Filho das Cinzas Brasileira

Autor(a): Hiore


Volume 1

Capítulo 3: Estado de emergência

Assim que voltou para o auditório, Ana tentou contar, entre respirações pesadas, o que estava acontecendo. Naturalmente, não acreditaram de primeira, nem compreenderam muito bem o que ela dizia com tanta afobação.

— Primeiro, respire, ninguém vai entender senão explicar tudo com calma. — O diretor era duro em seu tom. — Deve aprender a controlar melhor suas emoções, não permita que o pânico lhe tome, nunca.

Ansiosa, a garota tentou se acalmar o mais rápido possível, porém o efeito era o contrário, para piorar, se sentia muito pressionada com tantas pessoas prestando atenção nela.

— Êh… o céu ficou vermelho e… monstros caíram do céu, eram tão poderosos… — sentiu que estava perdendo o controle de novo, tentou respirar fundo e resumir tudo em uma única frase. — O céu ficou vermelho de repente, fomos atacados por monstros e o Leo ficou para trás lutando, alguém precisa ir salvá-lo logo.

Só juntar aquelas poucas orações, já tinha custado toda a energia que ainda sobrava nela, Ana só queria se esconder em algum lugar e descansar. Não foi permitido nada disso, afinal o diretor continuou insistindo que contasse tudo em maiores detalhes, mesmo que seu olhar não mostrasse nenhuma crença nela.

Então, como prova indubitável do cataclisma, a terra tremeu. O prédio despreparado para terremotos, quase caiu com o pequeno tremor e algumas rachaduras assustadoras apareceram pelas paredes. A descrença e ceticismo nos olhos de todos foi trocado pelo medo.

Sophia era quem estava discursando naquela hora, mas parou de falar ao sentir o tremor, então tentou acalmar o pânico dos alunos, porém ela mesma não tinha ideia do que estava acontecendo, seu coração também estava acelerado.

Nessa situação de caos iminente, quem tomou a frente foi o diretor. Ordenou que alguns professores subissem para ver como as coisas estavam, mandou comunicarem o que estava acontecendo e, com passo firme, seguiu para tomar o lugar da loira.

— Como devem ter notado, um tremor estranho prejudicou a estrutura do edifício, mas não se preocupem, vamos averiguar a situação e tomar medidas. Por enquanto, considerem a cerimônia de entrada encerrada, podem tentar relaxar.

Logo depois de explicar tudo, ele foi tentar falar de novo com Ana, agora acreditava em suas palavras e queria o máximo possível de informação. Contudo ela estava realmente preocupada com o tremor e, naquele momento, brigava com uma professora querendo subir para ver se seu amigo estava bem.

— Sai da minha frente, tem monstros atacando ele… — Ana já estava prestes a ativar sua marca de novo, toda a situação tinha a feito perder o raciocínio há muito tempo.

Quando parecia que o caos iria se instalar completamente, Leo apareceu. — Calma, calma, não precisa ficar com tanto grude, só ficamos longe uns 3 minutos. 

Em contraste com suas palavras relaxadas, o garoto estava encharcado de suor, seu corpo cansado mal aguentava cambalear e suas roupas se tornaram vermelhas.

Nas costas dele, havia um professor ainda mais machucado, aquele foi o único que ele conseguiu salvar, os outros, que foram, já tinham morrido.

— Jovem, está bem? O que aconteceu? 

— São monstros, devem descer a escada a qualquer momento, tome muito cuidado porque eles ainda podem te atacar mesmo parecendo que já os matou. — Leo tinha um tom imponente. — Alguém precisa cuidar desse cara e… — Não conseguiu aguentar mais e desmaiou.

— Alguém faça os primeiros socorros nesse garoto — ordenou o diretor. — Agora, vamos…

Ao abrir os olhos, Leo viu a forma embaçada de uma linda garota olhando para ele. Entre imagens confusas e sons, pode reconhecer o lacrimejar no canto dos olhos dela.

O belo rosto estava inclinado, muito perto do dele, tanto que conseguia sentir sua respiração irregular. O corpo todo encolhido, o olhar desesperado e a expressão de preocupação diziam mais do que qualquer palavra.

Sentindo uma maciez agradável na nuca, ele entendeu que estava repousando sobre o melhor travesseiro de todos. Se sentindo grato a sua amiga que tinha ficado cuidando dele, sorriu levemente.

