Volume 4
Capítulo 47: Hellen
— Ei pequena senhorita! Traga mais bebida!
— Sim!
Millin uma pequena bestial do clã roedor correu para pegar mais bebida para o cliente.
Nessa noite o restaurante “A Toca da coelha” estava lotado, atender a demanda foi insuportável por esse motivo, Ferus estava ajudando a servir.
Ele era surpreendentemente ágil nessa tarefa e com rapidez e habilidade servia os clientes.
Ao colocar o copo na mesa, um cliente murmura insatisfeito:
— Tsk! Porque um cara? Cadê aquela felina dos peitões?
Ferus ficou irritado, mas fingiu não escutar.
Um grupo de senhoras que estava sentada à mesa em um local mais reservado chamou por Ferus.
— Ei! Jovem rapaz, poderia servir essas senhoras aqui?
Ferus se aproximou imitando o sorriso cortes de Millin e Hellen.
— Pois não senhoritas!
— Kyaaa!
As quatro senhoras sentadas à mesa começam a cochichar escondendo seus lábios com as mãos, mas Ferus podia escutar muito bem:
— Viu! Ele é um rapaz bonito!
— Ehehe! Eu sei que é pecaminoso, mas eu queria devorá-lo!
As bochechas do rapaz estavam vermelhas, ele nunca foi alvejado por mulheres em nenhum momento de sua vida, também não esperava escutar conversas tão “animadas” a seu respeito.
Tudo que o jovem lobo podia fazer era uma cara pôquer e fingir que não escutou.
Para completar, as senhoras tinham ótimas aparências, duas delas eram bestiais coelhas cinzentas como Stela, as outra duas são roedoras como Millin.
Ferus pensa:
“O clã coelho e o clã roedor é mesmo composto de beldades! Nunca vi uma mulher feia nesses clãs bestiais!”
Uma das senhoras foi ousada e agarrou o braço de Ferus colando-o contra seus seios fartos, Ferus engoliu o próprio ar e a mulher falou com uma voz terrivelmente sedutora.
— Se quiser posso te ensinar umas coisinhas interessantes essa noite, o que acha?
Ferus travou sem saber o que fazer, um garoto virgem sem experiência com o sexo oposto tende a agir assim em horas como essa.
A outra senhora provoca:
— Kyaaa! Ele corou! Que gracinha!
Sem nenhuma reação, Ferus realmente ficou deslumbrado sem saber como deveria agir.
Uma estranha sensação percorreu pela espinha do lobo negro, era uma intenção assassina de primeiro grau. Ferus tomou uma postura ofensiva procurando por quem jogou essa intenção nele.
“Droga! Essa intensidade! Predatory?”
Quando Ferus virou para encarar seu algoz, ele viu Hellen perfura-lo com um olhar perigoso, o pavor de alguma forma se instalou em seu coração.
Ele finalmente repara em seu braço ainda preso aos seios da senhora e rapidamente o retira dali. Hellen o encarou novamente com frieza e depois foi para cozinha.
— Que… que diabos foi isso? Porque ela está tão brava?
A senhora voltou a puxar o braço de Ferus, aparentemente ela excedeu o limite da bebida, Ferus gentilmente se esquivou dizendo que há mais trabalho e se desculpando, as senhoras não queriam deixá-lo ir, o pior é que os demais homens estavam perfurando suas costas com olhares rancorosos.
Millin assistia a cena suspirando farta e Jana ria como se observasse uma comédia engraçada, Ferus era o único desorientado pela situação inédita para ele.
As horas foram passando, o fluxo diminuiu, porém ainda estava lotado, já era madrugada e as garotas tiveram que se revezar para fazer descansos, Ferus também teve seu momento, ele sentou-se no balcão esgotado e começou a observar o fluxo.
Hellen trabalhava muito bem, essa foi a primeira vez que Ferus parou para ver como as garotas trabalhavam, Millin sempre positiva e sorridente, Jana hábil e eficaz, mas Hellen era diferente, a cada passo os olhares fugazes dos homens a seguiam, eles a olhavam com desejo, isso deixou Ferus ciumento em seu íntimo.
Clicando a língua ele murmurou para si:
— Tsk! Como ela pode ser tão bonita droga?
