Farme! Brasileira

Autor(a): Zunnichi


Volume 2

Capítulo 82: Passeio

Lucas, após esperar uma eternidade durante a manhã para sair, viu que estava tudo pronto para irem embora.

Ele chamou um motorista por aplicativo — um dos luxos que mais amava nesse mundo. — e decidiu fazer uma parada no campus de Levi antes de tudo.

Lá, os dois atravessaram a entrada e deram breves palavras com o segurança, dizendo que estavam procurando o tal aluno.

— Hã… desculpe, mas acho melhor você ir por conta própria. 

— Como assim? — perguntou a mãe, de sobrancelha erguida.

— Digamos que ninguém tem se aproximado de Levi há um certo tempo por causa de uma companhia que não sai de perto dele, os alunos têm medo de chegar perto. Se eu fosse você, também não tentaria chegar perto.

— Que absurdo! O meu filho andando com má influência?! Se for aquela Natália, eu vou…!

— Calma, mãe — disse Lucas, pondo uma das mãos no ombro dela. — Tudo bem, nós vamos entrar e ver ele. Sabe me dizer onde ele está?

O guarda acenou positivamente e indicou com uma certa pressa o refeitório, em que possivelmente estariam. 

O rapaz agradeceu e passou pela catraca da entrada junto de sua mãe, ambos andando lado a lado rumo ao tal local, mas ele não pôde evitar um frio na espinha.

“Porra, tem muita gente me olhando, eu não gosto nada disso… Por que só tem gente que é assim por aí? Já bastava todos os elfos me olhando torto, Solein me enchendo  o saco e Lilith correndo atrás da minha bunda mais do que aquele cachorro Nictis.”

Um suspiro saiu de sua boca, ele revirou os olhos com o pensamento de que novamente seria aliciado por alguma pessoa que aparecesse na sua frente.

Ao averiguar rapidamente os arredores, suas suspeitas foram confirmadas, realmente tinha gente o encarando de forma encantada. Lucas odiou cada segundo disso.

Sorte a sua que não sabiam direito quem era o sujeito de terno, pois do contrário, viriam centenas de pessoas incomodá-lo.

Lucas abriu a porta do refeitório, e logo descobriu o motivo do aviso do guarda.

Numa mesa isolada, uma aura extremamente negativa pairava ao redor, o epicentro dela sendo duas pessoas muito irritadas uma com a outra.

Drak e Natália se encaravam como se quisessem matar o outro, enquanto um tímido Levi comia um sanduíche de peito de peru para aliviar a tensão.

As demais pessoas nas outras mesas se mantinham bastante longe desse campo de batalha, enquanto um rapaz ousou se aproximar disso por pura curiosidade.

Assim que chegou perto, ele imediatamente foi atacado por duas mãos que vieram para atrás da sua cabeça e tentaram afundá-la contra o banco.

No entanto, por mais que fizessem força, a pessoa não saiu do lugar. Os dois se assustaram, levantando os rostos para saber quem era.

— Engraçado que eu deixei vocês dois juntos pra evitarem problemas, e não criarem mais… — disse Lucas, com uma veia pulsando na testa.

— Lu-Lucas?! — gritou Levi, estufando os olhos ao escutar aquela voz.

— Mestre! 

— Pera, o irmão do Levi?!

Silêncio tomou conta do refeitório, apenas para o som do punho de Lucas batendo na cabeça de Drak e um peteleco acertar a testa de Natália.

Ele cruzou os braços, enquanto os dois se recuperavam do ataque repentino. 

— Por que você me bateu?! — berrou Natália, com as mãos no meio da testa.

— Porque você tá literalmente tirando a vida social do meu irmão e porque tá arranjando briga onde não deveria. Drak está com vocês apenas pra proteger o Levi, nada mais, e mesmo assim você tem essa atitude ciumenta.

— Óbvio, eu não posso ter um tempo de paz com Levi! Esse maluco vive dizendo que posso a qualquer momento causar algum mal a ele!

— Mes-mestre, é verdade que ela pode causar um mal sim! Uma vez, quando o deixei a sós, Levi voltou com o pescoço roxo, eu juro que eles deviam ficar longe um do outro!

— Pa-para de falar isso, seu branquelo retardado! — Natália deu puxou o cabelo longo do vampiro.

