Volume 2
Capítulo 48: Vingança
Foi divertido passar um tempo com Viviane. Lucas imaginou que seria chato, repetitivo e cheio de reclamações mimadas por parte dela.
Para sua sorte, nada disso aconteceu. Comer, apostar e arranjar outras coisas para fazer além de se furnicar no quarto era divertido.
“Que merda, eu tô deixando de ser antissocial… Se continuar assim eu vou virar normie.”, brincou, sentindo depois uma vergonha alheia por usar esses termos.
Após se despedirem na noite anterior, ele retornou a rotina. Não havia nada demais para falar e nem pensar, somente coisas da qual teria que rever.
Uma delas eram seus status. As lutas, os treinos e pontos subiram consideravelmente, mais do que ele próprio esperava.
Classe: Mago
Nível: 31
Prestígio: 3
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Força | 145
Agilidade | 62
Velocidade | 50
Resistência | 95
Inteligência | 31
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Atributo Técnico: 50
Esgrima | 16
Boxe | 24
Magia | 10
Todos os seus pontos por meio de níveis caíram em força, e se combinada ao anel do Abatedor, que agora estava com 50 de bônus, o tanto de dano que causava era absurdo.
Por isso foi tão fácil matar os insetos em um ataque, estava com uma quantia de status alta demais para que eles aguentassem um golpe sequer.
E, para variar, um novo atributo técnico surgiu: magia. Era completamente relacionado a questões mágicas, ou seja, quanto mais magias usava, maior seria aquilo.
A quantidade de vezes que disparou Lâmina de Vento era mais que suficiente para atingir 10 pontos.
Outro ponto interessante era sobre a classe Mago. Da última vez, ele adquiriu Sovino, como resultado de ter escolhido a skills que mais lhe dava drops.
O mago, por outro lado, tinha como efeito cansá-lo de acordo com o uso de magias. Resumindo, as magias utilizavam “menos mana”.
“É uma boa classe levando em conta que outras coisas além das skills físicas costumam serem roubadas.”
Além disso, existia os itens que adquiriu e que precisavam de algum destino.
O cajado adquirido pelo hob necromante foi vendido por 1.000 unidades, pois Lucas não queria brincar de vivo-morto com monstros.
Já o cajado da floresta, permaneceu guardado dentro do baú no quarto. A última coisa da lista era uma Essência de Monstro.
Essa belezinha era a coisa mais importante do arsenal de Lucas, e mesmo que parecesse inútil por ser um mero material de fabricação, na realidade, era algo importante demais para desviar os olhos.
Em Crônicas do Rei, existia a opção de fundir determinados objetos e adquirir certos efeitos especiais, como o de envenenamento, de amaldiçoar, dentre outros.
A Essência de Monstro era algo de primeirissima classe não só por entregar esse efeito, mas também por mais uma coisinha especial.
— E com você… — A katana de Lucas rasgou o pescoço de um goblin, o sexto e último. — eu adquiro minha última peça.
Missão concluída.
Recompensas resgatadas: uma espada.
Ele apanhou a arma, comparando com a sua velha amiga katana, que agora estava num nível de +9.
Bastou reunir as outras que enfim essa espada atingiu o nível máximo.
Fundindo itens.
Katana +10 criada.
Limite de fusão atingido. Não é mais possível melhorar a arma.
— Diga isso pro meu amigão aqui!
Essência de Monstro e Katana+10 estão sendo fundidas. . .
A espada foi corrompida pela energia da essência. O item está sendo grandemente modificado.
Katana do Rei Veneno
Raridade: Épica
Uma arma que pertencia ao mestre na arte dos venenos, ocultada do mundo por ser possível matar colossos com um pequeno corte. Cada golpe desta arma aplica um efeito negativo que reduz em 5% as estatísticas do alvo, máximo de 30%.
Veneno Mortal
Só pode ser ativado ao atingir o máximo da redução de atributos. Corta pela metade todos os atributos permanentemente do alvo, além de aplicar o status Fraqueza ao afligido.
Se essa habilidade for ativada uma segunda vez, o alvo morre instantaneamente se seus atributos se tornarem menores que os daquele que empunha esta arma.
Fraqueza
Todas as skills físicas do usuário tem sua força reduzida drasticamente.
Um largo sorriso surgiu de orelha a orelha em seu rosto.
Lucas empunhou a espada, extremamente agradado pela cor esverdeada do fio e a empunhadura feita de um líquido verde que se moldava de acordo com sua mão.
