Farme! Brasileira

Autor(a): Zunnichi


Volume 2

Capítulo 83: Novela

Lucas encarou um e depois o outro, sem saber direito o que deveria fazer. O olhar de sua mãe também ajudava, porque não era possível decifrar o que se passava na sua cabeça.

No entanto, de uma perspectiva de fora, era muito simples: a mãe estava colocando Lucas numa situação muito conhecida nos doramas que ela passou as duas últimas semanas assistindo.

A protagonista é atacada pelo seu ex, que deseja a todo custo voltar, mesmo que ele seja um monstro horrível e que só mereça a morte, até ser intervindo pelo atual interesse amoroso da protagonista.

No caso, a protagonista seria Viviane, o traste seria Leon e o interesse amoroso seria seu filhinho querido. Ela nunca imaginou que tais séries pudessem ser realmente repetidas na vida real.

Uma pena que a realidade se desviava muito do que era visto em séries de streaming, porque na realidade Lucas não queria saber daquilo, nem se envolver nesse assunto meloso.

E por causa disso ele odiou quando Viviane veio em sua direção e o agarrou pelo braço, dizendo em alto e bom tom: — Saia de perto, ele é meu namorado agora, seu metido! 

O dia foi estragado só com um conjunto de palavras, a paz agora seria contornada por uma série de xingamentos e uma situação inconveniente.

Por que justo ele foi escolhido? Tinham tantas pessoas ao redor, mas Viviane preferiu logo partir para cima de um conhecido e fechar o caso de uma vez por todas.

— Você tá de brincadeira comigo? — perguntou Leon, apontando o dedo na direção de Lucas. — Esse cara, logo esse cara?! Ele é um pobretão que mal tira a bunda gorda da cadeira dele! Aposto que é sustentado só pela mãe e é uma decepção total a família.

— Há, você é mesmo um idiota e retardado! — respondeu Viviane, ficando ainda mais perto do parceiro. — Ele sozinho derrotou um portal de rank C e atualmente está vivendo super bem as custas do dinheiro adquirido por um acordo com a seita do Sol Nascente. E o que um rank D como você poderia fazer contra ele?

— Mentiras, só mentiras! Eu vou provar agora mesmo, e ainda vou me vingar daquilo que você…!

— Aff, cala a porra da tua boca! — repreendeu Lucas, que com tamanha impaciência terminou tudo com um peteleco no meio da testa de Leon.

O peteleco foi tão forte que o mandou voando para longe, espantando qualquer um ao redor por verem um corpo bombado vindo feito um míssil em sua direção.

Aquilo também surpreendeu Viviane, Levi e a mãe de Lucas, todos de queixo caído por verem como um rank D foi lidado com tanta facilidade. 

— Já pode me largar, eu não sou nem teu namorado. — Lucas balançou o braço e se soltou. — E corta essa de me meter nos teus problemas. Eu disse que ajudaria, não que queria tá no meio!

— Hã? Desculpa, eu só não vi outro jeito. Por sinal, quando foi que você ficou tão forte?

— Duas semanas mudam bastante uma pessoa, né, mãe?

— Sim, pelo visto mudam… — soltou, meio desnorteada pela cena de agora pouco.

Um escândalo em pleno espaço público era uma das coisas que Lucas odiava bastante, ele não queria ser incomodado e nem chamar atenção, então logo arrastou sua trupe para longe antes que alguém viesse.

Eles desceram até o estacionamento, onde o motorista pessoal de Viviane estava parado esperando o tempo passar até que a jovem mestra terminasse suas compras.

Pelo visto, acabou mais cedo do que esperado, e junto daquelas visitas, o motorista teve que ligar o motor do carro e abri-lo para que se aconchegassem logo.

Já dentro do veículo, o grupo se acomodou e pôde relaxar mais do que antes, não mais cercados por olhares incrédulos e pessoas por todos os lados com celulares.

Lucas, em especial, sentiu um alívio divino… e agradeceu a Deus por não terem esquecido as compras e terem jogado direto no porta-malas. 

Queria dormir naquele banco macio e só acordar quando chegassem em casa ou num ponto mais distante do shopping, uma pena que a conversa de Viviane com sua mãe era intensa demais para isso.

