Fios do Destino Brasileira

Autor(a): PMB


Volume 2

Capítulo 33: O início da primavera

5 de Fevereiro de 4818 - Continente de Origoras, Cidade-Estado de Palas, Setor Oeste da Academia de Palas 

 

— Que dor do cacete… O Heishi sempre pega pesado comigo por alguma razão.

Os ladrilhos de pedra espalhavam-se pelos muitos caminhos possíveis dentro da área da Academia de Palas, e Tatsuyu Fukushu não tinha a menor ideia por qual deveria seguir. O fim antecipado de sua primeira aula de Combate Mágico, sob supervisão da espartana Hakua Kitani, o pegou desprevenido — a última coisa que lembrava antes de acordar na enfermaria da ala oeste foi a tempestade de gelo assustadora que seu melhor amigo soltara sobre ele.

Sua primeira semana até ali fora recheada de descobertas. Em cinco dias, não foi capaz de explorar nem mesmo vinte por cento do espaço inteiramente livre aos estudantes, uma vez que estava ocupado demais em se adaptar à rotina pesada das aulas: começavam ao nascer do sol, com treinos físicos para todas as turmas, emendando isto com as aulas teóricas até pouco antes da hora do almoço. Durante a tarde, ele e seu grupo eram submetidos ao que Heishi nomeou na noite anterior de “tortura legalizada”.

Com exceção das lições de Armamento Divino, cujo ministrante ainda se encontrava em recesso, o verdadeiro peso daquela Academia foi apresentado para os novos estudantes por meio de seu corpo docente. A ideia de que pegariam leve para os novatos se recuperarem do longo exame de admissão e se ajustarem ao novo ambiente fora destruída logo no primeiro dia de aula. Se tivesse que parafrasear alguém, certamente usaria as palavras de Reiko para descrevê-los.

Impiedosos. Exigentes. Muito poderosos. A mera liberação de aura deles impunha o silêncio, embora em menor escala do que a da Líder Suprema. Estudantes arrogantes e encrenqueiros de ego alto — como um certo galã de gelo — eram colocados na linha com facilidade impressionante, alguns até submetidos a uma “demonstração” das técnicas daqueles profissionais. 

No fim, aquilo servia apenas para lembrar Tatsuyu do quão grande era o abismo entre a base e o topo da pirâmide hierárquica da Longinus. Se pessoas como Shouko Saihara, a professora de Combate Corporal que imobilizou Heishi com apenas uma das mãos, eram apenas o meio desta estrutura, o quão fora de série eram os Generais ou a própria Taeka Haruki, superior a todos eles? Pensar nisso lhe causava uma ansiedade boa, se é que algo assim existia.

Para um dia alcançar seus objetivos, deveria tornar-se forte como um deles. Era com essa convicção que marchava de volta ao campo de treinamento, torcendo para que Hakua fosse o tipo de professora que estendia a aula quando empolgada com os resultados de seus discentes. Entretanto, seus ouvidos captaram um murmurar repetitivo vindo de um dos bancos fora de seu campo de visão, próximo do prédio da enfermaria. A silhueta do qual originavam não lhe era estranha. 

— Oh, senhorita Koufuku! — saudou, partindo na direção da ruiva de cabelos cacheados.

Ouvir aquela voz chamar seu nome estremeceu o corpo de Hanako dos pés à cabeça. Suas íris âmbar atraíram-se magneticamente aos rubis dele, contrariando sua vontade de sair correndo e se esconder de vergonha, suas sardas destacadas na pele clara pincelada pelo rubor juvenil.

— O que faz aqui? — Não teve tempo de pensar, pois ele emendou a pergunta na sequência. — Achei que a aula não tivesse terminado, o sol ainda não se pôs…

— Ah… a pro-professora Kitani pediu que alguém fosse buscá-lo na enfermaria. Como eu tenho magia de cura, me voluntariei para caso ainda tivesse algum ferimento para recuperar.

— Sério? Obrigado!

Diante do sorriso agradecido de Tatsuyu, sentiu-se queimar por dentro — como ele poderia sorrir de maneira tão brilhante? Sabia tão pouco sobre aquele plebeu, mas a brevidade de seu conhecimento era suficiente para bambear as pernas torneadas da princesa. Tinha sorte que Reiko não conseguiu grudar nela para saírem juntas, ou estaria sob uma enxurrada de olhares maliciosos sem a menor dúvida.

