A Garota Pet do Sakurasou Japonesa

Tradução: NiquelDBM

Revisão: NiquelDBM


Volume 1

Capítulo 3: Junho é melancólico

— Não consigo dormir...

Depois de rolar em sua cama inúmeras vezes, Sorata estava com o rosto enterrado no travesseiro, por que ele estava em uma situação horrível.

Mesmo que ele ficasse assim, não iria adiantar de nada, e nada iria mudar. Ele olhou a hora no seu telefone. Eram duas horas da manhã. Faziam duas horas desde que ele se deitou e foi tentar dormir.

Sorata não teve escolha, então se levantou de má vontade e acendeu a luz.

A lâmpada fluorescente era muito brilhante. Seus olhos não conseguiam se ajustar à luz forte. Seus olhos estavam lhe dizendo para ir dormir, mas sua mente, por algum motivo, ainda estava extremamente agitada. Este sentimento que o impedia de se acalmar.

O gato marrom, Tsubasa, levantou a cabeça de forma irritada.

Ele encarou Sorata por um tempo, e fechou os olhos depois de dar um grande bocejo.

Inutilmente sentado em sua cama, Sorata fez uma posição de oração.

“— Senhor, eu te peço, por favor, que me conceda um pouco de sono”.

Mesmo depois de ter fechado os olhos por um tempo, ele não sentiu sono algum. Ele estava usando todo seu cérebro para tentar entender o porque de não conseguir dormir.

Depois de suspirar, ele esfregou os olhos. Por que ele ainda não conseguia dormir, mesmo que fosse doloroso ficar com os olhos abertos?

Durante a última semana, todas as noites foram assim.

— Como eu posso adormecer? E como eu normalmente fazia para adormecer?

Depois de pensar sobre essas coisas sem sentido, de alguma forma todos os pensamentos dele mudaram para se ele deve ou não sair do Sakurasou. Ele sabia que o problema não seria resolvido apenas pensando, e era por isso que ele queria mais ainda ir dormir. Mas esses pensamentos se repetiram várias vezes.

A resposta era óbvia.

Ele não sabia por que estava se preocupando com isso. Essas preocupações deram origem a novos questionamentos que destruíram Sorata. Ele estava perdendo suas horas de sono com isso.

— Ah, droga!

Ficar sem fazer nada fará com que ele fique preso em seus próprios pensamentos, e isso trará efeitos negativos. Então, querendo fazer alguma coisa, ele pegou todas as suas roupas e as amontoou na cama.

Ele começou a dobrá-las uma por uma com muito cuidado.

Enquanto ele estivesse dobrando, ele não precisaria pensar em nada. Mas logo acabaram as roupas dele, e sobraram apenas as de Mashiro. Ele dobrou a blusa da escola para que não ficasse amassada, e colocou as meias pretas da escola em pares. Ele pegou as roupas íntimas dela sem nem pensar antes – ele só queria dobrá-las. Mas depois de pegar a primeira, que era uma camisola de renda preta, Sorata quase desmaiou.

— É apenas uma roupa.

Ele disse isso para si mesmo, mas ao mesmo tempo, ele não conseguia resistir aos seus instintos como homem. Ele imaginou Mashiro usando ela, mas instantaneamente se sentiu culpado.

Como ele queria acabar logo com isso, o próximo adversário foi a calcinha preta que fazia conjunto com a camisola preta. Foi uma derrota total. Depois de voltar a pensar racionalmente, ele se auto-examinou.

— Se alguém olhar para mim agora, provavelmente pensará que sou um pervertido.

Ele rapidamente dobrou as pontas e enrolou a calcinha. Ele colocou as roupas íntimas entre a blusa e as toalhas para que ele não ficasse olhando elas. Mas com certeza elas vão estar espalhadas no chão do quarto de Mashiro, mesmo que Sorata ajudasse ela a limpar. Limpar o quarto dela também era o trabalho de Sorata como a pessoa que tem o dever de cuidar de Mashiro.

Se Sorata saísse do Sakurasou, Jin seria o único responsável por todas essas coisas. Mas Jin já está acostumado a tocar em roupas íntimas e tal, e não iria ficar nervoso como Sorata.

Não importa qual seja a situação, ele é capaz de sobreviver com maestria. Jin era esse tipo de cara. No entando, Sorata nem queria imaginar Jin cuidando de Mashiro.

— Sobre o que eu estou pensando...?

O que ele realmente deveria estar pensando era se deveria ou não sair do Sakurasou. Ele estava encarregado por Mashiro, mas sair do Sakurasou era problema dele, então Mashiro não deveria ter nenhum efeito em sua decisão. Mas por alguma razão, ele estava sempre pensando em Mashiro.

Quando Sorata disse que ia se mudar, Mashiro não mostrou nenhuma emoção. Mesmo se ela estivesse feliz ou chateada, ela fazia o mesmo rosto de sempre. Então ele não sabia o que ela estava pensando.

Percebendo que ele não seria capaz de manter sua sanidade enquanto ficava nesse ciclo de pensamentos, ele decidiu deixar pra lá. Se ele não ia conseguir dormir, então ele decidiu ficar acordado até de manhã. Mas, se ele ficasse mais algum tempo no quarto, ele achava que algo ruim poderia acontecer, então foi até a cozinha beber água.

Surpreendentemente, alguém já estava lá às duas da manhã. Tinha a sombra de alguém sentado na frente da geladeira comendo algo.

Era Mashiro, que estava usando um pijama. Ela estava com um rosto cansado e sonolento, mas ela tirou uma cenoura da geladeira e olhou com cuidado. Ela aparentemente não gostou muito e colocou de volta, e tirou um pepino desta vez.

Ela analisou o pepino, e depois mordeu ele.

— Você parece um coelho!

Mordendo o pepino, Mashiro se virou para Sorata com uma cara séria. Ela não ficou nem um pouco surpresa. Ela continuou dando mordidas no pepino.

— Acho que você tá com fome, não é?

Mashiro acenou com a cabeça enquanto comia o pepino.

— Eu entendo, mas pare de comer isso! Eu vou cozinhar alguma coisa para você!

Mashiro engoliu o pepino.

— Eu não sou um coelho.

— Eu sei disso!

Fazendo Mashiro se sentar à mesa da cozinha, ele olhou dentro da geladeira pra ver se tinha algo.

Agora que ele está cuidando dela, ele melhorou bastante suas habilidades culinárias. No entanto, cozinhar alguma coisa a essa hora com certeza deixaria Chihiro irritada, então ele decidiu que ela iria  ter que se contentar com um copo de ramen do armário.

Depois de ferver um pouco de água em uma panela elétrica laranja que Misaki comprou, ele derramou a água no copo.

Ele colocou na mesa onde Mashiro estava esperando. Mashiro tentou comer o ramen assim que ele encostou o copo na mesa, então ele teve que tirar rapidamente.

— Espere pelo menos uns 3 minutos!

Para a surpresa de Sorata, parecia que ela não sabia nada sobre Ramen.

Sorata se sentou ao lado de Mashiro. Os 3 minutos de espera pareceram mais longos que o normal.

Mashiro, que olhava intensamente para o copo, não disse uma palavra. Sorata também não conseguiu dizer nada.

Ficou claro o porquê de Mashiro estar acordada a essa hora. Ela estava desenhando o seu mangá como de costume, e saiu porque estava com fome. Ela fazia isso todo dia.

Após sua chegada no Sakurasou, sua rotina diária não mudou muito. Ela desenha seu mangá até quase desmaiar, é acordada por Sorata e vai para a escola. Quando volta para casa, se tranca dentro do seu quarto e volta a desenhar.

Na idade dela, é normal uma garota fofocar com as amigas sobre ter um namorado ou que terminou com o namorado idiota, fazer um penteado bonito, comprar roupas em alguma loja, ir ao karaokê, dizer que estão tristes ou que precisam fazer dieta, falar sobre alguém pelas costas... ou algo assim.

Mas Mashiro não se importa com essas coisas, ela apenas vai atrás de seu objetivo com suas próprias mãos.

Para Sorata, Mashiro estava brilhando muito. Doía muito ficar olhando para ela. Bom, se tiver uma luz muito forte na frente de alguém, com certeza os olhos dessa pessoa iriam doer também.

— Sorata.

— Hmm... O que?

— Já passaram os 3 minutos?

— Já. Você pode comer agora.

Tirando a tampa do copo de ramen, Mashiro começou a mastigar o macarrão. Desconfortável com o silêncio, Sorata tentou falar algo.

— Me diz... aquele prêmio de artista revelação que você disse antes, quando vai acontecer?

— No final de junho.

— Certo. Entendo.

— ... Ok.

Faltava cerca de um mês e meio.

— Bem, você sabe... uh, não falta muito tempo.

— ...

— Não, não que isso importe ou algo assim.

— ... É.

— E tipo, quantas pessoas participam?

— 700 ou 800 pessoas.

— Entendi.

— ... Sim.

A conversa não estava indo pra frente, e o culpado disso era o próprio Sorata.

— Não tenho nada para dizer, já que você vai embora de qualquer jeito.

Incoscientemente, Sorata ficou com medo do que ela acabou de dizer. Ela nunca disse algo dessa forma antes.

Mesmo depois de terminar de comer, ela continuou sentada. Um silêncio constrangedor caiu sobre os dois. Sorata simplesmente não conseguia olhar para o rosto de Mashiro. Se seus olhos se encontrassem, Sorata poderia soltar alguns sons estranhos. Ele queria sair da mesa imediatamente. Mas ele sentiu que sair primeiro seria como se estivesse fugindo, então ele ficou parado.

“— Se esforce.”

Ele poderia simplesmente voltar para o quarto se dissesse algo assim. Mas no entanto, ele não tem o direito de fazer isso.

Ele não pode tentar animar ninguém. Quem tinha que se esforçar era Sorata. Mashiro tinha um objetivo claro e estava correndo atrás do mesmo.

Ele já estava se esforçando, mas era muito triste e lamentável saber que, depois disso tudo, ele ainda estava vazio por dentro.

Enquanto ele estava mergulhando cada vez mais fundo em sua auto-reflexão, ele ouviu um barulho na entrada. Virando-se para ver quem era, ele viu Jin, que estava ali parado, bocejando.

Como sempre, haviam marcas de batom em suas roupas. Jin viu Sorata e Mashiro juntos e perguntou:

— O que vocês estão fazendo?

— Não, nós estamos apenas...

— O que você quer dizer com “nós estamos apenas”? Parece até que você está prestes a assinar os papeis de divórcio.

