A Garota Pet do Sakurasou Japonesa

Tradução: NiquelDBM

Revisão: NiquelDBM


Volume 3

Capítulo 4: O quão longe é esse lugar que você está?

Já passava da meia-noite quando Sorata foi até o banheiro.

"— Ele vem te buscar amanhã."

Ele lavou o rosto enquanto entrava na banheira. Ele fez isso de novo e de novo... não que isso fosse lavar o passado. Não que isso fosse mudar a realidade de agora para um sonho feliz.

Ele olhou sem esperanças para o teto. Gotas de água caíram de sua testa.

Ele gostou da sensação das gotas em seu rosto.

Enquanto permanecia assim por um tempo, ele ouviu a porta do banheiro se abrindo.

Como ele havia colocado a placa "Homens usando", era provável que fosse Jin abrindo a porta.

— Sorata.

No entanto, a voz que ele ouviu pertencia a uma menina. Por um momento, ele confundiu a voz com a de Mashiro, mas não era. Era a voz de Rita

— O-O que foi?

— Podemos conversar um pouco?

— Se você não se importar em eu estar pelado aqui do outro lado.

— Posso abrir a porta? [NT]

— Não, não pode.

— Então, por favor, me escute.

Rita parecia um pouco triste. Sorata pensou que ela poderia estar passando por algo.

— Tudo bem.

Rita sentou na frente da porta semitransparente que dava para a banheira que Sorata estava. Ela estava de costas para ele.

— Há muito tempo atrás, havia uma garota que era muito talentosa com pinturas.

Sem se mexer, Sorata começou a ouvir o que ela estava falando.

— As pinturas daquela menina eram tão boas que impactavam e emocionavam qualquer um que as visse.

Já era óbvio sobre quem ela estava falando.

— Todos os dias, centenas de pessoas cercavam a menina para ver suas pinturas.

Ela estava falando sobre Mashiro.

— Alguns a chamavam de gênio. Outros diziam que ela tinha grandes talentos. Alguns diziam que a menina foi abençoada pelos deuses da arte. Onde quer que ela fosse, as pessoas a elogiavam.

Sorata fechou os olhos e tentou imaginar a garota naquela história.

— Mas aquela garota não estava nada feliz.

Ele estava imaginando Mashiro com seu rosto sem expressões de sempre.

— Nenhum elogio tocava o coração dela.

Então, o que poderia tocar o coração de Mashiro?

— Um dia, a pedido de sua amiga, ela foi à Galeria de Arte ver sua própria pintura. Naquele dia, havia muitas pessoas na galeria, como de costume, pois todos iam lá para ver as pinturas da garota. A garota se afastou de sua pintura e observou as pessoas à distância. Ela fez isso apenas por capricho.

Que rumo essa história estava tomando?

— Então, ela notou um menino lá. Aquele menino não estava nem um pouco interessado em suas pinturas. Ele até disse "Esta pintura é muito estranha!" e começou a ler um livro no canto da galeria. E ele leu aquele livro intensamente... Ele ficava sério e, às vezes, soltava um sorriso enquanto lia. Pensando em que tipo de livro ele estava lendo, a garota perguntou ao menino "O que você tá lendo?". Então, o garoto sorriu brilhantemente e mostrou a ela o livro enquanto dizia "Olha só".

— ...

— O livro, na verdade, era um mangá que foi desenhado em um país que ficava um pouco longe dali. Logo depois, a menina partiu para aquele país... E é isso, fim da história.

Quando Sorata perguntou a Mashiro o por que dela ter escolhido desenhar mangá, ela respondeu que foi porque "Pintar é chato". E Sorata percebeu que Mashiro estava sendo sincera.

Uma criança nunca conseguiria entender o mundo artístico. Nem mesmo Sorata entendia.

— Eu não sei o verdadeiro motivo para a garota ter decidido ir para o outro país, mas acho que esse dia foi bem importante para ela tomar a decisão.

— ... E por que você tá me dizendo isso?

— Nem eu sei. Só deu vontade, mesmo.

— Entendo. Obrigado.

— Mas e aí, vai querer que eu te lave um pouquinho?

Rita soltou uma risada malvada.

— É o quê?!

— Só tô brincando.

Rita se levantou e a sombra dela por trás da porta sumiu. Sorata observou em silêncio. Ele olhou para o reflexo na água da banheira. Um rosto patético o encarou de volta.

Mesmo depois de voltar para seu quarto após o banho, ele não conseguia dormir.

Normalmente, Sorata brincava com os gatos até adormecer, mas não havia nenhum no quarto. Eles devem ter ido brincar nos quartos dos outros moradores. Eles têm ficado muito tempo nos quartos de Nanami e Misaki recentemente...

Sorata olhou para a luz, que ainda parecia estar brilhando, mesmo depois dele ter desligado.

Ele pensou "Por que isso ainda tá brilhando?".

Se ele não enchesse a mente com esse tipo de coisa, as palavras de Chihiro voltariam para o atormentar:

"— Ele vem te buscar amanhã."

Essa voz continuou ressoando na cabeça de Sorata.

— Ah~ Droga...

Ele colocou as mãos na cabeça.

Ele não entendia porquê estava com raiva.

Ele sabia que estava chegando a hora de dizer adeus.

Ele sabia, mas não estava pronto para isso.

— O que vai acontecer com a Shiina? O que eu devo fazer? Eu não consigo fazer nada para impedir... Então devo desistir? Desistir... mas do que estou desistindo?

A cabeça de Sorata estava uma bagunça.

Enquanto seu cérebro se bagunçava ainda mais, ele ouviu um som fraco de seu telefone vibrando. Era um mensagem.

— Sorata, você tá dormindo?

A mensagem era de Mashiro.

Com os dedos tremendo, Sorata digitou:

— Não.

Ela não respondeu na mesma hora. Deve ser porquê ela ainda não estava acostumada a enviar mensagens pelo telefone.

— Entendo.

Ele ficou esperando 2 minutos e foi essa a resposta que ele recebeu.

Ele respondeu rapidamente:

— Precisa de algo?

Ele teria que esperar muito tempo de novo? É, parece que sim. Mas isso também era bom para Sorata. Ele não queria apressar as coisas.

— Também não estou dormindo.

Como esperado, a resposta veio após 2 minutos.

— Se você estivesse dormindo e enviando mensagens ao mesmo tempo, eu ia pensar que isso aqui é um filme de terror!

As únicas pessoas que conseguiam enviar mensagens enquanto dormiam eram Ryuunosuke e Maid-chan.

— Ei, Sorata

— O que?

Demorou quase 3 minutos para ela enviar a próxima mensagem. Ela enviou quando ele menos esperava.

Rapidamente, ele abriu a mensagem. Assim que ele leu, todas as suas emoções que ele estava mantendo sob controle, explodiram.

— Eu quero te ver.

Essa foi a mensagem de Mashiro.

Todas as emoções dele explodiram.

Ele queria ver o rosto de Mashiro.

Ele queria ouvir a voz dela. Se ela permitisse, ele queria abraçá-la forte.

Ele pulou da cama. Seu bom senso lhe disse que era perigoso ir ver Mashiro agora. Mas sua mente disse o contrário.

Ele abriu a porta para sair do quarto.

— Ehh?

Sorata congelou no local assim que abriu a porta. Ele ficou lá parado, apenas piscou em silêncio.

Ele estava prestando atenção em uma única coisa.

Mashiro estava lá. Encostada na parede ao lado da porta, enquanto abraçava um travesseiro.

No corredor escuro, só era possível vê-la graças a luz do telefone que estava no rosto dela. Ela parecia uma criança perdida dos pais.

— Shiina...

Mashiro finalmente levantou a cabeça.

— Hoje, eu...

— O que?

— ...quero ficar com você até adormecer.

Sorata ficou completamente em silêncio.

Mashiro se levantou e se aproximou dele. Ela descansou a cabeça no ombro de Sorata enquanto abraçava um travesseiro contra o peito.

Como ela fez isso sem falar nada antes, Sorata pulou para trás por instinto, para tentar entender o que estava acontecendo.

Era perigoso fazer isso agora. Do jeito que ele estava, se ele tocasse pelo menos um dedo em Mashiro, ele nunca mais iria soltar ela.

Ele queria segurar a mão dela e fugir.

Mas ele não podia fazer isso. Ele não podia machucar mais ninguém. Rita já falou algo assim antes. Que, às vezes, podemos machucar as pessoas que amamos, sem nem perceber.

Ele ficou se perguntando se teria que fazer as coisas com apenas uma mão, já que ele estaria segurando a mão de Mashiro com a outra.

Mas ele não podia nem mesmo fazer isso.

— Por favor, não diga que não posso.

Mashiro olhou para ele com olhos sérios.

Ele não conseguiu negar o pedido dela. Para se aliviar do nervosismo, Sorata desviou o olhar enquanto coçava a cabeça.

— É só hoje. Se a Aoyama descobrir, ela me mata.

— Eu também estaria com problemas junto de você.

— Você ia se safar, como sempre faz.

Ele entrou no quarto enquanto dizia isso, e deu sua cama para Mashiro dormir enquanto pegava o travesseiro que estava na cama.

