Volume 1
Capítulo 2: Feridas da alma
— Você não respondeu minha pergunta, Guardião de Hefesto.
A voz do encapuzado não expressava o mesmo que sua aura. Repentinamente, aquela energia já densa dobrou de tamanho, criando um campo de pressão mágica ridículo. Sem ele ter feito um único movimento desde que foi impedido de eliminar o seu alvo, Tatsuyu sentiu-se ameaçado.
— Saia da minha frente se não quiser ser o próximo. Você não entende a situação.
— Eu não vou deixar que você mate esse cara. Se ele tem algo a pagar, você não é um juiz pra decidir.
— Ele derramou sangue inocente! Por dinheiro e ganância, nada mais! — acusou o encapuzado, desta vez liberando sua própria mana. Com aquele grito, confirmou também se tratar de um rapaz por baixo da capa.
A cor que o envolvia chamou a atenção de Tatsuyu. Lembrou-se das aulas sobre aura, de como o tom era definido pela personalidade e de que praticamente qualquer cor poderia surgir da emissão de partículas mágicas.
Tinha certeza que sua professora tinha dito com todas as palavras que a cor branca era raríssima e enigmática. E era exatamente o branco que contornava as roupas de seu novo oponente.
Tatsuyu inspirou fundo. A situação tomou um rumo bem mais perigoso e confuso do que imaginava. Teria uma pequena vantagem sobre o desconhecido, visto que estava observando até então como eram os ataques dele.
Ainda assim, seu punho apertou mais forte o cabo de bronze de sua espada, cujo maciço rubi na base da empunhadura refletia as chamas que anteriormente conjurou.
— Bomba de Fumaça! — ordenou o Guardião de Hefesto.
Uma técnica básica do arsenal do Deus da Forja, a cortina cinzenta logo se espalhou pela pequena área do combate. Tatsuyu sabia que o efeito atordoador seria breve — estava lidando com alguém com muito mais refino mágico que si mesmo. Ele teria de ser rápido.
Pelo jeito, velocidade não era algo que poderia disputar. Seu adversário logo o encontrou no meio da fumaça, muito antes do que esperava. Desajeitadamente, bloqueou três cortes rápidos da espada de uma mão.
— Espada do Amanhecer…
Quando achou que tinha recuperado uma distância segura, Tatsuyu foi surpreendido com o alcance magicamente estendido da lâmina adversária no meio da fumaça.
— Lâmina do Paraíso.
O moreno sentiu o ferimento no braço esquerdo abrir e fechar em um segundo, como se fosse cauterizado na mesma hora. A dor foi excruciante o suficiente para fazê-lo morder os lábios.
— Magia de luz… Realmente, esse cara não tá pra brincadeira — murmurou para si, observando a cicatriz que havia se formado.
— Vai sair da minha frente agora? Não quero mais perder meu tempo.
— Eu não sou tão fraco assim, então não. Já peguei um pouco de como funciona.
Mais uma vez, o Guardião de Hefesto ficou em pose de batalha. O encapuzado hesitou, antes de estalar a língua sonoramente. Tatsuyu avançou nessa brecha, sua espada a caminho da arma inimiga com força total.
— Ponto de Quebra! — gritou, deixando a magia fluir novamente.
Desta vez, nenhum efeito pôde ser visto, o que intrigou aquele que recebia sua investida direta. Naturalmente, o menino por baixo da capa moveu sua lâmina para absorver o impacto. Era um golpe simples, previsível.
Diferente do que esperava, a espada de lâmina negra envolta em chamas quebrou ao meio a arma do defensor, dando a Tatsuyu a chance de golpear certeiramente sua perna esquerda.
Os pedaços da espada despedaçada logo se desfizeram em partículas mágicas. O encapuzado retirou o mesmo objeto de debaixo da capa, confirmando a hipótese de Tatsuyu que era mesmo uma arma divina.
— Estamos quites nessa, beleza? — provocou o moreno, avançando mais uma vez e aplicando um golpe que gerou um forte vento. O capuz voou para trás.
