Volume 6
Capítulo 65: O início da tempestade (2)
O céu sinistramente nublado fez brotar em mim uma sensação angustiante, desde o dia em que cheguei a esse mundo, nunca havia presenciado um clima assim.
O céu cinzento parecia estar trazendo consigo uma mensagem sutil. Embora ainda não soubesse de nada, meus instintos tremiam com uma sensação pavorosa.
Cerrei meus olhos encarando aquele céu medonho e apertei meus punhos. Não sabia explicar o porquê, mas eu estava trêmulo, um presságio péssimo alojou-se em meu coração, mesmo assim só podia seguir em frente.
Dei minha palavra que viveria por “ela”, então não importa a provação, não importa a dificuldade, vou vencer.
Perdido em meus pensamentos, fui surpreendido e então voltei a realidade, pois uma mão tocou em meu ombro trazendo-me de volta da minha ponderação.
— Ferus? Vo.… você está bem?
Me virei defrontando Mike. Provavelmente ele percebeu minha expressão tortuosa. Como sou tolo em fazer com que ele se preocupe assim comigo.
Forcei um sorriso para esconder minha angústia e assim o respondi:
— Estou bem, desculpe-me. Apenas estava pensando em umas coisas.
Mike coçou seu rosto demonstrando que não acreditou muito em minhas palavras, porém ele foi gentil o suficiente para não insistir nisso.
Mike mudou o assunto:
— Ferus, devemos nos apressar. Você já se despediu de Hellen certo? Nesse caso devemos ir até a guilda uma vez que Jedhar solicitou sua presença. O tempo mostra que uma tempestade se aproxima, não quero me molhar.
Balancei minha cabeça concordando com Mike, então me dei conta de que Nilo não estava presente.
— Mike, onde está o Nilo?
Mike me olhou com desdém e respondeu procurando ser cuidadoso:
— Ferus, você está bem avoado. Não se lembra? Você ordenou Nilo para que procurasse sobre informações da cidade restrita e também pediu para que ele averiguasse a situação da sua amiga Millin.
É verdade, embora isso aconteceu a poucas horas, já havia esquecido.
Mais uma vez olhei para aquele céu medonho e comentei:
— Estou com um mau pressentimento.
Mike arregalou os olhos com minhas palavras, depois de engolir o próprio ar, ele falou:
— Hou!… de alguma forma, suas palavras me assustam.
Sem responder passei por Mike e fui até meu quarto no andar de cima. Ao abrir minha porta vejo minha armadura negra arrumada sobre a cama, embora tenha usado a magia de reparação nela, o reparo foi apenas superficial. Não posso fazer um reparo satisfatório se não tiver o material necessário, no caso o aço negro.
Lembrei-me da batalha que tive contra Darts. Embora tivesse vencido, os danos do lunático causaram em minha armadura fissuras estruturais.
Passei meus dedos levemente nos locais onde usei a magia {Reparação} e confirmei o meu temor.
— Tsk! A superfície ficou mais fina nas áreas reparadas. Se houvesse tempo, pediria manutenção ao Bartor.
Infelizmente o tempo não está a meu favor. Suspirando mediante a situação adversa, vesti minha armadura mesmo assim, afinal ela é uma excelente armadura, ainda que não esteja em sua total capacidade defensiva.
Levou alguns minutos para me aprontar. Quando desci novamente para me encontrar com Mike fui surpreendido, pois lá estavam duas figuras familiares, falo de Barbatus e Zizis.
Não entendia a situação, por isso perguntei diretamente a Barbatus.
— Ei! Barbatus, o que faz por aqui? Alguma coisa aconteceu?
O grandioso rinoceronte cruzou seus braços e respondeu com uma expressão torturante:
— Lobo negro, Harp corre perigo e desculpe-me colocar desta forma, mas é sua culpa.
— Hã?
Zizis que percebeu que eu nada sabia sobre a situação suspirou farta e declarou:
— Ferus, venha até a guilda imediatamente, Jedhar quer ter uma conversa séria com você.
Nesse momento percebi que isso era apenas o começo da sensação horrível que senti mais cedo.
Com o chamado súbito, os preparativos foram adiantados, não demorou muito até chegarmos a guilda de aventureiros de Harp.
Apesar da cidade estar vazia a guilda estava lotada, contudo não foi como antes. Havia uma diferença notável no ar, me referia é claro aos aventureiros que estavam aqui.