— E você, Sorata?

— Vou dormir no chão.

— ... Certo.

Mashiro, calmamente, colocou o travesseiro na cama.

A noite estava quieta como sempre.

Deitado no chão, Sorata silenciosamente olhou para o teto em vez de fechar os olhos.

Ele não conseguia ver Mashiro de onde estava. No entanto, parecia que seus pensamentos estavam ligados. Ele pensou isso pois Mashiro foi quem falou com ele primeiro.

— Sorata.

— O que foi?

— Eu te machuquei também, Sorata?

Ele não ficou surpreso com a pergunta. Afinal, muitas coisas aconteceram hoje. Mas não era como se ele pudesse falar algo para acalmar Mashiro.

— ... Eu...

Ele não conseguiu dizer nada.

— Por favor, não minta.

Sorata concordou que não mentiria.

Quando ele estava prestes a falar o que achava, Mashiro falou:

— Eu quero saber o que você acha, Sorata.

— ...

— Eu devo voltar para a Inglaterra?

Ele prometeu a ela que não mentiria.

— Se fosse eu... iria.

O quarto ficou em silêncio total.

Após o silêncio desconfortável, Mashiro perguntou:

— Por que?

— A Rita disse isso uma vez, né? Que você, Shiina, tem potencial para fazer algo que ficará marcado na história da humanidade.

— Sim.

— Eu vi sua pintura na Galeria de Artes aquele dia. Não sei ao certo, pois não entendo muito sobre arte, mas a sua pintura me fez sentir algo que eu nunca senti antes. Foi a primeira vez que eu senti algo assim.

Ele não conseguia expressar isso em palavras. Mas ele podia sentir em seu corpo. Cada célula de seu corpo reagiu à pintura de Mashiro. Foi assim que ele se sentiu naquela hora.

— Entendi.

— Se eu tivesse esse talento que você tem, eu teria escolhido esse caminho. Não é o que qualquer um faria, afinal? Seu trabalho continuará lá centenas de anos mesmo depois de você morrer. Eu acho isso incrível. Você também não acha? Tenho certeza que todo mundo pensa assim.

— Eu não sei.

— ...

Era por isso que todos elogiavam Mashiro por ela ser um gênio. Era por isso que as outras pessoas admiravam Mashiro. Era por isso que Mashiro sofria com a enorme diferença que existia entre ela e as outras pessoas.

— Eu não sei o que vai acontecer daqui a centenas de anos.

— Bem, isso é verdade.

— É difícil ser normal.

— Shiina...

— Todo mundo diz que eu não sou normal...

— ...

— É realmente muito difícil ser normal.

— Não, você não...

A voz de Sorata falhou.

— Eu quero ser normal.

— Não diga essas coisas.

— Se eu fosse normal, então eu seria capaz de entender a Rita... e você, Sorata...

— Para com isso!

— Sorata?

— Eu sou do jeito que sou hoje graças a você, Shiina. Se não fosse por você, eu teria saído do Sakurasou. Então, por favor, não diga essas coisas.

— ...

— Você deveria ir dormir agora.

— ... Certo.

Ele virou para o outro lado. Sorata obviamente não estava com sono. Mas ele ainda tentou dormir enquanto ouvia o barulho da respiração de Mashiro.

"— O que você vai fazer amanhã?"

Ele se arrependeu de não ter perguntado isso a ela.

 

Parte 2


Quando Sorata abriu os olhos no dia seguinte, Mashiro não estava mais em sua cama.

Ele verificou embaixo da mesa também, só para ter certeza, mas Mashiro não estava em lugar nenhum.

Ela deve ter voltado para seu próprio quarto enquanto Sorata estava dormindo, porque quando Sorata verificou o Quarto 202, ele encontrou Mashiro dormindo debaixo da mesa do computador, que ela usava para desenhar seu mangá.

Se questionando se tudo isso era apenas um sonho, Sorata acordou Mashiro como de costume, penteou o cabelo dela, pegou uma muda de roupa para ela, tomou café da manhã e a levou para escola enquanto Rita, que estava abraçando o gato malhado, Kodama, dizia "até mais tarde" para eles.

Misaki deve ter ido para a escola bem cedo, porque ela não estava em lugar algum quando Sorata acordou. Nanami saiu antes, dizendo que ela tinha algumas coisas para fazer no Comitê, e parecia que Jin e Chihiro saíram juntos. E ele também não viu Ryuunosuke.

Sorata estava um pouco feliz com o fato de que o Sakurasou não estava diferente, era só mais um dia comum por lá.

 

Silenciosamente, ele e Mashiro caminharam pela estrada como sempre fizeram.

Descendo a ladeira que ia ao Sakurasou, eles passaram pelo parquinho e pegaram o caminho certo na divisão perto do distrito comercial e, finalmente, chegaram à escola.

Assim como em qualquer outro dia, vários estudantes podiam ser vistos andando juntos.

Alguns alunos estavam vestindo as roupas de seus clubes e estavam treinando.

Isso era algo muito comum. Era algo que continuaria assim por muito tempo.

Sorata calçou seus sapatos nos armários assim como todos os outros alunos faziam. Os sapatos dele já estavam sujos e a parte de baixo já estava bem gasta.

— Shiina, vamos.

Observando Mashiro quando ela parou em frente aos armários, ele olhou ela se abaixar para pegar seus sapatos. Percebendo o olhar de Sorata, ela lentamente olhou para cima. E antes que Sorata pudesse falar qualquer coisa, ela cobriu a saia com as mãos.

Meio surpreso, Sorata desviou o olhar.

— Vou sair tarde hoje. Preciso fazer a apresentação para o Comitê.

Ele teria que fazer uma apresentação do "Gato Galáctico Nyaboron", para mostrar o que eles farão no Festival Cultural.

Depois de calçar os sapatos, Mashiro subiu as escadas e parou na frente de Sorata.

— Eu vou te esperar.

— C-Certo. Você vai esperar na sala, então?

— Sim.

— Tudo bem, então. Nos vemos mais tarde.

— "Força, Nyaboron".

— Deixa comigo.

Sorata e Mashiro se separaram e foram para suas respectivas salas de aula. Isso porque as salas de aula normais eram no sentido contrário às salas de aula de artes.

Sorata olhou para trás rapidamente. Mashiro estava se afastando dele. Ele silenciosamente a observou ir até que ela não dava mais para ser vista. Mashiro não percebeu o olhar de Sorata.

Isso também era algo comum. Era algo que acontecia sempre. Não foi diferente de ontem. Então talvez seja por isso que, hoje, ele sentiu como se fosse a última vez fazendo isso.

O pai de Mashiro indo ao Sakurasou hoje. O telefonema de ontem. E o que ele disse a Mashiro ontem à noite sobre como ele queria estar com ela... Parecia que tudo era apenas um sonho. Foi porque ele desejou que fosse apenas um sonho?

Ele ainda podia ver as mensagens de ontem com Mashiro quando abria o telefone, então era tudo real... A realidade estava friamente esculpida na frente dele...

— Eu realmente estou satisfeito com isso...?

Sem saber como se aliviar desse estresse, Sorata se virou e foi em direção à sua sala de aula sozinho.


Parte 3


Depois da escola, Sorata foi para a sala do conselho estudantil.

Haviam 7 estudantes sentados na frente e do lado de Sorata. Eles olhavam intensamente para Sorata.

3 pessoas estavam sentadas na frente dele, eram o presidente e os dois vice-presidentes do Comitê do Festival Cultural. Do lado esquerdo e direito, estavam o presidente do conselho estudantil da Suimei e o presidente do conselho estudantil da Universidade da Suimei.

Definitivamente era uma reunião séria. Mas, por alguma razão, ele não estava com medo. Seria mentira se ele dissesse que não estava nervoso, mas isso não era nada comparado à apresentação  que ele teve que fazer na empresa de jogos antes.

Na verdade, eram eles que pareciam estar tensos.

Ligando o notebook que Ryuunosuke emprestou a ele, Sorata o conectou ao projetor e exibiu a apresentação na tela.

— Kanda, tudo pronto?

Quem fez essa pergunta foi, obviamente, Nanami, a única membro do Sakurasou que estava lá com ele. Nanami estar lá também era um dos motivos para Sorata não estar com medo.

Verificando se estava tudo certo com o notebook, Sorata fez um sinal para Nanami.

— Ele pode começar agora?

Nanami perguntou a todos.

— Por favor, comece.

O presidente do conselho estudantil, de pele pálida, ajustava seus óculos de aro preto com o dedo.

Ao ouvir a resposta, Nanami virou para Sorata. Ao fazer isso, ela concordou com a cabeça para Sorata.

Agora estava tudo nas mãos de Sorata.

— Então, eu vou começar minha apresentação sobre o projeto do Sakurasou para o Festival Cultural: "Gato Galáctico Nyaboron".

Sorata clicou com o mouse que estava conectado no notebook e foi para o próximo slide.

De repente, a porta se abriu.

— Sorata! Me segue!

Quem abriu a porta foi Jin, e a calma de sempre dele não estava lá. Ele estava suando muito e com uma respiração pesada. Os olhos dele mostravam que ele estava nervoso com algo.

