Farme! Brasileira

Autor(a): Zunnichi


Volume 2

Capítulo 89: Salamandra

Zhang Zhao batia a perna no chão, sentado numa pedra e com um palito de madeira na boca, pensando seriamente em como reclamaria sobre Xing Xong ter cortado seu barato.

Ele estragou seu fabuloso plano de incrementar a rivalidade com seu oponente, que no caso descobriu ser muito mais forte que o esperado, logo, a excitação e ansiedade correndo pelos seu corpo aumentou.

Queria muito se encontrar com o tal Lucas, para se enfrentarem o mais cedo possível e disputarem de igual para igual, arregaçando qualquer coisa ao redor num piscar de olhos.

Colocou a mão perto da boca, mordiscando o couro das unhas, enquanto sua cabeça alternava entre fantasiar sobre sua luta e cultivar. Sim, mesmo no meio da competição, ele não perdia tempo cultivando.

— Agora eu queria saber… onde Cho Pei foi parar? Ela não tem como ter sido… — Um trovão emergiu do meio das árvores na distância. —… eliminada.

De fato, ela não foi. Aquele trovão servia como um sinal claro que a menina continuava firme e forte, provavelmente derrotando seus inimigos com plena facilidade já que a maioria eram fracotes mesmo.

Sua memória rebobinou uns minutos atrás, quando se encontraram no meio da bagunça generalizada, em que Cho Pei estava de sobrancelhas franzidas e sobrecarregando seu corpo com energia espiritual.

— Zhang Zhao, seu idiota! — gritou ela, levantando a perna para chutá-lo no rosto. — Você não faz ideia da merda que você quase fez!

— Opa, opa! — O rapaz se esticou para trás, esquivando-se do golpe por pouco. — Pra que tanta violência? Já veio cobrar a luta que tô te devendo?

— Não, seu retardado! Tudo o que passa na sua cabeça é briga, por acaso?! Levou tanta surra do Xing Xong que seu cérebro só tem “hur dur, soco”?!

— Sim!

— Aff, eu deveria saber que seus miolos fritaram e foram massacrados! Enfim, não se aproxime daquele Lucas de jeito nenhum, ouviu?!

O garoto de cabelo branco não entendeu, mesmo recebendo ordens tão óbvias que até uma parede poderia saber como se comportar na frente dos outros.

Antes de poder questionar qualquer coisa, Cho Pei foi embora, arrastando o chão com o rosto de outros concorrentes que passava pelo seu caminho.

Sua mente retornou ao ponto atual, em que suas pernas cruzadas em cima da pedra serviam mais como suas inimigas por causarem dormência e o tédio matava pessoas dentro da sua caeça.

Zhang Zhao então ficou isolado naquele mesmo canto, esperando qualquer um chegar e ter seu devido combate, mas fazia bem uns dez minutos e ninguém deu qualquer sinal de vida.

Ele estava meio frustrado, porque tinha a oportunidade de cultivar no meio do combate sem ninguém interrompê-lo. De duas, uma: ou avaliam-no para realizar uma emboscada ou ninguém viria mesmo.

Quis acreditar cegamente que alguém viria, alguém tinha que vir, não era possível que continuaria sozinho por todo esse tempo.

O garoto se levantou do chão e circulou seu dedo em um círculo, modelando chamas em formato de lâmina que cortaram e queimaram tudo ao redor, não deixando nenhum espaço ocupado para observar e…

— Ué, não tem ninguém…? — Balançou a cabeça diversas vezes, o ambiente estava completamete vazio e nem o vento batia. — Porra, vou esperar, né. Não quero ir atrás dos outros. O grande Zhang Zhao procurando um oponente? Quem seria idiota de fazer isso? Só preciso esperar… cedo ou tarde alguém virá… né?

Pelo resto do torneio, ninguém veio.

 

*****

 

Bianca, ex-CEO de uma respeitável empresa brasileira de raids, estava em tempo de arrancar o próprio cabelo, pelo simples fato de que não parava de vir gente para enfrentá-la.

A competição acirrada entre corporações era algo comum no mundo brutal dos negócios, e não era novidade que alguns concorrentes seriam erradicados caso não seguissem normas ou não ficassem na sua.

No entanto, Bianca nunca causou problema a ninguém, na verdade muitas pessoas gostavam dela, então por que tanta gente vinha incomodá-la? 

