Volume 2
Capítulo 47: Um dia de maravilhas para um príncipe encantado
27 de Março de 4818 - Continente de Origoras, Cidade-Estado de Palas, Setor Oeste da Academia de Palas
“Shuyu, meu filho… espero que essa carta lhe encontre apenas em seu dia tão especial, pois certas coisas só farão sentido nessa data. Peço desculpas se não for o caso.
Hoje, marcam dezesseis anos desde que o universo me tirou aquilo que eu acreditava mais amar. Sua mãe… ao mesmo tempo que você tem tanto dela, vejo em ti um espelho de mim mesmo. Você foi a mistura perfeita, resultado do amor que sentimos um pelo outro. A cada dia que passa, mais nítido isso fica aos meus olhos, será que é a velhice? A meia idade é mesmo curiosa.
O Shihan de 27 anos não era capaz de compreender ou aceitar a própria dor — como seu pai, nunca deixarei de me arrepender de não ter visto os seus primeiros passos nesse mundo. Mas, como eu disse, aquele dia também foi quando eu recebi aquilo que, hoje, é o que eu tenho certeza que mais amo neste mundo vasto.
Isto é você, Shuyu.
Eu posso não ser o ser humano perfeito que você acredita que sou, mas acho que soube guiar bem para que suas ações fossem distintas das minhas. Sui tem colocado na minha cabeça certas ideias que nunca achei que teria, e elas apenas me escancaram o quanto minha distância pode ter sido a melhor opção.
Diferente de mim, meu filho, seu coração não se enrijeceu. E espero que jamais enrijeça, pois tudo que um pai pode pedir é que o filho não cometa os mesmos erros dos seus antepassados. Cometi pecados dos quais acredito que jamais poderei me desvencilhar, tanto com você quanto para aqueles ao meu redor, ainda que me doa o orgulho admitir.
Não gostaria de me alongar mais. Sei que foi mais uma lamúria do que uma carta de aniversário, e espero que compreenda minha saudade. Confiar a ti meus sentimentos é a minha forma de dizer que te amo, Shuyu. Meu único e maior conselho é que você siga, sempre e acima de tudo, seu coração.
Envie meus cumprimentos à Ayame e aos demais. Feliz aniversário.
— Shihan e Suika Mizuchiko.”
Uma lágrima dúbia escorreu pela lateral esquerda do rosto de Shuyu, derramando-se sobre o papel caro antes que o garoto tivesse a chance de limpá-la. As íris esmeraldinas esquadrinharam a carta mais algumas vezes, absorvendo cada pedaço de informação nela presente. Era raro ver seu pai comentar algo sobre o passado, do tempo antes de sua concepção.
A ideia de ser similar a uma mulher que jamais conheceu era fascinante. Nada havia sobrado da rainha anterior de Yggdrasil, nem mesmo uma foto sequer — segundo o que diziam os muitos empregados particulares da família real, tudo que a envolvia foi destruído pelo próprio Shihan pouco após sua morte. Aquela ação desesperada do rei era motivo de remorso até hoje, como bem sabia.
— Quero que saiba que nada tive a ver com isso. — Lendo seus pensamentos, Nidhogg logo tirou a culpa de si. — Meus poderes estavam inteiramente sob controle do Shihan. Até tentei impedir que ele continuasse, mas não estava em posição para isso.
— Eu sei, Nid — assentiu Shuyu, dobrando o papel antes de guardá-lo na primeira gaveta da escrivaninha. — Não tenho raiva de ninguém. Só fico… curioso, acho, para ver o que tanto veem em mim.
— Eu até poderia compartilhar algumas — recordou o dragão. Em sua mente, o príncipe pôde sentir um sorriso travesso se formar na cabeça dracônica — mas aí seria invasão de privacidade. Não é justo com quem me tratou com tanto respeito por mais de vinte anos.
— Poxa, não abre uma exceção nem pra mim?
— Claro que não, garoto. Tá querendo sentar na janelinha? — A risada estrondosa reverberou dentro de seu subconsciente. — Vai sonhando. Bem, feliz aniversário, vou dormir. Esse assunto me cansa.
Tão de repente quanto o interrompeu, a deidade voltou ao seu retiro espiritual, deixando Shuyu mais uma vez sozinho com seus pensamentos. Pela ausência de som do lado de fora da porta de sua suíte, seus três colegas de quarto deveriam ter saído para fazer alguma coisa da qual não fazia ideia. O apartamento era inteiro para ele naquela tarde, e iria aproveitar ao máximo para fazer o que bem entendesse.