— Hmm, sério?

— Ei, eu não gosto quando você leva minhas piadas a sério.

No mesmo instante, Mashiro se levantou.

— Obrigada pela comida.

Ela saiu da cozinha deixando apenas essas palavras para trás.

Ela ainda deve ter que terminar alguma coisa do mangá. Eles estavam silenciosamente observando Mashiro retornar ao seu quarto. Quando ela estava quase fora de vista, Jin falou:

— Ei, Sorata.

— Hm?

— Se você não tiver coragem para fazer isso, eu vou ficar com a Mashiro para mim... você sabe.

— ... Ugh!

Ele não conseguia se expressar em palavras, mas seu corpo respondeu virando diretamente para Jin.

Jin estava com um sorriso no rosto. Ele gostou da reação de Sorata.

— Você está prestes a dizer “ O que você quer que eu faça?”, certo?

— O que você quer que eu faça?

— Se você não quer perdê-la, segure ela bem.

— A Shiina não é muito...

— Ela não é muito o quê?

— O que você quer dizer com isso...?

Ele pensou que era capaz de responder à pergunta, mas não tinha confiança o suficiente para isso. Se ele respondesse, seria impossível de negar depois. Ele estava incapaz de fugir. Mas isso significa que ele sabia o que o seu coração queria dizer...

— ~Huh? Jin, você está de volta. Bem-vindo~.

Quem salvou Sorata foi Misaki, que ainda parecia sonolenta.

Ela estava segurando um lápis, provavelmente estava trabalhando em alguma animação.

— Sim, estou de volta.

— ~Eu tô com sede~.

Ignorando o que estava acontecendo, Misaki foi até a geladeira, pegou uma garrafa plástica de 2 litros e começou a beber ela.

Olhando por cima, Misaki ofereceu a garrafa d’água para  Sorata.

— Kouhai-kun, também quer um pouco?

Quando Sorata estendeu a mão para pegar a garrafa, Jin pegou ela rapidamente. Ele bebeu toda a água que tinha, entregou a garrafa vazia para Misaki, e saiu ao dizer “Boa noite”.

Misaki olhou para a boca da garrafa e congelou.

— O que, o que eu devo fazer, Kouhai-kun...?

Ela sussurrou como se seu coração estivesse em outro lugar.

— Foi... Foi um beijo indireto... C-Com o Jin...

Ela não parecia estar esperando a resposta de Sorata, já que ela se levantou e começou a cambalear para seu quarto, esbarrando na geladeira, mesa e parede.

Sorata tinha acabado de ser deixado para trás pelos outros, e ele estava tão exausto que caiu da cadeira. A geladeira com a agenda dos moradores era o desafio que ele estava enfrentando. A primeira coisa que chamou sua atenção, foi o que estava escrito nessa agenda grudada na geladeira: “Encarregado da Mashiro”.

Se ele ficasse muito perto dela, ele sentia seu corpo inteiro queimar em chamas, apenas por ficar próximo da luz que Mashiro emitia. Mas ele não queria sair do Sakurasou e deixar tudo nas mãos de Jin.

— Eu queria muito resolver essa situação o mais rápido possível...

Ele ficou pensando nisso cada vez mais, até que seus pensamentos colidiram com suas emoções. Ele estava dividido.

Já passavam das 3 horas da manhã. Os ponteiros do relógio se moviam lentamente. A manhã chega para qualquer um. No entanto, para Sorata que ainda ainda não passou pela noite, a manhã chegará muito, muito mais tarde.
 

Parte 2

 

— Ei, me dê um descanso.

Era um certo dia de junho quando Chihiro chamou Sorata na sala dos professores depois da escola.

— Eu só quero te dizer uma coisa.

Chihiro que estava com as pernas e braços cruzados, ela estava com uma expressão mal humorada.

— Vai se declarar pra mim?

A piada que deveria melhorar o humor de Chihiro, não fez efeito, e acabou que Chihiro olhou para ele ainda mais irritada.

— Não é sobre a minha pesquisa de carreiras, né?

Mais uma vez, ele tentou entender a situação em que estava.

— Eu não chamei você por uma coisa tão boba.

— Não, mas acho que ainda é algo importante.

Chihiro na verdade estava preocupada com o fato de que as cores no Sakurasou estavam cinzentas e escuras, assim como o clima em junho. Mesmo se desse para ver um céu azul, as nuvens escuras logo cobriam o céu. A chuva trouxe umidade, e o ar pesado ficou sobre Chihiro o mês inteiro. Era tudo culpa de Sorata.

“ — Eu vou escapar daqui.” — Era o que ele queria fazer desde o início.

Tudo começou a partir dessa frase. Ele pensou nisso várias vezes, e, todas as vezes, isso o deixava triste. Ele sabia que seria mais fácil se decidir se pensasse sobre isso antes.

No entanto, a questão é se ele conseguiria ou não decidir isso.

Jin, por outro lado, voltou a vir para o Sakurasou toda semana, apenas para provar o que tinha dito.

Além disso, Jin trabalhou duro para encontrar novas pessoas para adotar os gatos, e o esforço foi recompensado, pois ele encontrou quatro pessoas interessadas.

Deve ser porque eles dois têm personalidades bem diferentes.

Jin perguntou se ele já havia tomado a decisão

— Ainda estou pensando nisso.

Quando Sorata respondeu, Jin deu um tapinha em suas costas e disse:

— Pense bem sobre isso, Kouhai-kun.

Graças a Jin, Sorata se livrou desse sentimento de melancolia por um tempo. Misaki continuou o tratando da mesma forma de sempre, e algumas vezes ele falava com o Ryunosuke por email.

Mas, três dias atrás, Ryunosuke avisou ele sobre algo:

— Kanda, você tem uma arma que pode mudar todo o Sakurasou. Espero que você decida rápido. Não há necessidade de responder esta mensagem. Basta mostrar os resultados.

Essa foi a mensagem repentina que ele recebeu. Ele poderia ter dito centenas de outras coisas para Sorata, mas ele respondeu de forma tão intrigante. Parecia um quebra-cabeças.

^ — Se você continuar falando essas coisas chatas, eu vou te jogar em um lugar radioativo. — De Maid-chan, que sugere que você mesmo se jogue ~ ^

Essa resposta não foi tão engraçada, né? Mas o verdadeiro problema dele era estar encarregado de Mashiro. Acordá-la de manhã, fazer o almoço, e dar um baumkuchen quando ela pede.

Essa era a rotina diária dele, que não dava para ser mudada. Mas durante a conversa de hoje, eles pareciam estranhos.

— Já é de manhã, Shiina.

— ... Manhã.

— Sim, manhã.

— ...

— ...

O mesmo silêncio constrangedor de sempre.

— O clima está muito bom hoje.

— É.

— ...

— ...

Ele se perguntou se ela queria dizer alguma coisa, mas se segurou. Por outro lado, se ela não estava sentindo nada, Sorata só ficava ainda mais confuso.

A distância entre eles, que Sorata não percebia, só ficou maior, e as cores obscuras desse sentimento cobriram o Sakurasou. Com isso, Chihiro chegou no seu limite, e chamou Sorata para a sala dos professores. Chihiro não se importava com quase nada, então isso era realmente sério. Isso foi algo nunca visto antes.

— Kanda, você tá me ouvindo?

Chihiro parecia um pouco bêbada, mas ela continou, dizendo:

— Você tá tão deprimido, que eu sinto que tô em uma família que está prestes a se divorciar.

— Cuidado com as palavras, por favor. A esposa do professor Takatsu fugiu de casa mês passado, e ele tá te olhando com uma cara feia.

— Ué, a esposa dele fugiu porque quis.

— Nossa, você é uma pessoa horrível.

— Sabe, eu realmente não me importo com os problemas dos outros, então não me envolva nessas coisas.

— Isso é algo que uma professora deve dizer dentro da sala dos professores?!

— Mas foi você quem começou falando disso.

— Não dê atenção para esses pequenos detalhes.

— Por favor, preste mais atenção aos pequenos detalhes você também!

Todos os professores e alunos na sala estavam olhando para Sorata e Chihiro. Todos na sala estavam fingindo fazer alguma coisa, enquanto olhavam para eles dois de canto. Outros estavam apenas olhando diretamente para Sorata com uma cara estranha.

Ninguém decidiu interromper eles.

— ~Yay, ele está sendo castigado! É o castigo divino por dormir na minha aula. ~

Não, ainda tinha uma pessoa para interromper. Ela estava sentada à frente de Chihiro. Era a Koharu Shiroyama, a professora de japonês, que estava amando ver a cena. Ela nem tentava disfarçar. Ela estava se divertindo ao máximo.

— Você, calada. Os alunos dormem na sua aula porque acham que você é uma irresponsável.

— Que cruel. Chihiro, você não está do meu lado?

Ela inflou as bochechas como uma criança.

Ele se perguntou se era bom ou ruim que essas duas mulheres de trinta anos estivessem agindo assim.

— Kanda.

— Oi?

— Eu vou te dar uma tarefa.

— Ué, por quê?!

— É o seu castigo por me deixar desconfortável.

— Nossa, você está novamente abusando de sua autoridade como professora.

— Sair do Sakurasou é uma escolha apenas sua, mas por favor, limpe a sua bagunça antes de ir. Não me importo com o que você vai escolher, mas eu odiaria ter que limpar a bagunça que você fez.

— Tá, tudo bem.

— Se você não fizer isso, a sua punição será se casar comigo ou com a Koharu.

— Essa seria a pior coisa da minha vida.

— Kanda, pode explicar melhor isso?

 Koharu Perguntou.

— Isso mesmo, Kanda. Como você pode ver, eu sou uma mulher muito experiente, e mesmo que não pareça, a Koharu também. Ela vai te deixar muito feliz na cama.

— Sabia que você está dizendo isso dentro da sala dos professores?!

— Tá de boa. Os professores já são adultos, tenho certeza que eles entendem uma piada.

Então, por que o professor de história se engasgou com o almoço? Também foi estranho que o professor de física tivesse se queimado com chá quente. Sorata teve a impressão de que todos os professores do sexo masculino estavam olhando para Koharu de um jeito estranho.

— Hmm, Kanda, eu tenho preferência por caras fofos. Mas já que é você, eu deixo essa passar. De qualquer forma, ninguém tem interesse em mim mesmo.

— Sensei, peça pra Shiroyama parar, por favor. Ela nem estava na nossa conversa!

— Não. Eu não me importo com isso.

Ele sabia que isso era verdade.

— Deixando isso de lado, ela não está te esperando?