— Menina, menina, não sabia que você era cobiçada assim! — A mulher mais velha colocou a mão na boca e brincou, dando outro sorrisinho estreito. — Nem eu, quando era jovem como você e igualmente bonita, era cortejada assim!

— Hah, dona, a senhora não imagina os problemas que eu passo do lado de fora de casa… Não é a primeira vez e nem a última que isso acontece, juro.

— Por sinal, quem era aquele cara? — perguntou Levi, também interessado na fofoca por ter puxado alguns traços da mãe.

— Era meu ex-namorado, Leonard. Ele tá assim desde que terminamos uns bons meses atrás… Acho que vocês escutaram, aquele maldito me traiu e veio se desculpar dizendo que era “acidente”. Como se desse para acreditar numa coisa dessas! Grrr, quem dera eu pudesse pegá-lo num beco escuro e vazio e aí arrancar a garganta dele fora…!

— Calma, calma — acalmou a matriarca, dando um cafuné na cabeça da garota. — Já passou, Lucas lidou com o problema e agora você está segura conosco, pode até se juntar ao nosso passeio! Não é, filho?

— Hum? É, pode… 

A resposta veio sem muita vontade, o passeio era próprio para sua família. Ter outras pessoas metidas no meio causava muito incomodo, mas ele preferia não falar nada e não chatear sua querida mãe.

— Que canto vamos agora? — indagou Levi, inclinando a cabeça para o lado. — Ainda não se cansou, né, irmão?

— Não me cansei, só não queria passar por perrengue… Que tal a gente ir num aquário ou coisa do tipo? Estou sem tanta ideia agora, mas temos muito tempo até dar noite.

A família concordou ir para o mesmo lugar, e Viviane não teve nenhuma objeção. O quarteto fantástico se encaminhou ao tal local assim que a ordem foi dada ao motorista.

Lucas ficava de olho na paisagem urbana passando, não querendo dar atenção nenhuma a Vivi, atitude estranha levando em conta como ele era mais gentil antes dessas duas semanas.

Aquilo claramente a incomodou, porque ficou um climão estranho com ele quieto no canto e os outros três conversando sobre qualquer besteira.

Inclusive, Levi era mesmo uma pessoa adorável. Por mais que fosse um homem, ficou claro o quão frágil ele aparentava ser, e mais, o quão bem informado era em outros assuntos.

Sabendo que era o namorado de Natália, achou até mesmo estranho aquela sobrancelhuda sem jeito gostar desse tipo de gente. Talvez fosse seu fraco, quem sabe ela usaria isso para coagi-la depois.

Uns sinais verdes depois e eles chegaram ao tal aquário. Estava pouco cheio, por sorte a viagem fez com que esquecessem por completo do caso esquisito dentro do shopping.

Assim que foram para dentro, a mãe de Lucas teve outra ideia genial retirada novamente de dorama: deixaria ambos sozinhos para ver o que acontecia.

— Levizinho, vamos ali nos pinguins? Eu quero ver uma coisa! — E assim, a mulher foi embora arrastando seu filho como se fosse uma folha de papel.

Mal deu tempo para se despedirem, o que mais uma vez gerou outro climão porque o par não sabia sobre o que conversar exatamente. Assim, eles só seguiram o que a multidão a frente olhava.

Uma arraia passou pelo vidro do aquário, cumprimentando quem quer os visitantes com um nado incrível que poucos acreditariam vir de um animal comum.

No entanto, nem Viviane e nem Lucas esbanjavam qualquer reação de surpresa ou admiração. Eles já viram coisas melhores, mais incríveis e mais excitantes.

Quando pequena, Viviane teve um tubarão de estimação numa piscina enorme, vivia alimentando-o com todo tipo de peixe e adorava vê-lo nadar dentro da piscina.

Quanto a Lucas, a luta contra Igibris continuava super fresca na sua cabeça, e aquilo com certeza foi excitante ao ponto de não esquecer nenhum detalhe, tirando qualquer reação de seu semblante.

Os dois trocaram olhares, ambos com uma evidente cara de bunda, decididos a ir para outro lugar tirar seu tempo para observar alguma coisa.

— Ei, por que você tá tão quieto? — falou Viviane, finalmente irritada pelo silêncio. — O que foi que teve nessas duas últimas semanas para ser tão frio comigo? Você tá um pé no saco.

