A Garota Pet do Sakurasou Japonesa

Tradução: NiquelDBM

Revisão: NiquelDBM


Volume 1

Capítulo 4: Ser sério não é uma coisa ruim

Já estava de noite.

Quando Sorata chegou, ele rasgou o papel em seu quarto que estava escrito “Meu objetivo: Fugir do Sakurasou”, e declarou na frente de todos que ele ficaria no Sakurasou.

— Lamento profundamente por perturbar o clima. Graças à ajuda de todos, eu voltei a pensar normalmente. Vou continuar morando aqui no Sakurasou, então, por favor, peço que me aceitem de volta.

Jin sorriu para Sorata, que estava com a cabeça baixa, e Chihiro bebia cerveja, enquanto falava para Sorata não dizer coisas tão constrangedoras. Misaki mudou de assunto como se ela não tivesse nada a ver com isso, e sobre o Ryuunosuke: ele estava em seu quarto, obviamente. Mas ele mandou uma mensagem: 

^ — Que bom. — De Maid-chan ^

Ele mandou a empregada IA fazer todo o trabalho, e nem participou da reunião.

Ele decidiu continuar no Sakurasou por Mashiro, mas ela também não estava participando da reunião. Ela foi trabalhar em seu mangá assim que voltou para casa, então Sorata não sabia o que ela estava achando sobre isso.

Provavelmente o prazo de entrega estava próximo, porque Mashiro estava se concentrando ainda mais do que antes, e se ele tentasse falar com ela, ele era completamente ignorado.

Mesmo quando ele falava para ela tomar banho:

— Ei, Shiina. Vai tomar um banho.

— ...

— Vai logo.

— ...

— Parece que posso falar o que eu quiser, já que não vai me responder. Ei, se você não me responder, eu vou pegar nos seus peitos.

— ...

— Desculpa, era brincadeira.

Mesmo depois disso, Mashiro não mostrou nenhuma reação.

Sorata não teve coragem de pegar nos peitos dela, então ele desistiu e voltou para o quarto, refletindo sobre seu valor próprio.

No dia seguinte, Sorata ficou triste pelas coisas que disse. Quando ele abriu a porta do quarto dela, Mashiro estava dormindo na cadeira, o grande monitor estava na frente dela.

A luz do sol nascente refletiu na linda Mashiro de uma forma em que ela parecia um anjo ou algo sagrado.

Como ela não respondeu quando ele tentou falar com ela, ele a arrastou da cadeira e de alguma forma a trouxe para a escola.

Claro, do jeito que ela estava, ela não iria conseguir prestar atenção nas aulas.

Quando Sorata a visitou na sala de arte durante o intervalo, ele a viu dormindo na mesa, como se nada estivesse acontecendo.

Os outros estudantes de arte disseram que Mashiro não acordou em nenhum momento, não importava se os professores tentassem falar com ela.

Ele pensou que teria que esperar ela depois da escola, mas pelo contrário, foi Mashiro quem veio até ele enquanto Sorata estava arrumando sua mochila. A testa dela tinha uma marca vermelha por dormir mesa, e o cabelo dela estava bagunçado.

No entanto, Mashiro segurou a ponta da camisa de Sorata, e pediu para que ele a levasse para o dormitório imediatamente.

Graças a isso, os colegas dele acabaram entendendo as coisas um pouco errado, mas Sorata teve que sair antes de ter a chance de se explicar.

Assim que eles voltaram para o Sakurasou, Mashiro ativou o “modo de trabalho” e se trancou no quarto para trabalhar em seu mangá. Ela também não disse “obrigada” ou qualquer outra coisa para Sorata.

Aparentemente, ela estava desenhando e finalizando mais de uma página por dia. Ela enviava os arquivos para sua editora por e-mail, e também tinha pequenas reuniões por telefone.

Com o passar do tempo, as páginas que não eram aceitas, acabavam espalhadas pelo chão do quarto dela.

Para o quarto continuar limpo, Sorata tinha que ir limpá-lo quase sempre.

Os rascunhos de Mashiro continuavam muito bons, bons o suficiente para alguém achar que aquela era a versão final. Eles eram desenhados com linhas firmes, e não tinha nenhuma mancha de tinta.

No calendário na parede estava escrito “Prazo da Competição de Amadores” no dia 30 de junho, e foi escrito com um marcador vermelho.

Faltava menos de um mês até lá, ela não podia se dar ao luxo de ter páginas rejeitadas. Ela tinha que ter seus rascunhos aceitos para poder finalizá-los assim que puder.

No entanto, mesmo nessa situação difícil, Mashiro não estava relaxando enquanto esperava uma resposta, ela continuava fazendo seus desenhos ao máximo.

Sorata perguntou algo a Mashiro, mesmo que ele não esperasse que ela fosse responder:

— Você não deveria relaxar um pouco?

— Eu preciso praticar mais. Coisas assim vão acontecer de novo no futuro.

Mashiro respondeu isso imediatamente, mas ela ainda estava encarando o monitor com os desenhos.

Não importava o que ele dissesse, ele seria completamente ignorado por ela.

Mesmo que Mashiro estivesse concentrada apenas em seu mangá, ela às vezes ia até Sorata e dizia algumas coisas, mas eram coisas que não faziam o menor sentido. Se Sorata tentasse falar primeiro, ela o ignorava, e só falava com ele quando ela queria dizer algo.

A primeira vez que isso aconteceu foi quando ela veio até Sorata e Misaki, que estavam jogando um jogo de luta, e disse:

— Sorata, eu vou pro meu quarto.

E ela realmente subiu para o quarto depois de dizer isso.

Ele olhou no corredor quando o round acabou, mas ela já tinha ido embora. Ele não sabia o que ela estava tentando dizer.

— Kouhai-kun, o que foi isso~?

— Eu sei lá.

No dia seguinte antes de dormir:

— Sorata, vou tomar banho.

Ela foi ao quarto dele novamente no dia seguinte, e disse:

— Sorata, vou ao banheiro.

Sorata cuspiu o suco que estava bebendo quando ouviu isso.

— O que é que você quer me dizer com isso?!

— Foi você quem me disse para te contar tudo que eu fosse fazer.

— Eu não quis dizer dessa maneira!

Ele disse isso para ela no dia em que eles estavam saindo do motel.

Ele disse isso, mas não nesse sentido. Ele não quis dizer para ela contar tudo que fosse fazer no dia a dia.

— Quer que eu te conte quando eu for escovar os dentes?

— Não precisa me contar isso!

— E quando eu for me trocar?

— Isso também não!

— ... Isso é muito complicado de entender.

— E hoje tá ficando mais complicado ainda! Isso é mais complicado do que explicar pra minha mãe como funciona o impedimento no futebol!

— Impedimento?

— Não pergunte também!

Mashiro encolheu os lábios, ela parecia não ter gostado.

— Então eu tenho que te contar que meus rascunhos foram aceitos?

— Isso aí, me conta esse tipo de coisa!

— Meus rascunhos foram aceitos.

— Sim, sim. Parabéns.

— Obrigada.

Seria ruim se ela não contasse as coisas importantes também, ainda mais quando Sorata havia pedido pra ela contar tudo que acontecesse com ela. Claro, quando ela chegou nele e disse que estava menstruada, ele ficou com vontade de morrer. Mas tirando isso, dava para aguentar.

— E sobre o impedimento?

— Eu já falei, não pergunta sobre isso mais!

Restavam nove dias para o prazo acabar. Durante esse tempo, Mashiro teve que desenhar trinta e duas páginas, então ela decidiu focar completamente nisso.

Sorata se recusou a explicar como funciona o impedimento.

Uma semana se passou desde então, e era 29 de junho.

Quando ele saiu do chuveiro e foi para seu quarto, ele olhou para Misaki, que havia invadido seu quarto, como sempre. Ela estava de short e camiseta, e ela estava jogando com os olhos colados na TV. O jogo era um RPG de apenas um jogador.

O jogo já estava contando mais de trinta horas, e ela já estava na masmorra final. Misaki tinha um estilo de jogo bem diferente.

Ela ignorava todos os monstros fortes do início, e não fazia nenhuma missão. Por isso o nível dela sempre era baixo, em qualquer jogo.

Sorata estava apenas olhando da porta, pois estava acontecendo exatamente o que ele esperava: ela entrava na masmorra do desafio com uma equipe extremamente fraca, e não conseguia derrotar nem os personagens pequenos que vêm antes do boss.

Ela continuou apertando o botão de reset, e repetiu esse processo várias vezes.

— Seria bem mais rápido se você só subisse de nível primeiro.

— Prefiro desistir do que ficar forte derrotando os fracos!

— Oh, é sério?

Mas o nível dela era mais baixo do que o nível “fraco”...

— De qualquer forma, eu quero jogar um jogo, então saia um pouco, por favor.

Misaki nem olhou para Sorata, ela apenas continuo jogando, desviando do ataque dos inimigos até conseguir fugir da masmorra.

— Entendi, você tá me ignorando completamente...

Ela estava usando um tipo de técnica para conseguir desviar.

— Tenho certeza que o jogo não foi feito pra ser jogado assim.

— Não, não, Kouhai-kun! Você só precisa jogar do jeito que você quiser jogar! Não é divertido jogar pelo caminho definido por outras pessoas! Eu vou fazer o meu próprio estilo de jogo!

— Mesmo assim, esse jogo não é real, não precisa levar tão a sério.

Enquanto gritava coisas sem sentido, Misaki chegou na frente da sala do boss final. Ela só precisava passar por uma última onda de inimigos para conseguir chegar no boss.

De qualquer jeito, o HP de Misaki era tão baixo, que ela não iria sobreviver a um único ataque do boss. O ataque dele causava 3.000 de dano, mas Misaki não tinha nem 2.000 de HP. Ele estava 20 níveis acima do dela.

O boss também tinha uma segunda forma. Nela, seus ataques tinham veneno e petrificação misturados, esses dois juntos causavam danos extremamente altos.

Misaki, que não sabia nada sobre isso, conseguiu passar pela onda, e chegou no checkpoint que ficava em frente ao boss.

Ela suspirou de alívio e foi salvar o jogo. Nesse mesmo instante, a tela apagou, e eles ficaram em silêncio. Então, o logotipo do console apareceu.

— Huh? O que aconteceu?

Sorata e Misaki olharam para o console onde estava o jogo, e viram Kodama, o gato malhado, dando patadas no botão de “liga/desliga”.

O console foi reiniciado pelo gato em um momento drástico. E este jogo, que era famoso por seu nível de dificuldade alta, não tinha nenhuma opção de salvamento, a não ser por checkpoints espalhados pelo mapa.

Como ela não tinha salvado a tempo, Misaki teve que voltar até o início da masmorra, onde ela tinha pego o último checkpoint.

Misaki ficou chocada, e ficou deitada no chão encarando o teto.