Mesmo ferido, Fukushu não perdera o bom humor, pelo contrário. Pareceu ter recuperado por completo suas forças no tempo que passou fora de sala, andando empolgadamente pelos ladrilhos enquanto Hanako tentava acompanhar seu passo animado com suas pernas curtas. Narrava à faeri, atrás de si, como um dia ganharia de Heishi e teria o prazer de mandá-lo voando pelos ares com sua magia de fogo, sobre a nova convivência no conjunto 403, sobre como estava ansioso para as aulas da semana seguinte… Entre gestos e frases, era a primeira vez que o via tão comunicativo.

Fora contagiada pela falação sem fim dele, deixando-se levar.

— Será que o professor Iwa…

— O que almeja como Guardião, senhor Fukushu?

Afiadas feito navalhas, suas palavras cortaram o clima leve ao meio sem cerimônia — a boca de Tatsuyu manteve-se escancarada por alguns instantes antes de fechar-se em comunhão com seu rosto. Não era preciso confirmação para ter certeza absoluta de que feriu as emoções do garoto, cujo caminhar tornou-se cada vez mais lento.

A diferença de estatura permitiu que, ao chegar mais perto, Hanako pudesse ver aquele mesmo sorriso de quando se despediu dele da última vez em Dracone. O restante do rosto, oculto pela franja, a impedia de decifrar a verdadeira razão da melancolia repentina de sua paixão. Sensível como sempre, o jovem percebeu a preocupação da herdeira, realizando um gesto suave com as mãos para ela não se culpar por aquilo.

— Eu não tenho realmente um destino definido, Alteza. — A frase dele era receptiva e, ao mesmo tempo, fria. — Meu sobrenome é tudo que sei de mim. Às vezes, nem isso.

— E-Eu te entendo! — gritou do nada a garota. — É a sensação de não saber o que fazer e ser jogado em um caminho em que sabe o destino, mas não o que fazer no trajeto até lá! É sufocante, eu odeio isso!

Quando percebeu a maneira grosseira de seu desabafo, cortando a lamentação dele, Hanako apenas queria se enterrar mais fundo na terra e nunca mais sair. “Como fui tão egoísta! Você quem deveria escutá-lo, Hanako, não o contrário!”, praguejou em sua mente, atenta ao próximo movimento dele. Cada pedaço de seu ser era preenchido pelo medo de estragar tudo muito cedo com aquela pessoa interessantíssima.

Entretanto, para a surpresa da princesa, Tatsuyu apenas riu — uma risada sincera, meio aliviado, meio sem graça, exibindo seus dentes brancos para ela mais uma vez. 

— Sabe, Alteza… com o perdão da palavra, mas a senhorita deveria se soltar assim com os outros! — As bochechas dela eram agora tão coloridas quanto seu cabelo. — A senhorita se coloca para baixo demais. Não que eu seja um exemplo de confiança, claro…

— A-A senhorita T-Tengoku me contou do que fez no exame! — confessou. Se já estava afundada em sua vergonha, que dobrasse a aposta. — O senhor parou a Excalibur de mãos limpas! Se alguém não deveria se rebaixar, este alguém é o senhor, Fukushu!

— Nem eu sei como fiz isso, viu? — Ele levou uma das mãos à nuca, sem ter como esconder a verdade. — E me chame de Tatsu, Alteza! Falar um nome tão feio não combina com sua beleza.

Hanako implorou para Reiko nunca ser capaz de saber o que houve naquele dia, ou jamais teria paz. Seu rosto ia explodir se ele, sem querer, a provocasse um pouco mais.

— C-Certo. — A faeri inspirou fundo antes de falar. — T-Tatsuyu.

— Tatsu.

— T-Tatsu.

Em silêncio, seguiram o trajeto. Dividindo a entrada entre os espaços mais “informais” e a parte escolar, uma grande fonte com um grosso pilar no centro chamou a atenção do jovem casal durante sua passagem por ela. Água cristalina jorrava para todos os lados, respingando neles por conta da brisa de verão — o frescor era bem-vindo, claro, depois de um dia tão seco. 

A herdeira estava pronta para fazer algum comentário vago ao redor da beleza da construção. Porém, assim que seu olhar recaiu sobre o perfil contemplativo do colega, encontrou-se desprovida de voz, hipnotizada pela composição quase divina do que estava a visualizar. Seu sorriso singelo, acompanhado de um leve inclinar para frente, mostrava à garota um lado inédito dele, distante do costumeiro ar triste em seus olhos rubis.