Costumeiramente é comum ver uma porção de aventureiros sem experiência alguma e novatos, contudo as pessoas que estavam aqui hoje são diferentes, dava para perceber pelo semblante que todos eram capazes.
Uma outra coisa estava me incomodando, quase todos focaram seus olhares em mim, como de costume não havia satisfação em seus olhos.
Suspirei cansado dessa atitude costumeira, parece que não sou muito prestigiado pelos outros afinal.
Mike, que me acompanhava mostrou mais tensão do que eu, mesmo que não tenha sido ele o alvo desses olhares insatisfeitos.
Esses aventureiros que nunca havia visto por aqui, estalam suas línguas com algum tipo de rancor contra mim, embora não saiba o maldito motivo para isso tudo.
Sem perder tempo fui até o andar superior da guilda onde se localiza o escritório do senhor Jedhar.
Uma vez que fui convocado até aqui entrei sem bater na porta. Ao adentrar esse escritório que passou a ser familiar para mim, vejo Jedhar sentado em sua poltrona com uma expressão preocupante em seu rosto.
Aquilo foi o suficiente para entender que alguma coisa muito grande estava por vir. Não gosto de perder tempo com rodeios, por isso falei claramente:
— Jedhar, diga logo o que está se passando, a guilda está muito estranha e Barbatus falou que eu tenho relação com isto. Seja direto por favor.
Jedhar suspirou com seus olhos fechados em reflexão, poucos segundo depois ele abriu os lábios:
— A situação é anormal Ferus.
Jedhar se levantou de sua poltrona e caminhou até a janela por onde ele encarou o céu cinzento. Dava para notar facilmente que aquele clima atípico também o incomodava.
A demora em sua resposta me deixou apreensivo, não conseguia aguentar esse clima de suspense.
— Jedhar, por favor me diga o que está acontecendo.
A velha pantera não se virou para me confrontar, mas respondeu:
— Ferus, a cidade de Harp corre perigo, tudo isso aconteceu por sua causa.
— Como assim? Não consigo entender — falei cheio de surpresa.
— Ferus, Ranpa articulou um ataque a essa cidade usando você, o inimigo jurado da Predatory como desculpa.
Agora eu entendo, entendo o motivo de todos estarem me olhando com desprezo.
Apertei meu punho angustiado com a situação. Apesar de sempre ser indiferente a situações que não me dizem respeito, não podia apenas ignorar isso, pois era minha culpa depois de tudo.
Refleti por uns instantes esperando que pudesse pensar em alguma alternativa, infelizmente esse não é o meu talento. Se Hiekf estivesse aqui, talvez uma solução engenhosa pudesse ser elaborada, no entanto não é esse o caso.
— Aquele velho faz falta — murmurei baixinho.
Jedhar se virou e completou sua explicação:
— Ferus, Ranpa fez uma exigência, ou melhor, duas exigências para que o ataque seja interrompido.
Não precisava ser um gênio para saber o que aquele maldito queria, uma das exigências com certeza era que eu entregasse a Hellen.
Sem temer, cortei a explicação de Jedhar com minha decisão:
— Não vou entregar a Hellen nem mesmo se essa cidade vir a baixo!
Jedhar me olhou nos olhos, em seguida suspirou cansado.
— Aaaah! Nunca disse que aceitaria as exigências dele. Aquela garota é uma cidadã de Harp, jamais atenderia uma exigência tão contraditória.
As palavras de Jedhar me fizeram aliviado. A velha pantera sentou-se novamente em sua poltrona e continuou:
— No entanto Ferus, quero que você entenda. — Jedhar mostrou um olhar severo para minha pessoa — A maioria dos aventureiros reunidos aqui desejam uma negociação sem conflitos.
Agora entendo completamente. Com certeza alguns aventureiros têm rancor contra mim, afinal coloquei sua cidade em perigo, não é à toa que me olhavam com frieza.
Nesse momento me dei conta das palavras de Jedhar, ele havia dito sobre duas exigências, a primeira é a Hellen, mas qual é a segunda?
— Jedhar, qual é a segunda exigência?
A velha pantera respondeu:
— Que você se entregue sem resistência.
— Impossível — falei enquanto dava os ombros sorrindo sarcasticamente.
Jedhar por outro lado não estava sorrindo, pelo contrário, ele parecia bastante sério com esse assunto.