— Ei, Mitaka! O que significa isso?!

O presidente do conselho estudantil gritou com ele.

— Jin-senpai, o que foi? Eu tô...

— O pai dela chegou para buscar ela!

Ele sentiu seu coração desabando.

— Então a Mashiro vai...

Nanami falou.

O presidente do conselho estudantil se levantou enquanto batia na mesa.

— Você está dizendo que o Sakurasou não quer mais participar do Festival Cultural? É isso?

Jin e o presidente do conselho estudantil estavam falando juntos. Sorata não conseguia ouvir tudo direito.

— Se não forem levar isso a serio, não iremos permitir que participem.

Com as palavras do presidente do conselho estudantil, Sorata chegou em seu limite.

— Cala a boca! Fica quieto, droga!

Sorata gritou quase que inconscientemente.

O presidente do conselho estudantil ficou surpreso com isso. Ele aguçou ainda mais o olhar para Sorata. Todos no local estavam surpresos com o que estava acontecendo.

Percebendo o que acabou de fazer, Sorata se recompôs rapidamente.

— Não, uhh... por favor, faça silêncio.

Ninguém disse uma única palavra. Ninguém tentou se levantar e defender Sorata. Até o presidente do Conselho Estudantil, que já estava de pé, se sentou novamente. Ele calmamente disse:

— É por isso que não devemos confiar no Sakurasou...

enquanto se sentava, mas Sorata não ouviu. Não, ele ouviu, mas ele simplesmente não se importou com isso.

Sorata olhou para Jin novamente.

— Ele veio durante nossa quinta aula para buscar ela e a Rita. Já até estão indo ao aeroporto.

Jin disse.

Em sua cabeça, Sorata pensou que tinha algo que não fazia sentido.

— Eu ouvi a Chihiro dizendo, então é certeza de que já estão indo.

Como se ele estivesse lendo sua mente, Jin falou isso a ele e a visão de Sorata ficou turva.

A visão dele estava completamente embaçada. A sala começou a desaparecer. Ele não estava conseguindo ver mais nada.

— Não pode ser... É mentira...

A voz dele estava fraca.

Mas fazia sentido, já que ele havia escutado Chihiro avisando que o pai de Mashiro iria buscar ela no Sakurasou. Ele apenas pensou que não iria acontecer nada, já que não aconteceu nada pela manhã.

— É mentira!

Não sendo capaz de conter a angústia crescente dentro dele, Sorata começou a correr.

Ele empurrou Jin para o lado e saiu correndo da sala do conselho estudantil.

— Ei, Kanda!

— Sorata!

Nanami e Jin chamaram por ele, mas ele não escutou. Ele correu pelo corredor o mais rápido possível. Ele estava repetindo "É mentira! É mentira!" enquanto corria.

Ele esbarrou em um professor de educação física e caiu no chão. Os joelhos dele arderam ao cair no chão, e as palmas das mãos, que ele usou para amenizar a queda, estavam quentes. Mas antes que pudesse sentir alguma dor, Sorata se levantou e começou a correr novamente.

— Ei, Kanda, espera aí!

O grito de seu professor de educação física já estava muito longe dele.

Sorata correu escada acima. Ele esbarrou em alguns alunos que estavam arrumando as apresentações de seus clubes. Eles gritaram com Sorata por ter esbarrado neles. Sorata quase derrubou uma aluna que estava carregando algumas decorações para o Festival Cultural. A garota disse para Sorata ter cuidado.

Depois de esbarrar em várias outras pessoas, Sorata finalmente chegou à sala aula de artes.

Ele bateu a porta e correu para dentro.

— Eu disse para você esperar por mim!

Ele estava gritando do fundo do coração.

Mas a sala estava vazia. Mashiro não estava mais lá.

Não parecia que ele iria se acalmar. Mordendo os lábios, Sorata começou a correr novamente. Mesmo sabendo que Mashiro não estava mais na escola, ele começou a correr em busca dela novamente.

Ele correu pelo longo corredor da escola. Suas pernas já estavam cansadas.

Ele correu ainda mais rápido nas escadas. Ele foi para as salas de aula de artes no outro prédio e abriu a porta.

A respiração dele estava pesada.

Ele pôde ver que tinha alguém dentro da sala, mesmo ele achando que não iria ter ninguém.

— Shiina!

A pessoa que estava dentro da sala era Chihiro.

— A Mashiro não tá aqui.

— E por que você não fez nada para impedir?!

— Eu não devo me meter nas coisas dela.

Chihiro estava agindo como sempre.

Sorata estava com raiva de si mesmo por não poder fazer nada sobre isso.

— Mas isso foi muito repentino!

— Pelo que parece, ela ganhou um prêmio de uma grande competição com uma pintura que fez quando ainda estava por lá. Como a cerimônia de premiação já é amanhã, não tinha o que fazer. Além disso, é uma ótima oportunidade para ela.

— Por que você não fez nada para impedir?!

Ele fez a mesma pergunta de forma fria.

Chihiro não respondeu. Ela olhou para ele enquanto dizia "Eu já te disse" com os olhos.

Era algo que a própria Mashiro decidiu. Eles não podiam tentar fazer ela mudar de escolha.

Ela tinha razão. Era exatamente como o que Chihiro disse.

E por que ele esqueceu o que disse ontem à noite com as próprias palavras?

Ele disse que, se fosse ele, voltaria. Ele disse claramente que voltaria ao mundo artístico se fosse tão talentoso quanto Mashiro.

Mashiro tinha talento para comover até Sorata, que não sabia nada sobre artes, com uma única pintura. Se ele foi tão impactado por uma única pintura... Então Sorata tinha certeza. Ele entendeu. Ele finalmente entendeu que a decisão dela foi a correta.

Alguém tão incrível assim não deveria parar.

Então, Mashiro ia fazer o que Sorata, Rita e as pessoas que gostavam das pinturas dela queriam que ela fizesse: retornar ao mundo artístico para continuar aproveitando seus talentos.

Então ele deveria estar feliz com a decisão de Mashiro. Ele deveria estar torcendo por ela.

Mas ele não estava nada feliz. Ele não estava. Como ele poderia estar feliz?

Era doloroso. Ele estava com dificuldade até para respirar.

Sem forças para se manter de pé, Sorata se ajoelhou no chão. Ele pensou que estava tudo acabado, até que começou a lembrar do telefone que estava em seu bolso. Como uma última tentativa, ele pegou o telefone. Com os dedos tremendo, ele foi até o número de Mashiro.

Quando ele ligou, começou a ficar nervoso. O telefone estava chamando. Significava que ela ainda estava em algum lugar que tenha sinal de telefone.

Enquanto o telefone chamava, ele prendeu a respiração. O que ele ia dizer quando ela atendesse?

O som de chamada parou. Alguém atendeu a ligação. O coração de Sorata estava batendo ainda mais forte, tão forte que chegava a doer.

Quando ele estava prestes a falar, ouviu uma voz.

— Kouhai-kun?

Era a voz de Misaki.

— O quê?!

Sorata se surpreendeu com a pessoa que estava na linha.

— A Mashiron esqueceu o telefone no quarto~! Então eu...

Ele perdeu toda a força que tinha no braço que segurava o telefone. Misaki continuou a falar, mas Sorata não era capaz de responder nada do jeito que sua mente estava agora. Ele perdeu todo o resto de esperança que ainda tinha.

Naquele momento, Jin e Nanami entraram na sala.

— Sorata, nós vamos atrás dela.

— Como assim...

— Vamos para o aeroporto em Narita.

— Como...

— Eu chamei a Misaki e ela vai vir pra cá com o carro.

Pensando "Ah, então foi por isso que ela atendeu o telefone da Shiina", Sorata aceitou a situação.

Mas isso era tudo. Sorata não conseguia se mover. Seu corpo não o deixava se mover.

— Eu... não posso ir.

— Kanda, para de brincadeira.

— A apresentação... eu preciso voltar lá. Se eu pedir desculpas, pode ser que ainda tenhamos alguam chance.

Ele forçou seu corpo a se mover. Enquanto tentava sair da sala com a cabeça baixa, Nanami agarrou seus ombros. As unhas dela perfuraram ele.

— Você tá falando sério?!

Nanami parecia estar com raiva.

— Claro que sim... Essa é uma oportunidade única que você nos deu...

— Isso não é o importante agora!

— Então o que é?

— A Mashiro! O que você vai fazer sobre essa situação?!

— Como assim "o que eu vou fazer"? É uma decisão que a Shiina tomou, não é algo que eu deva me meter. Ela voltar para o mundo da arte é o correto a se fazer.

Ele tentou se soltar das mãos de Nanami, mas não conseguiu. Nanami segurou seus ombros ainda mais forte.

— Você entende a situação?! Ela vai voltar para a Inglaterra!

— Eu sei.

— E porque ainda tá parado aí?! Tá dizendo que vai ficar bem mesmo que você nunca mais possa ver a Mashiro?!

O coração dele começou a bater ainda mais forte.

— E eu não tô falando sobre o que seria o melhor para a Mashiro! Eu tô perguntando sobre o que você quer fazer!

Nanami agarrou a gola da camisa dele com força. Com os olhos ameaçadores de Nanami, Sorata se enfureceu.