Hellen é muito bonita, sua beleza não era algo que podia ser descrito facilmente, ela tinha uma aura que atraia os homens, foi isso que Ferus pensou.
Os olhos de Ferus e Hellen se encontram repentinamente, Ferus dá um sorriso forçado, mas ela virou o rosto.
— Argh! Ela ainda está com raiva! O que eu fiz afinal?
Tudo ia bem apesar do trabalho duro, foi quando de repente a porta do restaurante abriu de forma abrupta e com força desnecessária.
Cinco homens bestiais entraram, um deles é um bestial tigre.
— Tsk! — Ferus clicou a língua ao notar tatuagens da Predatory marcadas em seus corpos.
Os seus companheiros eram dois bestiais do clã rinoceronte, um bestial do clã dos linces e outro inédito para Ferus, esse tinha o corpo peludo e a cabeça de um bisão.
Como sempre, os bestiais descritos como puros têm uma forte ligação com sua contraparte animal em sua aparência, em sua maioria, seus rostos eram na verdade as cabeças de suas contrapartes animais.
A maior parte das pessoas que frequentam “A Toca da Coelha” são bestiais simples, muitas vezes mestiços, Ferus tem aversão ao clã dos tigres, ele sabia que algum problema estava para acontecer.
O bestial tigre fala rudemente:
— Argh! Mais que espelunca! Fede a mestiços nojentos!
As mãos de Ferus tremeram de fúria, mas ele engoliu a raiva para evitar transtornos no estabelecimento de Stela.
Todos os clientes que estavam felizes e comemorando de alguma forma ficaram silenciosos, o clima ficou pesado, alguns saíram pela porta rápido depois de deixar o dinheiro sobre a mesa.
Millin chegou próxima com seu corpo trêmulo e falou:
— Por favor! Me… me acompanhe até suas mesas!
— Hunf! Mostre o lugar rato imundo!
Ferus segurou sua ira e observou sem agir, Millin acompanhou os cinco até suas mesas e ofereceu bebidas.
Os cinco começaram uma algazarra que deixou os outros clientes desconfortáveis, Jana foi servindo as mesas, mas os homens recém-chegados a assediavam com palavras vulgares.
Quando Hellen passou próxima a eles Ferus notou os olhares podres deles para ela, o homem tigre lambeu os lábios e puxou Hellen pelo braço.
— KYAAAAAAAAAAAAAAAAA!
— Ahahahahahahahaha! Vou te dar a honra de ser servida por mim!
— Creck!
— Uh?
O homem tigre não entendeu muito bem, mas seu braço estava sendo seguro por um garoto lobo de pelagem negra, a garota que foi agarrada observava no chão a cena, o bestial tigre notou seu antebraço virado de forma estranha e sentiu uma dor lacerante.
— UAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAH! Des… desgraçado! Como ousa?
O bestial bisão foi ao auxílio de seu amigo, mas Ferus pegou seu chifre e chocou violentamente a face dele contra o chão!
— CRASH!
— URGH!
O chão de madeira quebrou com o choque da cabeça do bisão, Ferus que ainda tinha o braço do homem tigre em sua mão falou com um sorriso diabólico:
— Sinto muito senhores, mas não toleramos escória no recinto, vocês poderiam por favor se retirar? Ou melhor, poderiam morrer?
Os dois rinocerontes se levantam e o lince retirou uma faca e com uma boa velocidade tenta acertar o pescoço de Ferus, porém seu ataque foi parado por um chute na boca de seu estômago..
— Gaaaaaaaaah!
O homem lince voou e bateu na parede da entrada cuspindo sangue, ele escorregou pela parede como um verme até cair no chão.
Os dois rinocerontes ficam apreensivos e um deles fala com tremor e medo:
— Espere! Esse perfil! Um mestiço lobo de cabelos negros e olhos amarelos… vo… você seria o lobo negro?
O homem tigre que tem seu braço restringido por Ferus torceu o rosto com pavor.
— Guh! Não pode ser! Lobo negro Ferus?
Ferus diz com um sorriso sinistro:
— Ei! Esse restaurante é meu precioso lar, um ambiente acolhedor onde qualquer um pode comer independente de seu clã ou pureza racial, esse é um lugar para pessoas de bem e não para escórias como vocês.