Disse Chihiro.

Olhando para o lado de fora da janela, Mashiro estava em pé na porta. Ela estava segurando um guarda-chuva vermelho, que realmente não combinava com ela.

— Belê. Então, não me incomode mais.

Sorata ouviu isso enquanto saía da sala.

Ele foi para a sala de aula pegar sua mochila, e enquanto saía da escola, ele conseguia ouvir os passos de Mashiro atrás dele.

Sorata estava andando em um ritmo acelerado.

Quando eles se distanciavam um pouco, Mashiro corria atrás de Sorata para alcançá-lo. Mesmo sabendo disso, Sorata continuou acelerando. Ele queria deixar Mashiro para trás.

Ele podia sentir que Mashiro queria dizer alguma coisa. Mas ele decidiu não olhar para trás.

A culpa dentro dele só aumentava a cada passo, e antes mesmo de chegar na metade do caminho para o Sakurasou, ele desistiu de ignorá-la. Ele parou perto de um parquinho, que só tinha uma caixa de areia e alguns pneus, onde ele brincava muito quando criança.

Os passos de Mashiro também pararam.

— Você quer me dizer algo, não é?

Se ele pedisse pra ela falar, ela poderia dizer a ele para não sair do Sakurasou, porque desde aquele dia, Mashiro não falou nada sobre isso.

Sorata também não falou nada. Ele ainda mantinha a vontade de sair do Sakurasou. Como ela não respondeu, Sorata olhou para o guarda-chuva vermelho.

— Aliás, esse guarda-chuva não combina com você.

— É porque esse é da Misaki.

— E onde tá o seu?

— O meu quebrou.

— Então compre um novo.

— Eu fui proibida de fazer compras.

— Eu sei.

Quem sabe o que ela seria capaz de fazer se fosse sozinha?

— Se você for comigo, Sorata...

— Eu acho melhor não.

— ... Ok.

— Você tem algo pra me dizer, né?

Ela estava esperando Sorata perguntar isso. Depois de pensar um pouco, Mashiro disse:

— Eu já queria te dizer isso faz um tempo.

Ela olhou nos olhos de Sorata depois de dizer isso.

Ele preparou seu coração para o que estava por vir.

— Até pouco tempo atrás, eu pensava que “pau-brasil” era uma palavra sexual.

— Desculpa. Por favor, me dê mais um pouco de tempo. Eu quero tentar voltar à realidade.

Sorata virou para o lado e cruzou os braços. Foram 30 segundos de pensamentos intensos. E mais 1 minuto para ele reformular os seus pensamentos.

— Você pensou em uma piada só pra me contar?

— ...

Era praticamente impossível de Mashiro dizer uma piada, então ela deve ter dito isso honestamente. Ela não estava brincando.

Então ele ficou ainda mais confuso. Era impossível para o cérebro de Sorata compreender isso que ela falou.

— E isso lá é coisa que se diga em um momento como esse? Você não acha? Você não tem jeito, mesmo, né?!

— Então, qual o momento certo para dizer isso?

— Se possível, apenas guarde isso em seu coração e não deixe sair!

Ele já estava acostumado com essas coisas, mas o dia de hoje realmente abalou Sorata. Por outro lado, ele estava um pouco feliz que ela não perguntou sobre aquilo que ele não queria ouvir.

Quando Sorata começou a andar novamente, Mashiro o parou.

— Espere.

— O que foi?

Sorata apenas olhou para ela, e esperou ela falar.

— Saia comigo no domingo.

— ...

— Tem um lugar que eu quero ir para ter referência para cenários.

— É para a competição?

— Sim.

— Entendi... Mas não vai dar. Vou estar ocupado no domingo.

Ele realmente era bastante ocupado. Ele não tinha tempo para se preocupar com os assuntos de outras pessoas. Além disso, mesmo se ele fosse com ela, ele não seria muito útil. Ele não queria pular em um poço de espinhos por vontade própria.

— Peça ao Jin.

Ele disse isso como se quisesse dizer “Faça o que você quiser”.

— Tudo bem. Vou pedir a ele.

Mashiro começou a andar na frente. Ele queria ir embora sem falar mais nada, mas ao ver Mashiro andando, ele não conseguiu.

— Ei, Shiina.

— Oi?

— Pra onde você tá indo?

— Eu vou para o Sakurasou.

— O dormitório é pro outro lado!

— ... Eu já sabia.

— Mentirosa! Você não sabia!

— Sabia, sim.

— Você tava indo pra lá!

Sorata apontou para o lado em que ela estava indo.

— Eu não.

— Realmente não dá pra te ajudar. Acho que vou desmaiar.

— Sorata, acho que seus olhos não estão funcionando direito.

— A única coisa que não funciona direito é a sua cabeça!

Naquele dia, Sorata e Mashiro foram até o Sakurasou juntos. Eles estavam conversando naturalmente, como sempre.

 

Parte 3


Quatro dias depois, no domingo, o dia estava ótimo. Sorata, que estava tirando um cochilo pela tarde, foi rapidamente acordado quando a porta de seu quarto o atingiu. Ela foi arrancada das dobradiças pelo lado de fora.

— Que merda você tá fazendo?!

Ele se levantou e esfregou a testa, já que a porta tinha acertado ele. Ele olhou para a culpada disso tudo: A alienígena de rosto bonito.

— ~ Emergência! Emergência! Emergência! Cadê você?! ~

Para Misaki arrastar alguém para uma “emergência”, Sorata sabia que isso só podia ter um único significado. Desde que ele se mudou para o Sakurasou, esse raro evento só aconteceu outras 3 vezes.

— Agora! Se apresse e se troque, Kouhai-kun! A batalha irá começar!

Misaki já estava pronta para ir. Ela estava vestindo um top de manga comprida com uma saia.

— O Jin-senpai tá namorando com alguém?

— Ele está em um encontro! Um encontro, isso mesmo! Vamos iniciar nossa missão de espionagem agora!

— Na verdade você só vai perseguir ele.

Sorata bocejou e começou a encaixar a porta de volta nas dobradiças. Não importava o quanto ele tentasse, os parafusos não podiam mais ser utilizados.

— Vou ter que chamar um marceneiro pra vir consertar.

Enquanto ele mexia na porta, Misaki tentou tirar a camiseta e as calças de Sorata.

— Para! Você tá tirando minha cueca também! Senpai, vai aparecer, você sabe o que eu tô dizendo!

— ~ Eu não me importo com isso! ~

— Mas eu sim!

Ele conseguiu fugir para a cozinha. Mesmo estando apenas de tarde, Chihiro estava bebendo sozinha. Sobre a mesa, já havia meia dúzia de latas de cerveja vazias.

E esse número acaba de aumentar para sete latas.

— ~ Kouhai-kun, você deve estar preocupado também, não é? Não é? Não tem como você não estar! Prepare-se e vamos! Vamos! Vamos! Vamos lá. Nós vamos juntos! ~

— Kamiigusa, só alguém como eu, que já é mais velha, pode dizer algo como “Vamos! Vamos! Vamos lá!”. Quando é você quem diz, parece um pouco safado.

— Ouvir isso de alguém que bebe no meio do dia não é muito agradável.

— Tem alguma lei que me proíba de beber durante o dia?

Os olhos dela já estavam balançando. Ela deve estar de mau humor porque os moradores não estavam se reunindo muito nos últimos dias.

— Não, não tem.

Para não precisar mais falar com a bêbada que estava ali, Sorata foi até a geladeira e pegou o leite.

— Kouhai-kun, se você não vier, eu juro que vou sozinha! Eu vou, hein!

— Pode ir. Eu não me importo com quem o Jin namora.

Quando Jin saiu com uma enfermeira chamada Noriko, Sorata foi junto com Misaki para segui-los, mas... hmm, foi bem cansativo. A parte difícil não era seguir eles, ou impedir Misaki de fazer algo. A parte realmente difícil era ver o rosto triste de Misaki.

Sempre que Jin sorria para uma garota e a garota sorria para Jin, o sorriso de Misaki começava a desaparecer. Quando eles davam suas mãos, ou quando colocavam seus braços em volta da cintura um do outro, a felicidade e as ações enérgicas de Misaki desapareciam em um instante.

— Você está totalmente errado, Kouhai-kun! Se você não me ajudar, você vai acabar levando um fora!

— Eu acho que nós não estamos falando da mesma coisa.

— Ele está indo em um encontro com a Mashiro!

Ao ouvir esse nome inesperado, Sorata parou o que estava fazendo.

— Ah, beleza.

Ele bebeu um pouco de leite para se acalmar.

— Se acalma. Primeiro você precisa se acalmar.

Ele não precisava se acalmar, Mashiro apenas estava indo atrás de novas referências para cenários. Isso, ela estava apenas atrás de referências. Ela disse que estava procurando algumas para a competição, então é apenas isso. Bem, se for só isso, não importa, né?

Quando Sorata suspirou de alívio, Misaki disse mais uma coisa.

— Eles disseram que estavam indo para um motel! Ele vai roubar ela de você, e eu não tenho culpa!

Ele cuspiu todo o leite que estava em sua boca. Misaki, que estava na frente dele, foi atingida com o leite bem no rosto.

— ~ Uau, que erótico. Jogando tudo na cara dela.~

Ele conseguiu ouvir Chihiro dizendo isso do outro lado.

— Um m-motel? São aqueles motéis que as pessoas vão para fazer aquilo?!

— O que você quer dizer com “aquilo”? Eu não faço a mínima ideia do que cê tá falando!

— Nem eu!

— Vocês não tão se preocupando à toa? E daí se eles vão para um motel? Isso não é um problema.

Chihiro pegou outra lata de cerveja.

— Claro que é!

— Mas ela só quer pegar algumas referências para a competição.

Essa pessoa que se diz professora não tem nenhum senso de perigo.

— Você realmente acha que um mulherengo como ele não faria nada num motel?! É claro que ele vai! É impossível ele não fazer nada!

— Bom, eu acho que você tem razão.

— Até você sabe disso! Ele não fazer nada é quase tão impossível quanto você encontrar alguém para se casar!

— O quê? O que foi essa coisa rude que você acabou de dizer? Você pensou que eu estava bêbada? Hein? Eu ouvi isso claramente.

Ele decidiu ignorar Chihiro. Ela não ia se lembrar disso, mesmo, já que estava bêbada.

— Limpe o seu rosto, Senpai! Peço desculpas por te colocar em uma situação tão vergonhosa!

— Vá se trocar e me encontre na porta, Kouhai-kun!

— Farei isso em 1 minuto!