— Todas essas horas de esforço foram em vão. Eu não consigo mais continuar~. Sinto que minha alma se despedaçou em mil pedaços. Não foi meu coração que se quebrou, e sim minha alma. Não quero mais jogar.

— Eu sei bem como você se sente.

O gato também reiniciava o console enquanto Sorata jogava.

Sorata segurou Kodama e sorriu pra ele.

*Suspiro~*

Misaki suspirou.

— Sabe~, Kouhai-kun...

— Você vai dizer algo esquisito de novo?

— Amaldiçoar uma rainha e transformá-la em um cachorro é algo bem erótico.

— Que merda você tá falando agora?!

— “Hahaha! Vou te transformar num cachorro!” “Não vou fugir, não importa o que você faça!” “Por quanto tempo será que você ainda aguenta? Agora, transforme-se em um cachorro~!” “Kyaaa...” e assim, a rainha se tornou um cachorro!

— Essa maldição aí seria facilmente uma lenda japonesa.

— “E então, como é ser um cachorro?” “*gemido*” “Se você é um cachorro, então aja como um. Agora, me responda como um!” “Au... au, au...” “A pata!” “Woof” “Agora senta!” “Woof” “Que fofo, vou cuidar de você pra sempre, hahahahaha!” “*gemidos*” Assim! Qual é, vai me dizer que isso não foi erótico? Isso vai muito além de apenas ver uma calcinha ou uns peitos! É isso, esse é o verdadeiro significado de “erótico”!

— Você não deveria viver em sociedade!

Misaki suspirou mais uma vez. Toda a animação e felicidade dele pareciam ter sumido.

— Eu não consigo mais fazer isso~. Até mesmo jogar e conversar com você não faz com que essa sensação desapareça.

— Como assim?

— Não consigo lutar contra minha vontade.

— Você é algum tipo de viciada?

Misaki colocou as mãos em frente aos olhos. Provavelmente era para ficar cara a cara com suas emoções, e não apenas para evitar que a luz incomodasse seus olhos.

— Meu corpo está louco pedindo por isso.

A voz dela estava um pouco sexy.

— Eu quero fazer. Eu não aguento mais, Kouhai-kun!

— Fala isso pro Jin-senpai!

— Eu disse~.

— Eh, sério?

Ele achou isso um pouco estranho.

— Eu continuo enviando mensagens pra ele pedindo para terminar logo o próximo roteiro.

— O que?

Isso não era exatamente o que ele estava pensando.

— Da próxima vez, quero que seja uns 30 minutos... hmm, talvez até mais. Sou capaz de fazer um filme~. Ah~, eu quero tentar~!

— ...Você tá falando sobre animação?

— Sempre que eu olho para a Mashiron, me sinto como se eu estivesse queimando~. Ah~, eu quero fazer isso logo~!

Misaki estava rolando no chão.

Sorata não se sentia exatamente assim. Sempre que ele olhava para Mashiro, ele ficava nervoso. Era assim que ele se sentia em 90% das vezes. Nos outros 10%, ele sentia a mesma sensação que Misaki estava tendo: a sensação de querer fazer algo.

— Senpai, se você não vai jogar, me dá o controle.

Como Misaki estava deitada, dava para ver no peito dela um colar de prata fofo com um pingente de urso.

Quando ela deu o controle para Sorata, ela segurou o pingente com cuidado, e fechou as mãos nele. Os cantos da boca dela estavam um pouco levantando, mostrando um sorriso.

— Esse pingente é muito fofo.

Fazendo uma cara de surpresa, Misaki sorriu e acenou com a cabeça. Ele não precisava ouvir para saber que aquilo foi um presente de aniversário que Jin deu a ela.

Desde o dia seguinte do incidente do motel, ela começou a usar esse colar e ficava dançando alegre por aí. Ela não chorou mais nenhuma vez depois daquele dia. Ou pelo menos, Sorata não viu isso acontecendo.

Sorata olhou para a televisão e ligou o console usando o controle. Na página inicial, ele logou na internet e começou a baixar um jogo de ação e quebra-cabeça lançado há muito tempo.

Depois que o download terminou, ele instalou no disco rígido, o que levou cerca de 30 segundos.

Ele voltou para a página inicial do console e iniciou o jogo.

O logotipo nostálgico do jogo apareceu na tela, e logo a tela foi para o menu do jogo.

Já faziam quase 10 anos que aquele jogo foi lançado, os gráficos eram bem cafonas, mas os controles do jogo eram bons. Era um jogo simples, você apenas andava e derrotava os inimigos, por isso era bem viciante.

— Ah, esse jogo... É isso mesmo que eu estou vendo?

Misaki se levantou e grudou o rosto na tela.

— Se você só falar “é esse” ou “é isso”, eu nunca vou saber do que você tá falando.

— Calma aí, eu sei! É daquele projeto em que uma pessoa normal tem uma ideia e transforma ela em um jogo? Pensa~!

— É o projeto “Vamos criar um jogo!”.

Esse era um projeto feito por fabricantes de consoles para procurar pessoas com habilidades criativas.

A ideia pode ser de uma equipe ou de uma pessoa só.

As pessoas podiam enviar suas ideias de jogo em um formulário, ou até mesmo fazer uma apresentação na empresa, e, se você for aceito, recebe um suporte imenso para te ajudar a terminar seu jogo. Você também recebe um pequeno salário, que pode chegar até mesmo a um salário mínimo.

As vendas e anúncios eram feitas pela empresa do console, então você só tinha que se preocupar em fazer o jogo.

Era extremamente difícil passar na entrevista. Por isso, mesmo depois de 10 anos, poucos jogos foram realmente desenvolvidos e vendidos.

Como já era esperado, por causa da pequena chance de passar na entrevista, todos os jogos eram um sucesso depois de lançados. Um desses jogos era esse que Sorata acabou de baixar, um jogo de ação e quebra-cabeça desenvolvido por 4 alunos da Universidade de Artes da Suimei.

Esse jogo vendeu mais de 1.000.000 de cópias, então ele era usado como propaganda do projeto “Vamos criar um jogo!”, e cada um dos membros da equipe recebeu 10.000.000 ienes cada.

Mesmo depois de tanto tempo, ainda tinha muitas pessoas esperançosas que sonhavam com um sucesso assim, o que tornava a competição ainda mais difícil. Mas nos últimos 10 anos, outras coisas também mudaram.

Por causa da inovação nos hardwares e a aparição de novas empresas no mercado, era ainda mais difícil criar um novo jogo de sucesso.

Por causa disso, agora os jogos eram vendidos em discos e embalagens por um curto período de tempo, e depois ficavam disponíveis para download na internet por um preço mais baixo.

— Será que você está fazendo um jogo, Kouhai-kun?

Misaki estava com uma cara de “Me conta, vai”, e ficou na frente da tela.

— Senpai, você tá na frente.

— Conta~, conta~! Você tá fazendo um jogo? Por que você não me contou?! Por que?! Por que, por que, por que ~?! Nós somos tão próximos! Eu não significo nada pra você?!

Com os braços levantados, Misaki estava fazendo parecer como se eles dois namorassem e ela acabou de descobrir uma traição.

Ela começou a sacudir Sorata pra frente e pra trás.

— Eu já falei, não da pra ver a tela!

— Se quer que eu pare, é só me contar!

— Para, você tá me enforcando!

Misaki estava quase derrubando ele da cama, quando uma voz familiar os interrompeu.

— Sorata.

Enquanto Misaki segurava ele, Sorata olhou para a silhueta perto da porta e viu Mashiro ali. Ela ainda estava com o uniforme escolar.

Mashiro olhou para todos os cantos do quarto, até que olhou para Sorata e Misaki, que estavam um em cima do outro.

— Não. A gente não tá fazendo nada!

— ...

— E-Eu não tô mentindo.

— ...

— Bom, você provavelmente nem deve ter pensado nessas coisas, então não importa...

Ele conseguia ver o cansaço nos olhos de Mashiro, mas ela estava com uma expressão feliz.

— Kouhai-kun! Só os covardes desistem no meio do caminho! Assuma as responsabilidades e vá até o fim!

— Quando você fala desse jeito sobre “ter responsabilidade e ir até o fim”, fica parecendo que a gente estava fazendo outra coisa!

Ele se soltou de Misaki.

Ele sabia que Mashiro não se importava com quem Sorata estava, mas ele não gostava quando ela ficava apenas o encarando sem demonstrar nenhuma emoção.

Misaki olhou para ele com as bochechas infladas igual um esquilo.

— Senpai, tenta ler um pouco o clima!

— Eu já li, e o clima é de diversão!

Ela respondeu isso com uma cara séria.

Ele empurrou Misaki com um travesseiro. Ela tentou responder algo, mas ele obviamente a ignorou.

— E então, Shiina, o que queria? Aconteceu algo?

— Eu terminei.

Quando ela disse “Eu terminei”, isso só poderia significar uma única coisa.

Sorata pensou em algo para dizer.

— Muito bem, Mashiron~! Me mostra como tá! Cadê? Quero ver!

Mas a oportunidade de Sorata falar algo foi interrompida por Misaki, que pulou em cima de Mashiro.

— O que eu faço~? Que emocionante! Estou muito empolgada pra ver! Que daora!

Ela parecia nem se importar mais com o que Sorata estava dizendo antes.

— Ah, bom trabalho.

Sorata levantou Mashiro do chão. Ela tinha sido derrubada por Misaki.

— Tá.

Mashiro passou a mão para limpar sua saia. Misaki subiu as escadas correndo pensando que tinha permissão para ler o mangá de Mashiro.

— Você vai mostrar o mangá para ela?

— Não posso.

— Você não recebeu permissão de mostrar?

— Não é isso.

— Então, por que?

— É vergonhoso.

— Mentirosa!

— Eu não.

— Não tem como você sentir alguma emoção humana!

— Você é tão estranho.

— A única pessoa estranha aqui é você!

— Você quer ver?

— Sim, sim.

— Então eu vou te mostrar.

Mashiro se virou para fora do quarto.

— Me siga.

Sorata seguiu Mashiro e saiu do quarto.

Quando Sorata entrou no quarto dela, ele se sentou onde ela disse para ele se sentar, era de frente para o grande monitor. Ele se sentou na cadeira com uma almofada, e deu pra sentir que a almofada era muito macia.

Ele ficou um pouco envergonhado sentando na almofada fofa, pois ele sabia que Mashiro ficava sentada ali o dia todo.

Seria burrice fugir agora, porque foi ele quem quis ver o mangá dela, e dizer que não queria sentar na cadeira dela seria rude.

O computador ligou e deu pra ouvir o som do HD girando. Sorata nem teve tempo para se acalmar.

Mashiro se inclinou em direção ao computador para mexer nele com a mesa digitalizadora. Ela manteve distância para não tocar em Sorata.

Quando ele percebeu que ela estava fazendo isso por ele, ele se sentiu mal consigo mesmo.