Sem esperar, ele abriu uma masmorra, a mesma de muitos meses atrás. O ar gélido escovou seus cabelos quando abriu a porta com um chute.
Estava de volta àquele rio congelado. Os pinheiros ao longe traziam uma lembrança amarga, enquanto seus pés escorregando pelo gelo criavam uma ansiedade gigante.
Seu coração pulsava forte, a armadura sobre seus ombros e o olhar vidrado dele indicava o tanto de tempo que esperava para chegar lá.
Demorou tanto, mas tanto, que nada traria mais felicidade do que encontrar aquele peixe maldito e assá-lo até não sobrar nada.
Passos adiante, o piso de gelo se quebrou.
O chefe Leviatã surgiu.
Era a mesma serpente-marinha que lembrava. Um longo corpo ciano cheio de pontinhos escurecidos, com uma boca repleta de dentes e um bafo gélido.
Lucas correu na direção do monstro, o raio azul passou ao seu lado conforme seus pés deslizavam pelo gelo.
Estava mais rápido que antes, esperava claramente aquele ataque, não era mais a mesma pessoa de antes.
A cauda da criatura emergiu abaixo de si, outra coisa que ele esperava após tanto praticar no Mundo dos Sonhos.
Um rápido salto evitou o impacto da cauda. No ar, Lucas cravou sua katana na carne do monstro, o veneno tomou efeito como uma aura verde que se espalhou pelo corpo.
Insatisfeito com aquilo, ele segurou sua arma pelo cabo e a arrastou ao longo da cauda, deixando uma longa ferida aberta ao longo do caminho.
O gemido do monstro se tornou um cântico divino para seus ouvidos.
Melhor ainda era vê-lo tentar usar outro raio gelado, que não passou de uma brisa após escorregar ao longo da cauda.
Como se não bastasse, sua katana fez mais cinco cortes sucessivos. Pela expressão e barulhos emitidos pelo Leviatã, sua situação parecia ruim.
O efeito de Veneno Mortal foi aplicado.
Todos os atributos foram reduzidos pela metade.
Vento frio saiu da boca de Lucas assim que seus olhos viram a mensagem, e ainda assim não atingiu o que queria.
O fio esverdeado foi revestido por uma camada transparente, que rasgava o ar em volta igual uma faca afiada contra papel.
A arte Sequência Mortal foi ativada.
Durante seu caminho rumo a cabeça da criatura, sua espada atingiu mais três vezes o corpo do monstro, outra vez reduzindo seus atributos em mais 15% do que já tinha perdido.
Os movimentos de chicote do Leviatã resultaram em absolutamente nada, o pé firme de Lucas, combinada a Aura de Morcego e sua resiliência aumentada não alteraram o curso da luta.
Agora, os instintos selvagens do chefão tomaram conta de si, fazendo-o afundar na água e obrigando o rapaz a fincar sua espada na pele do monstro.
O frio infernal debaixo do gelo mexeu com o cérebro do rapaz, que entrou em estado de alerta com a temperatura gradualmente abaixando.
“Não, você não vai me matar de novo. Eu vou te derrotar nem que isso custe o meu corpo todo, seu filho da puta!”
Ele escalou o corpo da serpente com suas próprias mãos e chegou a cabeça. A raiva borbulhava no seu peito, transformando o frio em um calor que movia seu corpo.
A katana estocou uma vez aquele corpo. O monstro guinchou alto debaixo d’água. 20%.
“Eu esperei muito pra isso, mais do que qualquer um imagina. Foi por sua culpa que eu tive que fazer tudo de novo, que perdi aqueles momentos. Minhas memórias apagadas são tudo culpa sua!!!”
Outra vez, e o som emitido pelo Leviatã foi tão alto que o gelo acima se despedaçou. 25%
“Nunca mais eu deixarei algo como você me impedir de novo, nunca, nunca, nunca!!”
Pela última vez, a espada tocou a pele do monstro. 30%.
A habilidade Veneno Mortal foi ativada.
Os atributos da criatura são menores que a do usuário.
O chefe Leviatã morreu.
Você subiu de nível! 4x
O corpo da gigantesca serpente parou de se mexer, então, repentinamente, começou a subir até atingir a superfície.
O gelo quebrado ajudou a alcançarem o ar fresco. Lucas respirou fundo, sua mão tocou o coração acelerado.
— Finalmente, porraaa!
Paz se espalhou pelos braços dele, que se deitou no grande cadáver do maldito monstro. Ele encarou um céu que deixava cair flocos de neve.