— Você realmente acha que eu não quero ir atrás dela?!

Ele se soltou de Nanami. Ela fez um rosto surpreso.

— Só que... a Shiina já decidiu que vai voltar!

Agora que ele começou a falar, não conseguiria mais parar.

— Ela me disse que queria ser uma mangaká, então por que... Por que ela tá indo embora?!

Ele não conseguia mais controlar seus sentimentos.

— O mangá dela até está numa revista agora!

As palavras apenas saíam de sua boca.

— Ela se esforçou tanto pra conseguir isso!

Sua raiva, frustração e tristeza se misturavam ainda mais à medida que ele falava.

— Que merda é essa?! Ela vai ir assim? Sem ao menos nos dizer nada?!

Ele estava sendo honesto.

— Ela devia ter se despedido da gente! Como ela pôde fazer isso mesmo a gente já estando juntos há meio ano? Como ela pôde abandonar tudo tão facilmente...? Como ela pôde abandonar o mangá dela e a gente?!

Sorata sabia que eles deveriam significar algo para ela, e isso o deixou ainda mais irritado.

Ele não poderia aceitar isso.

— No que ela tava pensando?! No que ela tava pensando abandonando a gente assim?!

— Se você ainda tem algo pra dizer a ela, é só ir até lá e dizer.

Chihiro disse isso e depois bocejou.

— Ela tem razão, Kanda.

Quando ele olhou para cima, viu Nanami e Jin.

— Nós moramos juntos por meio ano, não acha que devíamos, no mínimo, nos despedirmos?

Jin disse enquanto sorria.

— Se nós, que somos os membros do Sakurasou, não nos despedirmos dela, então quem vai?

De repente, ele ouviu o som de uma buzina.

Ele olhou pela janela.

Misaki estava dirigindo a van branca pelo pátio da escola.

— Ei, Kouhai-kun! Vem logo!

Misaki colocou a cabeça para fora da janela da van.

— Vamos!

Dizendo isso, Jin começou a correr. Sorata e Nanami foram logo atrás.

Eles desceram as escadas. Sorata passou de Jin quando eles chegaram no final das escadas, e depois pulou uma janela para poupar tempo.

— Kanda! Não vai trocar os sapatos?

— Vamos logo!

Trocar os sapatos seria uma perda de tempo.

Ele correu para onde a van estava. Jin e Nanami também foram juntos, eles também estavam usando os sapatos da escola.

Assim que eles viraram para o lado, viram a van de Misaki estacionada.

Eles olharam para Misaki, que estava no banco do motorista. Ela ligou a van e foi para onde eles estavam.

— Droga, Kamiigusa! É você de novo, hein!

Um professor se aproximou da van.

Ignorando o professor, Sorata abriu a porta e sentou no banco de trás. Jin estava no banco da frente e Nanami estava trás, ao lado de Sorata. Assim que ela fechou a porta, Misaki pisou fundo no acelerador.

Uma nuvem de poeira subiu pelo pátio da escola.

— Ei! Eu sei que uma hora vocês vão ter que voltar!

O professor estava tossindo por causa da poeira que subiu quando Misaki acelerou.

Olhando para o banco atrás dele, Sorata viu um grande saco de Papai Noel cheio de coisas dentro e, ao lado dele, estava Ryuunosuke. Pensando que era estranho ele estar lá, Sorata ficou em silêncio de propósito e Ryuunosuke gentilmente se explicou.

— A Kamiigusa-senpai me sequestrou enquanto eu voltava pra casa.

Com vários alunos assustados olhando, a van passou pelos portões da escola.

Ao lado de Sorata, Nanami estava ofegante.

— Aoyama.

— Sim?

— Estou bem agora.

— Certo.

— Muito obrigado.

— Você pode deixar pra me dizer isso depois que acharmos ela.

Se ele não dissesse isso agora, ele provavelmente não conseguiria mais dizer depois. Ele tinha que acreditar em si mesmo esperando que não fosse tarde demais.

— Jin-senpai, Misaki-senpai, obrigado a vocês também.

— Nós íamos atrás dela para nos despedirmos mesmo se você não viesse, Sorata.

— Eu não vou desistir da Mashiron tão facilmente~! E se a Ritan acha que pode fugir da gente assim, então ela tá muito enganada~!

Ele também pensava assim. Ouvir isso de seus amigos fez Sorata se sentir um pouco melhor. Ele queria rir de si mesmo por pensar que era o único que se sentia assim.

— Quando chegarmos em Narita, temos que ir ao primeiro terminal, no quarto andar.

Quem disse isso foi Ryuunosuke. Ele estava vendo algo no notebook.

— É lá que saem os voos para fora do país.

— Entendi. Então, primeiro terminal, no quarto andar, né?

— Mas se elas já tiverem embarcado, já era. Só poderíamos entrar junto se tivéssemos uma passagem também.

— Eu vou encontrar ela antes disso acontecer.

O carro passou pelo pedágio. Misaki acelerou ainda mais depois disso.

Todos no carro já haviam recuperado o fôlego. Então, o carro se encheu dos sentimentos de nervosismo. Sorata estava repetindo algo em seu coração, desejando que eles fossem ainda mais rápido até lá. Então, ele abriu a boca.

— Eu vou falar para ela.

Ele não estava falando isso para ninguém em específico.

— Vou dizer para ela se esforçar ainda mais.

— Sim.

Nanami concordou com ele.

— Com certeza irei falar.

— Você consegue.

Jin continuou olhando para frente.

— Dizer para ela se esforçar ainda mais e fazer pinturas ainda mais incríveis.

— Sim.

— Para que ela possa deixar o nome dela marcado na história.

— A Mashiro sem dúvidas conseguiria fazer isso.

— Aí, quando isso acontecer, vou poder me gabar para todos de que eu fui amigo dela.

Sorata sorriu ao dizer isso. Nanami, Jin e Misaki sorriram com ele. Até Ryuunosuke também sorriu. Se essa foi a decisão que Mashiro tomou, então eles iriam apoiá-la até o fim.

Ela tinha um talento que hipnotizava e comovia as pessoas, então ela deve estar feliz por estar em um lugar onde poderá usar o máximo do seu talento. Porque, em qualquer lugar do mundo, as pinturas de Mashiro poderiam inspirar e emocionar qualquer um que as visse.

Mesmo depois de anos...

O cenário na janela parecia estar passando ainda mais rápido. Eles também estavam ultrapassando vários carros de uma vez.

Como eles estavam na via principal, isso significava que os outros carros estavam a cerca de 100 km/h…

— Ei, Misaki-senpai, a gente tá indo rápido demais!

O painél da van marcava 150km/h. Um alarme de alerta começou a tocar.

— Jogue fora as suas preocupações inúteis, Kouhai-kun!

— E como eu vou fazer isso?!

— Porque ainda não chegamos nem em 180km! Seguraaaaa!

— Não acelera mais! Eu não quero morrer ou ser preso! Para!

— E você ainda se diz um "homem", Kouhai-kun?!

Misaki gritou enquanto segurava o volante com força.

— E o que isso tem a ver?!

— Um homem deve fazer algo, mesmo sabendo que irá morrer!

— É o que?! Eu vou morrer?!

Eles continuaram a ultrapassar carros que estavam a 100km/h.

A van estava balançando muito.

Sorata estava realmente com medo.

— Mitaka-senpai! Por favor, pare ela!

Nanami rapidamente pediu ajuda.

— Não tem como. Vamos orar.

— Tá falando sério?!

Depois, a van continuou a acelerar e chegou a 200km/h enquanto passava por aquela rodovia.

Ela continou a dirigir rápido mesmo depois de sair da rodovia, mas eles não causaram nenhum acidente nem foram pegos pela polícia, e conseguiram chegar em segurança ao Aeroporto de Narita.

Eles precisavam de um tempo para recuperar as forças depois disso, mas eles não tinham esse luxo.

Assim que o carro parou na frente do aeroporto, Sorata, Nanami e Jin começaram a correr.

— Eu também quero ir~!

— Misaki, estacione a van em algum lugar!

Jin parou Misaki enquanto ela tentava ir junto.

— Mas...!

— Nós vamos encontrar ela! Eu juro!

Sorata gritou isso quando entrou no aeroporto e olhou ao redor.

Ele correu para o primeiro terminal, no quarto andar.

Ele tinha que escolher entre as escadas e o elevador. Não. Decidindo que pelas escadas seria mais rápidao, Sorata passou no meio daquelas pessoas que estavam segurando suas malas.

Depois de subir as escadas com toda sua força, ele conseguia sentir seus pulmões ardendo. Suas panturrilhas e coxas estavam ainda pior. Perdendo a força, suas pernas começaram a tremer. Mas ele não parou. Ele não podia parar.

Ele tinha coisas para dizer quando encontrar Mashiro. Tinha algo que ele precisava dizer, não importava o quê. Mesmo que seus pulmões ficassem com algum problema depois, ele estaria satisfeito em poder dizer a ela o que ele queria.

Respirando pesado, ele subiu o último degrau e chegou ao quarto andar.

Era a área dos voos internacionais.

Sorata parou de se mover.