— Acho que vou sentar na sala e ler o livro da professora Youju… A prova dela está chegando — ponderou, inquieto. — Me pergunto o que será que…
O som súbito e estridente da campainha quebrou sua linha de raciocínio por completo. Vestido em uma bermuda preta e regata branca bem casuais, direcionou-se ao hall privativo. Quem poderia ser? Nenhum dos garotos costumava sair sem as chaves e quaisquer outras visitas não eram comuns, quanto mais num sábado.
Hesitante, abriu lentamente a porta primária ao conjunto, como se estudasse a segurança antes de escancarar a passagem de fato. A visão que teve, porém, o fez questionar se estava delirando ou se, ali diante dele, havia mesmo uma acanhada e muito bela Yoko Kan’uchi, cujos olhos dourados estavam fixos sobre o rosto desarrumado dele.
Palavras faltariam no vocabulário extenso de Shuyu para descrever o que sentira ao ter sua atenção capturada pela princesa do sol. O vestido prateado, repleto de bordados de girassol, lembravam-no da flor favorita do casal, presente no pingente sobre seu busto; a maquiagem bem colocada realçava os lábios demasiado atraentes da garota e seu cabelo, trançado para criar uma espécie de “coroa” nas laterais, estava tão reluzente que poderia cegá-lo se admirasse demais.
Era um convite irresistível a apenas conceder passagem a ela e deixar que o instinto fizesse o que tinha que ser feito. Shuyu, claro, negou-os com todo seu coração, buscando as palavras certas enquanto hipnotizado pela beleza estonteante de sua mulher. Na ausência de qualquer “ideia perfeita”, deixou sair o pensamento menos formado possível.
— O que faz aqui?
Suas palavras, ainda que não tivessem sido em tom rude, a indelicadeza levou a solana a franzir as sobrancelhas em irritação. Ela aproximou seu rosto ao dele, encarando-o a centímetros antes de prosseguir com seu plano.
— Me deixa entrar logo.
— M-Mas eles podem v-volta…
Um empurrão o levou ao chão e Yoko se pôs dentro do dormitório, trancando a entrada com a chave dele. Um suspiro escapou pelos lábios dela antes de ajoelhar-se ao lado dele, segurar seus ombros e beijar-lhe sem demora. O príncipe tentou lutar contra, mas não demorou a ceder ao avanço implacável dos lábios sedentos.
Quando o ar faltou nos pulmões dela — se dele dependesse, ficariam daquele jeito por mais um longo tempo —, enfim se afastaram. Apenas o suficiente para que pudessem sentir a respiração quente um do outro tocarem seus rostos e o contato visual trouxesse arrepios na nuca de ambos os jovens. Yoko fez um biquinho deveras fofo antes de apertar uma das bochechas dele com bastante força.
— Já cuidei disso. Quero dizer, pedi ao senhor Fukushu para fazer por mim — revelou, risonha. — Vejo que ele cumpriu bem o que pedi.
— Desde quando você fez amizade com o Tatsu?
— Errar uma vez é normal, uma segunda é tolice. — Shuyu a encarou em confusão. “Admitir isso é mais complicado do que parece”, arrependeu-se ela. — Ou seja, novamente esqueci de trancar a porta da sala de treino.
— Certas coisas não mudam mesmo — riu o garoto. — Você é bem distra…
Sua parceira não gostou tanto assim, visto que o beliscão tirou um grito agudo de dor dele na sequência. Foi a vez dela rir, ainda que por pouco tempo: Shuyu enlaçou-a num beijo apaixonado, carregando-a com cuidado para a sala enquanto o fazia.
Seus atos ousados não duraram muito. Uma vez vitimados pela vergonha, deram-se conta de que nem sequer se cumprimentaram antes de despejarem seu desejo um no outro. Enquanto o menino achava a pomposidade dela um motivo de devoção, a aparência desleixada e casual atiçava em Yoko um sentimento desconhecido. Estavam ambos diante de suas respectivas formas de beleza mais genuínas e eram dois adolescentes com hormônios à flor da pele.
Como poderia ser diferente?
Não sabiam como agir ao redor um do outro sem ser com aquela intensidade. Sentados lado a lado no largo sofá do conjunto 403, tinham certeza de que um deslize e algo muito pior aconteceria.
— S-Shu. — Ainda consciente demais de suas ações, a voz da princesa saiu um tanto mais fina do que o normal. Suas mãos — Feliz aniversário. Queria ter sido a primeira, mas perdi muito tempo me arrumando.