Isso pegou em seus nervos, ao ponto de um instinto assassino se acender no fundo de sua alma. Ela queria muito bater na cara de alguém, especialmente se usasse óculos preto e estivesse de terno.

O tanto de gente que voou na sua direção desde que deram o sinal de iniciação foi sem limites, mas ainda por cima eram fracotes que eram dispensados com um sopro.

“Mas, tirando isso, a leva dos novos raiders está muito fraca. Normalmente eu não contrataria quase ninguém aqui, já basta o trabalho de cultivar e procurar talentos, mesmo praticamente num leilão informal que esse torneio é, sinto que as pessoas estão mais fracas que o normal…”

A realidade era que isso era pura impressão. Bianc estava muito mais forte que antes, ela só não se tocou o quanto seu nível subiu, mesmo durante as raids ou nos combates contra monstros havia uma nuance de que sua força continuava a mesma de sempre.

“Agora veio outro me encher o saco.”

As labaredas ao seu redor cresceram e se tornaram esferas, em seguida se acumulando num grande pilar acima de sua cabeça que jorrou fogo como um vulcão em erupção.

Fumaça subiu, mas as chamas dançando não pararam de girar e destruir o que quer que estivesse no seu caminho, pavimentando caos e ruína ao seu redor como um desastre natural ambulante.

Quando ela terminou o ataque, seus arredores praticamente foram arrasados, mas ainda tinha quem quisesse perturbar sua pouca paciência.

— Bravo, bravo! — Palmas emergiram do meio da fumaça, repentinamente uma silhueta surgiu, aproximando-se devagar. — Essa é a verdadeira face de uma CEO! Você continua radiante como sempre, miga, uma pena que perdeu seu charme de moça reservada.

O rosto de Bianca se contorceu de raiva, ambos os seus dedos estalavam pequenas explosões prestes a jogarem explosões comparáveis a um bombardeio numa guerra.

— Não me chame de “miga” tão naturalmente, sua lagartixa traiçoeira…

— Oh? Desculpa, miga, mas você sabe como é, me pagaram pra isso com uns garotões lindíssimosss! Opa, desculpa, foi minha língua.

A tal criatura apareceu, uma lagartixa andando em dois pés, de pele vermelha e com uma língua meio solta, mas que tinha um jeito extremamente estranho em andar e mexer as mãos.

A ruiva sabia da habilidade, era a de morfar em um réptil humanoide que ganhava tanto as capacidades naturais do animal quanto outras, tal como resistência a fogo, eletricidade e frio.

Estranhamente, aquilo também removia os contras de ser uma lagartixa, a regulação de temperatura não precisava ser feita e parte de seus instintos agiam como um humano extremamente treinado.

— Aquele Arthurzinho continua um gatinho? — perguntou o ser estranho, a comprida língua correu pelos lábios. — Eu nunca convidei ele pra um jantar, mas talvez depois daqui seja uma boa ideia…

Bianca cerrou os punhos, as pequenas explosões cresceram em número, pipocando tantas vezes que parecia haver duas luzes em ambas as mãos.

— Você nem ouse encostar um dedo nele, Cris…

— Ui, toquei num ponto fraco seu? Hahaha, é tão bom te ver assim, miga!

Ela parou de se segurar. Elevou as mãos, uma larga explosão estourou na sua frente, tomando conta por completo de sua visão, ao mesmo tempo sugou o oxigênio.

Era tanta força num único golpe que a própria usuária sentiu o ar sumir dos pulmões, impedindo que continuasse em fuzilar aquele maldito.

— Nossa, que raivinha, hein! — gritou a mesma pessoa de dentro da fumaça, logo reaparecendo com o corpo enrolado na própria cauda. — Esqueceu que sou seu pior tipo de inimigo, é?

— Cala a boca, desgraçado…

Outra vez os estalos se acumularam, mas ela precisava tomar cuidado para novamente não sofrer sufocada pela falta de oxigênio. 

O fogo saiu de seu corpo e a circulou, em seguida correndo pelo chão como uma bola de boliche na direção da lagartixa, que deu um passo para o lado e esquivou.

Era meio medíocre um ataque assim, mas a quantia de bolas de boliche de fogo que vieram em sua direção disseram o contrário, como se o chão fosse uma pista de boliche e a lagartixa o pino em pé.