— Você tem 30 segundos!

— Entendido!

Enquanto Sorata corria para seu quarto e Misaki para o banheiro, Chihiro abriu sua décima lata de cerveja.

— Ah, é melhor eu preparar alguns lanchinhos para hoje à noite. Mas se bem que eles podem voltar só amanhã de manhã...

Assim que eles saíram, Sorata e Misaki pegaram um táxi e seguiram o GPS do telefone de Mashiro até uma antiga estação que já estava em construção há vários anos.

Misaki pagou o táxi com uma nota de 10.000 ienes. Ela nem pediu o troco, só saiu correndo para dentro do shopping.

— Ah, seu troco!

— Não precisa!

Enquanto ela corria, o taxista gritou de volta de um jeito sério.

Sorata rapidamente foi até ele. O troco foi de apenas 1.000 ienes, mas Sorata decidiu dar de gorjeta, já que Misaki estava incomodando o taxista durante todo o trajeto. Dizendo coisas como:

"— Vá pra esse lugar em 3 minutos! Tudo bem, eu confio em você! Eu acredito em você! Vai, vai, vai, pisa no acelerador! Ativa o nitro! Nos mostre do que é capaz!"

Misaki, que já estava bem à frente do shopping, virou-se na entrada e olhou para Sorata. Ela estava acenando com as mãos.

— Você é muito lento, Kouhai-kun! Ultrapasse seus limites! Jogue fora esses pesos nas suas pernas, você consegue!

— Você acha que sou algum tipo de robô? Já estou indo o mais rápido que posso!

— Eu ainda posso evoluir até o nível 3!

— O quê?! Você consegue ir ainda mais rápido?!

Quando ele chegou perto, Misaki começou a correr novamente, então ele teve que parar ela.

— Não podemos parar agora. Eles podem estar estar fazendo algo enquanto estamos aqui!

— O GPS mostra que eles estão por aqui, então tome cuidado!

— ~ Ok, ativando o modo furtivo! ~

Misaki se escondeu atrás de um vaso, mas isso só atraiu mais ainda a atenção das pessoas em volta.

— Você só tá se destacando mais!

— Kouhai-kun, pra que lado devemos ir?

Ele verificou o telefone. O mapa mostrava que eles estavam bem próximos.

O GPS de Mashiro estava em uma loja na direção sul.
 

Ele fez sinal para Misaki ir até ele, e eles foram até onde o GPS mostrava. Eles subiram pela escada rolante e se esconderam.

— E aí? Eles estão lá?

Misaki colocou a cabeça por cima do ombro de Sorata, que estava abaixado. A respiração dela fez cócegas em seus ouvidos.

Ele ainda podia sentir o cheiro de leite nela.

— Senpai, você ainda tá com cheiro de leite.

— Foi você que jogou em mim!

— Por favor, evite utilizar a palavra “jogou”. A moça que passou por nós nos olhou estranho.

— Ah, tô vendo eles!

Como Misaki estava apoiada nas costas dele, ele sentiu algo macio o tocando. Ele queria falar algo, mas quando viu Mashiro, ele se concentrou apenas nela.

Jin e Mashiro estavam andando juntos e olhando as vitrines das lojas.

Um homem alto e bonito como ele, junto com a beleza dela, chamavam a atenção não só de Misaki e Sorata, mas também a de muitas pessoas que passavam por ali. A maioria dessas pessoas deram uma segunda olhada neles enquanto continuavam andando.

O casal parou em uma loja chique e Jin ficou na frente da vitrine. Ele sussurrou algo para Mashiro. Misaki e Sorata não conseguiam ouvir o que ele dizia por causa da distância. Mashiro frequentemente mexia os lábios, mas na maioria das vezes, era Jin que falava primeiro com ela. Parecia que ela estava apenas respondendo às perguntas dele, assim como ela faz com Sorata.

Provavelmente não havia nenhum item que chamasse a atenção deles, então o casal foi para outra loja. Se algo chamasse a atenção deles, eles paravam e conversavam um pouco sobre.

Eles repetiram isso algumas vezes.

— Isso parece ser uma pesquisa por referências? Hein? Eles estão mesmo apenas procurando referências? Eles não deviam ter ido ao motel para ver referências? O que eles estão fazendo no shopping?

— Pra mim... Isso parece um encontro.

— É porque você é um medroso, Kouhai-kun! Seu idiota!

— Isso não foi legal.

— Seu idiota!

— Não precisa repetir!

Ele se sentiu frustrado. Não, ele estava queimando por dentro.

Ele queria enfiar o braço na garganta e puxar pra fora todo o desconforto, mas sabia que esse sentimento não era algo que pudesse ser controlado. Não é engraçado. O que é esse sentimento?

Era porque Jin e Mashiro estavam juntos. Quando Jin e Mashiro passaram perto deles, ele sentiu vontade de gritar. Ele queria correr para onde eles dois estavam Mas ele não podia.

— Kouhai-kun, eu não aguento mais!

Quando Misaki tentou correr, ele segurou a alça da blusa dela e a puxou de volta.

— Se você fizer isso, eles vão te pegar em flagrante!

— Tá tudo bem! Eu vou só dizer que estava fazendo compras!

— Esse seu plano é muito idiota!

— Mas! Mas! Não aguento mais! Estou com vontade de explodir! Está prestes a transbordar! É como uma enchente!

Após colocar seus sentimentos para fora, Misaki deu uma cabeçada no peito de Sorata.

— Por favor, fique quieta!

— Mas!

Misaki estava em lágrimas quando ela olhou para ele. Sorata pegou Misaki pelas mãos e foi até uma parede próxima. Jin e Mashiro estavam olhando uma loja de acessórios.

— “Se você quiser, eu posso comprar para você.” “Sério? Eu não gostaria que você gastasse dinheiro com isso.” “Tudo bem, eu quero comprar para você, para comemorar nosso primeiro encontro.” “Obrigada, eu gostei muito dele.” É o que provavelmente eles estão dizendo!

— Isso pode valer pro Jin-senpai, mas é impossível a Shiina dizer algo assim.

— “Então, para comemorar, vou preparar algo delicioso da próxima vez.” “Sério? Mal posso esperar! O que você gosta de comer? Eu posso preparar.” “Você.” “Nossa~, como você é safado ~” “O que posso fazer? Você parece muito deliciosa.” “Para, se disser essas coisas safadas, vou ficar com vergonha.” “Ah, haha, sinto muito. Vou me controlar.” É o que com certeza eles estão falando! Os dois!

— Pare com essas coisas ridículas! O Jin-senpai pode até falar isso pras garotas, mas a Shiina não é esse tipo de pessoa!

— Então, que tipo de pessoa ela é? Já que você é especialista sobre a Mashiro, pode me dizer sobre o que eles estão falando?

Jin e Mashiro entraram em uma loja com guarda-chuvas na vitrine. Mashiro provavelmente achou um do gosto dela, porque ela abriu o guarda-chuva, que era da cor azul-celeste.

— “Hm~, esse combina com você.” “...” “Quer que eu compre pra você?” “...” “Compro ou não?” “...” “Ah, acho que você não vai comprar então.” “Não vou.”

— Sua imaginação é fraca! Não tem nada de interessante aí!

— E você tava esperando alguma coisa engraçada?

— Algo a mais, a Mashiro nem fala nada!

— A Shiina realmente não fala nada! Isso foi baseado em fatos reais!

Jin e Mashiro pararam em uma loja de utensílios, onde tinha várias coisas de primeira linha. Enquanto Jin olhava os produtos, Mashiro continuava olhando para o guarda-chuva da loja anterior. Ela realmente queria comprar aquele? Mas quando Jin falou com ela, ela ficou interessada em alguns copos e canecas.

— Kanda-kun, o que você está fazendo aqui?

Sorata se assustou com essa voz que veio do nada. Não era a voz de Misaki.

Ao se virar lentamente, ele viu Nanami Aoyama, e ela estava olhando para ele de um jeito estranho. Ela estava vestindo um suéter simples de cor creme, com uma saia jeans e uma legging, ela também estava segurando uma bolsa grande nos ombros.
 Ele quase não a reconheceu, provavelmente porque até agora ele só tinha visto ela com o uniforme da escola.

— Ah~, é a Nanamin! Olá!

— Kamiigusa-senpai, eu já te disse isso antes, mas por favor, não me chame assim.

— Você acha melhor se for “Nanapun”?

Nanami fez uma cara de raiva

— Só “Aoyama” já está ótimo.

— Então será “Aoyan”.

Ela parecia uma criança chata.

— É só me chamar de “Aoyama” como alguém normal!

— É melhor você desistir. Vai continuar sendo “Nanamin”.

Quando o assunto é apelidos, Sorata não teve uma experiência muito boa. Ele já foi chamado de “Soratan”, “Sorapun” e “Soranin”... e já teve vários outros apelidos de mangá shoujo dos quais ele já foi chamado por Misaki, até que chegaram no “Kouhai-kun”.

Mas eles não tinham tempo para brincadeiras. Sorata e Misaki ainda tinham que seguir o Jin e a Mashiro.

Vendo que Sorata parecia cansado, Nanami respirou fundo.

— Tá bom, pode me chamar de “Nanamin”, então. Mas o que vocês dois estão fazendo aqui?

— Não, eu quem te pergunto isso.

— Eu estou indo para o meu trabalho de meio-período. Olha, é naquela sorveteria ali.

— Sorvete?! Vem, vamos tomar um sorvete, Kouhai-kun!

Misaki ficou alegre instantaneamente.

— Pare de pensar como um ser irracional! Comece a usar o cérebro pra pensar!

A alça no ombro dela parecia mais uma coleira de cachorro, pois Sorata a segurou de novo para Misaki não correr.

— Nossa... Isso foi perigoso. Eu quase me distraí por um instante. Obrigada, Kouhai-kun!

— Parece que vocês dois têm um ótimo relacionamento.

Nanami estava olhando para o lado quando disse isso. Aparentemente, ela ainda não tinha visto Jin e Mashiro. Então eles podem falar sobre o que estão fazendo, já que ela não saberá quem são. Mas era muito feio dizer que estavam seguindo pessoas em um encontro.

— Ah~, você não vai para o curso nos finais de semana?

— Eu já fui hoje.

Sorata imaginou que deveria ser difícil fazer tudo isso, mas não disse em voz alta. Ele sabia por que Nanami estava trabalhando tanto. Os pais de Nanami, principalmente o pai, eram contra a ideia dela se tornar uma dubladora. Então ela tinha que trabalhar muito para poder morar sozinha e pagar um curso de dublagem.