Ferus soltou a mão do homem tigre que o encarou com terror e medo, o jovem lobo aproximou sua boca de seus ouvidos e falou baixinho:
— Se algum dia você ousar tocá-la novamente, eu juro que arranco sua pele e faço um tapete!
A face do tigre fica azul, ele saiu correndo com seu braço pendurado, os demais pegaram seus amigos desmaiados e saíram dali correndo como patetas fugindo do terror.
O clima ficou pesado, Ferus suspira e levanta uma das cadeiras caídas arrumando o local deixado pelos cinco bestiais desagradáveis, com um sorriso cordial ele fala alto enquanto se curva:
— Desculpem-me pela baderna, não vou dizer para esquecerem isso, mas pelo menos vamos aproveitar a refeição, mesmo com essa cena a comida deliciosa de Stela jamais ficaria com um sabor amargo e a próxima rodada de bebidas é por minha conta.
Os clientes levantaram os copos e deram louvores a Ferus:
— Viva ao lobo negro!
— Ahahahahaha! A escória da Predatory não tem chance em Harp!
— Obrigado jovem lobo! continue a chutar os traseiros desses bestiais soberbos, mostre a eles seu lugar!
— VIVA!
Ferus se aproxima de Hellen e oferece-lhe a mão para ajudá-la a levantar, com um sorriso fraco ela aceita a cortesia.
A noite acabou sem mais problemas, Ferus sentado no chão da varanda do restaurante encarava as estrelas da noite.
Hellen chegou repentinamente, mas Ferus já sabia que ela se aproximava por causa de seu aroma agradável, sem se virar ele convida.
— Sente-se um pouco!
Hellen surpresa aceitou o convite e se sentou a seu lado.
Ferus pergunta sem tirar o olhar do céu:
— Ainda está com raiva?
Hellen sorri com amargura e fala:
— Desculpe! Não sei o que deu em mim!
— Se eu te fiz alguma coisa, eu me desculpo com antecedência, mas eu não sei onde te irritei, me desculpe por isso também.
Hellen olha para baixo com um olhar triste, com a voz um pouco fraca ela respondeu:
— Eu…. eu não sei o porquê, mas me senti com raiva quando você….
Hellen ficou vermelha, ela ia dizer que não gostou de ver ele com a Jana e as outras mulheres, mas parou seus lábios com um rubor forte no rosto.
Ferus não insistiu nisso e comentou:
— Me desculpe por agir violento naquele momento, outra vez te mostrei meu lado ruim!
Hellen se sentiu patética ao escutar o lamento de Ferus, então ela diz:
— Obrigado! Você está sempre me salvando, mesmo que eu faça coisas desagradáveis como retribuição.
Ferus esticou seu corpo e deitou no chão sem se importar, ainda olhando para o alto ele responde com certo desgosto:
— É natural te ajudar, afinal sua situação é culpa minha, tenho que compensar você de alguma forma!
Hellen não entendia o que Ferus queria dizer, assim ela perguntou:
— Por…. porque acha que minha situação é sua culpa?
— Hmm? Não foi por minha causa que você foi sequestrada por Jù yuán? Não foi por minha causa que seu esconderijo foi descoberto por Ranpa? É tudo minha culpa afinal!…. Não é por isso que sempre fica zangada comigo? Foi o que estava pensando agora, isso explicaria sua raiva mais cedo.
Hellen ficou impressionada ao descobrir que Ferus pensava dessa forma, também se surpreendeu ao perceber que ele não notou o real motivo da sua raiva mais cedo.
A felina sentiu seu orgulho feminino ferido de alguma forma, foi como se Ferus não mostrasse interesse nela e sim em sua situação atual, Hellen sentiu um aperto em seu coração nesse momento.
Com uma certa tristeza ela perguntou:
— Vo…. você ainda tem alguma mágoa de mim…. é natural já que eu te tratei mal com irracionalidade na primeira vez que nos vimos!
— Eh? Eu não tenho raiva nenhuma você!
Ferus revela com olhos cheios de seriedade, Hellen ficou ainda mais confusa, mas Ferus completou:
— Em vez disso, não é você que me odeia? já que tem aversão aos bestiais lobos? É uma pena afinal!
Ferus abaixou o rosto com um suspiro.
