Farme! Brasileira

Autor(a): Zunnichi


Volume 2

Capítulo 86: Pré-Competição

A atendente ajudou Lucas com seus olhos extremamente radiantes, o que facilitou muito o processo, já que a documentação de RG deu um problema gigante no reconhecimento da máquina.

Cobalt, após resolverem o problema, se despediu e disse que estaria com a chefe, pois ainda era o guarda-costas dela de um jeito ou de outro. 

O rapaz não se importou muito, mas o bombado vermelho parecia muito simpático, então um aperto de mão e uma despedida simples bastou para se separarem.

Aqueles olhares hostis voltaram a rodeá-lo, mas em menor quantia, porque Zhang Zhao causou tanto problema que talvez fosse melhor deixá-lo em paz. 

Era um certo alívio, as pessoas desse lugar aparentemente não entendiam que encarar demais dava muito desconforto e também não era algo para se brincar ou ficar usando toda hora.

— Este é seu cartão — falou a atendente, entregando um cartãozinho dourado. — Guarde-o em segurança. Estarei torcendo por você!

— Obrigado… — Ele ergueu uma sobrancelha em relação àquilo, mas apenas decidiu ignorar.

Lucas guardou dentro do terno e se afastou do balcão, indo para qualquer bom canto isolado onde pudesse tirar o celular do bolso e jogar Candy Crush em plena paz durante sua espera.

O torneio ainda aconteceria naquele dia, mas, como todo bom evento brasileiro, levaria mais uma hora ou duas para que terminassem de organizar.

Por isso que ele estava tão despreocupado, ao mesmo tempo que também frustrado por não ter os seus queridos equipamentos fodões, logo, teve que se contentar com um celularzinho para passar o tempo.

Outras informações adicionais que relembrava era sobre como funcionaria a competição. Seria um Battle Royale, ou seja, todos contra um.

Os 16 últimos que sobrassem dentre os concorrentes seriam passados para a segunda fase, que aconteceria na semana seguinte e utilizava o estilo tradicional de torneios de lutas 1x1.

Ou seja, se Lucas ficasse na dele e esperasse a maioria se matar, ele ainda teria uma boa colocação. Não era necessário entrar em lutas uns contra os outros, só segurar as estribeiras bastaria.

Enquanto escutava o delicioso “Delicious!” emitido pelo joguinho, reparou numa pessoa do outro lado do salão, uma de capuz vermelho e máscara.

Lucas não era gênio, mas somente um acéfalo não saberia quem era. Bianca, a tal CEO que desistiu e abandonou toda sua carreira, estava competindo entre outros raiders.

Soava irônico, mas era bastante interessante do seu ponto de vista. Na última vez, Bianca continuou no seu posto de dona da empresa, mas forneceu o máximo de apoio a ele quanto possível.

Aquele rumo diferente atraiu sua atenção… Ao ponto de notar tardiamente uma garota morena de mechas lilás parada estaticamente ao seu lado com olhinhos brilhantes, pegando na manga do terno.

Quando a viu, Lucas se segurou para não xingar por tamanho susto. Seu coração estava quase saindo pela boca e os olhos estufados em tempo de soltar raios laser.

— Eh… posso te ajudar em alguma coisa?

— Você é o Lucas da Tv?

— É, sou ele… — Ele desviou a atenção para o celular de novo, quem sabe fosse uma fangirl que nem a atendente. “Por sinal, por que me chamam de Lucas da TV? Eu tenho sobrenome, sabia? Ele é…”

— Vo-você pode me proteger? — pediu, encolhendo-se como um bichinho de estimação. — Eu tô com medo dessa competição. — Eu entrei pra chamar atenção, mas não sou realmente boa em lutar…

“Se você entrou pra chamar atenção, então por que veio em primeiro lugar?!” Achou aquilo consideravelmente irritante, mas, sendo uma garota que nem essa super indefesa, não teria problema. — Claro, só não espera sair ilesa. Eu sou forte, não invencível.

— Aeee, obrigada! — A menina levantou os bracinhos para o alto, esbajando um sorriso. “Kukuku, meu plano funcionou!”

Lucas não gostou nem um pouco de encarar aquele sorriso perverso, era como se ela estivesse planejando alguma coisa por baixo dos panos.