Era muito grande. Tinha muitas pessoas. O local estava cheio de estrangeiros, mal dava para ver algum japonês. Ele não seria capaz de encontrá-la assim;

Ele sentia que já era tarde demais. O corpo dele começou a suar frio.

Como se fosse um sinal de que estava tudo acabado, um anúncio de que o voo para o aeroporto de Heathrow, em Londres, iria sair.

Ele começou a suar ainda mais. Era dfícil até para respirar. Podia ser tarde demais.

Se Mashiro embarcasse, estava tudo acabado.

— Vamos nos separar. Sorata vá para a Ala Norte, eu vou para a Ala Sul. Aoyama, fique aqui e verifique se a gente não deixou passar nada.

A respiração de Jin estava visivelmente mais ofegante também. Ele estava descansando as mãos sobre os joelhos, mas ele continuava procurando mesmo assim, olhando para a direita e para a esquerda.

— Não se preocupe. Nós vamos achar ela. Afinal, eu consegui achar a Misaki uma vez no meio de todo mundo no cruzamento em Shibuya.

Jin sorriu ao dizer isso.

— Agora vá!

— Certo!

Respondendo, Sorata começou a correr em direção à Ala Norte. O peito e as pernas dele começaram a doer ainda mais quando ele fez isso, mas ele não podia se importar com isso agora.

Ele desviou dos inúmeros passageiros que estavam lá e continuou a procurar Mashiro.

Ele não conseguia encontrá-la. Havia algumas pessoas parecidas, mas não eram ela. Ela não estava em lugar nenhum.

A parte mais distante da Ala Norte ficava a poucos metros dele.

Como esperado, ela não estava lá.

Ela poderia estar na Ala Sul, então...

Mas o telefone dele não tocou nem uma vez. Isso significava que nem Jin nem Nanami encontraram Mashiro ainda. Então isso significava que já era tarde demais? Talvez ela já tenha passado pelos portões de embarque... Ela poderia estar naquele avião que anunciou a decolagem agora há pouco.

Ele não sabia mais o que podia ser feito nessa situação.

— Não, não posso desistir. Eu jamais desistiria dela.

Enquanto ele pensava isso, de repente, ele viu uma pessoa de longe. Uma pessoa conhecida.

Era uma pessoa linda. A pessoa tinha uma ótima cintura, também. Cabelos macios. E ela usava o uniforme da Suimei.

Sorata conseguiu enxergar essa pessoa claramente no meio da multidão. Era como se houvesse holofotes sobre ela.

— Shiina!

Quando ele gritou bem alto, Mashiro se virou. Ela parecia surpresa.

Ele havia visto ela pela manhã, mas parecia ainda mais feliz vendo ela agora.

Havia tantas coisas que ele queria dizer a ela.

Ele queria dizer que era errado voltar para a Inglaterra sem dizer nada a eles.

Ele queria perguntar sobre o que ela faria com o mangá dela agora.

Ele queria dizer a ela que muitas pessoas na escola ficariam tristes se ela desaparecesse sem dizer nada.

Ele queria dizer a ela para começar a cuidar melhor de si mesma.

Ele queria dizer a ela para não ficar tão descuidada na frente dos garotos.

E ele também queria dizer a ela para deixar de ser tão exigente com comida.

Ele queria perguntar por que ela não levou o telefone em um momento como esse.

E também que ele vai enviar um monte de baumkuchen para ela na Inglaterra.

Bom, a maior parte dessas coisas não era nada tão importante...

Mas ele estava muito grato a Mashiro. Ele estava grato do fundo do coração dele...

Graças a Mashiro que ele foi capaz de mudar. Ver Mashiro se esforçando todas as noites fazendo o mangá, o inspirou para começar a se esforçar naquilo que gosta, também. No início, ele achou chato e pensou em desistir várias vezes, mas foi apenas por causa de Mashiro que ele se sentiu inspirado em participar da competição de jogos e começar a aprender programação.

Então ele queria dizer a ela:

— Dê o seu melhor.

E, também:

— Estarei torcendo por você.

Com suas próprias palavras, com sua própria voz, enquanto olhava nos olhos de Mashiro e falando com honestidade...

Ele queria que sua despedida fosse assim.

— Sorata.

Atraído pela linda voz da garota, Sorata se aproximou de Mashiro. O rosto dela estava um pouco longe do dele. Mas os pés de Sorata não se moviam.

Eles estavam de frente um para o outro. Até que Sorata...

— ...?!

Mashiro ficou surpresa. Bom, dá pra entender o porquê.

Foi porque Sorata se aproximou dela e a abraçou.

— ... Não vá.

Ele estava sussurrando isso enquanto segurava Mashiro em seus braços.

— Não vá.

Ele estava dizendo isso sem saber o por quê.

— Não vá.

Mas Sorata não veio aqui para dizer isso.

— Por favor, não vá.

— Sorata, você está repetindo a mesma coisa.

Ele não conseguia mover o corpo. Os braços dele não queriam soltar Mashiro. Haviam tantas coisas que ele queria dizer a ela, mas sua cabeça estava completamente vazia agora.

— Por favor, fique aqui.

Sua garganta apertou. Seu nariz ficou entupido. Mashiro não conseguiria entender se ele falasse assim. Mas ele não conseguiu se acalmar.

— Fique aqui, por favor... Não vá.

Ele queria dar uma despedida feliz para ela. Ele pensou que ela iria ficar feliz se ele fizesse algo assim. Ele já havia decidido que iria fazer isso, mas seu corpo e sua mente se recusavam a fazer o que ele queria.

— Não vá...

— ...

Mashiro estava ouvindo silenciosamente.

— Por favor, continue no Sakurasou.

— ... Certo.

Mashiro respondeu suavemente.

— ...

— Eu não vou a lugar nenhum.

Ele pensou que havia escutado errado.

— ...

— Eu não vou.

Não, ele escutou perfeitamente.

— Shiina?

Ele a soltou lentamente.

Ele olhou para o rosto de Mashiro.

— Você tá falando sério?

Era como se ele estivesse sonhando. Ele nunca imaginou que Mashiro mudasse de ideia.

— Sim.

Não sendo capaz de aguentar, Sorata abraçou Mashiro novamente.

— ... Sorata, está muito apertado.

Ele não era capaz de expressar seus sentimentos em palavras. Se ele tentasse falar algo, provavelmente começaria a chorar.

— Está muito apertado.

— Desculpa. Meu corpo não se move.

Perdendo as forças, Mashiro inclinou a cabeça no ombro de Sorata.

Então ele ouviu várias pessoas batendo palmas. Olhando em volta surpreso, ele ouviu um homem branco batendo palmas com um sorriso no rosto. Mas ele não era o único.

Todos naquela sala se levantaram e aplaudiram Sorata e Mashiro de pé. Adultos, crianças, homens e mulheres. Pessoas de todas as nações batiam palmas para eles.

Os dois chamaram muita atenção. Mas ele não percebeu isso. Ele estava reparando apenas em Mashiro.

Envergonhado, Sorata soltou a garota.

Um jovem casal estrangeiro sorria um para o outro. Um casal de idosos, já de cabelos brancos, estava olhando para Sorata e Mashiro de uma forma calorosa, como se estivessem olhando para seus netos. Um empresário estava ao telefone com alguém, contando à outra pessoa na linha sobre Sorata e Mashiro, dizendo como era engraçado.

— Ah, uhmm... Sinto muito pelo incômodo.

Com o rosto completamente vermelho, Sorata se curvou para as pessoas ao seu redor em um pedido de desculpas. Ele queria se curvar para todos... era o que ele estava prestes a fazer, quando avistou um grupo de pessoas conhecidas.

— Então você não ia ligar pra gente mesmo depois de encontrar ela?

Jin, Nanami, Misaki e Ryuunosuke apareceram.

— Tô tããão feliz que você ainda tem esse sangue quente e jovem correndo nas suas veias, Kouhai-kun! Hoje vamo fazer uma festa! Vamos viver nossas jovens vidas do jeito que quisermos!

— D-Desde quando você estão aí?

— Seria melhor se você não soubesse.

Nanami parecia estar um pouco para baixo ao dizer isso.

— "Não vá"! "Tá apertado"!

Misaki abraçou Nanami enquanto dizia isso.

— Ei! Então vocês viram tudo!

— Não, só começamos a ver na parte que você correu pra abraçar ela.

Isso não ajudou em nada.

— Então foi tudo!

— Sorata.

Mashiro puxou a manga da camisa dele por trás.

— Ah, sim... Aliás, vai ficar tudo bem mesmo se você não for?

— Hm?

— Se você não for para a Inglaterra.

— Eu não ia.

— ...

— Só estou aqui para me despedir da Rita.

— É o que?!

Pego de surpresa, ele gritou. Tanto Nanami quanto Jin disseram “Heeein?!” ou "O que?!" também. Misaki fez um rosto feliz, dizendo “É mesmo?!” e até mesmo Ryuunosuke, silenciosamente, fez um som de "Hmm...".

— O que você disse?

Ele ouviu errado? Sim, ele realmente desejava ter escutado errado. Se não, ele estaria em apuros. De muitas maneiras diferentes...