— Ferus, alguns aventureiros fizeram uma proposta a guilda de que devíamos usar nossas forças para capturar você e a felina e entregá-los a Ranpa.
Um suor frígido escorria de minha testa. Posso muito bem lidar com qualquer um aqui, mas e se eles fossem atrás da Hellen? Como conseguiria impedir isso?
Jedhar continuou:
— Acalme-se garoto, de alguma forma conseguimos conter os “ânimos”, você devia agradecer Barbatus. Foi ele que te defendeu em frente a todos os aventureiros dizendo que você salvou esse lugar diversas vezes e que todos deveriam se envergonhar dessa decisão.
Uma vez mais devo aquele rinoceronte por salvar minha cara, se não fosse por ele, talvez em vez de estar aqui conversando com calma estaria lutando com aquele bando de mal-encarados.
Barbatus é uma figura respeitada em Lemur, devia aprender algumas coisas com ele.
Suspirei fundo em reflexão aos meus atos, afinal foram esses atos que levaram a essa situação difícil.
Cocei a cabeça preocupado. Imediatamente entendia que não tenho tempo para ficar pensando sobre isso agora, preciso agir.
— Senhor Jedhar, você me falou que a cidade está sobre ameaça, mas eu não entendo, os aventureiros aqui parecem muito capazes, então me explique que tipo de ameaça é essa.
Jedhar descansou suas costas em sua poltrona confortável e começou a explicação:
— A três horas daqui um pequeno vilarejo rural subordinado a essa cidade foi tomado por um número incredível de membros da Predatory — Jedhar baixou seus olhos preocupado e continuou. — Ferus, você já deve saber, mas a Predatory é um grupo influente em Lemur, o que começou como um simples grupo terrorista ganhou fama e poder, até o ponto de ser chamado por facção “anti-realeza”.
Entendia um pouco o que Jedhar queria dizer:
— Entendo! Por mais que sejam moralmente errados, a Predatory é um movimento que detém o apoio de uma parte considerável da população.
— Exatamente! A Predatory começou a enfrentar com o uso da força as mudanças súbitas que o rei Darbas impôs ao país, embora as atitudes do rei sejam as corretas ainda existem aqueles que não entendem ou aceitam essas mudanças radicais.
— He! Principalmente a população de Bérius, eu presumo.
— Ferus, não sei se já escutou sobre isso, mas Lemur não é diferente de uma selva, embora vivamos em casas e gozamos das proezas do progresso, ainda estamos fadados a sermos “devorados” pelo mais forte.
Cerrei meus dentes para as palavras de Jedhar, embora elas me enfurecessem, não eram nada mais que a simples verdade. Sim, é a mais pura verdade, mas…
— Não posso aceitar isso!
Jedhar me encarou com um olhar severo, ainda que não entendesse seu olhar penetrante, a velha pantera colocou sua expressão em palavras:
— Ferus, pare de sonhar…
Aquilo me fez retroceder um passo, não foi medo ou nada do tipo, simplesmente sentia um peso entorpecedor naquelas palavras que continuaram:
— Você é muito arrogante lobo negro, nós os bestiais somos assim no final das contas, essa é nossa natureza, assim como na selva onde a presa se torna alimento do mais forte, os mais fracos curvam-se diante dos superiores, não há nada que você possa fazer sobre isso, ainda que seja duro de aceitar.
Embora quisesse retruca-lo, meus lábios trêmulos não encontraram as palavras certas para me defender disso. Não haviam argumentos.
Não queria aceitar aquelas palavras duras, embora a realidade me fizesse perceber que em frente a aqueles argumentos não havia defesa.
Jedhar me observou atentamente, ele parecia estar esperando alguma reação da minha parte, ou ao menos esperava que aceitasse suas palavras. Embora seu argumento seja verdadeiro, ainda não posso aceitá-lo facilmente.
— Pode até ser verdade o que acabou de dizer senhor Jedhar, mesmo assim não posso aceitar uma visão tão limitada sobre os bestiais, acredito que somos bem além do que simples feras.
— Você não entendeu lobo negro. Estou tentando dizer que isso está além de sua vontade ou opinião, seus pensamentos e vontades não significam nada se as massas pensam diferente de você. O que quero que entenda é que ao ver da maioria, sua visão é a considerada limitada, já que vai contra ao senso comum dos demais.