O calango esquisito pulou, tomando a ação que ela queria. Bianca aproveitou aquele breve momento e condensou uma esfera na mão até tomar a cor azulada, jogando-a na criatura em pleno ar

A esfera se expandiu em diversas labaredas, misturando laranja com ciano em meio a uma dança infernal e modelando suas chamas para um tornado que continuamente incendiava a região.

Estava ficando quente, um suor escorreu dentre os fios vermelhos de Bianca, mas a concentração plena em seu rosto dizia algo diferente de seu aparente cansaço.

Ela remodelou aquele furacão novamente numa esfera, conservando o calor numa jato que despencou contra a ainda desaparecida lagartixa, que tomava banho naquele calor inteiro.

— Bianquinha, miga, você tá muito estressada. — A voz emergiu junto de um corpo repetliano, cujos olhos arregalados se concentraram na mulher. — Me perdoe por ter que fazer isso.

Sua cauda voou na direção dela, agarrando seu braço e tirando sua concentração na manipulação de chamas, ao mesmo tempo que a levantou igual uma pena e bateu seu corpo contra o chão.

O peso daquela pancada fez seus ossos tremerem, vômito ameaçou sair pela garganta, mas ela se segurou e novamente colidiu contra o chão.

Cris não sentia dificuldade, na verdade era meio tedioso fazer isso e até injusto se levasse em conta como poderia enfrentar com facilidade esse tipo de poder.

Pessoas que evocavam fogo era um poder até comum, mais do que deveria, só mudava na forma que era exposto, sendo muito individual para cada usuário.

Bianca, por exemplo, era um dos raros casos com manipulação completa, mas o fato da lagartixa ser sua pior inimigo não se alterava.

— Arthurzinho querido deve estar se doendo todo por te ver assim… Vocês formam um casal muito fofo, tão fofo que fiquei até com pena do que falei. — Ela balançou a cabeça de um lado para o outro e encarou o chão de braços cruzados. — Aff, ele não vai querer sair comigo depois do que fiz. Me arrependi agora…

Cris teve uma sensação estranha, como se uma parte do seu corpo tivesse se desconectado. Levantou os olhos, as mãos da ruiva estavam brancas de tanto fogo circulando, mas pior que isso, uma parte de sua cauda foi incinerada.

Não havia dor, perder aquele pedaço não traria nenhum benefício ou malefício específico, era descartável assim como nas lagartixas comuns, só que o sorriso na cara dela parecia indicar uma coisa diferente.

A criatura não reparou, mas acima de sua cabeça e nos arredores haviam inúmeras bolinhas de gude azuis crepitando. 

— Merda!

— Cadeia Infernal!!!

Ela fechou os braços, cada uma das esferas se juntou no mesmo ponto em que Cris estava, incitando uma explosão em constante expansão que tomou conta do ambiente inteiro.

Bianca aproveitou a oportunidade para fugir, chamas incendiaram seus pés e a impulsionaram para longe, antes da cortina calorenta se dissipar no ar.

Quanto a Cris, não houve como persegui-la, não havia tanta mobilidade naquele corpo de lagarta e o impacto constante das explosões empurrando de um lado para o outro não deixou abertura para se mover.

Assim que teve como ver qualquer coisa a no mínimo um palmo de distância, reparou que não havia nada além de grama queimada e um péssimo cheiro de fumaça.

— Hah, é realmente complicado essa gentinha que não quer perder é complicado…

Incapaz de fazer algo além, seu corpo retornou a sua forma humana. Um lindo homem com peitoral definido exposto, cabelo loiro curto e olhos esverdeados tomou seu lugar.

— Ah, mona, você é de vez em quando chatinha… — Ele colocou as mãos na cintura e avaliou suas próximas opções. — Será que eu deveria ir atrás daquele Lucas? Pelas fotos, não é um cara que é o meu tipo… Meh, não faz mal.

Cris tomou sua blusa jogada não muito longe, colocando a gola o mais aberta possível para que seu peitoral ficasse a mostra para o mundo, para honrar sua própria pessoa.

Após arrumar o cabelo da forma mais dramática possível, ele andou rumo ao seu próximo alvo, querendo adivinhar onde um garotinho que nem aquele estaria no meio dessa competição caótica.



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