Farme! Brasileira

Autor(a): Zunnichi


Volume 2

Capítulo 99: Dragão

Cho Pei queria uma caminha larga e confortável para dormir, uma pena que ela não achou isso em canto algum naquele meio do nada. Só a luta contra aquele maluco do xadrez lhe custou muito.

Mesmo usando sua relíquia sagrada de mil e oitocentos anos atrás, encontrada num bueiro aleatório pelas ruas da china, ainda precisou de muita energia para derrotar o maldito.

Carlos, seu aliado que combinou derrotarem juntos o tal controlador das peças, acabou se autodesclassificando depois daquele combate. 

Ele disse que só estava ali para passar o tempo, mas esse tempo passou demais e logo logo teria que voltar ao trabalho, então sair antes seria o melhor.

Foi uma escolha sábia, levando em conta que agora ele podia descansar o quanto quisesse sem se preocupar com o mundo. Mal sabia a garota como o trabalho daquele homem era horrível e pagava mal.

De qualquer forma, como Cho Pei não tinha poderes de adivinhação, existia zero motivos para pensar nele, tudo o que importava era achar o maldito patrocinador da seita e protegê-lo.

Ela não gostava desse trabalho e também sabia o tanto de gente de olho naquele cara, o que só piorava sua situação e lhe dava mais raiva ainda.

Após infundir seu corpo com o espírito primordial do trovão — que não será explicado assim como todas as demais técnicas apresentadas pela seita —, a garota atravessou as ilhas em alta velocidade.

Seus olhos analisavam cada mísera pessoa que passava por perto, sem ligar muito para suas presenças quando o perfil não batia com a descrição de Lucas.

Demorou cerca de uns 10 minutos indo e vindo de um lado para o outro para encontrar alguém remotamente parecido, mas a pessoa em questão estava acompanhado de duas outras mulheres.

Uma delas foi identificada como ex-CEO de uma empresa emergente chamada Scarlet Witch Bazar, a outra era só uma pirralha que nem constava em sua memória.

O problema, no entanto, se concentrava em outra pessoa, um homem-lagarto praticamente virado na direção dos dois e seguindo em sua direção.

Cho Pei não pensou duas vezes em intervir, jogando-se contra o sujeito estranho e o empurrando para longe do grupo enquanto sacava sua lança das costas.

Eles abriram uma boa distância do grupo, o que com certeza daria chance para fugirem caso precisassem. 

Assim, a menina se concentraria somente no combate, sem se preocupar em afetar outro fracote na sua linha de disparo. Girando a lança entre os dedos, ela preparou para estocar em linha reta.

— Garotinha, sabia que é falta de educação se meter nos problemas dos outros? — indagou a lagartixa gigante, com ambas as mãos na cintura e bochechas infladas. — Ora, eu só ia ter uma conversinha com aquele bom moço, não era nada demais!

— Aham, de conversinha eu entendo. Vamos ter uma primeiro, depois a gente vê se eu te libero.

— Aff, e você é uma mulher ainda pra dizer algo assim…

O rosto da lagartixa se contorceu em nojo, imaginando o que diabos tais palavras aquilo queriam dizer. A chinesinha, porém, só ficou com mais desdém e enfim partiu para o ataque.

Sua lança avançou em linha reta, liberando uma dúzia de descargas ao redor e também concentrada na ponta da arma, focando-se no mesmo lugar atingido para maximizar o dano.

Isso não funcionou tão bem, levando em conta que a habilidade de Cris era se transformar e adquirir resistência contra diversas coisas, uma delas incluindo eletricidade.

O lagarto empurrou a lança para longe, usando sua cauda para acertá-la enquanto estivesse com a guarda bagunçada, por muito pouco não atingindo seu rostinho lindinho.

A cauda passou de raspão, deixando para trás somente um arranhão na pele, então ela recuou para trás e recobrou a postura com a lança, analisando seu oponente com frieza no olhar.

Não havia um jeito de atravessar sua guarda facilmente, pois a armadura que eram suas escamas dificultariam os golpes, e como aquela pele não absorvia tão bem eletricidade, dificultaria qualquer ataque concentrado.

Uma carranca apareceu no rosto de Cho Pei, aquele era o pior tipo de inimigo para se enfrentar.