Enquanto Sorata se auto-criticava, o mangá de Mashiro apareceu na tela.

— Aqui.

Depois que Mashiro se afastou, ele pegou o mouse.

— Rápido, rápido, Kouhai-kun!

Por causa de Misaki, que estava apoiada nas costas dele, a mão dele parou de tremer. Ele rolou pra baixo para ler as páginas uma por uma.

Não tinha como negar, os desenhos eram incríveis, provavelmente por causa de todo o esforço que ela teve. Os cenários e a perspectiva dos personagens estavam melhores, e as expressões faciais estavam mais atraentes.

Ele podia sentir muito mais emoção agora, e os diálogos eram mais curtos e fáceis de ler.

Uma coisa nas ilustração chamou a atenção dele.

— Ei, Shiina.

— Oi?

— Sinto que já vi isso em algum lugar...

— O garoto se parece com o Kouhai-kun, e a garota parece com a Mashiron.

— É só sua imaginação.

Não parecia só imaginação, pois não eram apenas as ilustrações. A história também era familiar.

A história era sobre uma garota que cuida de um garoto que é bom fazendo pinturas, mas não tem senso comum.

Os papéis deles foram invertidos, mas sem dúvida nenhuma esses eram Sorata e Mashiro.

Assim como o que Misaki havia dito, os personagens se pareciam com eles, e Sorata não estava feliz com isso. Sorata se sentia desconfortável a cada página, e quando chegou na cena da garota que se parecia com Mashiro dando banho no cara que se parecia com Sorata, foi demais para ele. Ele queria gritar e dizer que tudo aquilo era mentira.

— E onde está a parte que a gente foi pro motel?

Ele voltou as páginas, mas não conseguiu achar essa parte.

— Foi retirada.

— Por que?!

— Foi a Ayano quem pediu para tirar.

— E aquela vez que eu fiquei de cueca para você me desenhar?

— Página três.

— Isso aí é uma cena em que o cara tá sendo lavado igual um cachorro!

— Na próxima vez eu coloco como um gato.

— Não é disso que eu tô reclamando!

Depois de pensar um pouco, Mashiro pegou um caderno de anotações que estava na mesa.

Ela passou algumas páginas e mostrou para Sorata uma anotação.

— É a sugestão da Ayano.

— Pera aí, não tinha um igual a esse antes?

Mashiro começou a ler o que estava escrito:

— “Shiina, no seu caso, os diálogos...”

— Sim.

— “...eram difíceis de entender, então...”

— Uhum.
 — “...não se preocupa muito com a história, apenas faça ilustrações bem bonitas das cenas do Sorata.”

— Entendi... Calma aí, o que?! Como ela sabe meu nome?!

— Eu falei para a Ayano sobre o Sakurasou.

— Você não conseguia pensar em nada melhor?

— Ela disse que era muito engraçado.

— Ela tá rindo de mim ou de você?

— A Ayano me disse pra usar isso como tema.

Esse foi um ótimo conselho, porque os personagens eram bastante simpáticos e o ritmo do mangá era divertido e agradável. Comparado com a história anterior, essa foi bem melhor. A diferença entre elas era enorme.

Além disso, focar mais na arte do que nos diálogos foi uma ideia muito boa.

Quando o personagem masculino aparece no final, o que raramente era feito em um mangá shoujo, foi quase que eletrizante.

Dizer que era bom no geral, não bastava, era como se cada página tivesse que ser elogiada. Mashiro foi capaz de desenhar ilustrações incríveis. Principalmente porque ela já fazia isso antes, então ela se aprimorou ainda mais.

— Uau~, Mashiron, isso é quase que uma trapaça~.

Misaki parecia estranhamente feliz dizendo isso.

Quando Sorata leu até o fim, ele tirou a mão do mouse.

— Como foi?

— Foi interessante.

— Sim. Ficou perfeito, com certeza vai ganhar o prêmio!

Sorata já podia imaginar isso. Ele não sabia qual era a qualidade esperada para o torneio de amadores, mas não achava que esse trabalho parecesse amador.

Sorata voltou a rolar pra cima para dar uma olhada em uma das páginas, mas o computador começou a fazer ruídos mecânicos e a tela começou a travar.

A tela desligou.

Os três não disseram nada.

Sorata começou a suar frio.

Ele apertou no botão de ligar o computador novamente.

Apareceu uma verificação de disco na tela, mas ela não ligava.

— Pode ter quebrado~. Era o HD que estava fazendo esses ruídos estranhos.

Misaki estendeu a mão para o teclado e começou a pressionar algumas teclas. Uma tela de bios azul apareceu. Estava em inglês, então ele não tinha certeza do que estava escrito, mas na seção de disco rígido dizia que nenhum disco foi detectado.

— O que... o que aconteceu?

Sorata começou a ficar com a boca seca.

— O disco rígido faleceu.

Misaki riu baixo por causa dessa piada.

— Shiina, você já tinha enviado pra sua editora?

— Ainda não.

O coração dele ficou pesado.

— Mas você fez um backup?

— O que é isso?

— Você nem sabe o que é?!

Mashiro parecia não entender o que tinha acontecido.

— Isso significa que todos os arquivos foram excluídos.

Então, Mashiro abriu uma gaveta e pegou papel e uns lápis.

— Uh, Shiina?

— Vou desenhar de novo.

— Mas o prazo...

— É amanhã.

— Mas não vai dar tempo!

— Eu não tenho escolha.

— Não, espera. Tem que ter outro jeito.

Mashiro trabalhou duro nisso, tanto que dava para ver o cansaço em seu rosto. Eles não podiam desistir só porque os arquivos tinham sumido. Além disso, como a última pessoa que mexeu no computador, Sorata se sentiu culpado.

Seria melhor se Mashiro culpasse ele, mas ela estava tentando desenhar novamente. Não havia como ela cumprir o prazo.

— Senpai, não tem nada que podemos fazer?

— E que tal o Ryuunosuke? Ele deve ser capaz de fazer algo.

— É isso!

Misaki saiu correndo do quarto, e voltou com um notebook totalmente carregado.

O programa de bate-papo já estava aberto, e Ryuunosuke estava conectado. Ele já até respondeu a pergunta antes mesmo que Sorata falasse algo. Os três olharam para a tela do notebook.

— Sem problemas, já está de volta, eu arrumei.

— O que?

Sorata e Misaki olharam um para o outro. Misaki parecia confusa. Isso significa que ela também não tinha contado nada para Ryuunosuke. Mas então, como ele sabe?

Mashiro não fazia ideia do que estava acontecendo, e só inclinou a cabeça pro lado.

— Como você fez isso? Você tinha um backup?

— Que pergunta idiota. Eu hackeei, óbvio.

— Não seja tão arrogante comigo!

— Te hackeei, lol.

— Você é corajoso, né?! E como você sabia do que aconteceu?

— Outra pergunta idiota. Eu grampeei os quartos.

— Já disse pra não ser arrogante comigo!

— Grampeei os quarto, hehe.

— Tá me zuando?!

— Claro que não. Estou sempre falando sério.

Sorata nem digitou no computador, mas Ryuunosuke o respondeu.

— Isso só piora tudo! Pare de grampear o quarto dos outros!

— Não se preocupe. Fiz isso apenas para ver se é realmente possível grampear um quarto. Não me importo com a conversa em si.

— Você é muito ousado pra um criminoso!

— Me desculpa.

— Você tá dizendo da boca pra fora.

Mashiro pegou na manga da camisa dele.

— Os arquivos.

— Ah, é mesmo. Akasaka, você realmente tem os arquivos do mangá dela?

— Estou sempre cuidando da rede de internet do Sakurasou. Assim, os arquivos da animação da Kamiigusa, as fotos e vídeos preciosos do Kanda, e outras coisas são salvos automaticamente no servidor sempre que abertos. Não se preocupe. Pontos cegos não existem para mim.

— Eu gostaria que você não falasse das minhas coisas.

— Vou colocar os arquivos em um pendrive. Está na frente do meu quarto.

Ryuunosuke saiu do chat.

— Ah! Calma aí! Fala onde que você grampeou o quarto!

Misaki correu escada abaixo.

Ela voltou quase que instantaneamente com um pendrive.

— Essa era a oportunidade perfeita pra ver o Ryuunosuke, mas a porta já estava fechada quando cheguei.

Eles conectaram o pendrive no notebook, e os arquivos do mangá realmente estavam lá.

— Acho que deveríamos ser gratos ao Akasaka por isso... mas...

— Mas?

— Não vamos dormir até encontrarmos os lugares que ele grampeou.

Naquele dia, Mashiro usou o computador de Misaki para enviar seu mangá para a editora, e eles procuraram os grampos no Sakurasou até meia-noite.

Durante esse tempo, Mashiro cansou e dormiu na escada. Alguns minutos depois, Misaki perdeu o interesse e foi assistir alguns vídeos na internet.

Ele não podia deixar Mashiro dormir na escada, por isso foi acordá-la para ela ir pro quarto, mas ela não acordou.

— Sorata... Obrigada...

Ele não conseguiu acordá-la porque seu coração estava batendo forte, então ele segurou Mashiro como uma princesa.

Chihiro estava vendo isso na hora, e tirou uma foto, fazendo com que Sorata ficasse totalmente envergonhado.

— Você vai se tornar meu escravo por um tempinho.

— Uma professora não deveria dizer a palavra “escravo” tão casualmente!

Ele implorou para que ela apagasse a foto, mas isso obviamente não deu em nada.

Mashiro estava dormindo com um rosto despreocupado, sem saber o que estava acontecendo enquanto ela dormia, até que Sorata deitou ela na cama. Ele olhou um pouco para o rosto de Mashiro enquanto ela dormia, e então saiu do quarto.

Ele foi mais uma vez tentar achar aqueles grampos.

Mas não importava o quanto procurasse, ele não achava nada, então desistiu e perguntou para Ryuunosuke através do bate-papo.

O grampo tinha sido colocado em um único lugar: o celular de Sorata.

— Quando que cê fez isso?

— Lembra que um dia você deixou seu telefone no dormitório e foi pra escola?

Isso realmente aconteceu. Sorata usava o telefone para ver as horas, e foi por isso que ele se lembrou desse dia tão facilmente.

— Não se esqueça que, durante o dia, quando ninguém tá aqui, o Sakurasou fica sob meu comando.

— Beleza, sai desse quarto e vem aqui, agora!

Ryuunosuke obviamente não saiu do quarto.

 

Parte 2

 

Tendo terminado seu mangá, Mashiro estava completamente sem animação para nada nos primeiros 3 dias de julho. Desde a hora que ela acordava para ir para a escola até a hora que ela voltava para o Sakurasou, ela estava como uma capivara nadando em um lago. A mente dela estava bem longe, em um mundo completamente diferente. Foi bem difícil de cuidar dela.