Então, os pais dela pagavam as mensalidades da escola, mas não pagaram pela inscrição, nem a taxa mensal do curso de dublagem. E por causa disso, ela tinha que trabalhar em vários empregos todos os dias.

Por causa disso, ela vivia uma vida pobre e, no final do mês, ela não tinha dinheiro nem para comer direito, então seu estômago roncava de vez em quando. Sorata já tentou comprar comida para ela na escola, mas ela sempre pagava a ele depois.

Pode-se dizer que ela era muito cuidadosa com o próprio dinheiro, mas para Sorata, parecia que ela ainda tinha muito a aprender.

— Então, vocês estão seguindo a Shiina e o Mitaka-senpai só porque eles estão tendo um encontro?

— Como você sabe?!

Misaki disse isso um pouco irritada.

Ele percebeu o porque dela já saber isso. Misaki, que estava encostada na parede, estava olhando para Jin e Mashiro.

— Por que será...

— Eu realmente não posso te falar os detalhes, mas tem uma história profunda nisso tudo. Mas não tem nenhum sentimento pessoal, eu acho.

— Bom, você vai me pedir desculpas ou não?

Nanami saiu sem olhar para trás.

— Ei, espera!

— Eu vou me atrasar pro trabalho.

— Ah, tudo bem. Se esforce.

Nanami se virou quando ele disse isso.

— Eu já iria me esforçar mesmo se você não me dissesse isso.

Sorrindo gentilmente, Nanami saiu e foi embora. Depois que ela saiu, eles dois voltaram a espionar o encontro. Mas quando ele passou para a parede da frente, Misaki não foi junto.

— Senpai?

— Kouhai-kun.

— Oi?

Misaki estava sentada na sombra da parede, ela parecia triste.

— O meu peito está doendo...

Isso foi algo fora do comum.

Ele não queria ver Misaki assim. Até Sorata começou a se sentir triste. Toda vez que ele olhava para os dois juntos no encontro, ele ficava assim. Ele não sabia o que dizer para consolar Misaki, até porque ela nem queria isso. Apenas um silêncio ficou entre eles. Parecia até que o coração de Sorata também foi partido.

Ele não estava imitando Misaki, ele realmente sentiu uma dor.

Ele se sentiu horrível vendo Mashiro junta com Jin.

— Acho que sua dor é contagiosa.

— O que?

— Não sei bem como dizer isso, mas também está sendo difícil para mim.

Na verdade, Jin e Mashiro pareciam um ótimo casal. Jin era muito habilidoso para conquistar o coração de uma mulher. Isso é um fato sombrio.

Mas essa dor não tinha nada a ver com a tarefa de cuidar de Mashiro, e sim porque ele era o Sorata Kanda. Foi a sua própria personalidade que o fez sofrer assim.

Ele não queria pensar em um motivo específico para isso, e ele não era estúpido para tentar ignorar o que o próprio coração estava dizendo.

— Uma mulher bonita, madura e calma é o tipo de mulher do Jin-senpai?

Asami, que estava no clube de atuação, tinha um coração generoso. A enfermeira Noriko ajudava as pessoas doentes. A Rumi era madura e tinha um charme de adulta.

Todas elas eram mais velhas que Jin.

— Provavelmente sim. A Fuuka, a primeira namorada dele, também era assim...

— Então você seguia ele desde sempre...

— Eu não precisava seguir ele pra saber disso. A Fuuka é minha irmã mais velha.

— Hein?! Espera... Irmã?!

— Eles terminaram depois que o Jin concluiu o Fundamental. Eles namoraram por quase um ano.

Sorata não foi capaz de olhar para Misaki, que estava apenas observando seu amor de longe, por mais tempo.

— A Fuuka realmente é bonita. Eu fico feliz por ela.

Ele não conseguia dizer nada. Misaki era bonita também. E mais da metade dos homens de todo o mundo gostariam de namorar com ela. Mas não faria sentido dizer isso para ela. Misaki só tinha olhos para Jin. Tudo que ela queria era apenas ele. É por isso que ela anseia por ele, fica chateada porque não pode tê-lo, mas mesmo assim não desiste.

— Provavelmente aconteceu algo entre eles.

— Como assim?

— O Jin. Quando ele entrou no ensino médio, de repente começou a ficar com muitas garotas. Antes disso, o coração dele só tinha espaço para a Fuuka.

— Entendo...

— ...Ah... Por que não pode ser eu? Isso é tão injusto.

Misaki estava prestes a desmaiar de tristeza. Mas eles não podiam simplesmente parar de seguir Jin e Mashiro. Era muito doloroso para Sorata e Misaki ver eles juntos assim.

Mas seria ainda mais doloroso se eles fossem pra casa e não fizessem nada a respeito.

Sorata ainda não conseguia entender ela perfeitamente, mas ele sabia que Misaki não conseguiria continuar assim.

Jin e Mashiro desceram pela escada rolante, e Misaki os seguiu.

— Ah, espera por mim!

Sorata foi até a loja de guarda-chuvas e comprou o que Mashiro estava olhando antes.

— Kouhain-kun! O Jin e a Mashiron tão saindo!

— Não tem problema se eles se distanciarem, nós temos o GPS.

Ele pagou com uma nota de 5.000 ienes, e pegou o guarda-chuva. O balconista da loja pensou que era um presente, então embrulhou ele. Isso fez com que eles saíssem da loja ainda mais tarde. Misaki estava chateada por ter que esperar tanto.

— Ah~, sinceramente~. Eles simplesmente desapareceram.

— Nós ainda conseguimos alcançar eles.

Olhando no telefone, eles conseguiram ver a localização de Mashiro. Eles foram capazes de ver as estradas, mas o mapa não estava carregando corretamente. Um ícone piscou na tela, ele indicava que o sinal estava fraco.

— Hein?

— O que é isso?

O aplicativo dizia que não era capaz de localizar o outro telefone. Ele tentou de novo, mas a mesma mensagem apareceu.

— O telefone da Shiina deve estar descarregando...

— O que!~ Pensei que você fosse conseguir rastrear eles!~

Misaki segurou a gola da camisa dele e sacudiu de uma maneira violenta.

— Não, não! Tá de boa! Eles acabaram de sair, então ainda devem estar por aqui! O único motel perto daqui é aquele que parece um castelo, perto da rodovia!

— Então eles estão lá! Bora!

Eles estavam no shopping, e correram em direção à rodovia. Lá, eles avistaram Jin e Mashiro, caminhando para o outro lado do viaduto. Eles silenciosamente subiram as escadas para que não fossem vistos.

Depois de confirmar que Jin e Mashiro estavam do outro lado, eles se esconderam e olharam para os dois. Tinha um motel branco em forma de castelo bem na frente deles.

— Eles realmente vão entrar?

Mashiro não mostrava nenhuma reação enquanto olhava para o castelo. Quando ela disse algo, Jin riu, e sussurrou no ouvido dela.

Misaki estava apoiada em Sorata, mas o peso dela sumiu de repente.

— Senpai?

Quando ele se virou para olhar pra ela, ela estava de pé. Ela poderia ser vista por Jin e Mashiro.

— Senpai!

— Já chega...

A voz dela estava trêmula. Era difícil acreditar que aquela era realmente a voz de Misaki.

— Eu... vou embora.

Em suas bochechas, uma grande gota de chuva caiu. O céu estava limpo, mas a chuva não parava. As gotas de chuva continuaram caindo. A chuva vinha de Misaki.

— Vou embora.

Misaki, que parecia triste, repetiu a frase, e voltou pelo mesmo caminho. Ela começou a correr, correr e depois correr, aumentando o ritmo cada vez mais. Sorata tentou chamar ela, mas ele olhou para Mashiro.

— Merda!

Jin segurou o braço de Mashiro, que estava hesitante, e tentou fazê-la entrar à força.

Ele já não estava mais pensando como um ser humano. Misaki simplesmente desapareceu de sua cabeça.

Sorata começou a gritar como um animal e desceu a escada correndo. Jin e Mashiro se viraram. Eles disseram alguma coisa, mas ele não conseguiu ouvir.

Ele foi para cima de Jin com tudo o que tinha. Seu punho, que estava fechado, ficou mais quente. Seus braços ficaram mais quentes. Todo o seu corpo estava em chamas. O soco foi na direção de Jin, mas antes que encostasse nele, a visão de Sorata se apagou.

Ele não conseguia entender o que tinha acabado de acontecer.

Até porque ele não esperava que Jin fosse contra-atacar. Por Jin ser mais alto que Sorata, ele conseguiu bater antes que Sorata o atingisse.

Seu corpo se recusou a se mover. Ele só podia ficar parado vendo o chão se aproximar cada vez mais.

Ele foi em direção ao concreto. Ele nem percebeu que estava caindo. O mundo começou a desaparecer. Enquanto ele tentava entender o que estava acontecendo, Sorata perdeu a consciência.

 

Parte 4


Quando ele recuperou a consciência, ele viu uma bola de espelhos girando no teto. A bola estava refletindo luzes roxas e rosas na direção de Sorata.

— Está acordado?

Bloqueando a luz, estava o rosto de Mashiro. O rosto dela estava de cabeça para baixo. Sua pele branca estava levemente tingida por causa da iluminação da sala.

Ainda se sentindo tonto, Sorata olhou para Mashiro, sem expressão.

O que aconteceu? Por que essa garota estranha estava de cabeça para baixo? De que marca era essa almofada confortável que a cabeça dele estava? Ele queria perguntar, para que pudesse comprar uma depois. Mas estava na hora de voltar à realidade.

— Ei, Shiina.

— Oi?

— Por acaso estou com a cabeça no seu colo?

— Sim.

Enquanto falavam, sua mente ficou clara e sua consciência voltou no mesmo instante.

Sorata rapidamente se levantou e, ao fazer isso, ele acidentalmente deu uma cabeçada na testa de Mashiro.

Sorata não conseguia nem gritar, ele só conseguiu esfregar com força a parte da testa que bateu.

Mashiro, por outro lado, não parecia estar com dor, ela apenas estava passando a mão na testa.

— Isso doeu.

— Então diga isso de uma maneira que mostre que está doendo!

— Não doeu.

— Então não diga que doeu!

Ele não conseguia entender. Esta criatura chamada Mashiro Shiina era alguém que ele não conseguia compreender.

E ela não estava deixando alguém dormir em seu colo com muita facilidade?

— No que você tá pensando?

— Sobre o mundo.

— Ei! É coisa de mais para se pensar!

— ...