— Sinceramente? Acho que o melhor presente que recebi em toda minha vida foi abrir a porta e ver você vestida… assim, só pra mim — confessou, com um sorriso bobo. — Acho que sou o homem mais feliz do mundo inteiro. Dá até vontade de fazer o que meu pai sugeriu.
— O que Sua Majestade Mizuchiko tem a ver com essa história?
— Ele disse pra seguir meu coração. E se depender dele…
Com a mão direita, Shuyu moveu o cabelo dela para o lado, na intenção de permitir que seus olhos se cruzassem mais uma vez. O gesto fez o coração dela pular uma batida e ganhar um rubor intenso nas bochechas pálidas.
— Eu me casava contigo hoje mesmo, sabia?
— D-Deixe de dizer abobrinhas! — reprovou Yoko, pondo-se de pé. — Vamos mudar de assunto! Tenho um… um plano para o nosso dia.
— E qual seria?
Do reino espiritual, a solana retirou uma sacola enorme de mantimentos. Uma análise rápida deu confiança para ele afirmar que seria o suficiente para muito mais do que a cabeça de sua namorada riquinha imaginava ser possível. A jovem, contudo, não parecia convencida disto.
— Eu estive treinando. Quero que me ajude a fazer um bolo… — As mãos dela pegaram as dele. — O seu bolo, Shu.
— Você? Cozinhando? — surpreendeu-se o garoto. — Ok, você não cansa de me impressionar hoje. Vamos começar?
Mizuchiko tomou a sacola das mãos dela para carregar os ingredientes, num gesto de cavalheirismo. Com a palma livre, enlaçou sua mão esquerda à direita dela e seguiram para sua empreitada do dia. Cada qual com suas razões, as expectativas estavam nas alturas, enquanto as risadas deles ecoavam por alguma piada sem graça do garoto.

O tique taque do relógio acompanhou o doce casal por longas horas. Fosse pela empolgação de explorarem, em conjunto, uma atividade tão fora do seu comum como a culinária ou pelas constantes paradas para provocarem um ao outro, Shuyu enxergava o pôr-do-sol com melancolia. Em breve, teria que se despedir de sua estrela-guia e não a soltaria de jeito nenhum enquanto esta hora não chegasse.
Depois de assarem o doce, não se deram conta de quais decisões os levaram a adentrarem o quarto do príncip. Seguiram o que seus desejos interiores comunicavam a eles, como se buscassem apenas uma maneira conveniente de prolongar aquele encontro tão desejado. A princesa, porém, teve uma surpresa ao abrir a porta do cômodo.
Desorganizado seria um eufemismo para descrever o espaço. Ao contrário de Yoko e sua organização metódica e disciplina, Shuyu aparentava fazer um esforço tremendo para manter o quarto habitável. Ao menos, parecia adepto ao bom senso — não havia lixo ou roupas sujas em nenhum ponto inadequado, apenas uma pilha enorme de coisas espalhadas por cantos aleatórios.
— Antes que você me julgue… — defendeu-se o garoto, notando o olhar dela. — É difícil manter tudo no lugar.
— Vindo de quem não gosta nem de pentear o cabelo quando tem um encontro… — provocou a ruiva. — Não me surpreende. Aqui não temos quem faça por nós também.
— Pelo menos tá limpo! Isso que importa.
Naturalmente, ele sentou-se na cama espaçosa e a convidou para fazer o mesmo. “Ele deve estar me testando”, deduziu, cautelosa, antes de assumir o espaço logo ao seu lado.
— Quer uma massagem, raio de sol?
— Hã?
— Seus ombros estão tensos o dia inteiro. Só de encostar neles já dá pra perceber — pontuou Shuyu. Os dedos dele acariciaram a pele do pescoço com delicadeza. — Mas só se você qui…
— Eu quero.
Pelo tom firme, não havia porque duvidar do pedido de sua donzela. A princesa foi rápida em mover os cabelos para frente e virar de costas para ele, alegre em ser mimada. Sem malícia ou segundas intenções, Shuyu iniciou a pressão sobre a pele porcelana de sua namorada. “As orelhas dela estão vermelhas”, percebeu, entre a alegria e a vergonha.
Sob o toque de suas mãos grandes, sentia Kan’uchi se desmontar em deleite pela incrível precisão de seus movimentos. A tensão inicial e a timidez deram lugar ao clima agradável enquanto, assunto após assunto, sentiam-se mais à vontade na presença um do outro. Tudo que não tiveram a chance de contar era motivo de risada: das piadas idiotas de Suika ao perpétuo bom humor de Shino, cada acontecimento colocava suas manas em maior sincronia.