Não seria má ideia chutar a bunda dela agora e deixá-la se virar, mas isso não era maldade demais com quem parecia uma criança? 

— Por sinal, qual o seu nome?

— É Yasmin Thrones, senhor Lucas.

“Uuuuh, ser chamado de senhor com esse terninho me faz me sentir chique, curti.”

Mal sabia ele que essa garota era mais mal intencionada que motorista passando em poça d’água com uma pessoa na calçada. 

“Óbvio que ele não percebeu meu poder atuando agorinha, ninguém percebe! Agora tenho um monstro do meu lado, o que vai pelo menos me garantir mais chances de sobrevivência.”

No entanto, não houve mais tópico de conversa depois disso. Silêncio permaneceu entre ambos, porque Yasmin só era boa usando seu poder de Sugestão para “forçar” os outros a fazerem coisas.

Agora quando vinha em relação a ela mesma atuar… a história mudava. Ser introvertida era tão complicada que lhe restou assistir a Lucas jogando Candy Crush e sentir pena de não levar o celular por medo de roubarem.

Lucas não se importava muito, na época que era muito novo a coisa mais normal do mundo era ficar perto de quem tinha um PSP ou Gameboy e olhar a tela para se impressionar com o que acontecia.

Ainda bem que essa época passou, agora sua felicidade era genuína e não mais limitada a pirataria.

— Olhem, é o Presidente da Associação! — indicou um figurante completamente aleatório no meio da multidão, apontando para o homem num palco montado.

O rapaz observou quem era a tal pessoa, uma pena que ele levou uma hora e meia para chegar, fazendo com que todas as suas energias no joguinho já estivessem gastas.

De qualquer forma, Lucas não pensou muito sobre e observou o perfil do presidente de associação…

“Ele não parece… sei lá, normal demais?”

A tal figura ilustre do figurão mais parecia um “Zé” que qualquer brasileiro encontraria num boteco. Cabelo meio grisalho, pança chopp, barba pra fazer, um rosto misturado com vermelho e moreno.

Ele era estranho, bastante, uma pessoa normal acreditaria que ele estivesse bêbado ou na pior das hipóteses acabou de sair de um barzinho na esquina do centro de eventos.

— Um bom dia a todos… — O som no microfone fez um chiado irritante, sendo trocado por outro melhor poucos instantes depois. A organização do evento era mesmo impecável. — É com muito orgulho que venho aqui anunciar as regras e claro, os agradecimentos aos nossos fieis patrocinadores, que puderam trazer tanta alegria a esta cidade e…

Era um discurso chato para caramba. Lucas não prestou atenção direito, preferiu ao invés disso tirar um dinheiro na conta para recarregar as energias no joguinho e voltar a virar docinhos. 

A única coisa que ouviu direito eram as regras, porque o resto compensava nem um pouquinho. Praticamente, era reforçando as mesmas coisas de antes, do Battle Royale e do modelo tradicional de torneio.

Até que, dentre aquelas coisas, houve uma colocação que chamou seus ouvidos.

— Quando metade dos participantes já tiverem saído, nós liberaremos monstros para darem mais desafios a competição… — As pessoas começaram a cochichar, preocupadas de que aquilo não estava no manual original. — Eu sei que é repentino, mas não se preocupem, haverá uma equipe a postos para lidar com qualquer situação fora do controle. Também fomos fornecidos um equipamento de última geração que lhes protegerá em última instância, e digo que nem um classe A poderia quebrá-lo.

Um classe A não poder quebrar era algo grande. Obviamente classes S não se meteriam no meio disso, eles eram uma bola de problemas, imagine se meter silenciosamente num torneio dessa forma.

Lucas estava bastante tranquilo por esse motivo em especial. Ele nunca viu sobre os top do Brasil, mas não duvidava que eles eram algum tipo de entidade adorada pelos outros.

A parte dos monstros, no entanto, lhe interessava. Ele olhou de canto para as cabines mais acima, deparando-se com Viviane e sua mãe uma do lado da outra, observando as coisas abaixo.

O rosto de Viviane se manteve estático, como se ela analisasse os participantes quanto as palavras do presidente da associação. 