— Não, não importa.

Mashiro ficou em silêncio, e apenas olhou para ele. Ela estava piscando.

— Calma, nós estamos em um...

Ele estavam sentados em uma cama. Uma cama de casal. Além disso, a cama tinha o formato de um coração rosa gigante que ocupava quase metade da sala.

Era uma sala feita específicamente para caber a cama. A sala também tinha paredes brancas. A iluminação e as cores estavam passando um clima erótico.

Foi decorado com objetos antigos, era como um quarto para uma princesa dos contos de fadas. No entanto, em vez de um príncipe montado em um cavalo branco chegando para salvar a pura e humilde princesa, estava mais pra uma princesa que estava cuidando do príncipe que foi nocauteado em uma luta.

Seus olhos doíam e sua cabeça estava girando. Os olhos de Sorata estavam apagados e brancos, ele não conseguia pensar em nada. E Mashiro, que estava sentada na cama com as pernas cruzadas, parecia uma criança inocente que se perdeu de casa.

— Em um motel.

Mashiro disse isso e logo em seguida olhou para Sorata sem entender nada.

— Eu... fui nocauteado pelo Jin-senpai naquela hora...

E quando abriu os olhos, estava em um motel. Com certeza foi Jin quem levou eles dois lá pra dentro.

— Aliás, onde o Jin-senpai está?

— Ele saiu.

— Por que?!

— Ele disse que você faria o resto.

— ... Ok. Bom, vamos embora.

— Não.

— Pensa um pouco! Você ao menos sabe o que as pessoas vêm fazer aqui?

— Nós vamos dormir aqui.

Sorata recusou a proposta ousada de Mashiro.

— O que?! Por quê você não veio com ele, afinal?

— Em frente ao motel. O Jin me disse algo.

— Disse o que?

— Que você iria vir se eu entrasse aqui.

"Você iria vir”, o que isso significa? Ele não era um super-herói que estava indo socorrer alguém, isso era ridículo. No entanto, a história muda se Jin tivesse percebido Sorata e Misaki seguindo eles dois.

— Então, você percebeu.

— O que?

Dava para ver nos olhos de Mashiro que ela não estava mentindo. Então foi apenas Jin que percebeu.

— O seu telefone, você desligou ele no meio do caminho?

Mashiro concordou com a cabeça.

— Foi o Jin-senpai que te disse para fazer isso?

Mashirou concordou com a cabeça novamente

Não havia nenhuma dúvida sobre isso. Com certeza Jin já sabia de tudo. Eles foram pegos de uma forma brilhante. Jin sabia o que Sorata estava fazendo, e o que ele ainda ia fazer. Então, ele o o colocou em um teste.

Provavelmente o plano dele era deixar Sorata e Mashiro sozinhos no motel desde o início.

— Aquele safado, ele me paga.

— O Jin é uma boa pessoa.

— Eu sei disso. Mas olha esse lugar! Você deveria ser mais cuidadosa, você tem que pensar antes de agir!

— ...

— Não tem necessidade de ir a um encontro só pra pesquisar por algumas referências.

Sorata acabou falando mais do que deveria. Ele falou o que estava preso em seu coração, mas já era tarde demais.

— Não foi um encontro.

— Vocês foram ao shopping juntos e fizeram compras.

Para alguém normal, isso claramente era um encontro.

— Foi o Jin que me pediu pra ir lá com ele.

— E pra quê?

— Ele disse que é segredo.

Quando ela disse isso, a raiva de Sorata aumentou mais ainda.

— Ah, beleza, então!

Mashiro se levantou de repente.

— Ei. Ei.

Ela apenas ignorou Sorata e foi ao banheiro.

— Espera!

— E por que?

— Eu ainda estou falando!

Sem nem responder o que ele disse, Mashiro tirou uma peça de roupa.

— Por quê você tá tirando a roupa?!

— Vou tomar banho.

— Mas eu consigo te ver! Pense um pouco mais antes de agir! E o que eu vou fazer?!

— Quer tomar banho junto comigo?

— Beleza, entendi. Vou continuar reclamando de você enquanto tomamos banho.

— ...

— ...

— Então tire a roupa.

— Foi uma piada! Eu tô implorando, por favor, apenas vista a roupa!

— Sorata, eu não consigo te entender.

— A única pessoa estranha que não pode ser entendida é você! Além do mais, pense um pouco nas coisas que você faz!

Depois que ele falou com ela de uma forma dura, Mashiro parou o que estava fazendo.

— Pense um pouco! E se algo ruim tivesse acontecido?

A frustração de Sorata tomou conta do local, e ficou apenas um silêncio entre eles. Mashiro parecia não ter sido tocada por essas palavras, e começou a caminhar em direção a Sorata, com apenas uma parte das suas roupas.

— Não faz sentido.

A voz dela saiu muito baixa e de uma forma fria.

— Por que?

— Dá no mesmo.

— Fale de uma forma que eu possa entender.

— ...

— ...

— Mesmo se eu parasse pra pensar sobre isso, eu teria vindo com alguém atrás de referências de qualquer forma.

— Você...

A voz de Sorata parecia trêmula.

— E quanto a você, Sorata?

— Oi?

— O que houve? Você tinha me dito que ia estar ocupado.

— ...

Naquele instante, a raiva e frustação dele sumiram. Mashiro tinha razão, e Sorata ficou deprimido ao olhar para ela.

— O único que está agindo sem pensar é você, Sorata.

— Bom, isso...

Ele sabia. Havia uma boa razão. Ele percebeu isso dentro do shopping.

Foi doloroso ver Mashiro junta de Jin, e ele não gostou nada disso. Isso não era algo que começou da noite pro dia. Isso começou há muito tempo. Provalmente foi no dia em que se conheceram, a partir dalí que Sorata começou a se sentir assim.

Por isso ele estava preocupado.

Ele não queria que ela corresse perigo.

Ele não queria que ela se machucasse.

Ele apenas queria vê-la sorrir e ficar sempre ao lado dela.

Mesmo que ele se sentisse assim, ele não conseguia dizer isso.

— Não importa.

Ele não conseguia parar de olhar para ela.

— Não importa para você, já que você vai sair do Sakurasou.

Ela falou as palavras que ele não queria ouvir.

Sorata não conseguiu responder isso. Ele não tinha o direito de dizer a ela como se sentia.

— Eu precisava fazer isso para desenhar o meu mangá.

Não fazia sentido inventar alguma desculpa para Mashiro. Ela estava determinada. Ela não iria ouvir. Não iria chegar até ela.

Ela estava vivendo do seu próprio jeito, aquele era seu verdadeiro eu.

Ela se expressava através dos desenhos. Para ela, viver é apenas desenhar, e ela já estava fazendo isso. Seu principal objetivo era fazer desenhos. Isso é algo que Sorata percebeu enquanto ficava ao lado dela.

Ela era o tipo de pessoa que desistiria da sua própria felicidade, se isso signficasse que ela poderia fazer os seus desenhos.

Ela estava aqui porque sentiu que precisava de algumas referências.

Ele se sentiu mal por dizer a ela para pensar antes de agir.

Mashiro já estava pensando. Ela pensou antes de tomar essa decisão, por isso ela decidiu fazer isso Ela não estava abalada. Quem realmente tinha que pensar antes de agir era o próprio Sorata.

— Estou indo.

Sorata não foi capaz de ver qual era a expressão no rosto dela quando ela disse isso... Pois Sorata não teve coragem de olhar nos olhos dela.

Logo após Mashiro sair do banheiro, ele entrou e ficou olhando pro chão enquanto tomava banho. Ele sentiu que todas coisas ruins estavam sendo lavadas de seu corpo.

Quando ele voltou pra sala, Mashiro estava dormindo na cama com formato de coração. Ela estava indefesa, tinha apenas uma toalha de banho em volta dela.

Sorata queria dizer a ela para usar algo, mas ele não conseguia.

Ele apenas colocou um cobertor em cima dela silenciosamente.

Enquanto Mashiro estava no chuveiro, ele pensou em ir embora. Mas ele estava preocupado em deixá-la sozinha em um lugar como este, então decidiu ficar e tomar conta dela.

Ele não queria dormir na mesma cama que ela, então ele se sentou em um lugar longe de Mashiro. Ele estava sentado em frente à porta.

Ele apertou alguns botões em seu telefone e ligou para Jin.

Jin atendeu rapidamente.

— Eai, como você tá se sentindo?

— Terrível.

— Haha. Desculpe, eu pretendia te deixar me acertar, mas o jeito que você correu pra cima de mim me assustou. Então achei que você poderia me perdoar por te bater, aí eu te ataquei sem nem pensar.

— Eu não tô nem aí pra isso.

— Oque? Então você não me ligou porque tá com raiva?

— Não tô no clima para essas coisas.

— Ah, tendi. Você brigou com a Mashiro?

Jin conseguia entender facilmente a situação. Sorata queria ter essa habilidade também.

— Não foi uma briga. Eu fui acertado com um único golpe, e acabou.

— E a Mashiro? Como ela tá?

— Dormindo.

— Em seus braços?

— Como ela estaria dormindo nos meus braços se nós tivéssemos brigado? Ela tá dormindo sozinha na cama.

— E você?

— Eu tô em um pequeno espaço entre a sapateira e a parede.

Jin começou a rir.

— E o que você fez para chegar a isso?

— Também queria saber.

— Tenho pena da Mashiro.

— ... E de mim?

— De você eu não tenho, não.

Sorata sentia isso também, ele não tinha pena de si mesmo. Mas ouvir isso de Jin era diferente do que dele mesmo.

Ele queria responder a isso, mas para não mudar de assunto, ele resolveu ignorar.

— Eu vou sair do Sakurasou.

— Me ligou só pra dizer isso?

— Não posso?

— Não, isso não tem nada a ver comigo. Se você acha que é o melhor para você, então, vá em frente.

— É realmente isso que eu acho.

— Bem, eu realmente não conseguiria olhar para o rosto de uma linda garota triste.

— E quem vai ficar triste se eu sair?

— Poxa, eu vou ficar chateado se você não reconhecer os meus esforços.

— Tá...?

— Antes disso tudo, eu fui avisado diversas vezes sobre algo.

— Quem te avisou?

— A Mashiro.

— E o que era esse aviso?

— Ela me disse para não te incomodar mais.

— O que?

— Ela não disse exatamente isso, mas, depois que saí do motel, eu cheguei à essa conclusão.

— Que merda isso significa?

— Bem, ao contrário de você, eu não sou um especialista sobre a Mashiro. Então foi bem difícil de me comunicar com ela hoje.