Em algum ponto, a massagem terminou e Shuyu, de brincadeira, puxou-a em seus braços para deitar ao seu lado. Ela não resistiu; sequer poderia com um beijo tão tentador e um calor tão aconchegante. Pouco demorou para estarem em silêncio, apreciando o momento de paz.
Pelo menos, no primeiro momento. Com sua amada deitada sobre seu braço direito, a consciência do ínfimo espaço entre eles tornava-se cada vez mais difícil de ignorar para o jovem. O aroma floral de seus cabelos, cujos fios roçavam na ponta de seu nariz, a textura quente e macia da pele de porcelana, o jeito que podia ver perfeitamente as curvas dela por debaixo do vestido…
As qualidades de sua mulher eram inúmeras aos seus olhos. Mesmo que não fosse um canalha pervertido como Heishi, Shuyu seguia sendo um adolescente, com todas as características biológicas de um. A recíproca era verdadeira, pois não só ele estava usando toda sua força para conter suas ações.
— Shu. — Yoko ergueu o corpo para encará-lo por cima. — Me perdoa.
— O quê?
As desculpas não demoraram a fazer sentido. Diferente de mais cedo, agora ela estava em cima dele, quase que o prensando contra o colchão. Os olhos dourados da dama, presos aos seus esmeraldinos, expressavam um sentimento nunca antes visto por ele durante toda a relação.
Desejo. Nada similar à paixão bucólica vivida até então por eles — era uma ânsia por mais, um pedido de permissão para que a última divisória entre eles fosse levada pela corrente inabalável de amor que fluía dela para ele. A mana de Yoko reverberava a súplica para que Shuyu entregasse a ela tudo que pudesse oferecer, de corpo e alma.
— Y-Yoko, espe…
— Você não tem ideia do quanto eu te quero, Shuyu — cortou-o a princesa, ofegante. Ele podia ouvir o batimento cardíaco acelerado dela com seus ouvidos sensíveis. — Todos os dias. Por hoje, só por hoje, eu não quero o príncipe Mizuchiko, meu inimigo mortal e herdeiro de Yggdrasil. Eu quero o meu namorado, a pessoa que eu estou há dois anos e meio pensando igual uma louca.
“Por favor, Shuyu, me mostre o quanto você me ama.”
Ouvir a voz do coração de gelo de Yoko clamar com tanta sinceridade por ele foi o suficiente para mudar por completo a postura gentil. O beijo iniciado por ele era agressivo, sedento, e a garota correspondeu com igual ferocidade. Naquele breve instante, se permitiram esquecer de tudo: de seus reinos, de seus cargos, de seus problemas.
Ali, mais uma vez, foram transportados ao mundo onde eram somente Shuyu e Yoko, as duas metades da mesma moeda romântica e que jamais poderiam ser separadas nem pela mais poderosa das forças da natureza. O encaixe perfeito de seus lábios não deixava dúvidas de que cada parte daquele casal fora moldada sob medida para sua contraparte.
A mente embriagada de Kan’uchi fez seus movimentos tomarem um rumo bem perigoso. Se ninguém a impedisse, só o Deus Supremo saberia o possível caminho daquele fim de tarde de sábado, e não parecia uma ideia racional.
— Yoko! Yoko! — chamou Amaterasu, durante um breve intervalo em que a garota teve de se afastar para não sufocar. — Eu sei o que está passando na sua mente, e isso é demasiado indecente para uma dama do seu calibre! Vamos embora, você não tem muito tempo mais!
De tão imersa, a ruiva não deu ouvidos aos avisos de sua Bênção e continuou no ataque lascivo ao corpo de seu amado. Essa era a verdadeira natureza da princesa do sol, incapaz de entregar metade de si para o que colocasse na cabeça. Ela iria até o fim atrás do que considerava seu por direito.
Para a infelicidade dela, o mesmo não poderia ser dito de seu companheiro. A racionalidade de Shuyu não falhou em lembrá-lo do enorme risco de seus colegas de quarto retornarem — ao menos, era isso que usaria para justificar o medo de darem o próximo passo daquela maneira desesperada. Era vergonhoso admitir que não estava pronto? Esperava que não, pois era isso que iria fazer.
— Yoko… Yoko! — A garota abriu uma pequena distância para ouvir. A encarada dela era intensa demais, até para ele. — Tatsu não me avisou pra onde iriam, acho melhor a gente parar.
A princesa piscou uma, duas, três vezes. Escutou direito o que ele havia dito? Seu namorado, o cara mais grudento que conhecia, pedindo espaço? Suspeito, para dizer o mínimo, mas muito interessante. Nunca deixava de ser divertido conhecer uma nova faceta do príncipe dos dragões.