— Hanako.

Foi tirada de seu transe quando ele desviou sua atenção do fluxo d’água para ela, a surpresa por ser chamada pelo primeiro nome a pegou sem reação. Antes que pudesse se manifestar, ele seguiu adiante:

— Significa “criança das flores”, né? 

— S-Sim.

— Vejo que não estou tão mal assim para presumir o que significam os ideogramas antigos! — Tatsuyu estava de volta à sua energia habitual. — Teria problema se eu te chamasse assim?

— … N-Não.

— Bem, acho que enrolamos muito. É bom corrermos para a professora não te punir pela demora!

Sua voz saiu baixa, será que a havia escutado? “Que droga, que droga, que droga!”, repetia sem cessar, imaginando a possibilidade de ter perdido a chance perfeita de aproximar-se dele. Nessas horas, detestava sua timidez e covardia.

A mão estendida de Tatsuyu surgiu em seu campo de visão, tal qual um convite para sair de seu casulo inseguro. Hesitante, ela aceitou se deixar levar pelo rapaz, cuja velocidade era mais fácil de acompanhar que a de Togami e Reiko.

O golpe derradeiro foi a frase derramada por seus lábios finos.

— Vamos, Hanako!

Embora o menino não fizesse a mínima ideia, Koufuku tinha plena confiança de que o som de suas passadas estavam coincidindo com o bater veloz de seu coração apaixonado.

 

 

— Só isso e… terminei!

A caneta foi deixada de lado com satisfação. Tatsuyu encarou a (não tão) belíssima caligrafia de sua carta de orientação sobre o que deveria ou não ser resgatado de sua casa em Dracone, refletindo bastante sobre o último detalhe enquanto terminava de envelopá-la — a quem deveria endereçar a carta? Os Reiketsu e Fuyu Seishin acatariam seu pedido, mas não tinha certeza se teriam fácil ao seu dormitório no castelo, ao mesmo tempo que enviá-la diretamente a Shihan poderia soar desrespeitoso.

Seu receio maior era a segurança de seus pertences. Móveis e algumas roupas, como seu velho uniforme do fundamental, ficariam para trás, já tinha certeza, mas a caixa de memórias escondida sob sua cama e algumas roupas valiam, sentimentalmente, muito mais do que ele poderia mensurar. Em especial, aquelas coisas, preservadas dentro da caixa de veludo chique entregue a ele por seu “avô”.

Teria de confiar na boa índole do mensageiro da Longinus para trazer os bens em segurança. Suspirou com a possibilidade de os perder e, por fim, decidiu enviar a requisição para Fuyu. O pai de Haruhi tinha bons contatos na nobreza, então deveria conseguir realizar a coleta dos itens sem grande problemas, pensou o menino. No mesmo instante em que terminou de selar o papel, um grito — que mais parecia um rosnado — ecoou além de sua porta de madeira escura. 

Não era a primeira ocorrência na semana e, provavelmente, não seria a última. Sua mão estava na maçaneta, paciência pronta para lidar com seja lá qual era a discussão da vez.

— Reiketsu, eu já disse pra você parar de jogar essas cuecas manchadas pela casa! — Pela porta entreaberta, Tatsuyu viu um objeto azul voar de um lado a outro. — Que nojo, porra!

— Qual o problema? Somos todos garotos, vai falar que nunca viu uma cueca na vida? 

— Cheia de merda, não! Pelo amor, pelo menos joga elas no cesto que está do lado da lavanderia!

— Quanto drama por algo tão besta!

Tal qual gato e rato, Shuyu e Heishi, dois de seus colegas de quarto e amigos, metiam-se em mais uma briga causada pelo galã de gelo. “É pelo menos a oitava vez que eles resolvem quase cair no soco por alguma coisa”, refletiu o Guardião de Hefesto, sua movimentação para fora do quarto sendo pouco notada pelos envolvidos. Podia ver as íris heterocromáticas de Togami queimarem de raiva pelos cantos de seus olhos semicerrados, apesar da sua baixa estatura diminuísse um pouco o impacto de sua encarada.

Heishi, por outro lado, tinha o nariz empinado bem estampado em sua face provocativa. Pelo tempo de amizade entre os dois, não lhe restava qualquer dúvida do quanto Reiketsu estava se divertindo em ver a ira do colega de pele chocolate e do príncipe dos dragões. 