Lentamente Leo esticou um pouco o braço, alcançando a bochecha quente da garota. Com o dedão, gentilmente limpou suas lágrimas. Ana aceitou o toque sem qualquer resistência e, como um gato pedindo mais carinho, até se aproximou um pouco mais.

Em seguida, recobrando um pouco de consciência, seu olhar mostrou desconfiança e um pouco de irritação. — Por que fez algo tão perigoso? Devia ter fugido comigo! Mais importante, está bem? Ainda tem mais alguma dor? Não esconda nada! — Seu rosto irritado, só poderia ser descrito como fofo, por isso Leo não pode deixar de sorrir.

Em um movimento surpresa, fez Plac tocar na nuca e parte das costas da garota. Em contato com a substância geladinha, ela arrepiou com um animal, tremendo inteira e, em seguida, balançou a cabeça procurando o culpado, antes de, pôr fim, seu olhar pousar no garoto risonho em sua frente.

— Estou falando sério! — Fez biquinho.

— Calma, calma, até parece que alguém morreu. — Apesar da dor horrível, se forçou a levantar e ofereceu uma mão para ajudar a garota a fazer o mesmo. — Relaxa, não foi nada sério, juro. — Fez cafuné na menina que continuava cheia de preocupação.

Ana pretendia continuar seu interrogatório, mas deu alguns passos para trás e se posicionou atrás do amigo, porque a enfermeira, que notou toda a movimentação, estava se aproximando. No fim, o garoto teve que passar por uma exaustiva sequência de perguntas, às quais respondeu misturando verdades e mentiras..

— Agora, você sabe se apareceram estranhas marcas vermelhas nas pessoas por aqui? Algo parecido com as tatuagens de poder. — Passada a parte chata, o garoto teve sua chance de fazer uma pergunta.

Êh… sim. — A professora forçou um pouco a memória. — Tivemos um pequeno problema com isso, tomei um susto na hora, de repente, alguns alunos tiveram febre e marcas do tipo brilharam neles, mas depois elas sumiram sem nenhum efeito colateral.

Talvez ela esteja mentindo para não causar pânico, ou por outro motivo qualquer, mas, pelo visto, ninguém aqui morreu por causa daquela marca, será que… Droga! Aquilo foi muito estranho e precisaria de mais evidências para concluir algo.

Enquanto encarava fixamente a enfermeira buscando algum sinal de desonestidade, Leo mergulhava em reflexões. Ver aquela garota virar cinzas na sua frente tinha sido assustador, ainda mais porque ele não conseguia dizer com certeza a razão para aquilo. De qualquer forma, a conversa seguiu por um tempo, porém a enfermeira disse:

— Imagino que ainda tenha muitas perguntas, mas agora tenho muito trabalho a fazer, por isso vou deixar para a garotinha te explicar o resto. — Com certa pressa, apontou para Ana e depois foi embora falar com o diretor.

Leo olhou ao redor, estava no auditório ainda e, onde era o palco, haviam pessoas andando de um lado para, lá as decisões eram tomadas. Ele se perguntou se devia contar sobre como viu pessoas “derretendo” por causa da marca vermelha, mas preferiu fingir que não sabia nada e não se envolver mais no assunto.

Meio cansada e sentindo dores por todo o corpo, Leo notou que a maioria das cadeiras tinham sido empilhadas no canto direito da grande sala. Querendo um lugar para sentar calmamente e sair do meio do caminho, levou Ana até lá.

— Agora, pode me dizer o que aconteceu enquanto eu estava desmaiado. — Se espreguiçou um pouco e virou para Ana. — Mais uma coisa, seja concisa, não quero todos os mínimos detalhes.

— Bem… tiveram alguns tremores, por isso algumas coisas desmoronaram e acabamos presos aqui. O diretor e alguns outros mataram os primeiros monstros que desceram e a Cyntia, uma professora, está mantendo a estrutura desse lugar em pé usando seu poder de…

Leo interrompeu ela no meio, já sabia o suficiente. Ao redor, viu que tinham alguns fazendo atividades e outros sentados, apontou para os preguiçosos e sugeriu se unir a eles, ficar relaxando.

— Como assim!? Temos que ajudar, não é hora de ficar parados. — Ana estava bastante irritada. — Não seja tão irresponsável.

O garoto riu um pouco disso. — Calma, pelo menos podemos descansar um pouco, não vai me contar como foi sua primeira vez falando em público.