Diferente do que pensava, o rapaz não era de pele clara, tal qual a maioria dos habitantes de Yggdrasil: sua cor, parda em um tom chocolate, combinava com as mechas em um degradê do preto, no topo da cabeça, até o branco, presente a partir das laterais. O cabelo, levemente ondulado e longo, formava uma longa franja sobre seu olho direito, e era preso em um rabo de cavalo alto devido ao seu tamanho.
A única íris aparente era de um azul vibrante como safira, e o encarava como se conseguisse ver a alma e os pensamentos do moreno. Sentiu um arrepio subir sua espinha quando se afastaram mais uma vez.
Tal como uma dança, ambos combatentes buscavam controlar o ritmo e a força dos movimentos inimigos. Magias de fogo e feixes de luz por vezes queimavam o piso, toda vez que um novo ataque era lançado, embora nenhum deles conseguisse infligir um dano considerável no oponente.
— Você está perdendo mana depressa — comentou brevemente o rapaz com a única íris azul, quando suas espadas se chocaram mais uma vez.
Tatsuyu afrouxou o aperto do cabo de bronze, perdendo a vantagem física temporariamente.
— Isso não vai me fazer recuar!
— Eu sinto suas emoções. Pelo menos, o que a mana me permite descobrir — ele continou, ignorando a resposta do moreno. — Você faz isso para tentar se sentir um herói. Pare enquanto eu ainda não tomei minha decisão final.
O Guardião de Hefesto aumentou a quantidade de magia que infundia em seu corpo. Essa era sua única resposta.
— Eu não queria ter que fazer isso — disse por fim o menino de cabelos bicolores.
Como uma resposta, a aura branca vazou com intensidade do corpo pequeno do encapuzado. Nem mesmo sua sombra ficou para dar a Tatsuyu uma dica de onde ele teria ido, tamanha foi a velocidade que se moveu. Em vão, buscou para onde seu adversário teria ido.
O grito de terror atrás de si esclareceu tudo. A espada prateada reluziu quando Tatsuyu tentou se mover na direção deles e, de repente, uma súbita fraqueza tomou conta de seu corpo. Demorou mais alguns segundos antes da dor generalizada se espalhar pelos seus membros.
Não havia nenhuma ferida aberta. A sensação, porém, era como se tivesse sido retalhado em pedaços e perdido muito sangue, incapaz de movimentar qualquer coisa além de sua boca. Caiu de joelhos, totalmente travado.
— Vamos voltar de onde eu parei — a voz harmoniosa disse, agora escondida sob o capuz. — Me diga, verme, o que te faz pensar que merece viver?
O homem havia recuperado suas feridas, restando apenas vestígios de sangue — pensou em lutar para tentar fugir, visto que o encapuzado deveria estar cansado de lutar por tanto tempo. Sua intenção foi percebida pela instabilidade de sua mana em um piscar de olhos.
O garoto fez questão de cravar fundo a lâmina reta na coxa direita do criminoso, sem dar a ele chance de se levantar. Quando removeu o objeto, apenas urros de dor foram ouvidos no topo do prédio.
— Engraçado você ser burro o suficiente para estar nessa situação e ainda ter coragem de manejar sua mana. — debochou o garoto, encostando o fio sujo de sangue na base do pescoço de sua vítima. — Vou repetir, já que você é um completo imbecil. O que te faz acreditar que vou te deixar sair vivo?
— Eu precisava sobreviver! Iam me matar se eu não cumprisse as ordens deles! — explicou o homem, ainda de joelhos. — Eu sou tão vítima quanto eles!
— “Tão vítima quanto eles”? Não vem com essa. Se é como eles, porque só você está vivo?
— Eu fui o escolhido! Nenhum deles teve uma deidade para dar a mesma chance que eu tive.
— Do que adianta ser escolhido por uma deidade e ser um humano horrendo que nem você? — Aquelas palavras do menino estavam carregadas de um ódio descomunal. — Vai pra merda.
A ponta da arma foi levantada aos céus. À luz do sol, Tatsuyu pôde enxergar a mana se condensar ao longo da lâmina — diferente do comum, as partículas mágicas não se juntavam partindo das mãos dele. Ele fracassou novamente, então só lhe restou desviar o olhar.
Com um corte descendente limpo e rápido, o encapuzado fez o líquido vermelho jorrar da garganta de seu alvo. Brandiu sua arma para limpá-la, antes de retorná-la à bainha, acoplada a um cinto por baixo da capa.