Mas, no 4º dia, a animação dela começou a voltar e, no dia seguinte, ela estava de volta ao seu estado normal, ela voltou a ser a Mashiro Shiina que estava sempre se esforçando fazendo desenhos.

O sentimento de querer fazer algo passou dela e foi para Sorata, porque ele era a pessoa mais próxima à ela. Então, tudo que acontecerá agora, será culpa de Mashiro.

Quando Sorata ligou o computador apenas para ler o blog de um desenvolvedor de jogos, ele se viu fazendo uma pergunta para Ryuunosuke:

— O que preciso fazer para me tornar um desenvolvedor de jogos??

Quando Sorata olhou para o que estava escrito na tela, ele ficou nervoso. Foi a primeira vez que ele expressou seus sentimentos em palavras.

Ele realmente não tinha um motivo em específico para perguntar isso. O que Jin disse para ele antes foi o motivo do interesse dele. Esse interesse cresceu em Sorata, e ver Mashiro todos os dias fez esse interesse crescer mais ainda.

Ele queria testar a si mesmo. Esse sentimento continuamente crescia dentro dele. Ele queria se livrar desse sentimento, então Sorata fez essa pergunta para Ryuunosuke.

Depois de um tempo de espera, Ryuunosuke respondeu:

— Você é chamado de “desenvolvedor de jogos” quando trabalha em uma empresa de jogos.

— Não, não foi isso que eu quis dizer. Quero saber como seguir nessa carreira. Não tem nada que eu possa fazer para isso?

Ele teve que esperar de novo. Depois de uns 30 segundos, Ryuunosuke respondeu:

— Primeiramente, você precisa aprender alguma linguagem de programação. Acho que você se sairia bem aprendendo linguagem C. Também ajudaria se você soubesse sobre hardwares e os fundamentos deles.

— E como eu posso aprender isso tudo?

— Começa lendo sobre. Posso te emprestar alguns livros para iniciantes que eu tenho aqui.

— Obrigado.

— Não precisa me agradecer. Eu sabia que você ia me perguntar isso de qualquer jeito.

— Como assim?

— Eu sei que você adicinou a página do “Vamos criar um jogo!” aos favoritos. Além disso, você fica olhando o blog daquele desenvolvedor toda hora. Foi fácil entender o que você estava pensando.

Sorata nem se impressionou com isso. Ryuunosuke fazia um backup do computador das pessoas sem permissão, então ver as páginas nos favoritos não é grande coisa.

— Entendo.

— Eu conheço uma pessoa que é dona de uma empresa de jogos. Posso falar com ele pra você.

— Não, me passa o contato dele que eu mesmo falo.

— É melhor assim. Aliás, caso você queira fazer algo, tem um site chamado “Creators Family”, ele é muito bom.

— Eu já fiquei sabendo sobre isso.

Esse era um site onde os desenvolvedores de jogos para consoles postavam códigos prontos, e quem quisesse criar um jogo, poderia utilizar esses códigos nos seus projetos. Não era apenas para criar jogos, mas também tinha como upar seu próprio jogo no site. Assim, as pessoas podiam jogar e depois dizer o que acharam dele, enquanto davam dicas e conversavam entre si.

Sorata já tinha baixado alguns jogos amadores do site e achou eles bem variados... eles variavam de jogos muito bem feitos, até lixo total.

— Você pode até conhecer o site, mas se você não sabe programar, não adianta de nada.

— Eu sei disso, não vou aprender a programar da noite pro dia. Primeiro, vou dar uma lida nos livros de programação.

— Ok. Deixei eles em frente à minha porta.

— Você é muito bem preparado.

— Você pode sentir vontade de desistir no começo, mas o sucesso virá no final.

— Para com essas frases de coach.

Quando Ryuunosuke julgou que a conversa já havia acabado, ele desconectou do chat.

Sorata foi ao quarto de Ryuunosuke para pegar os livros. Ele esperava que tivesse uns dois ou três livros, mas havia 10 vezes mais do que ele tinha imaginado.

No topo da pilha de livros, tinha um papel que Ryuunosuke deixou. No papel dizia para Sorata ler os livros de cima primeiro.

Ele levou os livros para o quarto, e abriu o livro de cima. Ele pulou as páginas de introdução, e começou a ler o capítulo um, onde tinha escrito todas essas coisas técnicas sobre programação.

— ...Droga, eu não faço a mínima ideia do que isso significa.

Isso era bem diferente de todas as matérias que ele estudava na escola. Ele viu que o livro ia ensinar um passo a passo de como criar o famoso “Olá, mundo!”, mas ele só sentia vontade de parar de ler. Ele não conseguia se imaginar criando um jogo aprendendo esse tipo de coisa.

— Vou me esforçar mais amanhã, eu acho.

Ele nem sequer conseguiu passar pelo treino de 1 hora que Ryuunosuke queria, e desistiu em menos de 20 minutos.

Ele colocou o livro de volta na pilha, e, pela primeira vez em meses, ele ouviu alguém batendo em sua porta.

Se fosse Misaki, ela entraria sem bater, e Mashiro também.

Então só podia ser Jin ou Chihiro.

— Tá aberta.

Ele falou isso olhando para a porta.

A porta abriu lentamente e... Mashiro estava ali.

— Ah...

Sorata congelou.

Mashiro estava vestindo um Yukata.

Agora que ele parou pra pensar nisso, ele se lembrou de algo que Misaki tinha dito ontem: Eles teriam uma festa do festival de Tanabata. Ela também disse que os meninos tinham que usar um Jinbei, e as meninas tinham que usar um Yukata. Eles tiveram que fazer uma reunião do Sakurasou apenas para tornar isso oficial.

Misaki deu o Jinbei e o Yukata de todos ontem, e também plantou uma árvore de bambu de quase 10 metros. Ela plantou do lado da cerejeira e de uma árvore que tinha sido plantada ano passado no Natal.

A árvore de bambu ficava no meio, e todas essas árvores juntas transmitiam uma estranha sensação de que eles estavam em diversas estações do ano ao mesmo tempo. Dava para ver essas árvores claramente da janela do quarto de Sorata.

Mashiro estava usando um Yukata escuro que destacava sua linda cintura, e estava segurando uma bolsa pequena. Ela estava de cabelo amarrado, então, seu pescoço branco, que não era sempre visível, estava chamando atenção. Dava pra sentir um cheiro bom vindo dela.

Mashiro apenas olhou para Sorata, sem dizer nada.

— O que foi...? Aconteceu algo?

Sorata desesperadamente se segurou para não dizer que ela estava linda, e deu tudo de si para manter um rosto calmo.

— Acho que não...

— Você precisa de mim para algo?

— Não.

— Então por que você veio aqui?

— ...

Podia ser só imaginação, mas Mashiro parecia chateada. Ela mexeu na franja, e continuou olhando para Sorata. Por algum motivo, ela estava completamente diferente do normal, mas ele pensou que era por causa do Yukata.

Quando Sorata se calou, os dois pareciam querer dizer algo, mas não conseguiam.

— Eaí, Mashiron, como foi?

Nesse momento, vestindo um yukata vermelho e falando com uma voz alta, Misaki apareceu.

Misaki olhou para Sorata e Mashiro e fez uma careta, como se ela já tivesse entendido o que estava acontecendo.

— Huh, eu fiz algo errado?

— Kouhai-kun, você é um bobão~~! Idiota~~!

Misaki insultou Sorata, e puxou Mashiro pela mão para levá-la de volta.

Quando Mashiro estava saindo, ela disse:

— Idiota.

O som dos passos delas não dava mais para ser escutado.

Sorata, que tinha sido deixado para trás, pensou consigo mesmo que as mulheres são difíceis de compreender, e desligou o computador. Ainda se sentindo culpado pelo que aconteceu, ele colocou a cabeça para fora para dar uma olhada no corredor.

Mas como era de se esperar, Mashiro e Misaki não estavam mais lá.

— O que foi isso?

— “Fica muito bem em você... eu não consigo mais me segurar, quero tirar sua roupa, quero brincar com seu corpo” provavelmente ela queria ouvir algo assim.

Quem disso isso foi Jin, que estava encostado na parede do corredor. Ele estava vestindo um Jinbei marrom, que combinava muito bem com ele.

— Calma, eu acho que metade disso aí é considerado assédio sexual.

— Quando eu falo, as garotas parecem gostar.

— Isso porque é você!

— Se vai reclamar, pelo menos pense em um motivo melhor.

Jin riu e andou até a porta.

— Você deveria se trocar logo e vir com a gente.

— Ah, espera aí! O que você quer dizer com isso?

Jin apenas continuou andando e acenando de costas com a mão.

— O que é que tá acontecendo hoje? E por que todo mundo vai participar disso?

Ele pegou o Jinbei que recebeu de Misaki no dia anterior e, antes mesmo de perceber, começou a ficar animado.

Quando ele se trocou e saiu para o jardim, ele viu Misaki com dezenas de crianças do bairro pendurando seus desejos na árvore de bambu. Eles estavam se divertindo muito, alguns mostravam para os outros o que tinha escrito, e outros tentavam esconder.

Eles fizeram um evento semelhante no Natal do ano passado também. Misaki sempre foi popular com as crianças, então ela era o centro de todos os eventos. Obviamente era porque ela tinha a idade mental de uma criança.

No papel dela, ela escreveu “Eu desejo ser capaz de atirar raios!”. Mas, na parte de trás, ela escreveu “Desejo também que ele preste atenção em mim algum dia” com uma letra pequena.

Isso fez o coração de Sorata doer.

Uma criança do jardim de infância estendeu a mão para pegar nos seios grandes de Misaki. Um castigo divino cairia sobre ele se ele fosse um adulto, mas Misaki apenas o acertou suavemente na cabeça e todos começaram a rir.

Sorata apenas observou todos de longe.

— Se ele realmente tocar, vou fazê-lo voar longe, não apenas até a Via Láctea, farei ele atravessar o Rio Estige.

— Senpai, você sabe que ele é só uma criança.

— Ei, você acha que eu posso sumir com ele sem ninguém perceber?

— Não diga essas coisas com uma cara tão séria.

— O que você tá dizendo? Eu não tô brincando.

— Isso só piora tudo!

— Hahaha, tô zuando.

Mesmo assim, ele não parecia estar rindo de verdade. Os olhos dele estavam focados em Misaki e apenas nela, era como se as outras pessoas não estivessem ali.

— Pega, esse é pra você.

Jin entregou um papel e uma caneta para Sorata.

— Um desejo...

Ao olhar para Mashiro, que estava sentada longe das crianças, deu para ver que ela estava escrevendo um desejo com uma cara séria.

Atrás dela, Chihiro estava bêbada como sempre, e estava bebendo ainda mais. Ela estava tendo um pequeno jantar com algumas das mães das crianças. Os 7 gatos que Sorata adotou estavam do lado delas comendo um pouco da comida que elas deram.