— Eu não ia.

— Depois disso!

— Só estou aqui para me despedir da Rita.

Mashiro repetiu a frase com a mesma expressão vazia de sempre.

— É o que?! O que tá acontecendo?!

— É exatamente o que a Mashiro disse.

Ele ouviu uma voz vindo do lado dele. Rita se levantou do banco em que estava sentada. Há quanto tempo ela estava lá? Sorata não havia notado ela até agora.

— Calma, isso quer dize que...

Sem entender mais nada que estava acontecendo, suas pernas começaram a tremer.

— Sorata, você está bem?

— Não, é que... você sumiu de repente... e, tipo...  Teve aquela ligação ontem à noite... e a Sensei dizer que ele estava vindo te buscar...

— Sim, ela disse que ele estava vindo me buscar.

Rita disse isso como se fosse a coisa mais normal do mundo.

— E quando me disseram que você estava indo ao aeroporto...

— Eu estava vindo para me despedir da Rita.

Tudo ao redor dele escureceu. Parecia que ele estava afundando na lama.

— E aquilo de ter ganho uma competição?

— Isso também era sobre mim.

Rita falou tranquilamente.

— Sério?

— Sério.

Perdendo a força, Sorata caiu do joelhos no chão. Nanami se abaixou perto dele e sussurrou "Fala sério..."

— Sorata, você está doente?

— O que você quer dizer com isso?!

— De certa forma, dá pra chamar isso de doença. Uma doença preocupante passada pela Mashiro, talvez?

Rita parecia feliz.

— Sorata, não chegue perto de mim. Eu posso estar infectada.

— Não seja boba! Olha... todo mundo que tá aqui, o Jin-senpai, a Misaki-senpai, a Aoyama, o Akasaka e eu viemos até aqui por você! Viemos porque estávamos preocupados com você!

— Por que?

— Eu nem sei mais! Meu Deus...

Sorata não sabia muito bem que tipo de sentimento ele estava sentindo agora.

— Se você tá tão preocupado com a Mashiro, por que você não coloca uma coleira no pescoço dela?

Jin disse com um sorriso malicioso no rosto.

— Quer colocar?

E Mashiro respondeu normalmente.

— Eu não!

Parece que ele não iria conseguir se levantar por um tempo.

— Bom, se ela não vai, então tá tudo certo, né?

Jin colocou a mão no ombro de Sorata. Ele estava com um rosto cansado. Misaki abraçou Mashiro energicamente. Nanami estava fazendo beicinho e reclamando. Ryuunosuke suspirou profundamente.

Isso resumia bem como todo o grupo estava se sentindo.

— Mas o pai de Mashiro não era contra ela se tornar uma mangaká?

— Por que você não pergunta diretamente a ele?

Os olhos de Rita estavam olhando para trás de Sorata.

Reunindo suas forças, ele se levantou e virou.

Atrás dele havia um homem, vestido em um terno colorido, e que estava tomando café em um copo de papel. Ele parecia estar em algum lugar na casa dos quarenta. Ele passava a sensação de alguém bem experiente com a vida. Ele estava sério, e haviam algumas rugas na teste dele.

— Eu nunca pensei que seria tão irritante ver minha filha nos braços de outro homem.

— Ah, isso, hmm... É... Desculpa...

— E tu, quem és...?

— M-Meu nome é Sorata Kanda. Eu moro no mesmo dormitório que a Shiina.

— O Sorata é meu mestre.

— Escuta o que você tá dizendo!

— É isso mesmo?

— Amigo, não é isso...

— Quem você está chamando de seu "amigo"?

— Ah, deixa pra lá! Desculpa!

Mesmo depois de ver Sorata em pânico, o pai de Mashiro não parece ter mudado a expressão em seu rosto. Com aquele olhar afiado nele, Sorata só podia se curvar para se desculpar com o pai dela.

— A Chihiro e a Rita me contaram que a Mashiro está em dívida com todos vocês.

O pai de Mashiro olhou para os membros do Sakurasou.

— Obrigado a todos. Eu estava muito preocupado que a minha filha não fosse se encaixar na vida aqui no Japão.

— Realmente é algo a se pensar... E então, você realmente não está aqui para levar a Shiina de volta?

Sorata perguntou, mesmo hesitante.

— Parece que a Chihiro não deu a informação correta para vocês, mesmo eu explicando com clareza.

— Então você não quer que a Shiina se torne uma pintora?

— Sendo sincero, eu quero, sim.

Sorata parecia surpreso.

— Mas eu sei muito bem que ninguém gosta de algo que está sendo forçado a fazer.

Isso também significava que seria difícil impressionar as pessoas com uma pintura feita à força, já que essas emoções seriam refletidas no trabalho.

— Mas, com o talento incrível da Shiina, as pessoas não vão querer que ela volte de qualquer jeito?

— Sim, isso é verdade. As pessoas pensam assim. Não vou negar que eu sou uma dessas pessoas, aliás.

— Então por que você vai deixar ela ficar?

— Eu só pensava na Mashiro como uma pessoa que pinta quadros. Eu queria fazer minha filha alcançar os sonhos que eu não consegui alcançar.

— Os sonhos...

Como ele foi criado em uma família normal, Sorata não conseguia entender direito...

— Você vai entender isso um dia. Eu sinto como se estivesse em dívida com a Mashiro, pela forma que eu a criei. Enquanto as crianças da idade dela brincavam e corriam por aí, ela estava pintando quadros. Enquanto as pessoas da idade fofocavam sobre namoro, ela estava pintando quadros.

— Mas...

— A felicidade de uma pessoa depende apenas dela mesma.

— Mas...

— Quando eu era mais novo, sonhava em ser pintor. Mas não consegui. Só que eu não acho que minha vida tenha acabado por causa disso. Eu sou feliz hoje em dia, sabe? É isso que significa estar vivo, eu acho.

— ...

Ele não tinha mais nada a dizer.

— Eu estaria mentindo se dissesse que não fiquei surpreso quando a Mashiro disse que viria para o Japão. Eu queria ir contra isso. Na verdade, ainda quero. Isso porque o talento da Mashiro é algo valioso, capaz de tocar até mesmo a alma de alguém.

O pai de Mashiro olhou calorosamente para Rita.

— Mas, também é verdade que estou aliviado.

— Ué, por que?

— Porque a Mashiro descobriu algo que ela quer fazer. Algo que eu não a tenha influenciado.

— ... Então você já sabia que ela desenhava mangá?

— É normal um pai saber o que a filha gosta de fazer, não é?

Sorata não queria pensar que chegaria o momento de ser pai um dia.

— E, quando a Rita disse que traria ela de volta, eu não consegui impedir. Eu queria que a Mashiro alcançasse aquilo que eu não consegui.

O pai de Mashiro olhou para Rita.

— Eu te devo desculpas, Rita. Eu tentei apenas te usar.

— Você não me "usou". Eu viria de qualquer forma.

— Eu confiei o papel de vilã a você.

O pai de Mashiro se curvou para Rita.

— Por favor, não faça isso. Foi... algo que eu decidi por mim mesma. Teve muitas coisas que eu entendi depois de vir para cá.

— Estou feliz.

— E eu quero continuar pintando. Não importa o que meu avô diga, e mesmo que meus pais sejam contra.

O pai de Mashiro concordou silenciosamente.

— Agora eu consigo entender o porquê do meu avô me dizer para parar. Foi porque eu sempre me escorei na Mashiro. Então eu acho que ele me disse para parar se eu não fosse começar a confiar em mim mesma. Já que esse é um caminho que tenho que trilhar sozinha.

Mashiro gentilmente segurou as mãos de Rita.

— Eu tenho uma pergunta.

Quando Sorata levantou a mão, todos ali olharam para ele.

— Quanto disso você sabia, Rita? Você já sabia que o pai da Shiina havia aceitado ela ser uma mangaká?

—Eu juro que não sabia. Sempre pensei que ele não permitiria ela ser outra coisa além de pintora... E eu escondi dele o fato de que a Mashiro estava desenhando mangá. Você não acha que ele teria descoberto muito mais cedo se eu não fizesse isso?

Dizendo isso, Rita olhou para ele com um olhar questionador, perguntando se ele conseguiria esconder, mas é exatamente como ela disse.

— Então, no final, quem contou isso a ele, fui eu?

Na verdade, o pai de Mashiro já sabia de tudo desde o começo.

— Ah, não. Parece que ele já sabia.

O pai de Mashiro concordo balançando a cabeça. Isso que significava ser um "pai"?

— Então quer dizer que esse mal-entendido inteiro foi causado por aquela professora irresponsável?

Chihiro provavelmente já sabia que ele permitiu Mashiro ser uma mangaká. No entanto, ela falou que Mashiro mentiu e estava fazendo isso escondida da família. A culpada desse mal-entendido todo era Chihiro...

Sorata realmente pensou que Mashiro iria voltar para a Inglaterra hoje...

— Vamos nos vingar dela de uma forma ainda pior.

Jin disse isso como se não fosse nada.

— A pessoa responsável por algo assim deve ser punida.

Ryuunosuke concordou.

Todos os membros do Sakurasou concordaram com a cabeça.