Tatsuyu, ainda de cabeça baixa, viu as botas pretas aproximarem-se suavemente. O cheiro de sangue chegou tão rápido quanto o som dos solados de couro batendo no chão, inebriando as narinas do moreno. Seu estômago se revirou.
— Eu não sei quem é você, Fukushu.
A voz embargada dele fez o Guardião de Hefesto olhar para cima. Podia ver o rosto de pele escura sob o capuz se contorcer em um sentimento que não sabia descrever. Raiva, desgosto ou compaixão? Não sabia ao certo. O sentimento que preencheu o seu próprio corpo ele conhecia muito bem, entretanto.
Medo.
Medo como quando o sorriso dentado do assassino de sua família o olhou daquele mesmo ângulo. O exato temor que vivenciava toda vez que era forçado pela sua mente a passar pelo pior dia de sua existência.
— Mas não há maldade em seu coração. Apenas um vazio — continuou o rapaz. Tatsuyu acreditou ter visto uma lágrima escorrer pela lateral do rosto coberta pela franja. — Espero que nos encontremos em uma melhor ocasião.
Com aquelas palavras, ele se retirou, deixando um rastro de destruição, um corpo sem vida e uma mente conturbada para trás. Minutos depois, já estava a muitos quilômetros, em alta velocidade em direção ao oeste.
O corte feito por Tatsuyu em sua perna esquerda fez com que tivesse de parar pouco depois de chegar a uma floresta próxima da capital. Sentou-se apoiado num tronco e deixou que sua aura esbranquiçada curasse os ferimentos mais superficiais enquanto analisava o machucado mais grave.
— Deveria ser mais prudente, Shinwa. Seus inimigos hoje não eram fortes, mas ainda assim você saiu com um ferimento perigoso — falou a voz grossa e ressonante, como se estivesse ao pé do ouvido do adolescente.
— Eu estou dando meu melhor. Você viu que fui surpreendido pela espada quebrar.
— A sorte nem sempre estará ao seu lado, garoto. Escute meu conselho: agir desta maneira poderá ser o seu fim.
— Você só aparece pra me dar sermão. Que saco — retrucou, enfaixando a perna com um pedaço de esparadrapo que tirou do bolso. — Eu preciso me arriscar, ou nunca chegarei perto do nível dele.
— Eu leio sua alma, Shinwa. Não há nada sobre você que eu não possa saber se tirar um tempo para descobrir. É difícil achar Guardiões como você, todos morrem muito cedo. Por favor, se cuide.
Rasgou o curativo com os caninos afiados e se levantou com dificuldade — aquele ferimento era incômodo. Isto não era a única coisa que o frustrava naquela hora, mesmo que não fosse admitir isso em voz alta.
— Metatron, você pode ficar bem relaxado. Enquanto minha irmã precisar de mim, eu não vou me deixar levar. Falando nisso, tenho apenas duas horas para chegar, então acho que chega de papo.
A deidade apenas suspirou antes de voltar ao estado de hibernação. O tal Shinwa se perguntava como esconderia ferida de sua irmã mais nova — deixaria isso para quando estivesse mais perto de casa.
Neste momento, Tatsuyu ainda se encontrava paralisado. Não eram ferimentos ou magia que travavam seus músculos, embora ele gostaria que fosse.
A poça de sangue que se aproximava de seus pés emitia um cheiro férreo forte. O rosto do cadáver estava esculpido com o último clamor pela vida, com a boca escancarada e lágrimas agora secas marcando as bochechas — cenário macabro o suficiente para fazê-lo sentir um forte refluxo.
Esqueceu-se como respirar. Estava inerte a qualquer som desde o instante que o encapuzado o poupou, a única vibração que captava eram as batidas velozes de seu coração. Aos poucos, o corpo do homem transfigurou-se em outro.
Agora, os restos mortais que visualizavam eram os de sua mãe, como a encontrou anos atrás depois da poeira baixar. Os olhos rubi sem vida, os cabelos castanhos sujos de sangue e os membros em posições esquisitas da imagem mental acionaram as reações ao trauma, fazendo-o vomitar seu café da manhã ali mesmo. Ele não conseguia olhar mais, então incendiou o cadáver com sua magia num impulso, tentando se livrar de suas visões.