— Por que não tenta de novo, mocinha? — A provocação de Cris não demorou para chegar aos seus ouvidos. — A gente pode lutar por um tempinho, mas não vou demorar para me livrar de ti. Tenho negócios a tratar com aquele ser humaninho, entende? Então vamos ser rápidos, por favor.

— Há, rápidos uma ova, você vai é passar mal comigo!

Com uma pisada forte no chão, Cho Pei estocou novamente, mas dessa vez era uma finta, usando o cotovelo na extremidade da arma para mudar o alvo de última hora rumo a garganta.

Obviamente aquilo não mataria, já que havia a proteção embutida nas pulseiras que receberam quando entraram o evento, mas era uma boa aposta levando em conta a falta de opções. 

No entanto, houve pouco efeito novamente, e mesmo com uma sequência de estocadas, o efeito foi quase nulo. Cris parecia não tomar dano, no melhor dos casos ele só estava levando pancadas de uma criança.

Um sorriso sinistro surgiu na face daquela criatura, que seguiu usando sua cauda para enrolar na lança de sua oponente, puxando-a para perto.

Como Cho Pei não queria deixar sua arma ir, ela acabou se aproximando, então levou um soco no meio do rosto que a impediu de manter sua lança por mais tempo.

Ela acabou soltando a arma e foi jogada passos para trás, ganhando um olho roxo feio e uma expressão furiosa. Já bastava ter perdido seu item precioso, agora levar um golpe assim era demais.

Cris, por outro lado, estava num ótimo humor, então jogou o objeto de volta para a garota. Levantando um dos dedos, ele provocou chamando-a para um segundo round.

Com olhos incediandos em ira, Cho Pei avançou mais uma vez, apenas para continuarem num combate que desde o início já possuía um vencedor definido.

“Ela ao menos é interessante, uma pena que ainda é muito fraca para me acompanhar.”

 

*****

 

Zhang Zhao tinha uma ótima intuição para tudo. A primeira vez que essa intuição agiu foi quando decidiu se mudar da China para o Brasil, então se deparou com seu atual mestre.

Desde então, ele aprendeu cada coisa da língua, inclusive aprendendo a falar tão bem que era indistinguível de um nativo.

Seu treino rendeu gigantescos resultados, ao ponto que dizer “pastel de flango” precisava de esforço para ser proferido. 

De qualquer jeito, seguir aquela intuição valeu a pena, pois sempre que a seguia, algo definitivamente bom aconteceria.

No entanto, o rapaz decidiu ir num caminho contrário à voz dentro da sua cabeça. Ela dizia para ficar longe daquela presença no horizonte, no entanto, ele decidiu teimar e investigar o que era aquilo.

O ambiente estava muito silencioso, como se a aura pesada suprimisse os sons, o que fazia uma onda de adrenalina correr por baixo da pele de Zhang Zhao.

Já estava há muito tempo ansioso para lutar com Lucas, um inimigo forte era seu objetivo principal após ter superado tanto os seus limites dentro da seita.

Sendo assim, um oponente a altura, no caso, um chefe poderoso de uma masmorra exótica, era necessário para ter sua sede por uma briga saciada.

Zhang Zhao começou a correr, antes de pressionar seu pé com toda força no chão e se lançar para cima num salto, atravessando grande parte do terreno das ilhas com um único pulo.

Aquilo era com certeza arriscado, um erro e ele estaria no oceano abaixo, mas o garoto estava se importando muito pouco por possuir a Técnica do Passo da Correnteza dos Ventos.

Não demorou para que uma silhueta enorme aparecesse na distância, o de um réptil cheio de escamas e com olhar sanguinário, largando baforadas de fogo ao longo das ilhas e queimando qualquer coisa no caminho.

Esta era a famigerada cena lendária que Zhang Zhao tanto queria: matar um dragão e usá-lo para fincar o título de Dragão Branco do Sol — ele não seria chamado assim mesmo depois de tal ato.

Ao menos, o enorme réptil seria um inimigo digno, um que rivalizaria com seu poder e que com certeza faria glória chover sobre sua cabeça.