— Mesmo assim, o encontro de vocês parecia bom.

— Um encontro, né...?

Foi uma resposta vazia. A conversa parou enquanto Jin pensava sobre algo consigo mesmo.

— A Mashiro disse alguma coisa sobre hoje?

— Ela disse que isso era um segredo entre vocês dois.

Quando ele disse isso em voz alta, parecia mais que ele estava reclamando sobre.

— Foi isso que eu disse a ela. Para manter em segredo.

— E qual o sentido disso?

— Não precisa se preocupar. Tudo o que nós fizemos foi ir às compras, e ainda foi porque eu pedi.

— Então porque eu não posso saber o que é?

— Você é insistente, hein. Sabe, eu realmente não queria ter que te contar, mas amanhã é aniversário da Misaki. Eu apenas pedi para a Mashiro me ajudar com um presente. Entendeu?

— ...

— Foi isso, pode perguntar pra ela se não acredita. Ela apenas estava sendo atenciosa comigo.

— Bom, e daí?

Não fazia sentido ele saber disso, já que ele já estava decidido em sair do Sakurasou.

— Aliás, tinha um guarda-chuva em uma loja, e ela gostou.

Esse mesmo guarda-chuva de que Jin estava falando, é o que agora está embrulhado ao lado de Sorata.

— Eu e o balconista dissemos para ela comprar, mas ela disse que ia comprar depois. O que você acha que ela quis dizer com isso?

— E como eu vou saber?

— “Vou comprar com o Sorata”, foi isso que ela disse. Vocês fizeram uma promessa ou algo do tipo?

Ao ouvir isso, seu peito começou a doer. Jin disse isso com clareza. Jin só falou isso, porque ele não podia se intrometer nas coisas de Mashiro. Mas Mashiro via isso como uma promessa.

Sorata não conseguia entender o porque de Mashiro se sentir assim, mas isso partiu o coração dele, e partiu a ele mesmo.

— Se você não quer que alguém tire ela de você, faça seu trabalho como mestre, e cuide bem dela.

— Como assim “mestre”...? Quero dizer, a Shiina é como um animal fascinante, mas...

— Você vai se arrepender se não segurá-la forte e ela acabar escapando.

— Então você tá dizendo para eu colocar uma coleira nela e amarrar ela em algum canto?

— Boa ideia. Isso é bem excitante.

Sorata estava imaginando Mashiro usando uma coleira, mas empurrou esse pensamento para o lado.

— Não pense nisso desse jeito!

— Mas porque você não tenta? Aí deve ter algumas coisas assim pra alugar.

— Eu não vou fazer isso!

— Você quer que a sua primeira vez seja algo mais normal?

— Para de falar sobre isso!

— Nossa, que cara santo.

Quando o assunto parou, Sorata olhou para a cama onde Mashiro estava dormindo.

— Vou desligar agora.

— Espera!

— Tem mais alguma coisa que queira perguntar?

— Senpai, onde você está?

— Eu? Ah, eu tô na casa da Rumi.

— Podemos conversar mais um pouco?

— Claro, ela ainda está tomando banho.

Dava para ouvir o barulho do chuveiro no fundo.

— Dá pra perceber.

— Então, o que você quer?

— Vá para o Sakurasou ainda hoje.

— ...

Mesmo sem falar diretamente, Jin já sabia o que ele estava querendo dizer.

Jin já sabia que eles estavam sendo seguidos, e também quem era a pessoa que estava com Sorata.

— Você sabe disso melhor do que eu, a...

— Ok, para!

— Jin-senpai!

— Eu estou me esforçando para não tocar no assunto, você não tem permissão para falar disso agora.

— Eu não consigo mais ver a Misaki-senpai desse jeito.

— Ah~~ Você realmente falou.

Jin deu uma resposta alegre. Provavelmente porque ela já sabia que Sorata iria tocar no assunto.

— Ok, para mim já chega.

— Por que não pode ser a Misaki-senpai?

— ...

— Jin-senpai?

— É assim que uma pessoa normal fala sobre esse tipo de coisa?

— Você não me deu escolhas.

— Você já sabe a resposta, porque ainda pergunta?

— Se você comprou um presente de aniversário para ela, significa que você se sente assim também, certo?

Sorata fez uma pausa, para dar tempo de Jin responder.

Jin disse:

— … Eu não posso voltar para lá hoje. Se eu vir os olhos tristes dela agora, não vou conseguir me segurar, e vou tentar devorá-la.

— Que tipo de animal você é?

— Dentro de mim há um animal que quer machucar a Misaki. Quero corrompê-la usando toda minha luxúria. Eu quero quebrá-la... Mesmo que só por um momento, eu queria ter ela só pra mim.

Sua voz estava baixa e trêmula.

— Mas ela é uma pessoa preciosa para mim. Eu não posso nem mesmo ousar encostar nela. Ela é muito, muito preciosa para mim… Eu não posso negar isso.

Ele estava mostrando um lado diferente do normal. Todas as vezes que ele sai sem se preocupar com a hora de voltar, ele está sempre pensando em Misaki.

Quando ele viu Misaki e Sorata juntos, ele também ficou chateado.

— Vou te contar o que eu ouvi da minha primeira namorada.

— ... Tá falando da irmã da Misaki?

— Nem ferrando, a Misaki também te contou isso? Que invasão de privacidade.

— Foi mal.

— Te bater foi a coisa certa a se fazer.

— Eu vou me lembrar disso pelo resto da minha vida.

— Bom, vamos apenas parar de falar sobre isso.

— Não, eu preciso saber o motivo de você ter terminado com ela.

— Não da pra você só esquecer isso?

Jin deu uma risada amarga. Ele não conseguiu segurar. Mas muito provavelmente ele não iria parar de falar aí.

— Ainda me lembro do que a Fuuka me disse. Não, eu não consigo esquecer. “Eu sou apenas uma substituta da Misaki. Você me namora porque tem medo de machucar a Misaki, e quer que ela fique pura para sempre ao seu lado, não é?”

— Nossa, isso é bem humilhante.

— Eu nunca pensei dessa forma até você dizer isso agora. Mas no final de tudo, eu não conseguia inventar nenhuma desculpa para ela. Depois, ela disse: “Pelo menos pensa em alguma desculpa para dar”, e me deu um soco.

— Hahaha.

— Não dá risada. Eu saí com meu nariz sangrando.

Imaginar Jin no chão com o nariz sangrando só fez Sorata rir ainda mais.

— Eu não consigo entender a sua forma de amar alguém, Jin-senpai. Se você gosta de alguém, o normal não seria você querer abraçar e ser carinhoso com aquela pessoa? Corromper ou quebrar essa pessoa é totalmente o oposto disso. Bom, de qualquer forma, volte para o Sakurasou ainda hoje.

— Eu~ estou~ dizendo~ a você, se eu voltar agora, vou me jogar em cima da Misaki.

— Então é só se jogar nela.

— Sorata, você estava ouvindo o que acabei de te dizer?

— Sim, eu ouvi. Você ama a Misaki-senpai.

— Idiota! Você disse isso em voz alta!

— Estou me vingando do soco que levei.

— Isso é impossível pra mim agora..

— Mas por que...?

— Bom, isso... Opa, a Rumi saiu do banho. Vou desligar.

— Espera, Senpai! Volte pro Sakurasou!

Jin não respondeu. Ele era a única pessoa que Sorata podia confiar para cuidar de Misaki. Chihiro estava no Sakurasou junta de Misaki, mas Sorata ainda se preocupava com ela. Foi a primeira vez que ele viu Misaki chorar.

Nas outras vezes que algo assim aconteceu, Misaki apenas mordia os lábios e guardava essas coisas para ela. Mas hoje foi diferente.

Hoje, tudo o que ela estava segurando, explodiu. Então era difícil de entender.

Ele fechou o telefone e o colocou em cima da sapateira. Ele juntou as pernas e fechou os olhos. A noite estava quieta e o silêncio o fez se sentir solitário.

Ele começou a pensar no que Jin o havia dito. Sobre Mashiro, o guarda-chuva, e sobre a promessa. Ele conseguia ouvir a respiração de Mashiro no quarto, então tentou ouvir isso como uma canção de ninar.

Ele decidiu se desculpar com ela sobre o que aconteceu hoje, mas só depois que ele acordar. Para que ele possa sair do Sakurasou sem nenhum ressentimento.
 

Parte 5


Ele estava todo dolorido quando acordou. Ele dormiu sentado, e esse não era o modo mais adequado para dormir. Ele não conseguia nem se mexer, muito menos levantar. Ele massageou as mãos e os pés doloridos, e se arrastou para fora do espaço entre a sapateira e a parede.

Quando a recepcionista foi no quarto de manhã para avisar que o tempo havia acabado, ele se apressou para sair do motel, arrastando Mashiro atrás dele.

Estava chovendo quando eles saíram. Estava bem frio também. Considerando que estavam em junho, realmente estava muito frio.

Mashiro olhou para o céu nublado e cinza.

Sorata ainda estava muito cansado e dolorido.

Os dois nem se falaram quando acordaram.

Eles não deram nem bom dia, então o que quer que fizessem agora, iria parecer esquisito. Quando estavam para sair do quarto, Sorata apenas apontou para a porta.

Até mesmo no elevador, ou no corredor, ou enquanto devolviam as chaves do quarto, eles não falaram nada. Mashiro nem tentou falar ou olhar para Sorata.

Essa atitude de “Eu não vou me desculpar primeiro que você” fez com que Sorata perdesse a vontade de se desculpar.

— Se é assim que você quer, eu vou jogar do seu jeito. De qualquer forma, eu vou sair do Sakurasou logo. Não vou mais me preocupar com você, Mashiro Shiina.

Mashiro parecia não querer esperar a chuva forte passar, pois ela saiu correndo na chuva. Observando ela se afastando cada vez mais, Sorata a chamou sem nem pensar.

— Shiina!

— ...

Mesmo quando ela se virou, ela estava olhando para o chão, e não para Sorata.

Para que ela olhasse diretamente para ele, Sorata pegou o pacote que estava embrulhado. Era o guarda-chuva que ele comprou no shopping.

— Use isso.

Colocando o guarda-chuva nas mãos dela, Sorata começou a subir as escadas do viaduto sozinho. Ele gostava da chuva fria.

Ela estava lavando tudo que estava fazendo mal a ele.

Ele estava ficando encharcado na chuva, mas parecia não se importar.

Ele caminhou lentamente pelo viaduto, olhando para o céu chuvoso e cinza. De repente, o céu ficou azul, bem em cima de seus olhos.