Nem mesmo o frio profundo desfez o sorriso caloroso que floresceu no seu âmago… Não, nada poderia sequer mexer naquilo.
A felicidade era tamanha que lágrimas escorreram pelos seus olhos. Vingou o que queria, e agora poderia enfim se sentir liberto nem que fosse por um momento.
Após tanto se alegrar com sua vitória, ele pulou em cima de um dos blocos de gelo suspensos na água e analisou o grande corpo do Leviatã.
Queria saber o que faria com aquilo e porque não recebeu nada além de níveis, até uma coisa clicar em sua cabeça.
— Ah, eu não pensei nisso. Essa coisa é um bicho pra ser completamente esfolado… sorte a minha que me preparei para isso.
Tinha um benefício lutar contra tantos goblins e kobolds: Lucas se acostumou a segurar uma faca de esfolar por tanto tempo que se tornou natural.
Ele olhou a carcaça do monstro e pegou sua faca dentro da mochila, que agora estava toda molhada por causa da viagem submersa.
A faca atravessou a pele fina da criatura, arrancando diversas escamas, isso sem contar é claro nos dentes, que com certeza seriam muito valiosos para se vender mais tarde.
Itens foram adquiridos com a ação esfolar.
60x Escamas de Leviatã
30x Dentes de Leviatã
3x Olhos de Leviatã.
— Agora, falta o lado de dentro… Hum?
Lucas abriu a barriga do monstro, e encontrou uma das coisas que menos esperava. Tinha uma coisa lá no meio, dentro de seu estômago semi-transparente.
Era uma silhueta humanóide, encolhida em posição fetal. A cabeça do rapaz ficou inclinada ao achar essa coisa, e a curiosidade não podia ser maior.
Ele abriu o casulo e por segurança ficou mais ao lado para não ser pego na esguichada de fluídos estomacais.
Uma pessoa escorregou para fora daquilo. Não era uma sereia ou um monstrinho qualquer, na verdade era um velho… um velho peladão.
— Ah, merda, agora eu nunca mais apago essa imagem da cabeça.
Lucas passou a mão no rosto, tentando ao máximo evitar olhar. Foi ligeiro e pegou qualquer coisa para cobrí-lo, assim levando-o para fora da barriga do monstro.
Deitou-o cuidadosamente na neve. Não sabia se era melhor retornar para casa com um estranho ou esperar — pensando melhor, a segunda opção era melhor, não queria ver a expressão de sua mãe ao colocar um senhor pelado dentro de casa.
— Hah… que coisa complicada, sério.
— Hu… — Os olhos do velho se mexeram devagar, tomando a atenção de Lucas. — Onde eu… Haaa!!!
Ele pulou para trás e usou o pano para cobrir qualquer parte íntima. Lucas e o velho se encararam num momento muito desconfortável.
O rapaz optou por deixar uma muda de roupa no meio da neve e se virar para trás. Por um acaso era seu moletom de treino.
— Me desculpa se apareci assim, acabei te tirando da barriga daquele monstrão lá atrás. Eu não vou olhar, só por garantia.
O velho não respondeu, e Lucas somente ouviu o som de zíper abrindo e fechando. Uns minutos depois, recebeu uma resposta:
— Você só pode estar mentindo que matou aquela criatura…
— Não estou, eu realmente matei aquilo. — Ele, ainda de costas, puxou sua katana da bainha e a deitou ao seu lado. — Foi com essa belezinha aqui, se quiser saber.
— Co-como…?
Outro momento de silêncio, e a julgar pela demora, o rapaz julgou que já poderia se mexer.
Encarou o homem mais uma vez, notando detalhes que antes não percebera.
Ele possuía uma barba grisalha muito longa e era careca, mas o último ponto era exótico: era muito baixinho, pouco maior que uma criança.
Felizmente, estava vestido agora, o que só ajudava a mente conturbada do garoto.
— Bem, como não nos apresentamos, eu vou começar… Me chamo Lucas, sou um cara que caça monstros, por assim dizer. Você é…?
— Sou Hurrto, um anão mestre-da-forja.
Aquilo soou igual uma batida de carro nos ouvidos de Lucas. Um anão, igual nas histórias.
Sua reação não foi diferente de surpresa imediata, mas ficou ainda pior ao olhar uma mensagem que surgiu ao seu lado.
Você terminou a dungeon Lago Congelado e resgatou um dos escolhidos das entidades.
A dungeon foi transformada num lugar seguro permanentemente.