Jedhar colocou os cotovelos sobre a mesa e uniu suas mãos enquanto me encarava de forma penetrante.
— Lobo negro, seu senso de valores é demasiadamente diferente dos demais bestiais, não sei nada sobre seu passado, portanto não posso julgá-lo. Contudo você está errado se acha que a sua forma de pensar é a correta.
Mais uma vez Jedhar jogou água fria sobre mim. Claro que meus valores são diferentes, afinal “parte” de mim veio de um mundo diferente e a “outra parte” ficou tempo demais longe das mudanças desse mundo, em outras palavras, eu não sei nada sobre esse mundo no qual me encontro.
Cerrei meu punho irritado com os fatos, não pude enxergar, não, eu não queria enxergar a verdade. Talvez inconscientemente tenha evitado pensar nisso, pois o choque foi muito grande para mim embora nunca tenha admitido.
Mais uma vez encarei Jedhar nos olhos, certamente essa pantera velha percebeu minha aflição, no entanto ele preferiu ser claro comigo mesmo diante de toda essa situação.
Olhei para a palma da minha mão e lembrei-me do quanto elas ficaram grandes, talvez se não tivesse me tornado Ferus, jamais sobreviveria nesse mundo.
Eu continuo fugindo, não das batalhas, não do passado, mas sim da realidade. Só agora percebi que ainda não aceitei que agora vivo nesse mundo, por isso empurrei meu senso comum para continuar sobrevivendo.
Jedhar abriu sua gaveta e lentamente retirou de lá um documento, com sutileza ele entregou o documento para mim.
— O que é isso? — perguntei curioso.
Peguei o documento e começo lê-lo. Nesse documento está escrito o nome de oito pessoas, nunca havia escutado esses nomes em minha vida, porém sabia do que se tratava, eram os nomes dos escravos inocentes que me atacaram a mando de Darts.
Infelizmente eles pereceram em combate devido a ordem que Darts colocou sobre o selo escravo.
Jedhar me analisava sem proferir sequer uma palavra, dobrei aquele documento e guardei dentro de meu espaço dimensional.
Observando isso, finalmente a velha pantera quebrou o silêncio:
— Me diga, agora que sabe o nome deles, o que vai fazer? Vai lembrar desses nomes pelo resto da sua vida?
A pergunta de Jedhar estava carregada com sarcasmo, todavia sentia a verdade pesada em suas palavras perfurantes.
Forçando um sorriso, respondi com sinceridade:
— Não! Sou muito tolo para lembrar de nomes com facilidade, principalmente de pessoas que tentaram me matar, sei que não foi culpa de nenhum deles — encarei a pantera velha nos olhos e falei cheio de força. — Mesmo assim, eles tinham sonhos, eles tinham ambições, a única coisa que eles não possuíam era a liberdade. O motivo de ter pedido seus nomes foi simplesmente porque não queria que eles morressem como indigentes ou fossem engolidos pelo esquecimento, meus valores são adversos a esse mundo, mas esses mesmos valores… não vou desistir deles jeito nenhum.
A velha pantera abriu um modesto sorriso em seu rosto enrugado e respondeu:
— Hunf! Se você sabe que é estranho, então está tudo bem.
Me chamar de estranho assim sem ao menos se arrepender, esse velho é bem ousado, mas não posso deixar de gostar de pessoas como ele, de alguma forma esse velho me lembra Hiekf.
Nesse momento a lembrança de Hiekf queimou em minha mente, sem perder tempo perguntei a Jedhar:
— Ei Jedhar! Sabe alguma coisa sobre o Hiekf? Quero dizer… tem alguma notícia?
Jedhar negou com a cabeça.
— Infelizmente não, esses dias não tenho conseguido me comunicar com Aurus, ele deve estar tramando alguma coisa desagradável.
Mesmo o velho Jedhar sabe da personalidade podre de Aurus, embora seus suspiros de lamentação me façam ter um pouco de pena dele.
Até a coelha branca guarda rancor contra o cão negro, o que será que ele fez para ela?
Pessoalmente não gosto de Aurus, mas enquanto ele não pisar no meu calo não vejo motivos para confrontá-lo.
De qualquer forma quero ter notícias de Hiekf o mais rápido possível.
— Senhor Jedhar, queria alguma notícia do velho gnol se estiver bem para você, quero contratar a guilda para obter alguma informação verídica sobre ele o mais rápido que for possível.