— Eu treinei feito um animal e queria tirar esse dia para descansar. Tô meio irritado porque isso foi tirado de mim com a sua cena lá no shopping.

— Mas Lucas, eu precisava de ajuda. Custava nada ir lá e me tirar da enrascada… eu só não esperava que você terminasse aquilo com um peteleco, pra ser sincera.

— Frutos do meu treinamento. Pode agradecer ao Amora depois, porque é culpa dele eu ter ficado tão forte em pouco tempo… Ei, eu comecei a falar agora, tá menos triste?

— Eu não fiquei triste, seu doido. Continuo tão tranquila quanto sempre.

— Então vou ficar quieto, já que é o caso.

— Você é idiota mesmo, Jesus…

Na outra parte do aquário, tinha um polvo e outros peixinhos rodando de lá pra cá, que nem uma orquestra submarina. Lucas os observou e sentiu fome.

Essa fome talvez fosse por causa da habilidade de morfar daquela pulseira, que após usá-la por um tempo o deu certa vontade de comer peixe.

Ele se conteve, mas quem dera pular naquele aquário e comer tudinho. Alguns passos adiante, ambos se sentaram num banco estrategicamente colocado no canto da parede.

Não tinha nada de legal para olhar lá pelo aquário, foi uma péssima escolha, então tudo o que fariam seria esperar até que a dupla que se separou terminasse de aproveitar.

Lucas cruzou os braços, mas logo notou o olhar analítico de Viviane indo dos seus pés até a cabeça. Era muito ruim ser visto assim, lembrava da forma que Lilith e Solein o encaravam durante seus treinos.

— Você mudou bastante mesmo… Interessante.

— Acho que é a terceira ou quarta vez que escuto isso. Obrigado.

— Não há de que. O que você fez para ficar assim? Usou alguma coisa? 

— Tudo natural, pode confiar… Hah, mas falando seriamente, acabei usando a propriedade das zonas e fiquei por lá treinando. Digamos que treinei por um mês e não por duas semanas.

— Ah, agora faz mais sentido ter voltado desse jeito. Quem dera eu ter essa habilidade, poderia fazer tudo e gastar a metade do tempo no mundo real… Você é sortudo.

— Ainda bem que sou, hehehe…

Ele esbanjou um sorriso e se inclinou para trás, encostando as costas na parede. Mais uma vez observou a garota ao seu lado, ela era bonita, mas não fazia tanto assim o seu tipo.

Lucas até se sentiu meio idiota por na primeira vez que se encontraram ter caído nos encantos dela, porque Viviane realmente parecia uma sedutora de primeira linha, a elite da elite.

Essa imagem aos poucos foi se desmanchando até se deparar com a verdadeira natureza dela, alguém preocupada, cheio de receios e com o medo constante de errar em algo.

Também havia uma fachada de segredos detrás daquele rosto simpático e bonito dela, dava para saber só de conversarem por um tempo, mas o rapaz decidiu não se aprofundar nisso por medo de tocar num vespeiro sem saber.

— Ei, Viviane.

— Sim? O que foi?

— Se você pudesse encontrar outras pessoas semelhante a nós, o que faria?

— O que você quer dizer com isso? A maioria das pessoas são semelhante a nós, não é? Todas tem habilidades, umas só são mais fortes que as outras…

— Não quero dizer isso. Tô me referindo a tela, aos sistemas, as coisas que vemos que os outros não veem.

— Lucas, eu não sei o que você…

— Não se faça de idiota. Você tem um sistema, eu tenho um sistema, o que impede de outras pessoas também terem um? E se você se deparasse com uma pessoa que pudesse enxergar as suas telas e viesse te atacar? O que você faria?

— Eu… não sei. Já é uma ocorrência rara conhecer outra pessoa que consegue ver as telas, imagina outra… Não sei nem se devem existir. E você? O que faria?

Lucas ponderou por mais um tempo. Era uma questão de vista, mas dado tudo o que aconteceu e tudo o que viria a acontecer, ele só tinha uma resposta.

— Eu os mataria.

Viviane não soube o que dizer. Aquilo foi tão direto e frio que ela nem sabia dizer se a pessoa ao seu lado era a mesma de antes. No entanto, um lado seu sorria com essa resposta

“Kukuku, eu sempre consigo gostar mais e mais dele…”

 

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