Farme! Brasileira

Autor(a): Zunnichi


Volume 2

Capítulo 85: Evento

Com a missão dada a Kard e tudo o que tinha para resolver resolvido, Lucas sentiu que agora poderia se atentar plenamente ao torneio que ocorreria em breve.

Ele viu o tempo passar no banco de trás da limusine. Infelizmente, Viviane acabou parando lá para dá-los carona, e para variar sua mãe não sabia recusar o pedido, dando na situação de agora.

O trio, mais tarde unidos de Levi e Natália, seguiram para o centro de eventos da cidade, um grande complexo cheio de pessoas andando de lá pra cá.

Muitos engravatados, em sua maioria funcionários e secretários das empresas gerenciadoras de raiders, distribuíam seus cartões e pedidos para diversas pessoas.

No entanto, por Viviane certamente ser uma figura ilustre levando em conta a limusine e a riqueza de sua família, era inevitável que muita gente acabasse dando atenção a ela.

— Ah, senhorita Viviane, é um prazer vê-la! — cumprimentou um dos funcionários aleatórios.

Pena que não foi respondido, muito menos os demais que queriam tomar sua atenção. Os guarda-costas a postos logo na entrada do centro de eventos agiram, afastando a multidão que queria se aproximar.

Assim que tiveram ao menos algum tempo para respirar um pouco de ar fresco longe das pessoas, Viviane se virou para Lucas e a mãe dele.

— Nós vamos entrar logo. Dona, a senhora virá comigo, comprei alguns assentos de luxo e tem muitos sobrando, então não faria mal compartilhar comigo, né?

— Claro que não, queridinha! — O sorriso da mãe se tornou tão radiante que poderia ser ofuscado pela luz do sol. — Vamos lá, vamos lá logo, eu nunca entrei numa dessas cabines de luxo!

— Pois a senhora gostará muito… — Elas cruzaram os braços um no outro, como se fossem velhas amigas. — Ah, e Lucas, acompanhe Cobalt. Ele é um dos meus funcionários mais leais e te levará para fazer o check-in da inscrição, se tiver esquecido algum documento, é só pedir para que ele te ajude.

Um homem se apresentou, a pele dele era meio avermelhada e a cabeça careca, junto de um corpo extremamente bombado e forte.

“Hum, essa aparência é familiar… Que esquisito”, pensou, analisando a pessoa da cabeça aos pés. — Valeu, te vejo depois então.

Lucas acenou com a mão e esperou elas irem embora, apenas para se ver sufocado por uma multidão de pessoas interessadas para saber quem era o tal garoto que conversava de maneira tão casual com aquela moça.

— Poderia nos dar seu nome, bom senhor?

— Desgruda de mim, inferno! — O rapaz esquivou rapidamente daquelas mãos tentando tocar seus ombros e passou por todos com um longo pulo. — Vocês não sabem o que é espaço pessoal, cacete?

Enquanto isso, Cobalt empurrava entrevistadores, repórteres e os demais chatonildos que incomodavam aquele homem. 

Já longe da multidão lá fora, os dois caminharam juntos ao longo dos corredores pelo evento. Muitos poliam as armaduras, afiavam suas armas e até conferiam se os consumíveis estavam em ordem.

Parecia até que mais tarde iriam para uma guerra e não para um simples torneio. Lucas suspirou, lembrando de uma ordem que seu mestre lhe deu.

— Não leve seus equipamentos, você não precisará deles para ir longe! É um desafio que você tem que vencer com suas próprias mãos e parar de depender de suas espadas ou itens!

E agora o rapaz se sentia fora do lugar por não poder ostentar sua armadura fodona, tendo que andar de lá pra cá com um terninho meia-boca e olhos cansados.

Encaminhando-se para o balcão, Lucas procurou todos os documentos dentro de uma pasta azul que dobrou direitinho num saquinho dentro do bolso.

CPF, RG, Comprovante de Residência, Exames Médicos, tudo estava nos conformes. Se algo desse problema, ele com certeza faria o caos reinar naquele lugar.

— Senhor, esse é você? — perguntou a atendente, mostrando a tela do computador.

Diversas veias pulsavam na cara de Lucas. Na tela, havia um homem moreno, com cara de emo, olhos claros, cheio de músculos e usando fone de ouvido, enquanto mandava um joinha.