— Por favor, nos dê licença por um minuto...

Dizendo isso ao pai de Mashiro, Sorata pegou o telefone no bolso.

Buscando o número de Chihiro, ele segurou o telefone de uma forma que todos do grupo pudessem ver. Fazendo contato visual com todos, ele apertou o botão de chamada.

A professora rapidamente atendeu o telefone.

— Bruxa velha!

Sorata gritou no telefone primeiro.

— Você já passou da data de validade!

Jin gritou logo em seguida.

— Você merece uma chuva de ovo podre!

Nanami gritou junto.

— Conseguimos sair para ver a Ritan graças a você, Chihiro-sensei! Você é incrível, nós te amamos~!

Misaki a consolou.

— Sua vida é mesmo horrível.

E Ryuunosuke completou.

Sorata desligou a chamada. Logo depois, ele também desligou o telefone para ela não conseguir ligar de volta.

— Isso deve servir por enquanto.

O voo para Londres foi anunciado novamente.

O pai de Mashiro pegou a bagagem. Rita fez o mesmo.

— Deixo minha filha nas mãos de todos vocês, e acho que ela vai causar ainda mais problemas para vocês a partir de hoje.

Sorata se segurou para não dizer que ela já estava causando problemas até demais. Ele fez isso porque o pai de Mashiro estava com um rosto aliviado.

— Embora ela possa não ser muito conhecida aqui no Japão, o nome da Mashiro é conhecido mundialmente. Então haverão pessoas que criticarão a decisão da Mashiro. Quando se espalhar por aí a notícia de que ela virou uma mangaká, vão ter pessoas no mundo inteiro se reunindo para debater sobre isso. Quando isso acontecer, vocês todos também serão arrastados para essa bagunça.

— Não precisa se preocupar com isso.

Rita sorriu ao dizer isso.

— Isso porque o lugar que a Mashiro mora é o Sakurasou.

Um por um, os membros do Sakurasou olharam para Rita.

— Entendo... É, acho que você tem razão. Embora tenha sido apenas um mal-entendido, todos vocês vieram correndo aqui quando souberam que a Mashiro estava voltando para a Inglaterra. Por favor, continuem se dando bem com ela.

— Sim.

— Sim.

Sorata e Nanami responderam ao mesmo tempo. Misaki levantou ambas as mãos e respondeu "Mas é claro~!". Jin assentiu com a cabeça e Ryuunosuke olhou para baixo.

— E só pra deixar claro, vocês dois podem continuar sendo apenas amigos, ouviu?

O pai de Mashiro olhou para Sorata.

—Ah, sim, é claro...

Mais um anúncio de que o voo estava se preparando para sair.

— Parece que o tempo acabou. Se desenhar mangá é mesmo o que você quer, Mashiro, então se esforce e dê o seu melhor.

— Sim.

O pai e a filha se abraçaram. Depois de se abraçarem levemente, eles se afastaram rapidamente. Mashiro foi abraçar Rita.

Ela a abraçou por mais tempo.

— Rita, se cuide.

— Você também, Mashiro.

Querendo se despedir também, Misaki pulou no peito de Rita.

Rita olhou para Sorata.

— Você quer um abraço também, Sorata?

— Você acha que pode me enganar duas vezes?

Ficou bem claro que ela estava apenas brincando. Isso só mostrava o quão bem ele a conhecia. Por isso, ele já estava começando a sentir falta dela.

— É uma pena. Eu não tava brincando dessa vez.

— Dizem que os peixes que escapam são os melhores~.

Sorrindo, Rita pegou a bagagem.

— Espera, Aproveitadora.

Quem a parou foi Ryuunosuke. Todos ali pareciam surpresos.

— Infelizmente para você, não sou mais uma "aproveitadora".

— Ex-Aproveitadora, então.

— Meu nome é Rita. Você pode me chamar pelo meu nome, tá ouvindo?

— Pegue isso, Ex-Aproveitadora.

O que Ryuunosuke deu foi um pedaço de papel dobrado. Ele estava com um rosto de decepção.

— O que é isso?

Ela desdobrou o papel. Quando ela fez isso, seus olhos se arregalaram de surpresa.

— É um e-mail! Mas por que tá me dando isso?!

— Eu quero entrar em contato com você quando você for embora.

— O que?!

Sorata gritou surpreso.

— Isso significa que... você...

Rita começou a corar.

— Eu preciso de você.

— Tá falando sério?!

— Tá falando sério?!

Sorata e Nanami falaram ao mesmo tempo e Jin assobiou.

— E a resposta da Ritan para essa declaração é...~

Misaki se aproximou com ela com um microfone invisível na mão. Sem piscar para Misaki, Rita tirou um caderninho do fundo da bolsa, escreveu algo nele e depois arrancou a página. Ela entregou para Ryuunosuke.

— E o que é isso?

— Esse é o meu e-mail. Eu não passo ele para ninguém, nem mesmo quando é um cara bonitão que pede.

Olhando para Rita, que parecia orgulhosa, Ryuunosuke entregou o papel para Sorata.

— Por que você tá me entregando?

— Porque quem vai falar com ela é você. O e-mail que eu dei a ela era seu, aliás.

— Hein?

O que Ryuunosuke disse? Ele não entendeu direito o que ele quis dizer.

Rita também parecia confusa.

— Eu vou configurar um servidor para você poder enviar os desenhos que faltam para o Festival Cultural. Quando estiver tudo pronto o Sorata vai entrar em contato.

— Ah, sim...

Rita respondeu sem entusiasmo.

Embora Sorata e Nanami ainda estivessem em choque, Rita não conseguia parar de sorrir.

— Então era isso que você queria dizer quando disse que precisava de mim?

— Óbvio. Para o que mais seria?

— Como já estamos aqui, por que você não me diz o seu e-mail também, Ryuunosuke?

Rita continuou sorrindo e falando. Mas sua expressão era um pouco assustadora agora... Muito assustadora...

— Meu PC é muito bem protegido para tudo. Ataques de vírus não funcionarão contra mim. Se você tentar mesmo assim, a Maid-chan vai cuidar disso. Não pense que pode fazer algo assim comigo.

— Eu não pretendo enviar nenhum vírus pra você. Por favor, não pense em mim dessa forma.

— E pra quê mais você iria querer meu e-mail?

— Porque eu tô interessada em você, romanticamente falando.

— Tá falando sério?!

— Tá falando sério?!

Sorata e Nanami ficaram surpresos novamente, e Jin, novamente, assobiou.

— E a resposta do Dragon para essa declaração é...~

Misaki segurou o microfone invisível para Ryuunosuke agora.

— Esse tipo de emoção é desnecessária. Você pode jogar ela naquela lata de lixo bem ali.

— O que você acha que é o amor, hein?

— "Amor" não passa de um defeito nas funções elétricas do cérebro.

— Parece que eu preciso te ensinar uma lição...

Ela parece ter chegado no limite, porque Rita se aproximou de Ryuunosuke e levantou a mão.

— Isso é inútil, uma coisa assim não funcionará comigo.

Ryuunosuke sorriu.

Todos ali focaram sua visão na mão de Rita. Claro que Ryuunosuke também fez o mesmo... Foi por isso que ele não percebeu que Rita estava fazendo uma cara de quem estava planejando algo...

Então, foi por isso também que Ryuunosuke não conseguiu desviar do que Rita estava aprontando.

Enquanto levantava a mão direita para o alto, para bater em Ryuunosuke, Rita ficou na ponta dos pés e o beijou levemente na bochecha na frente de todo mundo.

Sorata abriu a boca em surpresa e Mashiro soltou um som de "Ah".

Nanami corou e Jin assobiou novamente.

— Boa! É isso aí, Ritan~!

Misaki ficou dando pulinhos enquanto dizia isso.

O pai de Mashiro suspirou, dizendo:

— Essas crianças de hoje em dia...

Rita se afastou lentamente. Mesmo ela se afastando, Ryuunosuke estava imóvel. Ele estava completamente travado.

— Ei, Akasaka! Acorda!

Sorata chamou o nome de Ryuunosuke. Ele tentou balançar Ryuunosuke, mas nada adiantava. Ele estava completamente atordoado, ainda em pé. Isso é o que acontece quando Ryuunosuke entra em contato com uma garota.

— Isso foi por ter me enganado. Você vai pensar um pouco nas suas ações agora?

Rita parecia estar satisfeita.

— Então... Eu acho que o Akasaka não vai conseguir te ouvir por um tempo...

— Que pena. Então, por favor, quando ele acordar, dê um recado a ele. Diga que "A Rita vai voltar logo".

Sorata concordou com isso por enquanto.

— Então, agora eu tenho que ir.

Rita ficou ao lado do pai de Mashiro e se despediu de todos. Os dois passaram pela alfândega e pelos portões de embarque. Ao descer pela escada rolante, Rita se virou e começou a acenar.

— Até mais, pessoal!

— Venha de novo um dia!

Sorata gritou isso para ela.

Mashiro estava acenando com a mão com toda a sua força.

Os membros do Sakurasou continuaram a olhar para Rita até que sua mão desapareceu de vista.

— Eles foram embora.

Nanami parecia um pouco triste. Sorata só pôde responder com um pequeno "Sim".

