente dele.

Com seus cabelos loiros balançando deslumbrantemente, Rita se virou.

— Estamos quase chegando, então fique quieto e me siga.

Usando propositalmente um tom de fala típico de uma garota rica, Rita sorriu como se fosse engraçado.

Sorata não deixou passar despercebido o fato de que Rita estava olhando por cima dos ombros dele. Por reflexo, ele virou-se e olhou para a esquerda e para a direita.

Embora ele olhasse intensamente ao redor, Sorata não conseguia perceber ninguém.

Ele sabia que com certeza alguém os estava seguindo desde que saíram do Sakurasou. Então Sorata estava tentando identificar o perseguidor, mas não conseguiu obter evidências concretas disso.

E se, na verdade, não houvesse ninguém os seguindo?

Não, isso era impossível. Provavelmente era Jin ou Misaki que estavam seguindo eles de perto, achando divertido observar. Nanami deveria estar na aula de dublagem para suas aulas, mas já eram quase 15:00... Então havia a possibilidade dela se juntar depois de terminar.

A única pessoa restante era Mashiro, mas ele não conseguia imaginar como ela os seguiria.

— Tem alguém aí?!

— Bem, quem sabe.

Rita sorriu desviando a pergunta e começou a andar novamente. Mas de repente, ela parou como se tivesse pensado em algo, e disse:

— Já que estamos em um encontro, que tal caminharmos lado a lado? Ou devemos juntar os braços?

Sentindo-se ameaçado com uma voz calma, Sorata entrou em pânico e foi para o lado de Rita. Mas quando ele ficou ao lado dela, ela de repente segurou seu braço e o lado direito de Sorata ficou tenso imediatamente.

— P-Pode me soltar?

— Isso é só para evitar os olhares que tenho recebido de outros homens. Se eu mostrar que eu tenho um namorado, eles não devem ter pensamentos indecentes enquanto olham para mim.

Mas por causa do local onde eles estavam, não parecia que alguém iria se aproximar deles e começaria a conversar...

— Ou o Sorata me salvaria se alguém tentasse fazer algo comigo?

Olhando para cima, Rita tinha uma expressão triunfante.

Ela sabia que Sorata não seria capaz de recusar seu pedido.

Sorata usou a mão livre para cobrir o rosto. Se ele não começasse a recitar os dígitos decimais de PI, perderia o controle por causa dos seios voluptuosos e do calor de Rita.

— Parece que você não está incomodada comigo, mas realmente está tudo bem?

Ele soou bobo e sua voz falhou.

Mas em comparação a ele, Rita estava bastante relaxada.

Ela só costumava tremer quando estava perto de outros homens.

— Então, Sorata. Faria qualquer coisa por mim?

— O quê?

— Eu já sei que você não tem interesse por mim, Sorata.

— I-Isso não é verdade.

— Olha, quem será que fugia de seu próprio quarto todas as noites, mesmo tendo a oportunidade de dormir comigo...?

— I-Isso… Bom…

— Normalmente, quando uma garota dorme no mesmo quarto que um cara, o cara tentaria fazer alguns atos pervertidos. Eu não soube como reagir quando te vi saindo do quarto. Será que eu não sou atraente?

— B-Bem, há casos em que nós, garotos, achamos muito difícil tentar qualquer coisa se a garota for muito bonita.

— Isso é verdade?

— S-Sim!

— Então é por isso que seu coração está batendo tão forte?

— S-Sim!

Ele também estava sentindo o coração acelerar mais e mais.

— Nesse caso, vou te perdoar por não tentar nada comigo.

— Quer dizer que eu poderia mesmo ter tentado algo?

— É claro...

— O quê?!

— ...que não.

Depois de ser arrastado por Rita pelo braço, ele pôde ver um grande prédio à sua frente. Era construído de maneira elegante em todos os quatro lados e brilhava, emitindo uma atmosfera elegante. Sorata soube imediatamente que não era o lugar para onde estavam indo. No entanto, Rita parou na frente desse mesmo prédio.

— Não me diga que estamos mesmo indo para lá...

Sorata olhou para o prédio mais uma vez.

Quão alto era esse prédio? Doía o pescoço só de tentar olhar para o topo.

— Uh... Isso é…

— Um hotel.