— Não, não é… 

Ele se conteve para não xingar ninguém, porque aquela aparência com certeza não era sua de nenhuma forma. Após conferir apropriadamente, a imagem real apareceu.

Estava meio desatualizada, e por isso o balconista arrumou os óculos para ter certeza de que aquilo era mesmo a foto da pessoa que participaria.

— Ei, por acaso você… é o Lucas da tv? — cogitou a atendente, arregalando os olhos. 

Imediatamente a maioria das pessoas viraram o rosto na direção daquele indíviduo. Cada um tinha sua própria reação, uns assustados, outros curiosos, mais alguns meio risonhos por terem visto a figura.

Lucas sentiu vontade de quebrar a cara no balcão. 

Queria ter passado pelo esquema em paz, mas assim como uma caixista que gritava em alto e bom tom o tamanho da camisinha que alguém comprava, a atendente decidiu tornar sua vergonha pública.

— Sim, sou eu. — Não tinha outra escolha, era o jeito aceitar.

— Haha…! Você de perto é realmente bem diferente, né? Ou será que mudou mais do que devia? Aliás, posso pegar um autografo? 

— Não, tô de boa. — Ele cutucou Cobalt ao seu lado com o cotovelo. — O meu amigo aqui tá com pressa pra voltar, poderia acelerar um pouquinho, por favor?

— Mas eu não…

— Viu? É que a chefe dele é uma pessoa bem emocional e muito exigente. Ele precisa voltar logo.

— Entendo, entendo, resolvo rapidinho! — respondeu a atendente com um sorriso lindo no rosto e levando a ficha para uma sala mais separada.

Lucas, por outro lado, esperou até que ela retornasse, aproveitando o tempo para olhar quem quer que estivesse nos arredores procurando falhas nele.

Já não bastava ser muito lindo, ter gente querendo julgá-lo tornava as coisas ainda piores. Talvez fosse hora de dar um basta e colocar as coisas de forma clara.

 — E…!

— Então você é O Lucas!!! — gritou uma pessoa no andar de cima de uma forma tão estridente que quase estourou os tímpanos do rapaz. — Finalmente eu tive a chance dever você!!! Hahaha, Xing Xong, é o cara, é o cara!

A tal figura, um garoto de cabelo prateado longo e extremamente elétrico, saltou daquele andar e pousou com a delicadeza de uma pedra contra vidro, causando susto geral em todas as pessoas ao redor.

Zhang Zhao, de peito estufado e extremamente contente de vê-lo, deu longos passos na direção do figurão, nem mesmo esperando para apertar suas mãos e jogá-lo para cima e para baixo por conta da animação.

— Eu vou vomitar… — reclamou o rapaz, tonto de ser muito balançado.

— Ca-ham. — Cobalt segurou os pulsos de Zhang Zhao, achando que já era demais. — Com licença, peço que pare.

— Hã? E quem é você pra dizer o que eu faço? — provocou Zhang Zhao, olhando torto para o gigante vermelho.

A tensão ficou evidente entre ambos, Cobalt teve que se segurar para não esbofetar aquele rapaz arrogante, mas Lucas interviu a tempo tirando a mão do jovem animado de si.

As sobrancelhas do talentoso cultivador se ergueram. Ele estava apertando com força, mas tão facilmente acabou soltando por mero querer daquele cara.

Os olhos de Zhang Zhao viraram um par de estrelas. Os rumores estavam certos! Por mais que quisesse só testá-lo com uma aproximação casual, talvez tivesse o subestimado demais por não esperar algo simples assim acontecer.

— Senhor Lucas! — chamou um chinês de cabelo preto e todo bem maquiado, descendo por uma escada rolante já que ele não era louco nem de quebrar suas pernas quanto de causar prejuízo ao estado. — Mil desculpas, mil desculpas mesmo pelo jeito que esse garoto atrevido agiu!

Xing Xong claramente se referia ao tal moleque que estava causando furdúncio, tendo que tapar sua boca e também colocar um braço ao redor do pescoço para desmaiá-lo mais rapidamente.

— Eu não imaginava que ele faria isso, então minhas mais sinceras desculpas, de verdade.

— Mffmmm, hrrrmm!!!

— Como pode ver, ele também sente muito. Vou repreendê-lo depois apropriadamente, enquanto isso, te parabenizo por sua evolução atual…

O aperto ficou tão forte que o rosto de Zhang Zhao perdeu a cor e ele desmaiou por completo, tendo que receber ajuda de uma terceira pessoa, a garota Cho Pei, para carregá-lo nas costas.