Misaki ainda estava com as crianças debaixo da árvore de bambu. O presente que ela ganhou antes estava refletindo o luar.

— A Misaki-senpai gostou do presente.

— Uh? Ah, sim, que bom.

Jin não olhou para Sorata, ele estava encarando o céu estrelado.

Observar ele fez Sorata sentir vontade de falar sobre aquele dia. O dia em que ele ligou para Jin do motel.

Mas antes que Sorata pudesse falar algo, Jin disse:

— Desculpa.

Sorata não sabia o porque de Jin estar se desculpando, e olhou para ele.

Jin ainda estava olhando para o céu.

— Eu pressionei muito você, quando você ainda estava decidindo se deveria se mudar.

Sorata finalmente conseguiu ver o rosto dele, os olhos de Jin pareciam amargurados.

— Você não precisa se desculpar por isso.

— Naquele dia... eu estava abalado.

— Aconteceu algo?

— Os donos de um estúdio de animação falaram mal do meu trabalho. Você deve saber do que estou falando. Você sabe como meus roteiros são criticados. Minha reputação online também não é das melhores.

Sorata concordou com a cabeça. Ele não falou nada.

As pessoas tinham uma diferença de opiniões, mas a maioria não estavam satisfeitas com os roteiros das animações de Misaki.

Por causa da animação incrível, o roteiro mal escrito dava para ser facilmente notado. Nas avaliações, tinham comentários como “O roteiro não tem a mesma qualidade da animação” e “O roteirista deveria ser trocado”.

— De acordo com eles, eu sou como um peso prendendo a Misaki. Já li isso várias vezes, mas essa foi a primeira vez que me disseram isso diretamente. “A história é mediana, e os personagens também. Os diálogos são entediantes. Da pra ver que a animação foi feita por um profissional, mas também da para ver que o roteiro foi feito por um amador.” Ouvir isso me machucou muito. Foi por isso que tentei descontar minha dor em outra pessoa.

— E é aí que eu entro, certo?

— Sim. Você era tipo um boneco de pancada, que seria nocauteado com um único golpe.

— Isso passa um pouco dos limites.

— Estou pensando um pouco nas minhas atitudes, acho que descontar minha raiva em outras pessoas não é algo que um adulto faça.

— Se você está pensando sobre isso, então me conte o resto... daquilo que você ia me contar aquele dia.

— O que eu ia dizer...? Acho que era algo sobre te ignorar.

Jin deu uma pequena risada.

Para Jin, era como se ele estivesse em uma situação que não desse para fugir.

— Por que não pode ser a Misaki-senpai?

Para ter ciúmes até de uma criança, então significava que ele a amava muito. Mas ele nunca se aproximava dela.

Antes, ele disse que era porque ele não queria machucar Misaki.

E quando ele pensou sobre isso, uma distância entre eles foi criada.

— Uma pessoa talentosa atrai outras pessoas para perto e, logo em seguida, esse talento destrói todas essas pessoas que estavam próximas. Quanto mais você se aproximar, mais destruído você ficará.

— Você está falando sobre a Misaki-senpai?

Jin concordou com a cabeça.

— Essas pessoas talentosas vivem em um mundo completamente diferente do nosso. Elas têm um talento que está muito distante da gente. Para uma pessoa normal como eu, essas pessoas estão além dos céus. Não consigo nem vê-los através das nuvens.

Jin continuou olhando para o céu.

— A Misaki vive em um mundo assim.

— ...

— Então, às vezes, eu quero quebrá-la.

— Isso...

— E você? De que lado você está?

Ao perguntar isso, Jin olhou para Mashiro, que estava pendurando um papel de desejos de uma das crianças.

Mashiro virou a cabeça para olhar pra Sorata.

Sorata olhou para a Yukata dela, e respondeu:

— A Misaki-senpai não se importa com talento ou habilidades.

— Eu também acho isso. Mas não consigo pensar em nenhum jeito de diminuir a distância entre nós dois, além de desistir. Então não sei como posso ficar ao lado dela. Até que eu possa me orgulhar de estar com ela, não tenho outra escolha a não ser agir assim.

— Então é só por isso que você não fica com ela?

— Você tá dizendo que isso é inútil? Eu sei, eu não consigo amar ninguém além da Misaki.

— Dizer que você não pode mudar a maneira como se sente, mas ainda namorar muitas garotas e fazer o seu melhor para tentar ferir os sentimentos da Misaki é algo que eu simplesmente não consigo entender.

— Se você sabe de tudo isso, então não fale.

Sorata se lembrou do que Misaki havia escrito no verso do papel.

— Os sentimentos dela não vão mudar. Seria mais fácil você ser esfaqueado por alguém do que isso acontecer.

— Haha, verdade.

— Não machuque mais a Misaki-senpai.

— Se você se preocupa tanto com ela, então faça ela feliz você mesmo.

— Você tá de brincadeira, né?

Jin não respondeu essa pergunta.

— Até que eu possa me comparar ao talento da Misaki, eu não terei o direito de ficar ao lado dela.

Sorata não foi capaz de perguntar se conseguiria estar assim também um dia.

Ele não queria ouvir uma resposta negativa.

Jin terminou a conversa, se levantou e saiu andando. Quando ele fez isso, parecia que tinham trocado de turno, pois Mashiro começou a caminhar na direção de Sorata.

Quando Mashiro ficou do lado dele, a garganta dele secou.

— Sorata, o que você desejou?

O papel de desejos dele ainda estava em branco.

— Nada ainda. E você?

— Não sei o que desejar.

Mashiro olhou para a árvore de bambu.

— Você pode desejar ganhar o prêmio.

— Não precisa.

— Eh, por que não?

— Eu vou ganhar ele com meu próprio esforço.

Ela não estava se exibindo. Seus olhos brilhantes estavam cheios de confiança e ela parecia determinada.

— ... Você é mesmo incrível.

— O quê?

— A confiança que você tem.

— É porque você disse que era bom ter confiança, Sorata.

— Então não me culpa se não ganhar.

— A Ayano também disse.

— Mesmo?

— Ela disse que devo ficar em primeiro ou em segundo lugar, depende da avaliação. Mesmo se eu não ganhar, devo receber pelo menos uma menção honrosa. Então eu confio nela.

— Quando sai o resultado?

— A primeira parte será no dia 19.

— Desse mês?

Mashiro concordou com a cabeça, sem mudar sua expressão.

Faltava menos de 2 semanas para os resultados. Por alguma razão, Sorata começou a ficar preocupado. Eles não sabem como será o resultado a menos que o anunciem.

O número total de participantes é de 700 a 800. Os prêmios são “O grande prêmio”, “O prêmio de ouro”, “O prêmio de prata” e 2 menções honrosas. Então, na realidade, o número de pessoas que ganha um prêmio é bem pequeno.

Era um caminho bem estreito para se atravessar.

Então Sorata decidiu desejar a vitória de Mashiro, e escreveu isso no papel de desejos. Ele decidiu pendurá-lo o mais alto possível para que Mashiro não pudesse vê-lo.

Mashiro ficou ao lado de Sorata, e sem palavras, olhou para o papel no galho de bambu, tentando identificar o desejo dele.

Sorata olhou para seus lábios finos que refletiam um pouco do luar. Ele queria olhar mais para eles. Ele queria estender a mão etocá-los.

— O que foi?

— Nada.

Ele não podia dizer que estava olhando para ela. Para tentar controlar seu coração que estava batendo cada vez mais forte, ele tentou mudar de assunto.

— Você fica bem de Yukata.

— ...

— ...

A pessoa que disse e a pessoa que escutou, congelaram.

— Quer dizer... não... não tem nenhum motivo em específico para eu ter dito isso!

— Ok...

Por que ele disse aquilo? Por que ele disse uma verdade para tentar esconder outra verdade? Ele queria se esconder em um buraco. Mas sair agora seria ainda mais embaraçoso.

— Vai se tornar realidade, não é?

— O que?

— Não é nada.

Quando ele ia perguntar, Chihiro pulou nas costas dele:

— Ei, você.

Ela estava bebada, então colocou todo o peso dela nas costas de Sorata.

— Sensei, você fede à bebida!

— Você~... não se esqueceu da sua pesquisa de carreiras, né?

— Sai de perto de mim!

— Qual o problema se meus peitos estão tocando em você~? Não fique animadinho com isso.

— Uau! Ei, não toque na bunda de um aluno! Isso é assédio sexual!
 

Parte 3


Embora a estação meteorológica tenha anunciado o fim da temporada de chuvas, ela continuou a cair e não foi nem até metade de julho que o céu azul do verão ficou visível.

Durante esse período, as avaliações semestrais foram finalizadas e quando os resultados foram divulgados, já dava para sentir felicidade e decepção misturados, mas isso já era passado.

Hoje, dia 19 de julho, era feriado nacional do Dia da Marinha, então eles não iriam para a escola. Também era um dia antes das férias de verão. Então, as férias já tinham praticamente começado. A cabeça de todos estava lotada de alegria, planejando o que eles iriam fazer durante todo esse tempo.

Sorata também estaria assim se fosse no ano passado.

No entanto, este ano ele estava um pouco diferente. Ele não tinha nada planejado para aquele dia, mas ele acordou de manhã cedo e estava inquieto. Esse sentimento não o deixava nem quando estava almoçando ou comendo alguma coisa durante a tarde.

O sentimento só acabou crescendo com o passar do tempo.

Para melhorar seu humor, ele começou a preparar o jantar, porém quando seus pensamentos voltaram, suas mãos paralisaram no mesmo lugar.

Ele sabia o motivo de estar assim. É porque hoje era o dia em que os vencedores da Competição Amadora iriam ser anunciados. Ele ouviu que a primeira parte era fácil de passar, mas quando o dia finalmente chegou, ele não conseguiu nem sentar para descansar. Ele não tinha nada a ver com a situação, mas simplesmente não conseguia se concentrar.

Por outro lado, Mashiro foi acordada por Sorata, debaixo da mesa como de costume e, após isso, ela continuou a desenhar seu mangá.

Ela não falou nada sobre a primeira parte da competição.

Ela acabou saindo de seu quarto e estava alimentando os gatos na cozinha com Misaki. Não, a única que estava conseguindo os alimentar era Misaki. Por algum motivo, os gatos não queriam comer na mão de Mashiro. Todos os sete gatos cercaram Misaki.

— Comam muito e cresçam para se tornar grandes tigres.

Mashiro que não queria perder, e continuou a tentar alimentá-los, mas Hikari, Nozomi e Kodama viraram rapidamente

— Sorata, o que você fez com eles?

— Por que eu?!

— Os gatos são seus. Eles estão sendo maus comigo.

— Não me culpe por isso!

— Eu quero que eles se tornem tigres~!

— Os gatos não vão se tornar tigres! Eles vão apenas ficar gordos!