Infelizmente, tudo que conseguiu sentir antes de sair do local o mais rápido possível foi o tenebroso cheiro de carne humana queimada. O mesmo que sentiu naquele dia que o assombrava há tanto tempo e que apenas piorou a perturbação em sua mente.
O caminho até sua casa foi confuso. As cenas da manhã insana que passou repetiam-se em looping e misturavam-se ao seu pesadelo — não conseguia impedir que os pensamentos ruins inundassem sua mente, fazendo-o correr com tudo que pôde até sua residência. Percebeu vagamente alguns olhares sobre ele, preocupados com os ferimentos e com a sujeira de suas roupas, mas não se importou também.
Quando cruzou o corredor até seu apartamento, encontrou a porta aberta antes mesmo de pensar em procurar suas chaves. Mal teve tempo de imaginar e a mesa de centro da sala de estar foi arremessada com força em sua direção.
Para sua sorte, o objeto passou voando e não o atingiu. Tatsuyu começou a analisar o ambiente de seu apartamento: a estante de livros revirada, as várias roupas empilhadas no sofá, a garota cujas mechas loiras caíam sobre a face olhando para o chão… Engoliu em seco quando quando percebeu os fios dourados tremularem, preparando-se mentalmente para lidar com o sermão e a surra que estavam por vir.
— Já aqui, Haru, Heishi? — disse, hesitante, tentando contornar a situação. — Achei que chegariam mais tar…
— Você tá pedindo pra morrer, né? — A voz quase sussurrante da menina carregava uma raiva intensa.
— A Haru é meio explosiva, sabemos disso. Mas você também não colabora, né, Tatsu? Eu só não surtei mais que ela porque senti sua presença alguns minutos atrás. E que poeira toda é essa nas tuas roupas? — disse o tal Heishi, sentado no sofá.
Os olhos azuis do visitante encararam as íris rubi do recém-chegado, enquanto aquele passava as mãos em seus fios negros bagunçados e desamassava o uniforme escolar idêntico ao de Tatsuyu. Uma xícara de chá estava posta na mesa de centro, ainda fumegante. Levantando o rosto e permitindo que vissem as lágrimas se formarem ao redor dos olhos de cor esmeralda, a garota assumiu novamente as rédeas da conversa.
— A janela da varanda aberta, o chuveiro gotejando, as roupas jogadas pela casa… Você tem a mínima ideia do quanto a gente ficou preocupado, seu idiota? — gritou a garota, inconformada e apertando sua saia xadrez azul.
Tatsuyu tentou assumir uma pose mais “estável”, embora soubesse que a sensibilidade de sua amiga revelaria cedo ou tarde a situação. Inspirou fundo, buscando as palavras certas para não causar a destruição total de seu apartamento.
— Ah, sobre isso. Digamos que me envolvi em uma briga no topo de um prédio, vi um cara morrer e sumi com o corpo dele. Acho que foi isso?
De tão absurda que foi sua afirmação, nem mesmo o até então composto Heishi conseguiu manter a pose. A xícara de chá escorregou de suas mãos, espalhando o líquido aromático pelo tapete, ao mesmo tempo que ele agarrou os ombros de seu parceiro.
— Você sumiu com um corpo, Tatsuyu Fukushu? — questionou, aterrorizado enquanto balançava o “réu” de seu julgamento. — Haruhi, pelo amor de deus, pega as coisas dele, vamos ter um foragido em breve!
— Pera, pera. Não matei ninguém, Heishi! Um nanico de capa… — Sentiu um arrepio em sua nuca e percebeu que ainda havia gosto de vômito em sua boca. — matou e desapareceu em seguida. Quando dei por mim, o corpo dele já tinha virado cinzas.
— Mas e se descobrirem, Tatsu? O que vai fazer? — Haruhi insistiu, movendo-se nervosamente pelo cômodo.
— A gente descobre outra hora, vou ao banheiro e já saímos. Não destruam a casa, por favor, e sua camisa tá com o último botão aberto, Haru.