Assim, ele não tardou para voar em linha reta rumo à criatura, sacando uma espada de uma fenda dimensional criada pela Palma da Realidade — outra técnica poderosa, mas de pouca relevância, pois só servia para guardar itens importantes num espaço entre dimensões.

O arsenal de técnicas de Zhang Zhao era diversificado, fruto de bastante treino e da conexão com seu sistema, que ocasionalmente lhe entregava um pergaminho para aprender um poder novo.

Isso, combinado ao seu cultivo constante, tornou-o bastante poderoso, mesmo que seu nível no cultivo da Ascensão do Dragão fosse baixo se comparado aos demais.

Claro, levando em conta como só treinava há um mês e meio, era esperado que seu cultivo não fosse tão grandioso, mas os pergaminhos cobriam a brecha.

Zhang Zhao chegou perto o bastante do dragão, a espada que retirou do espaço dimensional era a Decapitadora dos Céus, uma arma majestosa fabricada pelos Ferreiros Divinos e incorporada com o sangue de um antigo espírito chinês.

Vale ressaltar que ele a encontrou numa loja de achados e perdidos, solta em cima de um monte de roupa feminina. 

Mesmo depois de ser olhado estranho por todos no local, saiu feliz daquela loja com a espada.

Ele ergueu a lâmina para o alto, a luz ao redor foi absorvida pelo fio da Decapitadora dos Céus. Ao realizar um único movimento vertical, aquela luz acumulada virou um projétil em formato curvo.

Essa técnica era conhecida como Meia-Lua Estelar, necessitou de muita prática durante dois dias para ser feita, mas agora se demonstrava em plena perfeição.

— Seja submisso a mim, grande dragão, e eu te mostrarei piedade!

Falar tais coisas depois de atacá-lo era um péssima ideia, ainda mais quando um monstro daquele com certeza não falava português brasileiro. 

A criatura rugiu de volta, destinando suas baforadas de fogo rumo ao rapaz flutuante. Zhang Zhao usou mais uma vez sua Palma Dimensional e retirou um selo de dentro.

Esse selo, chamado Selo da Barreira Incorporada, criou uma esfera protetora que o cobriu e negou o dano. Ele sorriu, retirando outro objeto de dentro, uma garrafa chamada Vinho do Vulcão Celestial.

A bebida dava ao usuário imunidade completa ao fogo, e ele só não a usou primeiro tanto porque esqueceu quanto na hora do ataque seria impossível engolí-la a tempo.

Limpando a boca suja por um líquido vermelho, Zhang Zhao avançou mais uma vez, a luz foi absorvida pela Decapitadora dos Céus e se transformou em diversas outras espadas menores.

— Mil Lâminas do Julgamento Ancestral!

Às vezes, gritar o nome era legal. As espadas menores choveram sobre o dragão, danificando suas asas e escamas enquanto balançava um pouco o seu voo.

Houve uma pequena trégua, tanto porque aquele golpe exigia muita energia quanto que o dragão precisava se recuperar do baque.

Nessa janela que Zhang Zhao pegou uma Pílula de Fortalecimento do Corpo Astral e… bom, a essa altura o esquema já é bem fácil de entender.

Ao invés de perder tempo comentando sobre mais e mais itens e técnicas que o garoto chinês tinha, era melhor partir direto para a parte principal: a luta. 

É muito cansativo inventar tantos nomes para tantas coisas que nunca serão explicadas.

Mesmo tentando usar a espada para cortar a carne do monstro, esta se demonstrava dura como pedra, repelindo a lâmina com tremenda facilidade.

Zhang Zhao fez uma expressão descontente, mas não desistiu, retalhando cada tentativa de ataque do dragão com o mesmo tanto de força, às vezes até empurrando-o para longe.

As pessoas abaixo assistiram a batalha maravilhados, lentamente alguns começaram a se juntar para derrubar o chefe, tudo porque um jovem de cabelo branco estava à sua frente os protegendo.

Essa não era a intenção original do garoto, mas se as pessoas acreditassem nisso, não tinha o que fazer. Mais e mais ataques vieram debaixo, inundando o corpo do monstro voador.

Zhang Zhao só podia sorrir de diversão pelo tanto de loucuras que acontecia naquele céu recebendo uma enxurrada de explosões.



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