Desde o começo, todos os sete gatos estavam acostumados com as pessoas, então eles eram muito amigáveis. Sorata era quem queria perguntar por que eles evitavam apenas Mashiro.

Mashiro tentou alimentar os gatos de novo, mas não teve sucesso.

Mashiro estava desapontada, e quando ela sentou na mesa da cozinha, um telefone começou a chamar. O toque estava definido com o som padrão do telefone.

Era o telefone de Mashiro.

— Sim?

Com um movimento robotizado, Mashiro pegou seu telefone.

Sorata inconscientemente verificou o horário. Eram 18:10.

Jugando pelo momento da ligação, com certeza era uma ligação da editora. Não, ele nunca tinha visto Mashiro receber uma ligação de mais ninguém.

Sorata sentiu seu corpo ser esmagado por uma força invisível.

Ele ficou com sede e queria fugir. Ele teve um mau pressentimento sobre isso. Sua visão começou a ficar escura.

Enquanto isso, Mashiro não fez nada, e apenas continuou respondendo “Sim” durante algum tempo, sem realmente dizer mais nada. Sua expressão não mostrava nenhuma emoção. Ele não conseguia ler nada em sua expressão. Isso significava que ela passou na primeira parte?

— Obrigada.

Com isso, Mashiro desligou o telefone.

Sorata, Misaki e os sete gatos ficaram em silêncio e olharam para Mashiro.

A mão de Mashiro que estava segurando seu celular começou a ceder.

— Não fui aceita.

Parecia que a voz de Mashiro vinha de longe. Parecia que ela falava em uma lingua estrangeira. O cérebro dele era incapaz de processar o que ela tinha acabado de dizer.

Mashiro se levantou da cadeira.

— Vou para o meu quarto.

Dizendo apenas isso, Mashiro começou a cambalear enquanto andava em direção ao seu quarto.

— Ah, Mashiron.

Misaki começou a seguí-la, e olhou para Sorata.

— Kouhai-kun!

A voz de Misaki também parecia distante. Ele ouviu sons de passos vindo em direção a ele. Misaki puxou sua mão, mas ele não conseguia se mexer.

Seus sentimentos começaram a se misturar e o imobilizaram.

Ele sentiu seu corpo sendo enrolado e sentiu como se ele tivesse sido desconectado dos arredores.

— O que é isso? Por que isso está acontecendo? Por que meu coração está assim?

Ela não foi aceita. Mashiro não passou.

Ele achou que iria ser bom se ela passasse. Ele queria que ela ganhasse. Mas agora, ele não sabia o que sentir. Como seu corpo deveria reagir nesse momento?

Ele sentiu seu coração bater no ritmo das batidas das horas.

Mas fora isso, ele não conseguia ouvir mais nada.

Ele estava rindo nas sombras. Ele estava olhando para si mesmo enquanto ria. Ele estava rindo pra caramba vendo aquele rosto triste.

Sorata não aguentou mais e empurrou Misaki para o lado, e começou a correr. Seu destino não era o quarto de Mashiro. Era a porta do dormitório. Ele correu para fora, ele só queria escapar, nem que fosse por 1 segundo.

— Ei, Sorata?

Ele cruzou com Jin, que estava tirando os sapatos. Ele não conseguia falar nada.

Ele só podia olhar para baixo e correr.

Ele não queria mostrar a mais ninguém. Ele não queria que soubessem que ele ficou feliz quando soube que Mashiro não se classificou...

Quando Sorata voltou a si depois de fugir do dormitório, ele estava sentado em um pneu de um parquinho. Ele inclinou a cabeça para o chão e, sem motivo nenhum, olhou para a fila de formigas que estava voltando para casa.

Ele não sabia quanto tempo tinha ficado ali.

O dia já havia terminado e os postes começaram a acender.

Ele com certeza tinha torcido por Mashiro. Ele queria que ela ganhasse o prêmio.

Ele desejou que os esforços dela fossem recompensados.

Era isso que ele pensava.

Mas então, o que foi aquele sentimento de antes? Ele se perguntou por que ficou feliz quando soube que Mashiro não foi aceita.

Ele sentiu que estava louco por se sentir feliz com o infortúnio de alguém, e para piorar, eram os infortúnios de Mashiro. Ele se sentiu como se fosse um ser humano horrível.

— Eu sou realmente horrível...

Ele colocou as mãos na cabeça. Ele queria chorar. Ele queria desaparecer. Ele queria morrer.

— Que história é essa?

Surpreso, ele olhou para cima e viu Jin perto do pneu ao lado dele. Sorata rapidamente desviou o olhar. Ele não queria que Jin visse o seu eu tão lamentável. Ele não queria que os outros descobrissem sobre seu eu distorcido. Se os outros descobrissem, ele não seria capaz de retornar ao Sakurasou.

— Quero ficar sozinho.

— Não tente parecer legal.

Com palavras alegres, Jin sentou-se no pneu. Ele sabia muito bem o que aconteceu, sem nem precisar olhar para ele.

— O novo anime da Misaki… Você viu, certo?

Sorata não respondeu de volta, e Jin não esperava uma resposta.

— Os críticos estão delirando com ele. Para um anime de 5 minutos, já foram três propostas diferentes para uma versão em DVD. É frustrante.

— Me deixa em paz!

— Nos primeiros três dias, houve mais de um milhão de visualizações. Todos estavam empolgados com o novo trabalho da Misaki.

— Eu estou te dizendo, Senpai!

Quando ele olhou para cima, Jin estava olhando para frente, mordendo os lábios.

— Eu… eu pensei que seria um fracasso. Era isso que eu desejava.

Os punhos de Jin começaram a tremer.

— Eu realmente queria que ela fosse quebrada desta vez.

— Senpai...

Ao contrário de sua calma habitual, o rosto de Jin estava distorcido de dor. Sorata agora sabia que Jin tem reprimido seus sentimentos até o momento.

— Eu não entendo as pessoas que conseguem ficar felizes por causa do sucesso de outra pessoa.

Jin olhou para cima e forçou um sorriso ao dizer isso.

— Desculpe. É só que eu sei como você se sente.

— Eu…

— Não se preocupe com isso. A Mashiro ou a Misaki não seriam capazes de entender de qualquer forma.

— ... Eu sinto muito.

— Sobre o que?

Jin riu alto. Ele começou a acariciar a cabeça de Sorata de forma desajeitada.

— Vamos comer um pouco de ramen no caminho de volta? Por minha conta.

— E... a Shiina, ela está bem?

Jin não disse nada de volta. Ele já estava se afastando do parquinho.

— Pode ser um pouco bobo se preocupar com isso agora.

É verdade que ele queria ver o rosto feliz de Mashiro se ela ganhasse a competição. Porque ele pensou que Mashiro seria capaz de sorrir pela primeira vez. Ele queria ver isso.

— Bem, isso não importa. Ambos são seus verdadeiros sentimentos. Esse tipo de coisa... não é simples.

Ele não podia concordar totalmente, mas graças a Jin, ele se sentiu muito melhor.
 

Parte 4


No fim, Mashiro não saiu do seu quarto naquela noite. Ela ficou trancada lá em silêncio.

Mesmo no final do semestre, Sorata foi ao quarto dela para acordá-la como sempre fazia, mas ela não respondeu.

Sorata não teve outra escolha a não ser deixar Mashiro e então ir para a escola.

Era a primeira vez que ele ia para a escola sozinho desde que Mashiro chegou, então parecia que ele havia deixado algo importante para trás.

Quando a cerimônia de final do semestre acabou, Sorata foi arrastado pelos seus colegas e foi até um karaokê. No entanto, ele não estava com vontade, então ele saiu sozinho nos primeiros 30 minutos. Enquanto ele andava sem rumo, ele pegou o caminho mais longo até o Sakurasou.

Quando ele chegou, era pouco mais de 3 horas da tarde e o sol ainda estava alto no céu, com um calor de ferver.

Enquanto ele tirava os sapatos e enxugava o suor, Misaki, que estava vestindo uma camisola e uma minissaia, correu até ele.

— Ei, ei, a Mashiron ainda não saiu do quarto dela.

— Mesmo que você me diga isso...

— Kouhai-kun, essa é sua obrigação!

Se houvesse algo que ele pudesse fazer, ele já teria feito.

— Se ela ficar presa dentro do quarto sem comer, ela pode morrer! A Mashiro é muita magra, ela é fraca!

— Tá bom.

Sorata respondeu de volta e subiu as escadas sem se trocar.

Misaki foi atenciosa com ele e não o seguiu.

A porta do quarto de Mashiro dava a ele a impressão de que ele não era bem-vindo.

Sua mão, que estava prestes a bater, parou. E sua boca, que estava prestes a falar, congelou.

O que ele deveria dizer? Como ele deveria dizer isso?

Mesmo depois de pensar muito em algo adequado para falar, ele não conseguia pensar em nada.

Mashiro ficou em silêncio quando soube do resultado, mas ela estava chateada com certeza. Ela sacrificou todo o seu tempo de sono nisso. Ela provavelmente tinha confiança de que iria ganhar o prêmio. No Tanabata, ela disse que era capaz de ganhar pelo seu próprio esforço.

Ah, deve ser isso. Deve ser por isso que ela está chateada. Certamente ela está chateada por isso.

Quanto mais você se esforça em algo, mais dói quando você falha. Somente aqueles que foram capazes de assumir esse grande risco conseguem entender.

Aqueles que pensam primeiro no fracasso e ficam com medo de se machucar, ou com medo de saber a verdade, que se recusam a conhecer seus limites e pensam nisso como uma perca de tempo, jamais serão capaz de estar no mesmo lugar de algúem como Mashiro.

Se você fizer alguma coisa pela metade, então terá uma desculpa para dar a sí mesmo. Shiina bloqueou essa rota de fuga, então só ela poderia se culpar caso ela falhasse. Ela sabia que poderia falhar, mas mesmo assim, ela ainda lutou pelo prêmio.

Se esforçar não garante que você vá conseguir algo. Ao mesmo tempo, haviam outras pessoas que também estavam se esforçando, isso tornava a competição ainda mais dificil e competitiva, transformando essas pessoas em rivais de Mashiro.

O mundo é assim. Esse não é um mundo onde duas pessoas podem ganhar algo de mãos dadas. Só pode haver um número um.

Era óbvio que algúem como Sorata, que estava apenas assistindo do lado de fora, não era capaz de dizer nada. O que um espectador poderia dizer? Ele não poderia fazer uma cara de quem entendia algo e fingir simpatia. Isso seria estúpido da parte dele.

“Sem graça” é uma palavra que o descreveria perfeitamente se ele fizesse isso.

Desde que ela começou a se esforçar nisso, já não tinha mais como ajudar.

“Você pode tentar novamente.” “Está tudo bem, sempre há uma próxima vez.” Esses comentários nunca ajudariam Mashiro. Nunca.