A contragosto, ela o liberou-o e se pôs de pé. No espelho na parede, os resultados da sua investida eram perceptíveis — seus cabelos estavam uma bagunça e o batom, borrado. Sorte que voltaria direto ao seu apartamento, ou não teria como esconder sua pequena peripécia. Shuyu estava da mesma forma, com suas roupas amassadas e os fios púrpuras ainda mais desgrenhados do que os de sua namorada.
Ficaram perdidos por cerca de um minuto, em dúvida sobre como prosseguirem depois de toda aquela intensidade. “Que droga, seria tão mais fácil se tivesse acontecido”, pensou ela, para o horror de Amaterasu, enquanto deixavam o quarto em direção à saída do apartamento.
— Tudo bem. Desculpa. — A frustração ainda existia, e Shuyu estava ciente disto. — Eu pensei nisso também. O tempo que combinei com Tatsuyu está acabando.
— Então foi assim que sabia a hora de vir?
— Claro. Esse segredo não pode ser conhecido por sem noções como Reiketsu e Shinwa — reforçou, sem remorso, Yoko. — Eles dariam com a língua entre os dentes em menos de dois dias.
— Tem razão… Acho que o idiota sou eu, às vezes.
— Ainda não concordo com você ter contado pra Chiwa.
— Eu já pedi desculpas!
Yoko conferiu todos os seus pertences antes de calçar de volta as sandálias. Shuyu abriu a porta com pomposidade teatral para ela, o que tirou uma risada de sua companheira.
— É uma tristeza ter que dizer isso… — Shuyu segurou a mão dela e se ajoelhou. — Eu te amo, Yoko. Não se esqueça de mim, viu?
— Você é um besta, Shu.
— Ah, não sei, vai que resol…
Foi silenciado por mais um beijo surpresa de Yoko, que se curvou para que ficassem na mesma altura. Assim que os lábios manchados se desconectaram dos seus, a frieza da princesa do sol vazio voltou ao seu rosto. Observar aquela expressão dura depois de um dia inteiro de enorme leveza lhe causou estranheza.
— Feliz aniversário, Alteza Mizuchiko. — Fez uma mesura respeitosa para se despedir. — Até mais.
— Até, Alteza Kan’uchi.
O barulho dos passos dela tornou-se cada vez mais distante, e Shuyu não desviou o olhar até a silhueta elegante sumir no elevador do prédio.
(Quebra)
— Andamos, andamos e não achamos a porra da loja que você disse, Tatsu! — A voz estridente de Togami alcançou os ouvidos de Shuyu através da porta. — Tô começando a achar que você confundiu tudo.
— Não costumo concordar com o porteiro de maquete, mas dessa vez ele tá certo. Não é possível que a gente ficou o dia inteiro fora e não achamos essa bendita loja!
— Tô falando, eu tenho certeza de que era no setor norte — defendeu-se o moreno, abrindo a porta do conjunto. — Amanhã, se quiser, a gente vai no sul! Ah, e aí, Shu, como foi seu dia?
Enquanto Togami e Heishi chiavam pelo suposto péssimo senso de direção de Fukushu, este deu uma piscadela discreta ao príncipe, como se dissesse “Haja naturalmente” apenas com os olhos. O herdeiro dançou conforme a música, fingindo cumprimentá-lo com um aceno antes de voltar a ler.
A pequena tormenta em forma humana passou por Shuyu em direção à cozinha, entre xingamentos e reclamações de frustração. O grito empolgado de Shinwa ao adentrar o cômodo fez as orelhas do draconiano queimarem de desespero — havia cometido uma gafe enorme, da qual se deu conta segundos antes do desastre.
— Não encosta! — urrou, assustando Togami. — Não. Encosta.
— A ganância nunca é plena, mata a alma e envenena, sabia? — retrucou o baixinho, antes pronto para garfar uma parte do lindo bolo de cenoura. — Qual é, só um pedaço! Vai me dizer que tu vai comer essa porra de bolo inteiro sozinho? E é meu favorito ainda!
— Vou! Sai pra lá, Togami!
Embora Heishi e Togami fossem incapazes de compreender, Tatsuyu soltou uma risada genuína diante da situação. Afinal, para quem tinha a informação privilegiada de como o príncipe dos dragões passou a tarde, a situação se tornava engraçada demais para não gargalhar.
— Feliz aniversário, Shu! — disse por fim, dando-lhe um tapinha nas costas.
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