E era um hotel luxuoso.

— Eu meio que imaginava.

O que é um hotel? É um lugar para descansar. Mas como eles estavam em um encontro, e foram para um hotel...

— Já que é nosso primeiro encontro juntos... Eu escolhi este lugar, afinal, eu não gostaria de ser interrompida…

Rita olhou timidamente para baixo.

— Espera, espera! Como é a conversa aí?!

Rita o puxou audaciosamente.

— Você realmente quer tirar minha virgindade?!

— Vou cuidar bem de você.

— O que você está dizendo agora?! E você sequer tem alguma experiência?!

— Não tenho. É a minha primeira vez... Mas estudei bastante sobre o assunto, então não se preocupe com isso.

— De onde vem essa confiança?!

— Para de tentar voltar atrás logo em frente ao hotel. Por favor, não faça uma garota passar vergonha.

Quando Rita olhou para ele com olhos suplicantes, Sorata não conseguiu mais resistir. Toda a sua força abandonou seu corpo e ele foi arrastado pela frágil Rita.

Mas ele tentou reunir seus pensamentos.

— Isso mesmo. Vou apenas entrar. Vou apenas entrar no hotel e não fazer nada. Também não aconteceu nada no motel quando eu dormi lá com a Shiina.

Sem hesitar, Rita passou pela entrada do hotel. Um recepcionista inclinou a cabeça em cumprimento. Como esperado, os funcionários eram muito educados. Embora Sorata se sentisse desconfortável sendo cumprimentado de forma tão educada por um adulto.

Rita passou pelo saguão e foi até o elevador sozinha.

— Você não vai fazer o check-in ou algo assim?

— Eu já liguei antecipadamente. Não há margem para erro quando eu faço as coisas.

Eles entraram no elevador. Sorata não percebeu que Rita estava olhando para o saguão enquanto entravam.

Um som agradável tocou no alto-falante quando chegaram ao segundo andar.

Assim que saíram do elevador, Rita puxou com força a mão de Sorata.

— Por aqui. Depressa.

Sorata quase tropeçou nos próprios pés, mas seguiu Rita.

— P-Por que isso tão de repente?

— Não é nada importante, então apenas me siga!

No final do corredor, havia um canto em ângulo reto e Rita parou ali, do nada.

— Ei!

Graças à sua parada tão abrupta, ele acabou colidindo com as costas de Rita. A onda de dor em seu nariz veio e os olhos de Sorata começaram a lacrimejar.

— Se você vai parar, me avise primeiro!

— Xiuu! Fale baixo.

Antes que Sorata pudesse perguntar por quê, Rita cobriu boca a boca dele com as mãos.

Ela colocou seu peso nas mãos e pressionou Sorata contra a parede.

Sorata não fazia ideia do que estava acontecendo. O coração de Rita podia ser ouvido enquanto ela se aproximava ainda mais dele. Percebendo o som, Sorata sentiu-se inquieto. O rosto bonito de Rita estava bem na frente de seus olhos. Cada vez que ela piscava, seus longos cílios o encantavam. Ele queria tocar aqueles lábios rosados que estavam ligeiramente separados.

Sem perceber, Sorata engoliu em seco. E Rita o repreendeu imediatamente. Rita continuou olhando para o corredor de onde eles vieram e fechou os olhos para se concentrar em sua audição.

Querendo saber o que estava acontecendo, Sorata olhou na mesma direção.

Ele podia ouvir passos. Havia uma, não, talvez duas pessoas. Ambos os pares de passos pareciam bastante leves.

Provavelmente eram mulheres. O som se aproximava.

Era apenas uma questão de segundos até chegarem até eles.

E exatamente como ele previu, duas pessoas apareceram no canto.

Seus olhos se encontraram.

— Ah! Vocês!

— Ehh?

— Ah…

Três pessoas se olharam surpresas.

As pessoas que apareceram eram Mashiro e Nanami.

— Vocês...

Mesmo quando foram descobertos, Nanami tentou se virar e voltar.

— Volta aqui!

— N-Não é o que você está pensando.

— Então o que é?

Sob o olhar exigente de Sorata, Nanami, que estava usando óculos e um chapéu, desviou o olhar.

— É apenas uma coincidência, Sorata.