— Ora, sua mulher louca! — Em compensação, Drak fez o mesmo.

Lucas estava no meio disso e só apertou as pálpebras e suspirou, como se não suportasse encarar duas crianças brigando por algo tão fútil.

Ao invés de parar, ele tomou um lugar ao lado de seu irmão, pois achava melhor do que prestar atenção no epicentro do caos e gritaria naquele espaço público.

— Então, como você está, irmãozinho?

— Não me chama de “irmãozinho”, é estranho. Mas, eu tô bem mesmo. O problema é só que não estou em paz por conta deles…

A mãe dos garotos se colocou atrás de Levi e o abraçou, apoiando seu queixo no topo da cabeça do menino, tomando-o de surpresa.

— Olá, filhinho meu.

— Mãe! O que a senhora tá fazendo aqui?

— Seu irmão voltou hoje, nada mais justo que passar um dia inteiro com ele!

— En-entendi… só não explicou ainda o que fazem aqui.

— Estávamos pensando em te levar para passear, que tal? 

— Mas eu tenho aula ainda…

— A aula pode esperar, vamos logo comemorar o retorno do seu irmão!

Levi soltou um suspiro, não tinha jeito contra as vontades de sua mãe desnaturada. O jeito seria faltar e recuperar outro dia mesmo.

Enquanto aqueles dois desentendidos discutiam, a família fugiu de fininho, só os fazendo reparar depois de uns 10 minutos, mais do que tempo para terem ido embora.

Foi só chamar um Uber que eles pararam direto num shopping, em que passariam grande parte do tempo comprando coisas aleatórias em lojas.

Lucas não se interessava por muitas coisas, exceto é claro as lojas de jogos, que no passado babava no vidro querendo aqueles consoles e jogos expostos.

Dessa vez, quase acabou fazendo o mesmo, até lembrar da sua bufunfa completamente cheia e quase comprar metade das coisas na loja de uma vez.

Ele acabou carregando uma grande bagagem de jogos e consoles, sabe-se-lá como voltaria para casa com tudo isso.

Quanto a sua mãe, ela estourou o cartão em roupas e bijuterias, sem se importar se o preço no adesivo da etiqueta era o mesmo que foi colocado antes ou não.

Já Levi, seu maior gosto eram cartas colecionáveis, então inevitavelmente ele comprou diversos decks de marcas diferentes até não poder carregar mais nada.

O trio estava mais do que satisfeito com as compras, cada um demonstrando plena satisfação em seu rosto, pareciam até que sairam do céu para estarem tão felizes.

“Ser rico é bom demais!”, pensaram os três em conjunto.

Uma refeição na praça de alimentação depois, com direito a sobremesa — coisa que não podiam ter antigamente, era só o lanche e tchau. —, a família ficou contente.

— Entããão… — chamou a mãe, com um sorrisinho no rosto. — Vai me contar o que aconteceu no seu acampamento ou vou ter que arrancar da sua garganta?

Levi estreitou os olhos na direção do irmão, também curioso para saber como duas semanas eram capazes de mudar tanto uma pessoa.

— Hah, eu tenho mesmo que contar?

— Tem sim, se não…

— Entendi, entendi, vou contar.

Lucas teve que inventar uma mentira de última hora, pois ninguém acreditaria que ele teria acesso a um lugar em que o tempo passava mais devagar.

Ao invés disso, descreveu um certo lugar escondido nas montanhas, em que possuía uma água especial para treinos e era o lugar perfeito para longas sessões.

Amora e Lucas tiveram sessões árduas de treino, usando a água para aumentar a efetividade e acelerando o processo de evolução.

A mãe de Lucas ficou com uma pulga atrás da orelha. Tinha algo faltando, não era muito possível de mudar tanto a aparência nesse espaço incrivelmente curto.

“Tem caroço nesse angu, dá pra ver…”

— Ah, e também arranjamos alguns suplementos de reforço com a seita do Xing Xong, facilitou bastante o esquema.

“Agora tá mais acreditável.” As palavras ficaram rodando pela cabeça da mulher, que buscava uma falha, no entanto decidiu manter as palavras para si. — Amora fez um ótimo trabalho então mudando meu menino super preguiçoso para um homem de verdade.