Todos ali se sentiam da mesma forma, até mesmo Mashiro ou Jin. Ninguém realmente queria que ela fosse embora.

Um buraco se abriu em seus corações, era o lugar onde Rita costumava estar. Eles estavam se emocionando com isso.

No entanto, entre eles estava uma alienígena que não conseguia ler o clima.

—Agora, Kouhai-kun, segura isso!

Misaki entregou o grande saco de Papai Noel, que estava no carro, para Sorata.

Ele olhou dentro. Tinha vários lençóis brancos e um monte de pincéis e tintas.

Estava bem pesado.

— O que é isso?

— A gente veio até aqui para ver eles, então temos que fazer uma despedida incrível! Vamos logo, não vai dar tempo se não corrermos!

Com Misaki indo na frente, todos começaram a correr por algum motivo. Mashiro e Nanami foram correndo atrás, e Jin estava levando Ryuunosuke nas costas.

— O que vamos fazer?

— Algo incrível, é óbvio~!

Misaki continuou a rir.

O avião começou a seguir para a pista de decolagem. Estava previsto para chegar no Aeroporto Heathrow às 5:30.

Sentada ao lado da janela, Rita Ainsworth estava usando o cinto de segurança conforme as instruções.

O tempo que ela ficou no Japão foi de quase um mês, mas acabou hoje. Fechando os olhos, ela começou a relembrar sobre seu tempo aqui.

Ela guardou essas memórias no fundo do seu coração.

Sakurasou era um lugar divertido. Ela nunca iria conseguir esquecer as pessoas dali.

E ela honestamente queria voltar para aquele lugar algum dia.

O avião chegou à pista. O anúncio da partida foi feito.

Os motores começaram a girar e o avião começou a tremer. À medida que o avião começou a acelerar, o cenário lá fora começou a passar também.

Mas ela percebeu uma coisa lá fora.

Estava no edifício do aeroporto. No deck de observação, haviam algumas pessoas.

Seis pessoas estavam lá acenando com as mãos.

Da direita era o mais alto: Jin. Ao lado dele estava Misaki, que estava pulando enérgicamente. No centro estavam Mashiro e Sorata. Nanami estava acenando com as duas mãos. Na esquerda também dava para ver Ryuunosuke.

Embora não desse para ver o rosto dele, Rita já imaginava que Ryuunosuke estava com um rosto mal-humorado. Mesmo assim, ela estava feliz.

Quando o avião passou pelo deck de observação, deu para ver uma longa faixa.

Quando Rita leu as palavras naquela faixa, ela chorou. Seu nariz ficou entupido.

Seus olhos se encheram de lágrimas.

"Tenha um ótimo voo, Ritan!"

Isso estava escrito na faixa.

Os membros do Sakurasou também estavam gritando alguma coisa. Obviamente, Rita não podia ouvir. Mas ela podia sentir o que eles estavam dizendo, de qualquer maneira.

O avião acelerou e voou para o céu.

Lágrimas começaram a cair dos olhos de Rita.

Ela estava chorando muito...

Mas ela nem tentou enxugar as lágrimas.

— Não podemos separar essas crianças, não é?

— Sim... Porque eles são meus preciosos amigos...

O avião voou para muito, muito longe.

 

— Queria saber se ela conseguiu ver...

Sorata olhou para o avião enquanto limpava a tinta do rosto com a manga da camisa.

Era uma faixa feita com três lençóis juntos. Provavelmente era grande o suficiente para ver...

— Talvez a Ex-Aproveitadora nem estivesse sentada na janela. Acho que ela não viu, não. Foi uma perca de tempo.

Ryuunosuke estava mais preocupado com as manchas de tinta em seu uniforme. Havia manchas de tinta vermelha e amarela na camisa branca dele.

— Não diga isso, Akasaka.

Nanami estava ficando com raiva dele. Ela nem se importou com as manchas de tinta na testa.

— Deixa. Ele até nos ajudou depois que acordou.

Jin tentou limpar a tinta da calça com a mão, mas não ia sair tão fácil. Na verdade, ele apenas piorou porque agora as mãos dele estavam com tinta.

Como se não tivesse mais nada a dizer, Jin se sentou no chão.

Olhando para todos melados de tinta, e Sorata guardando as coisas de volta no saco de Papai Noel, ele percebeu que todos pareciam bobos assim.

Com seus rostos, mãos e uniformes cobertos de tinta, todos estavam bastante coloridos.

Olhando um para o outro, eles caíram na gargalhada.

Embora eles não soubessem se Rita viu ou não a faixa, eles ficaram felizes só de ter feito. A capacidade que Misaki tem para transformar qualquer situação em uma aventura é incrível.

Falando em Misaki, ela parecia estar escrevendo mais alguma coisa em um lençol limpo que ainda tinha guardado.

— Ei, Misaki-senpai, vem ajudar a guardar as coisas.

— Olha aqui! A gente devia ter escrito isso~!

Misaki ergueu o lençol parecendo orgulhosa. Estava escrito "Vamos vencer!".

— O que a gente é, uma torcida de um time de futebol? E, por favor, não suje mais lençóis.

— É tudo do quarto do Kouhai-kun, então tá de boa!

A alienígena coberta de tinta riu alto.

— Parece que cê vai dormir enrolado no "Vamos vencer!" agora, Sorata.

— Parabéns, Kanda.

— Não façam isso comigo!

Enquanto brigavam assim, eles terminaram de guardar tudo que precisavam.

— Como já estamos aqui, por que a gente não janta fora?

Segurando o saco igual ao Papai Noel, Jin começou a andar na frente.

— Eu quero comer um pouco de okonomiyaki~.

Misaki andou atrás dele.

— Não me importo com o que vamos comer, contanto que a gente não vá para Hiroshima.

Nanami disse com clareza.

— Tudo bem, Nanamin! Nós vamos para sua cidade, então~! Partiu Osaka, galera~!

— Osaka também não pode!

Era uma viagem de oito horas de carro. A não ser que ela estivesse planejando ir de avião, já que estão no aeroporto...

Ryuunosuke silenciosamente começou a andar também.

— Shiina, vamos.

Mashiro continuou a olhar para o céu, mesmo depois que o avião decolou.

—Shiina?

— ...

— Você queria ter ido com ela?

Mashiro balançou a cabeça para negar.

— Então vamos. Se não vier logo, vai ficar sozinha aí.

Ele começou a andar atrás do grupo.

—Sorata.

Virando para trás, ele viu o belo rosto de Mashiro coberto de tinta.

— O que foi?

Quando Sorata perguntou, Mashiro colocou as duas mãos no peito. E ela abaixou a cabeça, para evitar olhar Sorata nos olhos.

— Essa parte aqui está estranha. Desde aquela hora... eu sinto algo batendo forte aqui.

— Desde quando?

Mesmo com a cabeça abaixada, Mashiro olhou um pouco para cima.

— Desde que você me disse para não ir...

— Ah! I-Isso...

— Desde que você me abraçou com força...

— Ei! Esquece isso, por favor!

Ele começou a suar. Ele não estava tentando negar os sentimentos dele, apenas estava envergonhado por Mashiro ter notado o que ele sentia.

— Por favor, esqueça isso! Eu imploro!

Sorata implorou repetidamente.

Mas a resposta de Mashiro foi direta:

— Não.

— Então você não vai esquecer, hein...

Como ele iria olhar para o rosto de Mashiro agora? Ela percebeu o que ele sentia por ela.

— Ainda posso ouvir...

Mashiro fechou os olhos como em uma oração.

— O que...?

— A sua voz no meu ouvido.

Ele não aguentava mais. Ele queria se virar e correr para algum lugar muito, muito longe.

— E o calor do seu corpo no meu...

— N-Não fale desse jeito!

Mashiro parecia estar nervosa diante de Sorata. Os olhos dela estavam tremendo um pouco.

— O que aconteceu comigo?

— C-Como assim...?

Ela deve ter ficado ainda mais nervosa, porque Mashiro apertou as duas mãos com força.

— Ei, Sorata.

— Oi?

— Isso é...

Mashiro começou a corar quando fechou os olhos. Ela não parecia estar vermelha por causa do sol que estava a se pôr.

— S-Shiina?

Ele tentou dizer mais alguma coisa, mas já era difícil só para falar o nome dela.

Mashiro olhou diretamente para Sorata.

O cérebro de Sorata parou com aquele olhar.

— ...

Sorata engoliu seco. No entanto, isso não ajudou em nada. Seu coração estava batendo ainda mais forte, mas Mashiro não iria parar.

— Isso é...

— ... Shiina...

— Será que isso é...

— ...

Ele não conseguiu dizer mais nada.

Mashiro falou, com seus lindos lábios. Porém, no momento que ela abriu a boca, um avião decolou ali perto, fazendo um enorme barulho.

Ele não conseguiu ouvir o que ela disse. A julgar pelo movimento dos lábios de Mashiro, era uma palavra de apenas duas sílabas, mas ele não conseguiu ouvir, por causa do barulho do avião.

No entanto, o corpo de Sorata começou tremer.

A palavra que Mashiro disse para ele foi...

— Amor?



Comentários