Mashiro falou sem nenhuma mudança em sua expressão.

— Como isso pode ser uma coincidência?! Ao menos pensem em uma desculpa melhor!

— Idiota.

— O que vocês estão fazendo aqui?

—…

— Shiina?

— Idiota.

— Como eu disse, o que vocês estão fazendo aqui?! De qualquer forma, cadê os outros dois?!

Sorata deu uma olhada ao redor, mas Jin e Misaki não estavam em nenhum lugar. Eles deviam estar por perto...

Nanami permaneceu completamente em silêncio e Mashiro continuava com seu rosto inexpressivo.

— Por que vocês apenas não confessam de uma vez?

— Calma, vamos deixar isso pra lá.

Rita se intrometeu entre Sorata e Mashiro.

— Se foi apenas uma coincidência, então por que não vamos juntos?

— N-Não, tá tudo bem!

Nanami simplesmente não queria passar por mais vergonha.

— E o que você quer dizer com “juntos”? O que você está planejando, Rita?

Eles estavam em um hotel. Um menino e três meninas. Os quatro em um hotel.

— Isso é o que você queria, não é, Sorata?

— Ei, não tem como!

— O-O que você está pensando, Kanda?!

— Então, por que nós quatro não aproveitamos?

— Afinal, para onde nós vamos?

— Vamos para a Exposição de Arte Moderna que está sendo realizada naquele salão ali, é claro.

Com as palavras de Rita, Sorata e Nanami congelaram em seus lugares.

— O que vocês acharam que iríamos fazer?

Dizendo isso com um tom óbvio, Rita liderou o caminho e foi em direção ao salão. Após pagar uma taxa de entrada de estudantes do ensino médio no valor de 1600 ienes, Sorata, Mashiro, Rita e Nanami foram para a Exposição de Arte Moderna.

A razão pela qual os pés de Sorata afundavam no chão era por causa do tapete de alta qualidade. Ele não conseguia andar com estabilidade. Embora ele não precisasse tirar os sapatos, ele sentiu que deveria tirá-los por causa da cultura japonesa. Ou talvez ele estivesse apenas sendo bobo. Provavelmente era um pouco dos dois.

Rita caminhava na frente dos outros três e liderava o caminho. O grande salão estava dividido em colunas para as pessoas passarem, e pinturas em molduras sofisticadas estavam penduradas em cada uma das seções divisórias.

O teto era alto e, sempre que Sorata dava um passo, seus passos não podiam mais ser ouvidos. Devido ao silêncio que normalmente se encontra em bibliotecas e à atmosfera harmoniosa, ele estava se sentindo nervoso.

Todos que estavam presentes naquele salão eram adultos, como homens idosos de barbas longas, senhoras em trajes tradicionais e homens de terno. Devido ao local em que estavam, todos os visitantes da exposição pareciam sábios e financeiramente bem-sucedidos.

Os passos daquelas pessoas eram tão tranquilos quanto correntes de água e pareciam não ser afetados pelo fluxo do tempo. Sorata e o resto do grupo tiveram que conter sua vontade de ultrapassar as pessoas à sua frente e tiveram que andar o mais devagar possível.

Ele queria sair dali o mais rápido que conseguisse. Enquanto pensava nisso, a fila começou a diminuir e eles chegaram ao lado mais amplo do salão. Havia pessoas espalhadas pelo local, admirando as pinturas nas paredes.

À medida que entravam em uma área maior, Sorata sentia-se ainda pior. Não havia lugar para se esconder. Os olhares das outras pessoas o deixava desconfortável. Ele só queria ir embora rapidamente.

Enquanto isso, Rita parecia confiante como sempre. Com as mãos para trás, ela observava as pinturas de perto e de longe. Era óbvio que ela estava acostumada a lugares como esse, pois já havia estudado artes antes. Mas Sorata nem mesmo sabia o que se deveria admirar.

— Estou ficando um pouco nervosa.

Quem sussurrou isso em seu ouvido foi Nanami.

— Isso é incrível, Aoyama. Eu também estou.

— Pois é.

Nanami se encolheu por causa do nervosismo. Os dois, não acostumados a estar em lugares como este, se juntaram e se apoiaram.