— Eu tô falando que não é higiênico deixar… isso — esbravejou Shuyu, apontando para a roupa íntima — espalhado pela casa. Se tivermos visitas, o cheiro vai ficar impregnado! É horrendo!

— E quem vai querer visitar o quarto de quatro marmanjos?

Dito e feito. Antes mesmo da campainha tocar, Heishi esbugalhou os olhos de surpresa, um misto de preocupação, nervosismo e vergonha preenchendo o espaço de sua presunção cega anterior. Em silêncio no seu canto até então, Togami, o quarto morador daquele dormitório, sorriu de ponta a ponta ao ver Mizuchiko se direcionar ao hall privativo, satisfeito com o desespero do Guardião de Búri a recolher apressadamente suas roupas sujas e “limpar” o ambiente com sua magia de gelo.

O príncipe abriu a porta para revelar um grupo considerável parado diante dela, esquadrinhado pelas esmeraldas em seu rosto antes de proferir qualquer uma palavra sequer.

— Esperava só metade disso. Onde estão Ryoujin e Gintei? — questionou, dando falta dos dois mais altos membros daquele estranho grupo que se formou ao longo da semana de recepção dos calouros.

— Ele disse algo sobre ficar meditando, mas como foi logo depois do Koyo dizer que iria ficar… Tenho minhas dúvidas.

Akashi, o primeiro a colocar os pés para dentro do apartamento espaçoso, o inteirou de maneira sucinta sobre a situação desconfortável do dormitório deles. Ao seu lado, o outro colega do menino de longos cabelos verdes, Ichika, meneava a cabeça em concordância toda vez — o olhar dele expressava o alívio que sentiu ao sair do ambiente pesado que se tornou sua nova moradia. Pelo jeito, desde o primeiro dia, Zuko demonstrava uma estranha obsessão com seu colega de quarto Amaldiçoado, incoerente até mesmo para o parceiro mais próximo do príncipe.

Foi Tatsuyu quem notou, atrás da dupla de meninos, que oito garotas aguardavam, paradas ao batente, por algum convite para adentrarem. Fosse por vergonha, medo ou respeito, cada uma delas acobertou sua própria hesitação conversando baixo ou desviando o olhar da abertura diante de si. 

Bem, quase todas elas.

— O que cês tão esperando? — A voz conhecida da Princesa Falastrona ecoou para dentro do apartamento, impaciente. — Vamos, vamos, parem de besteira! A gente tá em maior número, caramba!

— É que, bem… ainda que sejam nossos amigos, é um apartamento de meninos — justificou Ayame, mais atrás do grupo. — Eu não quero botar minhas mãos onde o cabeça de gelo pode ter colocado o traseiro imundo dele.

— Eu tô te ouvindo, sua avoada!

— Não deu nem um minuto que chegamos e eles já estão brigando… — A mais baixa do grupo, Akane, saiu da linha de fogo. Fosse por seu tamanho ou timidez, sentia-se intimidada perto deles. — É normal mesmo?

— Desde o primeiro dia que se viram. E isso faz só… o que, três meses? É, acho que isso mesmo — explicou Haruhi — no fim, eles ainda vão casar. Escreve o que eu digo.

— PREFIRO MORRER!

— Viu? Até falar juntos eles falam.

— Eles ainda vão se casar — repetiu Ichika, com convicção absoluta.

O riso divertido dos demais não chegou aos ouvidos do casal, agora distraídos demais em continuarem se provocando e ofendendo em um ciclo infinito. Ainda que tentasse muito, Heishi não conseguia esconder de Ichika a satisfação infantil em ser correspondido na mesma moeda pela garota que o atraiu pelo tempo mais longo desde sua infância. O menino de Helias, claro, não o confrontaria por ora.

Demorou algum tempo para os ânimos de Tengoku e Reiketsu baixarem, e logo a roda de conversa estava estabelecida sobre o tapete e sofás da sala comunitária do conjunto 403. Yoko quem assumiu a dianteira da conversa, em mãos uma lista enorme e ilegível para qualquer um ali além de si mesma — apenas quando teve certeza do fim das ofensas trocadas entre os dois colegas que iniciou seu discurso pré-pronto.

— Bem, vamos ao que interessa de verdade. — Seu anúncio foi acompanhado de uma breve liberação de aura para atrair a atenção completa dos quatorze presentes. — Esse final de semana, a maior parte do que recebemos de mantimentos, junto de nossas chaves e uniformes, irá acabar. 