Com essa última fala e um sorriso amarelo, ele correu ao banheiro, fechando a porta atrás de si com as mãos trêmulas instantes antes do sapato da garota atingir sua cabeça. Recostou na madeira, deixando-se escorregar até o chão enquanto uma lágrima solitária rolava de seu olho esquerdo.
Mais uma, mais uma e mais uma… Aos poucos, seu choro de desespero vazou de sua garganta o mais silenciosamente possível, fazendo-o tremer. Um a um, os fantasmas de sua vida apareceram em sua mente, invadindo e dominando cada espaço possível em sua cabeça.
Seu pai, sua mãe, o seu “avô” e tantos outros tinham seus rostos estampados por um breve segundo, logo em seguida sendo consumidos pelas chamas causadas pelo demônio de olhos vermelhos que destruiu sua vila. O olhar gélido do passado penetrou seu coração uma vez mais, fazendo-o hiperventilar de medo e suar frio.
O verdadeiro inferno começou quando as vozes começaram a soar mais e mais altas dentro dos seus pensamentos — palavras de desprezo ou humilhação sem pausa, acusando-o de trazer a maldição para eles.
“Inútil, inútil! Sua mãe morreu por um inútil!”. Não conseguia escutar quaisquer sons do exterior. O punhal de Hefesto surgiu em suas mãos, apontando para seu próprio pulso.
Era o único jeito de aliviar a dor. A única coisa que sempre funcionava.
A porta foi arrombada por um grande pedaço de gelo, impedindo-o de continuar o que planejava. Uma serpente repentinamente agarrou a lâmina da mão de Tatsuyu, jogando-a para longe. Ele se virou, vendo os cabelos loiros — ou melhor, as serpentes esverdeadas que deveriam ser o cabelo de Haruhi — sibilando raivosamente para o objeto. A primeira coisa que escutou e sentiu quando seus sentidos voltaram foi o soluço alto de sua amiga e o abraço quente que o envolveu
— Ei, Tatsu… — Assim como as mãos dele, as dela também tremiam intensamente enquanto seguravam suas roupas. — Você sabe que estamos aqui por você, seu bobo estúpido. Não precisa fingir na nossa frente, somos amigos!
— Fala sério, a gente tira o olho de você por um segundo e você já tenta se esconder.
Heishi os envolveu em um abraço gentil, algo que não combinou com sua fala anterior. Mesmo assim, o coração do Guardião de Hefesto reduziu o ritmo de suas batidas. Haruhi começou a dar socos frustrados no peito dele, ainda molhando seu blazer com suas lágrimas.
— Você não precisa esconder nada da gente, Tatsu! Nadinha de nada, seu cabeça de vento! — gritou ela. — Não sei o que passa na sua cabeça, mas por favor, não se afasta da gente! Por favor…
— Se você se sentir sozinho, meu amigo, lembra que somos sua família. Meus pais, o pai da Haru, todos nós estamos aqui por você, e sempre vamos estar.
Ficaram em silêncio, abraçados e compartilhando a tempestade das emoções de Tatsuyu diminuir. Lágrimas pararam de rolar e a respiração acalmou, conforme o tique-taque do relógio passou. Só quando Heishi lembrou que estariam atrasados para aula se não corressem voltaram ao seu ritmo normal.
Correndo pela ponte de gelo feita pelo garoto de olhos azuis e com sua melhor amiga carregando as mochilas com seus cabelos-serpente, ele finalmente se sentiu completo de novo. A dúvida do incidente de mais cedo, entretanto, não desapareceu. Quem era o rapaz de cabelos bicolores e qual a razão por trás da angústia naquele olhar?
Se havia perdido para ele, então deveria se tornar mais forte. E só havia um caminho para isso.
— Haru, Heishi… A Academia de Dracone não é suficiente para nós — disse, alcançando seus amigos mais a frente.
— O que quer dizer com isso, meu querido amigo cabeça-oca? — provocu Heishi, concentrado no seu trabalho de criar e destruir a ponte de gelo em pleno ar.
Haruhi encorajou seu amigo a continuar com um tapa de leve nas costas junto a um sorriso largo. Ele respirou fundo, acelerando mais ainda e saltando da ponte de gelo para decolar com seus próprios poderes.
— Nós vamos pra Palas em janeiro, custe o que custar!