— Ei! Eu não sou um super preguiçoso, eu já era um homem de verdade ainda!

— Ora, você tinha as qualidades de preguiçoso; não se vestia direito, passava muito tempo ocioso, não tinha outro hobby… Agora você parece uma pessoa completamente diferente. 

— Uhum, mamãe tem razão — concordou Levi, do lado dela e acenando. — É como se o que estivesse ao seu redor fosse diferente, sabe? Meio difícil de explicar, nem eu consigo imaginar direito o que você passou pra ter essa personalidade de agora, irmão.

— Hah, parem, vocês tão indo longe demais… — Lucas apertou as pálpebras. “Eu realmente mudei tanto assim sem perceber? Só não o físico, mas a personalidade também? Esquisito, meu estado mental deve tá alterado então.”

Enquanto Levi tomava seu milkshake e sua mãe comia um sushi de chocolate, o rapaz se contentou em cruzar os braços e olhar para o restante do shopping.

Só assim ele percebeu como era esquisito andar de terno num ambiente público como aquele apenas para fazer compras.

Não à toa os funcionários da loja de jogos o estranharam. Sua aparência não condizia nada com o perfil, na verdade, trazia um pouco de vergonha alheia.

Ele deu de ombros, preferindo se concentrar na raspadinha do que qualquer outra coisa, vacilando a visão de lá pra cá em busca de algo interessante para se assistir.

No entanto, ao mesmo tempo, sua mente ainda travava nas pessoas presentes na região do lago e do vulcão, além de também pensar em qual era seu objetivo ali.

Ele retornou com bastante força num mês intenso de treino, mas ainda teria que treinar muito mais para atingir o nível de outros da sua laia.

Se Hurrto estivesse certo, ainda tinha um longo caminho até se encontrar com outras pessoas com sistemas, o que mais encucava sua cabeça do que qualquer outra coisa.

E se essas pessoas viessem causá-lo algum mal? Será que matariam sua família e trariam um monte de desgraça ao seu mundo?

O que ele fez, em tese, não era tão diferente deles… Invadiu uma região que não era sua e causou um estrago, se duvidasse, as entidades talvez dessem missões semelhantes aos outros.

Era irônico pensar nisso num momento tão calmo quanto um passeio em família.

“É meio errado ter essas coisas na cabeça, eu tenho que me concentrar neles e no agora, só isso… mas, se um dia, alguém vier incomodar os meus, eu juro que vou matar!”

Seu semblante ficou parcialmente sombrio, fazendo a mãe reparar naquele olhar assassino. Ela seguiu a trajetória pela qual os olhos de seu filho passavam, encontrando uma situação ilustre.

— Minha nossa… aquela não é a Viviane?

Apontou para uma coisa no andar debaixo, uma situação em que Viviane e um outro homem conversavam, mas a expressão da mulher não era nada boa.

A qualquer momento ela arrancaria a garganta daquele cara, mesmo que fizesse uma baita cena no meio de um shopping.

— Vamos lá ver o que é. — A mãe se levantou da mesa, tendo terminado de comer sushi. — É uma amiga nossa, precisamos ajudá-la!

Lucas não queria ir, mas como poderia contradizer a vontade da sua comandante? Os dois irmãos deixaram a mesa de lado e desceram para o andar de baixo.

Logo que se aproximaram do problema, a barulheira se tornou maior.

— Por que você não volta comigo? Eu já disse que não tive culpa!

— Não teve culpa?! Seu arrombado do caralho cara de pau, vai me dizer que você não teve culpa de me trair? 

O rapaz sequer queria chegar mais perto. A outra figura era Leon, um cara da sua escola que sofreu bastante bully e que espancou no outro dia.

Havia até esquecido dele. Ao virar-se para sua mãe, ela esbanjava um sorriso danado e semicerrou os olhos, como se adorasse a cena.

Lucas quis realmente entender o que se passava na cabeça dela, mas só deu de ombros e encarou a cena de novela por mais um tempinho.

— Lucas?

Viviane enfim reparou que seu colega chegou, na verdade mal tinha reparado direito que era ele. 

“Oh, ele está muito forte, eu gosto disso…”

“Quieta, não é hora.”

Lucas, por outro lado, se sentiu incomodado por ter que agora entrar na cena de novela e impedir o que estivesse acontecendo.

 

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