— Entendo! Vou catalogar esse pedido rapidamente, mas estamos perdendo o foco. Ferus, não se esqueça que há um exército que quer sua cabeça.
Dei meus ombros com desdém e respondi:
— Affs! Eu irei confrontá-los antes de chegarem em Harp. Se for um bando de vagabundos, não importa a quantidade.
A velha pantera lançou um olhar de reprovação e reclamou do meu comentário presunçoso:
— Minha nossa, nunca esperei que você fosse tão arrogante quanto minha filha. Escute uma coisa moleque, você é forte, eu admito isso, mas se está sozinho então há um limite do que pode fazer.
Mais uma vez fui obrigado e escutar calado aquelas palavras cheias de verdades, nunca me senti tão impotente em uma discussão. As palavras da velha pantera eram cheias de verdade e força e ainda por cima carregavam o peso dos fatos.
Torci meu rosto como se algo azedo tomasse o sabor de minha boca, foi horrível perceber que estava impotente diante da sabedoria dessa velha pantera.
O pior de tudo é que de alguma forma sentia que ele podia ler minha angústia, era como se ele me conhecesse de alguma forma profunda, uma forma que talvez nem eu mesmo conheça.
Talvez essa seja a tão falada “sabedoria dos mais velhos”.
Jedhar que ainda me avaliava com seu olhar severo, suavizou sua expressão pela primeira vez naquele momento.
Depois de suspirar cansado desse embate, a pantera velha colocou sua opinião em palavras:
— Ferus, você é jovem e confiante, posso entender que está otimista com suas habilidades, mas o mundo não é tão bonzinho assim. Garoto tenha em mente que existem pessoas realmente fenomenais andando entre nós, alguns não mostram interesse em nada, outros matam somente pelo prazer de escutar o sofrimento alheio e alguns são tão egoístas que enxergam os demais como criaturas desprezíveis.
Não podia duvidar das palavras de Jedhar, contudo eu presenciei em primeira mão o poder de um aventureiro adamantium.
Nos dias em que treinei com Cyous Leanon eu vi algo que me separou dele com unanimidade, um abismo, um abismo tão colossal que mesmo se pudesse voar ainda seria difícil chegar ao mesmo lado em que Cyous estava.
Foi naquele momento que havia percebido pela primeira vez a fragilidade existente em mim. “Eu sou fraco”, diante daquele titã espadachim, a habilidade que achava possuir não eram nada.
Talvez esteja mesmo agindo com arrogância, porém não é como se eu fosse perder para qualquer um. Havia outro problema, não existia a quem recorrer, até os dias de hoje, a única pessoa com a qual poderia contar era Hiekf e ele não está aqui.
Com o desânimo em minha face, respondi a Jedhar:
— Infelizmente não posso revidar de outra forma, não tenho a quem recorrer senhor Jedhar. Você mesmo disse que a maioria dos aventureiros aqui não está disposto a me dar uma ajuda — com um sorriso amargo cocei minha cabeça. — Para falar a verdade, não posso discordar com a atitude desses caras. No lugar deles faria o mesmo se isso fosse ajudar alguém que eu goste.
A pantera velha massageou sua testa tentando talvez aliviar sua dor de cabeça.
— Aaaaah! Então ao menos você concorda que sua atitude é egoísta.
Dei as mãos e respondi com sarcasmo:
— Exatamente, embora não vá me render tão fácil, não vou julgar alguém que quer sair de um aperto causado por culpa alheia, no caso… eu.
A velha pantera deu uma boa risada e ao balançar sua cabeça em um gesto de negação, Jedhar me olhou com uma expressão confusa, pois não conseguia distinguir entre raiva e graça.
Era como encarar uma situação difícil de forma cômica.
Jedhar lamentou com um suspiro enervante:
— Aaaaaaaaah! Não consigo ter raiva de você, mesmo que seja um pirralho maldito e egoísta.
— Ahahahahaha! Me desculpe por isso.
— Não, não irei aceitar suas desculpas, em vez disso dê um jeito nessa situação moleque de merda.
— Vou dar o melhor de mim.
— Dar o melhor não é o suficiente, consiga isso. Vá falar com Barbatus, talvez ele tenha alguma coisa em mente.
O velho estava mesmo irritado, no entanto sentia uma simpatia vinda dele, ou melhor, sentia que de alguma forma aquele velho confiava em mim.