“Uma vez que temos de fazer nós mesmos nossas compras e escolher bem como gastarmos o dinheiro recebido este mês, proponho que todos nós façamos uma força-tarefa para não só conhecermos e mapearmos a região ao redor da Academia, bem como também nos conhecermos melhor. Não faremos isso todos juntos, mas sim em duplas para cobrirmos uma maior área e riscar mais itens simultaneamente da lista de necessidades.

“Desta forma, poderemos aprender sobre parcimônia, guardando ainda parte do recebido para futilidades ao longo deste primeiro mês. É desta maneira que penso, e gostaria de ouvi-los quanto a essa sugestão.”

— O que a senhorita quer dizer, portanto — Kyorai se manifestou logo em seguida, os olhos âmbar afiados na direção da princesa de Helias — é que, por termos muitos nobres que nunca lidaram com nada trivial de um plebeu, que façamos o trabalho e ensinemos ao mesmo tempo. Estou errada?

— Ainda que seja humilhante para mim… — O estalo de língua da princesa do sol foi bem claro. — Sim, é isso mesmo. Não temos conhecimento sobre escolher os produtos, muito menos o conhecimento de preços e barganha. Por isso, peço gentilmente também a sua ajuda.

“Não esperava que Yoko fosse admitir”, refletiu Shuyu, surpreso pelo comportamento da namorada. Aquela sinceridade preencheu seu interior com a ideia de que, talvez, sua adorável donzela tivesse mudado muito em pouco tempo — descobrir novas facetas de Yoko era uma ideia deveras empolgante para o garoto de cabelos arroxeados. Amaria todas elas com a mesma intensidade, independente do resultado final.

— Se isso lhe deixa um pouco menos arisca, Shikage — intrometeu-se em defesa de sua amada — eu serei a dupla de Sua Alteza Kan’uchi. Tive bastante contato com estas atividades por uma boa parte do meu tempo sob os cuidados dos criados do castelo.

A harenariana ergueu uma sobrancelha na direção deles, duvidosa. Sua confiança nas palavras do príncipe não era lá tão grande, mas preferiu deixar o assunto morrer com a sugestão dele para não se meter em uma discussão fútil. Heishi, por outro lado, enxergou a oportunidade para fazer um de seus entretenimentos favoritos.

— E você, Chiwa… já fez compras sozinha?

“Merda”, pensou a princesa.

— C-Claro! Tenho muito c-conhecimento sobre verduras!

— Sabe diferenciar quais carnes são de primeira e de segunda?

— Isso até um cachorro treinado sabe!

— E o preço delas, sabe?

Pega na mentira, Reiko engoliu em seco, buscando uma resposta na sua memória perfeita. Suas leituras deveriam ter algo, qualquer  coisa referente aos preços. Precisavam ter naquele momento, ou seria motivo de provocação pela próxima semana inteira. Era melhor cair com sua máscara ou admitir a derrota? Via-se presa entre estas opções.

— Rei pode não saber, mas sei que ela com certeza aprenderia mais rápido que você, Reiketsu.

Seu protetor foi Togami, cuja expressão séria dizia bem mais do que uma mera provocação — Heishi estava desrespeitando uma das pessoas que mais admirava, algo inaceitável ao Guardião de Metatron. Muito mais do que falar de sua linhagem ou dizer besteiras sobre a forma do Shinwa de organizar as próprias coisas, situações tidas pelo moreno como “fúteis”.

Se tratando de Reiko, contudo, o assunto deixava de ser algo que deixaria Heishi abordar e zombar com tanta leviandade. Pela aura branca liberada pelo baixinho, o Guardião de Búri chegou à mesma conclusão, logo adotando uma postura mais defensiva. O clima pesado na sala precisava ser cortado pela raiz o mais rápido possível.

— Tá bem, tá bem, vamos baixando essas armas, isso… — Akashi ficou responsável por acalmar Togami, conseguindo que contivesse sua aura rapidamente.

— Kousho, ele quem começou. Sabe bem. 

— Claro que sei, Togami. Mas o assunto não precisa escalar pra uma briga de verdade. Temos coisas mais importantes pra tratar agora, né?

— Temos?

— Claro!

Akashi observou a reação de todos os presentes antes de prosseguir, sorrindo de um canto a outro do rosto.

— A hora de dividir as duplas e o que cada um vai estar responsável! 

 

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