— Não, isso é completamente irrelevante agora, sério, não é hora de relaxar ou ser covarde. — Ela estava impassível na sua vontade por fazer algo, era a única forma com a qual conseguiria lidar com a angústia da situação. — Por favor… — Por fim, ela usou seu olhar de cachorro pidoncho.

Particularmente, Leo odiava militares e não tinha nenhum interesse em ser um herói, mas… De novo, ela o encarou nos olhos, ele tentou desviar, mas ela chegou mais perto. Negar não era uma opção.

— Ok, ok… — Suspirou e olhou as redondezas, pretendia achar algo fácil de fazer só para dizer que participou, mas, numa infelicidade do destino, seu olhar cruzou com os lindos olhos azuis de uma certa loira.

Merda, esqueci que ela estudava aqui… Tinha que me encontrar com ela tão cedo?

Tentando dar um passo atrás e se esconder, Leo torcia com todas as suas forças para não ter sido visto, mas Sophia avançava em sua direção. Não importava quanto ele rezasse, os passos dela continuavam firmes e seu rumo claro. 

De longe, já era possível sentir o ar ficar mais quente, o ódio pura exalava da mulher ao ver aquele homem. Se vendo sem escapatória e notando, de um lado, a raiva no olhar da loira e, do outro, a determinação infantil da Ana, só restou para Leo suspirar.

— Quem diria, então você veio estudar aqui, velho amigo? Faz tanto tempo que não te vejo, por onde esteve? Não dá pra sumir assim, tem que dar noticias, sabia? — Suas palavras eram carregadas de ironia e irritação. Seu olhar era assassino, mas ela ainda se esforçou para manter um sorriso falso no rosto. —  Já que está aí vagabundeando, vem me ajudar, consegue lutar, né? E nem pense em recusar!

Que timing mais perfeito… Leo pensou, ficou admirado com seu próprio azar. Queria dizer não, mas isso parecia uma hipótese impossível. Além do mais, tinha revisto sua ex depois de tanto tempo, seria maldade deixar ela ir morrer numa missão perigosa enquanto ficava relaxando. Por isso, e outros motivos, decidiu dizer sim, mas…

— Ei! Sophia, não fale assim com seu colega — meio atrasada, uma professora veio atrás da sua aluna problemática. Então ela se virou para o garoto. — Não precisa se sentir pressionado, na verdade, vamos fazer algo muito perigoso, se não tiver muita confiança nas suas habilidades de combate, nem venha.

A loira ficou emburrada com a bronca. — Ele tem que vir sim, não é justo eu me arriscar para proteger alguém que é… — parou de falar e ficou irritada. — Enfim! Não importa, mas você tem que vir, ok? 

— Nem esquenta, ela é assim mesmo — antes que a professora desse mais uma bronca, Leo interrompeu. — Tudo bem, Sofi, vou ir, pode sossegar. Mais uma coisa, Ana pode ir junto? — Apontou para a pessoa escondida atrás dele.

Forçando um sorriso, a linda garota de olhos azuis concordou com o pedido dele. Vendo que ninguém estava levando sua autoridade a sério, Michele, a professora, gritou irritada:

— Espera vocês dois! Garoto, não saia aceitando assim, por acaso sabe o que vamos fazer? E, Sophia, você não decide quem pode ou não ir, primeiro preciso saber se os poderes deles vão ser úteis ou não. Se forem fracos, só vão arriscar a vida atoa. 

Depois de perder a calma e a compostura, ela explicou as coisas. Algumas pessoas tinham conseguido remover os escombros que estavam bloqueando uma das saídas do auditório, por isso um grupo seria mandado para olhar o estado das coisas lá fora.

Desde o começo do incidente, todo o tipo de sinal tinha sido cortado, era impossível se comunicar com o resto do mundo. Isolados naquele auditório, só podiam supor a situação, por isso queriam averiguar isso melhor e garantir que essa rota era segura para, depois, pensar em evacuar todos.

Foi então que, tendo o total conhecimento do que fariam, Ana e Leo aceitaram a missão mais uma vez. A habilidade da garota seria surpreendentemente útil para o grupo, por isso a professora aceitou, já Leo foi uma insistência pessoal da Sophia.

E em 15 minutos um grupo de 12 pessoas estava pronto para partir.

 

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Nota:

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É isso, obrigado por ler.



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