Hellen finalmente entendeu o que acontecia, Ferus achava que ela o odiava muito, devido ao seu passado doloroso, afinal ele foi tratado mal por ela, ele foi rejeitado como amizade, ele foi apontado como escória por ela, nesse momento a felina entendeu a expressão “o passado lhe assombrará”.
Ferus nunca iria perceber que os sentimentos de Hellen cresciam por ele, o jovem lobo deve ter descartado qualquer expectativa em relação a ela, Hellen não é idiota, ela percebeu a forma carinhosa como Ferus a olha, ela também percebeu que ele tem interesse nela, no entanto ele não tem expectativas, talvez tenha medo de arruinar o relacionamento que foi construído de um jeito torto.
A felina lamenta em seu coração a situação que ela mesmo criou por sua intolerância, suas orelhas caíram de tristeza, ao mesmo tempo ela olha para a face quieta de Ferus.
Seu rosto sempre foi fechado e sombrio, para quem não o conhece, esse rosto é assustador, não quer dizer que ele não seja bonito, mas é difícil se aproximar, ele mesmo percebeu isso a muito tempo e apenas aceitou como ele é sem questionar.
Ferus levantou seu tronco surpreendendo Hellen e fala:
— Está tarde! Vou levá-la até sua casa!
Ferus mostrou um sorriso agradável, Hellen percebeu que mesmo Ferus podia sorrir assim, com os olhos baixos ela sorriu ironicamente e aceitou seu favor.
— Vou aceitar sua companhia, obrigado!
Com isso decidido, ele acompanha Hellen até sua casa, o garoto na verdade ainda estava preocupado com os caras que ele espancou mais cedo, ele marcou o cheiro deles, felizmente eles não estavam por perto, isso o fez mais seguro da situação.
Hellen caminhava junto a Ferus devagar, ele andou lentamente acertando seu ritmo com a velocidade de Hellen, percebendo sua gentileza ela sorriu.
Levou menos de vinte minutos até chegar a casa de Hellen, uma casa simples situada na periferia, com uma cerca pequena que batia em altura na cintura de Hellen.
Ferus parou seus passos e disse:
— Bom! Acho que você está segura agora!
Hellen sorri de volta.
— Obrigado por me acompanhar!
— Essa é a obrigação de um homem depois de tudo! Ahahahha! — brincou Ferus.
Hellen abriu o pequeno portão e adentrou a frente de sua casa, Ferus ficou a observando, ele pretendia ir somente quando ela entrasse em segurança na sua casa.
No entanto, Hellen parou seus passos e voltou até Ferus, o jovem lobo ficou um pouco perturbado, mas a felina parou em sua frente com um olhar severo.
Ferus olhou Hellen nos olhos e ela revelou:
— Eu não odeio você! Eu não penso mal de você, mesmo que seja um lobo, estou agradecida por tudo que fez por mim e finalmente não existe nenhuma mulher no mundo que odeio o homem que vem a seu resgate! Lembre-se disso!
Ferus piscou surpreso, em seguida ele sorriu.
— Ahahahaha! Então você não me odeia? Estou aliviado!
— Guh!…. Ferus! Se abaixe um pouco!
O rapaz estranhou o pedido, mas não via motivo para não a atender, assim ele baixou o rosto próximo de Hellen.
— Chu! ♥
Ferus recebeu um beijo em sua bochecha, ele ficou tão surpreso que sua boca ficou aberta e sem reação, ele não conseguia dizer sequer uma palavra a Hellen que estava tão vermelha que parecia que ia explodir.
Hellen correu até sua casa envergonhada e fechou a porta, no lado de dentro ela sentou-se no chão com as mãos em seu rosto que formigava sem parar, ela não conseguia tirar a sensação de vergonha.
Ferus por outro lado estava apático, com os olhos arregalados de surpresa ele colocou sua mão sobre a bochecha beijada e finalmente seu cérebro conseguia processar o acontecido.
— Eh? Eeeeeh? EEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEH? Mas…. mas ela não estava brava mais cedo?….. Gah!…. eu não entendo as garotas! Quem entende elas? POR FAVOR ME DIGA!
Ferus ficou preocupado com as mãos na cabeça tentando entender. No final ele não entendeu.