Mashiro estava olhando ao redor quando parou para observar uma pintura de perto. Rita olhava para a mesma pintura. Ela não desviou os olhos da pintura nem por um segundo.

Então, Sorata ficou ao lado delas e também olhou para a pintura. E assim fez Nanami.

Para ser honesto, Sorata não sabia por que Mashiro parou para olhar aquela pintura em específico. Ela mostrava uma rua coberta de neve. A ambientação parecia ser em algum lugar da Europa. Era uma obra incrível. Era ótima, mas não havia mais nada que viesse à mente. Isso realmente mostrava o quanto ele sabia sobre obras de arte.

Nanami parecia concordar com ele e fez um sorriso amargo.

— Sorata e Nanami, há uma pintura que eu quero mostrar para vocês. Venham por aqui.

Rita sussurrou para Sorata e Nanami, e eles a seguiram.

Mashiro não saiu da frente da pintura. Seguindo Rita, ela levou Sorata e Nanami para o centro do salão. Era o lugar onde a peça central desta exposição estava.

Havia uma pintura enorme lá. Era uma pintura de uma praia. Era um pouco diferente das praias na vida real e a pintura parecia estar viva.

No começo, parecia apenas mais uma grande pintura.

Mas depois de olhar por um pouco mais de tempo, ele conseguia sentir o cheiro do mar. O som das ondas chegava aos seus ouvidos e ele podia sentir a água da praia com todo o seu corpo.

Lentamente, todos os sentidos deixaram seus dedos dos pés, como se seu corpo estivesse sendo paralisado e engolido pelo oceano.

Após ser engolido pela água, o que o esperava era um abraço suave. As ondas gentis percorriam todo o seu corpo e eventualmente penetravam em sua pele. Como se estivesse tocando seus nervos diretamente, um choque elétrico se espalhava por todo o seu corpo e ele tremia de prazer. Ele podia quase sentir seus poros se abrindo, mas, ele não estava suando.

Piscando continuamente sem querer, ele notou o nome do autor da pintura.

Quando ele viu o nome pela primeira vez, ele não entendeu.

Isso porque era um nome com o qual ele estava bastante familiarizado.

~ Mashiro Shiina.

— Isso é da Mashiro…

Em um olhar surpreso, Nanami olhou fixamente para a pintura.

— Esta é a última pintura que a Mashiro fez... Antes de vir para o Japão.

A voz de Rita e a voz de Nanami pareciam tão distantes para Sorata.

Toda a sua atenção estava focada exclusivamente na pintura de Mashiro. Era verdadeiramente espetacular.

Sorata era alheio quando se tratava de apreciar peças de arte e habilidades artísticas.

No entanto, a pintura diante de seus olhos estava gravada profundamente em seu coração.

Ele já havia visto as pinturas de Mashiro na internet e também ficou impressionado naquela época. Havia algo nas pinturas que o atraía. O sentimento dentro do coração de Sorata era ainda maior do que antes. Seus sentimentos estavam tentando se libertar. Estavam tentando mergulhar no mundo artístico.

— Impossível.

Suas palavras honestas descreviam seu sentimento de forma bastante precisa.

De repente, Rita puxou seu braço para permitir que a pessoa atrás dele tivesse uma visão melhor. No entanto, ele não conseguia controlar seu próprio corpo.

— Essas são todas da Mashiro?

Sorata despertou de seu estado meio atordoado graças à voz de Nanami.

De repente, ele estava diante de uma vitrine.

— Ah, entendi. É por isso que a Rita me trouxe aqui.

Dentro da vitrine, haviam vários artigos de jornais e revistas estrangeiras.

Nas páginas expostas, havia fotos de Mashiro, ainda jovem. Naquela foto, Mashiro e o ex-primeiro-ministro da Inglaterra estavam juntos. Havia também uma foto de Mashiro ao lado de um famoso diretor de Hollywood. Havia outras fotos dela ao lado de jogadores de futebol, atores e outras celebridades, sorrindo ao lado dela.