Lucas achou a cena em questão muito perigosa, mas pelo visto já era uma coisa normal levando em conta com o quão fácil Xing Xong lidou com o garoto animado.

— Pode ficar tranquilo, esse tipo de coisa tem sido cada vez mais normal… e acho que vai ser inclusive muito normal hoje.

— Realmente, realmente. — Os olhos do chinês caíram na garota de olhar torto ao seu lado, tendo que chutar a canela dela para arrumar sua cara de bunda. — Bem, estes dois são outros dois competidores do torneio e ambos fazem parte da minha seita. O rapaz com quem você conversou mais cedo é chamado de Zhang Zhao, ele tem um comportamento assim por não ser tão disciplinado, enquanto a outra é Cho Pei…

Lucas cerrou os punhos com o máximo de força possível para não rir.

— A Cho Pei — continuou o homem, sem reparar na vontade de rir de seu colega. — É uma pessoa muito interessada em você, então, se puder, procure-a quando começar a competição.

— Cla-claro, claro… — respondeu, coçando a nuca para evitar o surto de risos.

Para sua salvação, a atendente retornou ao seu posto, com os papeis prontos e uma expressão realizada no rosto. 

— Bom, vou terminar meu registro aqui… — Lucas deu as costas, acenando com a cabeça. — Te vejo por aí, Xing.

— Sim, nos veremos depois, senhor Lucas.

Após a despedida, Xing Xong arrastou as duas crianças que estavam encarregado como se fosse um pai responsável, mas na verdade queria fazer cosplay de avestruz e afundar seu rosto abaixo da terra.

Numa das cabines pessoais do centro de eventos, comprada pela própria seita para que seus dois concorrentes estivessem confortáveis, o homem permitiu extravasar um pouco da bomba dentro de sua cabeça.

— Idiotas, idiotas! O que agora ele pensará de nós?!

— O tal “senhor” Lucas não é mesmo nada impressionante — comentou Cho Pei, fazendo biquinho e cruzando os braços. — Acho que até uma brisa lidaria com ele…

— Sua maluca! — Xing Xong não economizou no cascudo na cabeça da garota.

— Ai! Por que você me bateu?! Auuu…

— Porque o “tal senhor” que você fala não ser nada impressionante é um dos melhores patrocinadores que já tivemos na última década! Ficar em tempo de atacá-lo ou falar mal dele é o mesmo que querer foder com o nosso progresso na seita!

— Espera, é sério…?

— É sim! Por que você acha que eu tirei vocês dois de lá?!

A garota ficou meio abobada, quanto a Zhang Zhao, ele estava estirado no chão e inconsciente, mas estava numa posição melhor que Cho Pei levando em conta que evitou o esporro.

— Que droga… e agora a seita do Sol Nascente pode perder uma das nossas principais formas de produzir pilulas de última geração.

A garota calou a boca, observando-o andar de um lado para o outro com a mão no rosto, pensando numa solução para esse problema. 

Xing Xong queria agradar Lucas de algum jeito, e sabia que seus costumes e natureza impediam muitas formas mais simples de resolver as circunstâncias.

“Dinheiros e mulheres adiantavam de nada, mas talvez vencer a aposta e salvar seu orgulho daria certo… Já sei, como Zhang Zhao será incontrolável, vou usá-la.” O homem se virou para a jovem, encarando-a com um semblante bastante sério. — Colabore o máximo possível com Lucas, de preferência salve-o de situações complicadas. Você é forte, consegue fazer isso.

— Por-por que está pedindo especificamente pra mim? Como sabe que isso funcionaria?

— Muitos tentarão atingi-lo, sozinho não tenho certeza que ele ganha, além de que não tem nenhum equipamento… O nível dos raiders se torna completamente instável com a presença dos equipamentos, mas Lucas sozinho não pode competir de igual pra igual com certas pessoas sem eles. Você tentará ao máximo adquirir o favor dele.

Cho Pei queria retrucar de alguma forma, mas se sentia impossibilitada, porque para comentar tão diretamente aquele tipo de coisa, Xing Xong devia ter algum plano na manga para que as coisas não ficassem piores.

Engolindo seu orgulho, a garota suspirou e abaixou a cabeça.

— Sim, senhor…



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