Mashiro já sabia disso. Sem que ninguem lhe dissesse, ela sabia melhor do que qualquer um... A razão pelo qual doía, e o valor dessa dor. Ela não iria compartilhar isso com Sorata. Tudo, incluindo as memórias do fracasso, pertenciam apenas a Mashiro.

A mão que estava prestes a bater na porta começou a tremer.

Ele manteve sua boca fechada. Se não fizesse isso, pensou que poderia gritar.

— O que eu estava fazendo? O que eu fiz enquanto apenas assistia a Mashiro se esforçando?

Ele só conseguia pensar nas coisas negativas que ele tinha feito.

Ele realmente não ajudou ela em nada.

Suas emoções começaram a se misturar.

Seu coração estava formigando de dor.

Sabendo de tudo isso, ele não poderia ficar parado.

— ... Droga, eu preciso fazer isso!

Dizendo isso em voz alta, Sorata percebeu que ele estava sorrindo.

Ele não podia mais reprimir o seu sentimento.

Ficar parado na frente da porta não vai iniciar nada. Nada iria mudar. Mashiro não poderá ouvir nada daqui. Ele tinha que entrar no quarto para falar com ela. No momento, ela estava distante, mas se ele corresse, ele seria capaz de chegar lá.

Em um passo, ele acelerou do primeiro andar até o seu quarto. Ele procurou sua bolsa. Ele pegou o formulário de pesquisa de carreira. E com sua mão tremendo de emoção, ele começou a escrever as palavras que vieram à sua mente.

Ele colocou o formulário na bolsa e correu para fora do quarto.

— Ah~, Kouhai-kun!

— Eu tô indo para a escola! Eu volto logo!

Sorata correu para o segundo andar da escola até a sala dos professores e, sem bater na porta, ele abriu ela com força.

Alguns professores gritaram de surpresa.

Antes que qualquer um dos professores falassem com ele, Sorata andou em direção a Chihiro que estava sentada em sua cadeira.

— Você parece cansado.

Sua respiração estava pesada, seu uniforme escolar estava grudado em seu corpo, e o suor pingava no chão.

Chihiro, que parecia estar aborrecida, estendeu o braço como se estivesse falando com um cão e perguntou.

— Você trouxe, certo? A pesquisa de carreiras.

Por alguma razão, Sorata ficou feliz e sorriu.

— Pare de sorrir e me entregue.

Ele pegou uma folha de papel amassada.

Chihiro deu uma olhada nele e o colocou dentro de uma pasta.

— Então, você escreveu “Se entregar isso é obrigatório, então quero estudar Mídias Digitais”. Bom, eu acho que vou ficar satisfeita com isso por enquanto.

— Obrigado.

— Mas o grau de dificuldade no Setor de Mídias é um pouco alto para suas notas, mesmo com ajuda dos professores.

— Vou estudar.

Sua respiração começou a voltar ao seu ritmo normal.

— Você acha que vai conseguir fazer isso?

— Se eu não puder, vou fazer uma prova para outra coisa.

— Certo. Bem, então se esforce. Você já pode ir agora.

Sorata se curvou, e correu de volta para o dormitório.

Quando ele voltou para o Sakurasou, os sapatos de Jin estavam na porta.

Ele podia ouvir algumas vozes vindo da cozinha. Provavelmente era Misaki ou Jin.

Ele subiu para o quarto de Mashiro e ficou na frente da ponta novamente.

Ele prendeu a respiração, mas seu corpo, que estava implorando por oxigênio, não se acalmou.

Suas gotas de suor estavam caindo. Ele estava estava passando mal por causa do calor. Mas ele não tinha intenção de deixar Mashiro para depois. Ele só tinha esse pensamento na cabeça.

A porta fechada ainda não era acolhedora para Sorata.

Mas por algum motivo, parecia mais acolhedora do que antes.

Sorata se encostou na parede, esticou as pernas e se sentou na frente da porta.

— Shiina?

Ele não teve resposta. A porta se manteve fechada e em silêncio.

— Você está dormindo?

Então, não adiantava falar. Não havia como ela responder de volta se estivesse dormindo. Sorata riu ligeiramente de sua estupidez.

— Bem, isso não importa.

Ele só tinha esse pensamento. Se ela estava dormindo, acordada, ignorando ou ouvindo, isso não importava.

— Estou falando comigo mesmo, então você não precisa responder. Isso mesmo, tudo bem, mesmo que eu esteja falando comigo mesmo. Pode não significar muito, mas eu entreguei meu formulário de pesquisa de carreiras. Eu fui o último a entregar.

Ele sentiu fraqueza em suas pernas, mas foi uma sensação boa.

Ele correu a toda velocidade pela primeira vez em muito tempo.

Se esforçar em algo foi muito bom.

— Eu vou chegar até você. Vou estudar para fazer as coisas que eu quero fazer.

Não houve resposta. Ela pode estar realmente dormindo.

— Também estou pensando em aprender a fazer jogos. Eu sempre tive o interesse, mas eu estava com muito medo.

E também, em algum lugar dentro dele, ele não queria ter que se esforçar para algo.

Ele sabia que seria bom para ele, e foi graças a Mashiro que ele foi capaz de tomar essa decisão.

— Vou tentar passar na entrevista de uma empresa de jogos. É graças à você que eu sou capaz de pensar assim.

Em silêncio, Sorata falou pela última vez.

— É isso... Desculpe por dizer todas essas coisas estranhas.

Ele se levantou e olhou para a porta de Mashiro por um tempo.

Não era como se ele estivesse esperando nada. Sorata não achou que o que ele disse seria importante para Mashiro. Na verdade, ele ainda não começou a fazer nada ainda.

Ele ainda estava na linha de partida.

Portanto, ele não podia realmente esperar nada.

A porta nem sequer se moveu.

Esta era a realidade.

Foi doloroso, mas ele teve que lidar com isso. Mashiro sentiu uma dor maior do que a dele.

Sorata começou a ir em direção às escadas. Naquele momento, a porta de Mashiro lentamente abriu por dentro.

Sorata parou e congelou com sua boca bem aberta. A visão que ele teve era do quarto de Mashiro em um estado em que ele não imaginava que fosse estar.

Ele pensou que a sala estaria escura.

Ele a imaginou deitada em sua cama cabisbaixa abraçando os joelhos.

Ele pensou que os olhos dela ainda estariam inchados por causa de todo o choro.

Mas todos esses pensamentos estavam todos errados.

O que Sorata viu foi um mundo branco.
 

chão estava coberto com suas roupas e em cima delas haviam varias páginas de rascunhos de mangá.

Não havia apenas algumas páginas de rascunho. Ele até poderia dizer a quantidade de folhas que havia no chão, mas um número de apenas dois dígitos seria pouco. Todas eram páginas que Sorata nunca tinha visto antes. Eram rascunhos novos.

E no meio de toda essa bagunça estava Mashiro, ela estava olhando para Sorata, mas ela olhou para além disso. Ela estava olhando para o amanhã. Ela escolheu seu próximo objetivo. Ela não estava nem um pouco triste com tudo que aconteceu. “Vou ganhar o próximo prêmio. Com certeza eu vou ganhar.” Isso era o que seus olhos claros estavam dizendo.

Isso mesmo. Ele havia se esquecido de algo muito importante.

A moradora que ficava no quarto 202 do Sakurasou era a Mashiro Shiina. Ela era um lobo na pele de um cordeiro. Ela andou pelo caminho que ela mesma trilhou e conquistou seus objetivos pelos seus próprios esforços. Ela era uma fera que não tinha nada além da ambição de alcançar o sucesso.

Mesmo que ela se machucasse, ela se livraria de toda a dor e se levantaria novamente. Mashiro já sabia disso. A única coisa necessária para chegar ao sucesso é o próprio esforço.

— Sorata, eu vou ganhar da próxima vez.

— Eu sei.

Ele só conseguiu dar um amargo sorriso. Ele sentiu como se tivesse feito algo importante, ficando todo suado no processo, mas em comparação com Mashiro, isso não era nada. Ele não fez nada. Mashiro estava muito à frente dele.

Ele não queria perder.

Esse pensamento de repente floresceu em seu coração.

Ele decidiu guardar isso só para ele, no coração.

Quem sabe, ele pode ser capaz de alcançá-la algum dia. Não, ele irá alcançá-la. Para entender a alegria e a dor de Mashiro, ele não teve escolha a não ser tentar alcançá-la. Ele não estava no mesmo nível que ela. Ela estava completamente distante, mas ele iria chegar lá um dia.

— Sorata.

— O que foi?

O estômago de Mashiro de repente roncou.

— Estou com muita fome.

— Bem, você não comeu nada o dia inteiro, então é normal.

Mashiro de repente perdeu a força nas pernas e se sentou.

— Ei, você tá bem?

— ... Eu me sinto bem, é estranho.

— Tem certeza que tá bem?

Ele passou pelos rascunhos e andou na direção de Mashiro.

O estômago dela roncou novamente.

— Sorata... Comida.

— Eu sei.

Quando ele estava ajudando ela a se levantar, o telefone de Mashiro tocou. Sorata o pegou na pilha de roupas e papéis e deu o telefone para ela. Na tela tinha o nome “Ayano”. Era a editora de Mashiro.

Com uma voz sem emoção, Mashiro atendeu o telefone.

Sim, sim. Enquanto falava ao telefone, os olhos de Mashiro de repente se iluminaram com uma surpresa.

Quando ela desligou, ela parecia fraca.

Sorata fechou o telefone para ela.

— O que ela disse?

Os olhos de Mashiro, que estavam fora de foco, olharam para Sorata. Ela olhou para ele e piscou algumas vezes.

— Sorata.

Sua voz estava baixa por algum motivo. Antes que ele pudesse perguntar se ela estava bem, Mashiro correu para ele. Foi muito repentino, então ele não conseguiu segurá-la corretamente.

Mashiro envolveu seus braços ao redor de sorata e eles caíram sobre o chão.

As folhas de papel flutuaram para e cima e para baixo. Sorata estava sentindo o calor do corpo de Mashiro, enquanto observava essa cena incomum.

Ele podia sentir os batimentos do coração de Mashiro. O cheiro misturado do shampoo e suor perfurou o seu nariz.

Parecia que um cobertor grosso estava em cima dele, ele se sentia confortável e nervoso ao mesmo tempo. Ele não conseguia falar, mesmo se quisesse.

Ele já teve uma experiência semelhante antes, mas isso não era nada comparado ao que aconteceu... Porque ele conseguia sentir Mashiro ainda mais.

Seu corpo não foi capaz de reagir.

— ... Shiina?

Ele chamou ela pelo nome que ele estava acostumado a chamar.

Ele podia sentir os braços de Mashiro tremendo, como se ela estivesse tentando segurar algo.

Ela estava tremendo de uma forma que ele nunca tinha visto.