Mashiro havia o alcançado e colocado o guarda-chuva por cima dele. O guarda-chuva tinha a cor azul-celeste e algumas imagens do céu pintadas nele.

Quando Mashiro o segurava, ele parecia brilhar ainda mais, mas era muito melhor do que o guarda-chuva vermelho que ela pegou emprestado com Misaki.

— Como você conseguiu isso?

— Eu vi uma pessoa olhando pra ele, ela parecia querer muito. Então, comprei de presente para ela.

— Entendo. Então, vou te devolver.

— Não, eu estou dando ele para você.

— Mas não é um presente para alguém?

— Tem certeza que você entendeu o que eu disse?

— Tenho, sim.

— Quando eu disse “uma pessoa”, eu estava me referindo à você.

Sorata começou a se afastar, pois ele estava se sentindo envergonhado.

Mashiro correu para o lado dele e o cobriu com o guarda-chuva.

Era um pouco difícil de andar lado a lado com ela.

— Obrigada.

— ... De nada.

— Sim.

Mashiro balançou a cabeça.

— Sorata...

— Oi?

Mashiro olhou para ele. Foi a primeira vez naquele dia que eles se olharam nos olhos. Quando ela abriu a boca para dizer algo, alguém atrás deles os chamou.

— Ei, vocês aí!

Quem disse isso foi um policial que estava vestindo uma capa de chuva.

— Vocês parecem que ainda são só estudantes do ensino médio.

Provavelmente o policial viu eles dois saindo do motel.

— Nós somos.

— Não, a gente tá na faculdade.

Mashiro deu uma resposta, e Sorata deu outra. Graças a isso, o policial suspeitou de que estavam mentindo, e se aproximou de Sorata.

— Ei, nesse tipo de situação, você tem que mentir.

Sorata sussurrou isso para Mashiro.
— Por que?

Não adiantou muito falar sussurrando com ela.

Sorata sentiu sua alma saindo de seu corpo.

— Mesmo que sejam namorados, não é bom que percam aula apenas para fazer essas coisas.

— Não somos namorados.

— Ah, Shiina! Fica quieta!

— Então, qual o tipo de relação entre vocês dois?

Enquanto Sorata pensava em alguma desculpa para dar, Mashiro disse:

— O Sorata é o meu mestre.

O clima do lugar ficou esquisito.

O policial olhou para Sorata de uma forma estranha.

— É apenas um mal-entendido! Ei, Shiina, o que é que você tá dizendo?!

— Você até pensou em colocar uma coleira em mim.

— Como você...?! Você estava acordada enquanto eu falava com o Senpai?

Se ela ouviu tudo, então ela também ouviu Sorata dizendo que iria sair do Sakurasou. Isso deixou Sorata ainda mais desconfortável.

— ...

Mashiro não disse nada.

— Você disse que ia me amarrar na parede.

Ele não teve coragem de olhar nos olhos do policial.

— Não, não, espera! Não diga apenas a parte ruim da conversa! Por que tá fazendo isso comigo? Você tem algum rancor contra mim? ? É por causa do que aconteceu ontem? Eu sinto Muito! Eu não vou ser arrogante e tentar te dar um sermão! Resolva esse mal-entendido que você criou! Se não, vai acabar sujando minha ficha!

— Eu vou ouvir seu pedido de desculpas na delegacia. Então você poderia me seguir, mestre?

— Policial! Como você pode acreditar em algo assim sobre um cidadão de bem como eu?! Você me chamou de mestre? Vou te processar por difamação. A próxima vez que nos encontrarmos, será no tribunal!

— Fique calado e venha comigo.

O policial arrastou ele pela escada.

— Shiina!

— Nós vamos precisar ouvir o seu lado da história também, venha conosco.

— Ok.

— Basta explicar direito para ele!

Eles ficaram quase 2 horas na delegacia tentando explicar a situação do início ao fim. E, quando finalmente terminaram, Sorata estava extremamente cansado.

Era difícil tentar explicar a situação. Eles só foram finalmente liberados, quando explicaram que Mashiro era uma mangaká que estava apenas buscando referências.

Quando terminaram de se explicar, Chihiro veio buscá-los. Eles abaixaram a cabeça para se desculpar pelo mal-entendido, mas não falaram uma única palavra, pois estavam com medo.

De qualquer forma, eles conseguiram evitar de serem detidos, e também de manchar suas fichas.

Quando eles saíram da delegacia, já havia parado de chover, e dava pra ver o sol entre as nuvens.

— Eu realmente não achava que você era esse tipo de pessoa.

— Não é hora pra isso! Você não quer dizer mais nada além disso?

— É claro que eu quero, mas estou me segurando, entende?

Com um rosto estressado, Chihiro andou na direção de Sorata.

— E-Eu entendo.

Sorata deu três passos para trás.

— Eu não me importo com o que você faz, mas limpe sua própria bagunça, assim como o Mitaka.

— Tudo bem, mas você não tem moral para me dar um sermão.

— O que? Você acha que pode falar assim comigo?

— Acho, sim.

Olhando para Mashiro que estava atrás dela, Chihiro se virou e disse:

— Ah~, não quero mais saber disso, nós temos que ir pra escola agora.

Chihiro caminhou até a estação. Enquanto ela estava indo, Sorata se virou para Mashiro e disse:

— Ei, Shiina.

— ...

Ela ouviu ele, mas não respondeu nada.

— Me desculpa por ontem. Eu realmente estava errado em dizer aquelas coisas.

— ...

— Eu sei que você pensou bastante antes de ir para o motel.

— ...

— Mas, mesmo que fosse para referências, o local não era muito bom de se estar.

— ...

— Eu vou sair do Sakurasou, mas, mesmo assim, me conte tudo. Me conte tudo o que você quer fazer, e os lugares que você quer ir.

Se ele soubesse para onde ela estava indo ontem, Sorata não teria deixado ela ir com Jin.

— Eu tenho tempo livre para ir com você.

Foi bastante vergonhoso para ele dizer isso, mas Mashiro ainda não estava respondendo.

Nada poderia ser feito sobre isso, então ele decidiu ir junto de Chihiro, mas Mashiro agarrou seu suéter por trás.

— Shiina?

Ele tentou olhar para trás, mas não conseguiu.

— Não vá embora.

Ele ouviu claramente o que ela disse.

— Mas eu...

Se ele ficar calado agora, ele não vai conseguir acalmar seu coração depois.

— Eu...

Seu cérebro não estava funcionado. Ele queria dizer algo, mas não conseguia. Ele queria dizer de novo que iria sair do Sakurasou, mas não conseguia.

Ele respirou fundo para conseguir pensar melhor.

— Vou me virar e falar isso claramente.

Quando ele decidiu fazer isso, Mashiro encostou a testa nas costas dele. Quando ela fez isso, as costas de Sorata ficaram pesadas, e ele não conseguia se mover.

O corpo dela estava aquecendo ele um pouco.

Ele podia sentir a respiração dela em suas costas. Mashiro estava logo atrás dele. Sem dizer uma palavra, eles ficaram assim por algum tempo. Mas ele podia sentir que Mashiro estava preocupada, e ele não podia ignorar isso. Ele tinha que fazer algo a respeito.

— Se mudar é...

— Sim?

— ... é difícil.

— Entendo.

— É chato ter que mudar de endereço.

— Sim.

— Nos dormitórios normais, duas pessoas usam o mesmo quarto. Também tem o toque de recolher, então é bem chato.

— Verdade.

— O Sakurasou não é tão ruim assim.

— Eu gosto de lá.

Ele percebeu que ela estava falando sério, e com isso, o coração de Sorata começou a bater forte.

Provavelmente Mashiro conseguia sentir o coração dele.

— Eu acho que também gosto.

Mas na opinião dele, ser honesto não iria mudar nada. Depois de tanto ouvir que aquele era um lugar para pessoas problemáticas, ele também começou a pensar assim. Ele continou mentindo para si mesmo para não se destacar em meio a multidão.

No começo, ele achava que o Sakurasou era um lugar problemático. Lá era um lugar cheio de gente estranha, e até a professora que supervisionava o local ultrapassava os limites da estranheza.

Mas na verdade, ele gostou de lá.

O Sakurasou era um lugar muito mais aconchegante do que os dormitórios normais.

Cada dia ali parecia uma viagem escolar.

Mas Sorata sabia que nenhum de seus colegas iria entender isso, e até mesmo os professores evitavam tocar no assunto.

Essa é uma verdade que não da para negar. Era real. Tudo ali acontecia desse jeito.

— Oi~?

Chihiro, que estava um pouco longe deles, parou e fez uma careta para eles.

— Vocês esqueceram que eu ainda estava aqui? O que é essa safadeza que cês tão fazendo? Olhem ao redor, tem várias pessoas passando aqui. Tô ficando assustada com vocês!

— N-Nós não estamos fazendo safadeza alguma!

Sorata disse isso apenas porque Mashiro ainda estava abraçada nele por trás.

— O que você quer dizer com “estamos fazendo safadeza!”?

— Ahhh~! Você tá distorcendo minhas palavras!

— Isso é realmente triste. Eu não aguento mais ter que ficar olhando para você.

— Não me ofenda assim! Você deveria agir mais como uma professora!

— Meu método de ensino é igual ao de uma leoa!

— Mas esse método passa um pouco dos limites!

— Se você quer tanto assim reclamar, então beleza! Hoje à noite teremos uma reunião do Sakurasou!

— Hein? Mas uma reunião sobre o que?

— Vou adicionar uma regra que proíbe romance dentro do dormitório.

As palavras de Chihiro ecoaram sob o céu azul de junho. Ela começou a andar novamente, só que agora mais rápido. Basicamente, ela estava dizendo para eles se apressarem.

Ignorando Chihiro, Sorata acompanhou os passos lentos de Mashiro. Ele olhou para ela ao seu lado. Mashiro também olhou para ele.

— O que foi?

— Não é nada.

Ele queria perguntar o porque dela não gostar da ideia dele sair do Sakurasou, mas ele não queria ouvir uma resposta do tipo “Eu não iria gostar se a pessoa que me dá baumkuchen fosse embora”. Ele estava feliz com a forma que as coisas estavam por agora.

 

14 de junho
Era a conclusão da reunião. Nela estava escrito o seguinte:

— A sugestão de proibir o romance dentro do dormitório teve 1 á favor, e 5 contra. Nos reunimos novamente sem nenhum motivo, como sempre. — Secretário: Ryuunosuke Akasaka.



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