Sorata deu um passo para trás da vitrine de vidro e olhou novamente para a pintura de Mashiro. A maioria das pessoas ali não passava pela pintura sem ao menos parar para admirá-la. Era como ver borboletas voando em direção a uma flor perfumada. Era interessante de se ver. Uma senhora idosa estava olhando para a pintura de Mashiro. Ela nem mesmo piscava. Sorata podia perceber que a mente dela estava cativada pela pintura. Afinal, ele havia sentido a mesma coisa pouco antes. Lágrimas se formaram nos cantos de seus olhos. Ela nem sequer tentou limpá-las. Provavelmente nem percebeu que estava emocionada.

Era um sentimento que Sorata não reconhecia profundamente em seu coração. Então, ele ainda não sabia como descrevê-lo. Tudo o que ele conseguia pensar agora era na palavra que Rita mencionou antes…

— Então é isso que significa ser “avassalador”.

— Agora você consegue entender um pouco mais sobre ela? Sobre a Mashiro.

Os olhos de Rita estavam fixos em Mashiro, que estava olhando para uma pintura na parede. Sorata podia sentir que Rita estava com o coração pesado.

— Se tudo isso é apenas “um pouco mais”, então acho que não consigo lidar com a verdade completa…

Sorata estava sendo sincero.

Nanami mordeu os lábios.

— Eu realmente acredito que a Mashiro vai brilhar no mundo artístico. Então, por que vocês dois não cooperam comigo para persuadi-la a voltar para a Inglaterra?

— Mas por que você ensinou a Mashiro a usar um computador?

Em vez de responder Rita, Sorata fez uma pergunta. Talvez ele apenas quisesse mudar de assunto.

— Você sabia que ela queria aprender para poder desenhar mangá, certo?

— Vou responder a isso com uma pergunta minha. Se fosse você no meu lugar, você teria a determinação de não ensiná-la?

Rita encarou diretamente os olhos de Sorata.

— Eu... teria ensinado.

Sorata conseguiu falar a resposta.

— Você faria isso porque quer que ela dê o melhor de si para se tornar uma mangaká? Ou porque cederia aos pedidos dela? Ou talvez seja porque você apenas queria ensiná-la?

Com a voz surpreendentemente calma de Rita, Sorata não conseguiu rir da situação. A pergunta desafiou seus pensamentos mais profundos.

— Porque eu não acho que conseguiria lidar com isso.

*Suspiro*

Um leve nervosismo se misturou ao suspiro de Rita.

Nanami olhou para baixo em silêncio.

— Porque, se tem alguém como eu, que está apenas atrapalhando alguém como a Shiina…

Mantendo seu coração dolorido sob controle, Sorata tentou falar sem deixar sua voz falhar.

— Apenas metade disso está certo.

— Por que? Por que você está tentando levá-la de volta agora? Não é melhor para você, Rita, agora que ela é uma mangaká de verdade?

— É por isso que você está apenas meio certo. Você não conhece a razão completa. Mas é melhor para você que continue assim. Então, por favor, me ajude. Me ajude a levar a Mashiro de volta para a Inglaterra.

— Como se isso fosse possível. A Mashiro não quer ir.

Foi Nanami quem respondeu primeiro.

— Mas não seria melhor para você se a Mashiro voltasse para a Inglaterra?

— O que você quer dizer com isso?

— Eu realmente posso dizer?

Rita olhou de relance para Sorata.

—…

O olhar de Nanami para Rita ficou mais afiado.

— Espero que você entenda.

— Não brinque comigo... Eu não penso isso de jeito nenhum.

— Então, como você se sente? Sobre a pintura que você viu aqui hoje.

— Isso... É algo que a Mashiro deveria decidir.

— Você não está respondendo à pergunta. Além disso, parece que você percebeu seus pensamentos enquanto estava falando.

— Estou dizendo, eu não percebi nada.

Nanami virou as costas para Rita e correu em direção a Mashiro.

— Que pena. Fui rejeitada. Seria bom se o Sorata cooperasse comigo.

— Por que você precisa dizer isso para mim?

Ele sabia que persuadir Mashiro era impossível. Ele não teria coragem para fazer isso.

— Acho que a Mashiro ouviria suas palavras, Sorata.

— Então é isso…

Os pensamentos caóticos de Sorata se uniram para formar uma única palavra. De forma estranha, Sorata começou a se sentir em paz. Parecia que ele estava se enxergando de forma objetiva.

— A Shiina precisa voltar ao mundo artístico.

Essa foi a conclusão a que Sorata chegou.



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