Não era porque ela estava com medo ou com frio. Ela não estava tremendo de raiva. Então o que era? Que outras razões fazem as pessoas tremer?

— Sorata...

— O que aconteceu?

Sorata desesperadamente falou com uma voz gentil.

— Era a Ayano.

— Isso eu sei.

— Eu fui avisada...

— Para que?

— Para olhar o telefone. E ela também disse que eu deveria ouvir as ligações até o final.

Ele olhou o telefone de Mashiro e mostrou que havia mais de 30 chamadas perdidas. Havia algo que precisava ser dito com tanta urgência depois de não ser aceita?

— E mais o quê?

— Ela me disse o porque de eu não ter sido aceita.

Sua voz estava tremendo. Sorata não conseguia pensar em uma razão pela qual ela não tenha conseguido.

— O que ela disse?

— Ela disse que vai ser publicado na edição do próximo mês.

Seu coração começou a bater tão rápido que até doeu.

— Alguém não conseguiu terminar um mangá à tempo, então no lugar...

— Entendo.

Seus braços queriam abraçar Mashiro com força.

— "Se o seu mangá for publicado, então não precisa de um prêmio". Foi o que os jurados disseram...

— O que... Então foi isso.

Então foi por isso que ela não se classificou. Não precisava, o mangá já era bom o suficiente para ser publicado.

— Eu não ouvi a ligação deles até o final...

— Realmente, você é muito boa em surpreender as pessoas.

— Eu me sinto um pouco estranha.

— Por que?

Ele podia ver que Mashiro estava tentando expressar esse sentimento de alguma forma.

— Eu estou feliz, mas também estou chorando.

— As pessoas são assim.

Quando Mashiro se sentou, suas lágrimas começaram a cair.

Sua expressão não mudou, mas suas lágrimas correram por suas bochechas e caíram.

— Parabéns.

Mashiro não conseguia falar, então, ainda chorando, ela acenou com a cabeça algumas vezes.

Ele pensou consigo mesmo,

— Eu vou deixar ela ficar sentada na minha barriga até ela parar de chorar

mas, naquele momento, confetes explodiram em cima de sua cabeça. Fios de papel voaram e coloriram o quarto branco de Mashiro.

Só havia uma pessoa que faria algo assim.

— Mashiron, parabéns pela sua estréia!

— Parabéns.

Mas hoje, haviam três pessoas. Ao lado de Misaki estavam Jin e Chihiro, que devem ter acabado de voltar da escola.

Deitado de costas, ele olhou para cada um deles.

Ele tinha um mau pressentimento sobre isso.

Como eles apareceram em um momento tão específico? Como eles souberam da estreia de Mashiro? E ainda trazendo confetes.

— Ehh... Posso fazer uma pergunta?

Os três pares de olhos o encararam pedindo que ele continuasse.

— Desde quando vocês estão ouvindo?

— Desde “Estou falando comigo mesmo, então você não precisa responder”.

— Então estavam desde o início!

Isso é ruim... Ele queria se esconder só de lembrar que disse isso. Ele disse coisas embaraçosas no auge de sua juventude.

— “Vou estudar para fazer as coisas que quero”!

Misaki jogou sal na ferida dele dizendo isso de uma maneira engraçada.

— Eu tô implorando, por favor, pare! Eu vou morrer! Eu posso realmente morrer!

Misaki tentou falar mais, mas Jin a impediu. Mas ele estava claramente segurando o sorriso.

— Uau~ Isso foi realmente divertido de se assistir.

— Eu te proíbo de me olhar assim!

— Veja, se todos concordassem com minha ideia de não ter romance dentro do dormitório, então você não sentiria essa vergonha toda.

Ele não conseguia rir de jeito nenhum. A energia de Sorata havia sido drenada.

— Bom, então, eu vou comprar alguns lanches. Você pode cozinhar, Misaki.

— Nós vamos fazer isso hoje à noite~. Será uma festa para celebrar a estréia da Mashiron!

Misaki correu atrás de Jin, que desceu as escadas, e Chihiro os seguiu.

— Ah, Mitaka, compra umas cervejas também. Umas 3 dúzias já servem.

Sorata não tinha forças suficientes para dizer que isso era cerveja de mais.

Ele pediu para Mashiro que ela saísse, e então se levantou.

Pensando que ele deveria ajudar Jin com as compras, ele tentou sair da sala, mas Mashiro tentou seguir ele, então ele desistiu.

— Shiina, você precisa se trocar primeiro.

Ele desviou o olhar e tentou parar Mashiro. Mesmo dentro do dormitório, andar de pijama era muito perigoso.

Ele saiu do quarto e fechou a porta atrás dele.

Mas depois de cerca de 10 segundos, ela abriu novamente por dentro.

— Sorata, que roupa devo vestir?

Ela já tinha tirado a parte de baixo, e ele pôde ver suas pernas brancas. Por causa da blusa do pijama, ele não conseguia ver a calcinha dela, mas ele não tinha certeza se deveria estar olhando para lá.

— Pergunte isso antes de tirar a roupa!

Sorata ficou muito envergonhado e virou a cabeça.

Observando Sorata, Mashiro olhou para si mesma e puxou sua blusa para baixo. Ela tentou puxar para baixo o máximo que pôde para cobrir as pernas. Se inclinando um pouco para a frente, Mashiro encarou Sorata. Como se ela fosse tímida, ela inflou as bochechas e disse:
 — Pegue as roupas para mim depressa.

— Huh? Ah, sim, certo. Com essa resposta incomum, Sorata hesitou um pouco e apontou para uma peça de roupa preta.

— Use uma camiseta branca por baixo.

— E a calcinha?

— Você já está usando ela!

— ...

Ela desviou os olhos e balançou a cabeça levemente.

— Você tirou ela também?!

— Escolha logo uma.

As bochechas de Mashiro ficaram levemente rosadas.

— Então use aquela preta com renda.

Ele tinha decidido qual seria.

— Vou me trocar.

— Certo.

— Não olhe.

— Eu não vou olhar!

Sorata fechou a porta enquanto dizia isso.

O que foi isso?

Ele nunca tinha visto Mashiro agir assim.

A imagem de seu rosto corado estava presa no cérebro de Sorata, e não saia. Ela estava nervosa? Não, não tinha como. Mashiro Shiina envergonhada, especialmente na frente de Sorata, era quase tão irreal quanto a Terra explodindo.

Ela sempre teve que perguntar para Sorata sobre qual calcinha ela deveria usar todos os dias, então o que foi isso agora?

Suas preocupações não sumiam. Para acalmar seu coração, ele respirou fundo várias vezes antes de Mashiro sair do quarto.

Depois de 5 minutos, Mashiro finalmente se trocou e saiu do seu quarto. Surpreendentemente, seu cabelo bagunçado agora estava penteado e arrumado.

Ele olhou para o rosto de Mashiro por reflexo.

— O que foi?

— Nada...

O contrangimento que Mashiro estava antes desapareceu. Ele estava vendo coisas?

— Ei, Shiina.

Ela perguntou perguntou “O que?” de lado.

— Estou só repetindo o que já disse, mas de verdade, parabéns.

— Sim... Obrigada.

Ela desviou o olhar novamente de forma tímida.

— Ei, Sorata.

— Sim?

— Eu tenho um pedido.

— Você vai me pedir um presente pela sua estreia?

— Me chame pelo meu nome.

— Shiina.

— Não esse...

— ... Eh.

Não me diga que ela queria que ele a chamasse de Mashiro? De qualquer forma, foi muito repentino. Se bem que Mashiro sempre agiu de forma repentina para começar.

— Não, isso é demais para mim.

— Por que?

— Eu nunca chamei uma garota pelo primeiro nome.

— Mas você chama a Misaki.

— Ela é um alienígena.

— Chihiro também.

— Ela é uma tarada.

— Mas e quanto à mim?

— Você...

Ele não conseguiu pensar no que dizer.

— Isso é injusto.

— Ah, tudo bem. Eu te chamo pelo nome da próxima vez.

— Chame agora.

Mashiro se aproximou dele e não parecia que ia sair. Quando ela encurtou a distância, ele sentiu como se seu cérebro fosse explodir. Mashiro, mesmo olhando para ele, fazia ficar difícil de se manter calmo.

— Me chame pelo meu nome.

Como Mashiro pediu isso novamente, Sorata teve que desistir.

Ele realmente sentiu pena de sí mesmo.

Sorata silenciosamente respirou fundo para que ela não notasse.

Era só chamar um ao outro pelo primeiro nome. Era só isso. Dizendo isso para sí mesmo, ele controlou sua voz trêmula e disse.

— ... Mashiro.

— Eu sabia.

— O que você sabia?

— Não posso dizer.

A resposta de Mashiro foi curta como sempre.

Ela estava brincando com ele. No entanto, Sorata não perguntou sobre isso. Não, ele não podia perguntar.

Seu campo de visão foi bloqueado por ela. Ele não podia fazer nada.

Mashiro estava na frente dos olhos de Sorata. Ela nem sorriu quando soube de sua estreia, mas estava sorrindo alegremente na frente dele.

Quando ele viu essa cena, ele sabia que nada importava de verdade.

Ele só queria ver o sorriso de Mashiro. Enquanto Sorata estava pensando isso, ele sentiu que alguém estava rindo dele silenciosamente. Ele se virou e viu Jin, Misaki e Chihiro, que estavam escondidos na escada olhando para ele.

— Esse é o auge da sua juventude! É a sua juventude, Sorata!

Jin, que não conseguia mais segurar, gritou.

— Eu não deveria ter olhado. Isso foi cruel. Agora eu tô triste, vocês são frios!

Chihiro começou a esfregar os braços mesmo não estando frio.

Misaki, que estava de pé no centro, estava segurando uma grande quantidade de confetes de festa. Jin a ajudou a jogar o confete.

— Coma isso, Kouhai-kun!

Antes que ele pudesse dizer “Para!”, houve um barulho, e então Sorata e Mashiro ficaram cobertos de confetes.

— O que aconteceu com as compras e a preparação da festa?!

— Não tínhamos visto a agenda, mas o dever de fazer as compras desta semana é seu, e o de cozinhar também!

— Você deveria fazer isso por mim dessa vez, olha a situação que eu tô!

— Nada disso. É você quem vai fazer.

Chihiro disse friamente.

— Sorata.

Mashiro puxou a manga da sua camisa.

— Eu vou fazer as compras por você.

— Não, deixa que eu vou.

Como sempre, o Sakurasou estava barulhento.

Por aqui, esse era o padrão.

Hoje tivemos um evento alegre para nos lembrarmos dele depois, e algo vai acontecer amanhã também, com toda certeza. E no dia seguinte. E na semana seguinte, no mês seguinte e assim por diante. Sempre haverá algo interessante acontecendo por aqui.

Afinal, o lugar em que Sorata morava era o Sakurasou.



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