Lucas acreditava que talvez ela tivesse alguma relação com esses tais monstros, por causa de uma conversa que tiveram sobre ela ter obtido as habilidades de todos os animais da terra.

Se havia dinheiro no seu bolso para comer qualquer bicho no mundo, não seria muito difícil terem outros ali no meio, como monstros de portais, já que demonstrou poder absorver até eles

O rapaz balançou a cabeça de leve para se concentrar no restante das palavras, mas não levou muito tempo para que terminasse e fossem distribuídos os tais braceletes.

Lucas prontamente colocou um no seu pulso, seguido de Yasmin logo atrás, que dava pulinhos de felicidade e se parecia com uma criancinha abobalhada. 

— Você tem algum plano, senhor Lucas? — perguntou ela, mais uma vez encostando nele. — Seria bom evitar lutar o máximo possível para conservar nossa energia.

— Eu pensei em algo semelhante mais cedo. O problema são os monstros, a gente não sabe quais são e como agem, pode ser que tenha um no meio com uma habilidade de localização super poderosa e não consigamos escapar por muito tempo…

“Ele estava até pensando longe? Que estranho, essa linha de raciocínio costuma ser de raiders experientes, e pelo que sei, ele não teve muito acesso a raids e muitas viagens a portais…” Yasmin inclinou a cabeça, meio em dúvida sobre isso. — Entendi. Aliás, posso perguntar o porque você está tão diferente da vez que apareceu na tv?

— É por causa do meu treino. Não foi nada demais, acredite.

“Nada demais? Você foi de cara normal para gatinho num piscar de olhos, a atendente ficou tão gamada em ti porque você tá bonitão!”

Ela conteve os elogios para si mesma como forma de se manter no personagem. Cogitou em comentar mais alguma coisa, mas, de repente, reparou no jeito que ele encarava uma pessoa na multidão.

Seguindo a linha do olhar, Yasmin viu um homem de costas altas e fortes, que pela aparência deveria ser tímido e sem jeito. Ela até pensou que ele seria eliminado logo.

— O que o Theo está fazendo aqui? — sussurrou Lucas, sem tirar os olhos dele.

— Quem é, senhor Lucas?

— Um ex-colega de trabalho meu. Faz bastante tempo desde que o vi, é esquisito ele ter vindo pra cá… Digo, ele não é um cara violento.

— Deveríamos chamá-lo pra ficar com a gente então?

— Não, acho que ele consegue se virar por conta própria.

Theo era uma das pessoas que trabalhava em conjunto no restaurante, e que nos poucos dias após o recebimento do sistema o convidou para matarem goblins.

Aquele cara tinha ficado fora do radar e mente de Lucas por bastante tempo, estranhamente os dois não se falaram mais e sequer trocavam mensagens, deixando no ar uma certa curiosidade.

Além disso, por conta das demais coisas que constantemente estava fazendo, o rapaz não teve como lembrar dele… Não era como se o próprio autor tivesse esquecido desse personagem vital e só colocá-lo de novo 80 capítulos depois.

Tinha algo de estranho com Theo. A atenção do rapaz ficou centrada na sua postura altiva, no seu modo quieto que expressava uma certa hostilidade.

As pessoas ao redor se mantinham longe, mas ele continuava ali, imponente e ameaçador aos seus arredores. 

Lucas estava interessado no que aconteceria depois. Um sorriso pintou seu rosto, já bastava o maluco que fez a aposta com ele, a bruxa vermelha na parede e mais uma porção de gente com potenciais desconhecidas por ali.

Seu sangue começou a fervilhar. Ele queria essa emoção, essa coisa que movia sua mente e corpo ao limite, assim como na luta de Igibris e como os sentimentos dados nos treinos.

— Agora, por favor, acompanhem os funcionários rumo a área em que ocorrerá o evento — anunciou o presidente, acenando para os demais. — Desejo boa sorte a todos.

Um grupo de homens e mulheres vestidos com trajes brancos colados. Lucas os olhou e imaginou para que serviam aquelas roupas, já pensando em quem traria a primeira leva de problema.

Ele caminhou junto de Yasmin para a ala em que as pessoas se reuniam, e claro, alguns fizeram uma confusão antes de entrarem. Sorte a sua que não estava no meio e nem pretendia se envolver.



Comentários