Farme! Brasileira

Autor(a): Zunnichi


Volume 2

Capítulo 49: Ferreiro

Você terminou a dungeon Lago Congelado e resgatou um dos escolhidos das entidades.

A dungeon foi transformada num lugar seguro permanentemente.

Este lugar não será afetado caso um reset seja imposto. Tudo o que estiver aqui, juntamente com qualquer pessoa, exceto aquelas da dimensão original do usuário, permanecerá da mesma forma que foi deixado.

 

“Isso quer dizer que esse lugar vai ficar assim pra sempre…?” 

Enquanto o cérebro de Lucas voltava a se encher de dúvidas, ele viu uma tela flutuante vermelha aparecer diante do anão.

— Ah, entidade maldita que me persegue… — disse, afastando a tela com um aceno de mão. 

— Pera ainda, agora pouco você recebeu uma mensagem do sistema?! 

— Hum? — Levantou a sobrancelha, estranhando a reação do garoto. — “Sistema”? Você chama ele assim? Eu chamo de Guia de Forja.

— Be-bem, eu chamo só de sistema porque não tenho outro termo melhor… De qualquer jeito, o que você acabou de ver?

— Recebi uma missão para construir uma armadura com as escamas daquele Leviatã. — Apontou na direção do cadáver. — Minha pergunta é como vou fazer isso sem minha forja.

Um ponto de interrogação apareceu na cabeça de Lucas. Um novo mistério para o enigma já desorganizado em seu cérebro.

Outras pessoas tinham um sistema, como presumido por parte dele ao se encontrar com Viviane. Ao todo, já eram quatro pessoas com isso.

Imaginou o que diabos as entidades estavam tentando fazer com isso, com uma tortura extradimensional com outras pessoas.

Ele apanhou o martelo de construtor e observou algum lugar bom para começar um novo projeto.

— Se você concluir essa missão, vai ganhar umas coisas bônus, não é?

— Sim, é a lógica do Guia do Ferreiro. O que você pretende fazer?

— Se por um acaso eu te ajudar, você me dá a armadura?

O anão inclinou a cabeça para o lado, sem entender direito o porquê de querê-la. 

Normalmente, ele venderia e conseguiria mais unidades para novos equipamentos serem construídos, assim dando mais chances de completar as missões.

Só que, o anão esticado a sua frente propunha um trato completamente diferente. Os olhos de Hurrto brilharam, sua mente enfim achou a razão para aquilo.

Agora tudo fazia mais sentido — se aquele garoto sem barba matou o monstro, quantos mais poderia ceifar e permitir as mais belas armas e armaduras do mundo.

— Com todo prazer, anão grande! — Sem pedir, o homenzinho apertou a mão de Lucas com extrema força.

— Ai! É um prazer… fazer acordo contigo!

Após alguns balanços de mão, o trato foi firmado. Era hora de farmar materiais para enfim dar início a construção!

 

*****

 

Xing Xong era um tipo de estrela na sua seita. Ele não era o mais forte e nem o mais talentoso, seu cultivo não era de primeira classe e seus status na hierarquia não eram os maiores.

Poderia muito bem ser comparado a qualquer pessoa comum, até sua habilidade que consistia em uma melhoria física baseada no consumo de cafeína não era nada demais.

No entanto, o que o destacava de todos os outros era aquilo que todos desejavam e não tinham: sorte. Xing Xong era um sortudo do caralho.

Desde seu nascimento numa família rica, aos resultados máximos em testes e a forma como entendia o cultivo eram consequência dessa anomalia como pessoa.

Não era atoa que encontrou Lucas, aquele que garantiu sua subida astronômica nos ranks após descobrir um substituto para a caríssima Erva da Manhã que compravam.

Mesmo que fosse estranho vê-lo trabalhar para o governo, aquilo era um mero cargo para garantir sua vaga na seita com doações e benefícios especiais, nada além disso.

O chinês arrumou os pergaminhos e livros estocados no velho arquivo do prédio da seita, seus olhos curtos estavam vermelhos de tanta poeira.

Sua presença era incomum naquele lugar, alguém que tanto recusou conhecimento profundo e reflexão profunda se afundando em sabedoria seria originalmente uma ofensa se falassem que ele faria isso meses atrás.

Porém, agora era diferente. Vieram muitas vantagens com a aproximação de Lucas de seu grupo, mas com isso também trouxe outras obrigações especiais.

Uma delas, para variar, era um alto cargo ao lado do patriarca. O patriarca era o velho que ficava o tempo todo no tempo do prédio, meditando e cultivando a toda hora.

Sem pausas para dormir, sem pausas para comer, sem palavras para ninguém, absolutamente nada. Isso até ser oferecido a nova medicina adquirida.

Xing Xong lembrava vividamente da cena. Ele subiu as escadarias receoso, com um jarro cheio de líquido verde numa bandeja e os braços tremendo em tempo de derrubar aquilo.

Quando abriu a porta do último andar, seu corpo tremeu ao encontrar o patriarca meditando em meio a chuva forte.

— Pa-patriarca, aqui está sua oferenda… — Ajoelhou-se perto do patriarca e pousou o conjunto de pílulas e líquidos necessários para o cultivo. — Agora… estou indo…

O motivo de tê-lo feito foi porque os demais chefões da seita ordenaram que fizessem após sua descoberta.

O líder da seita tinha um sexto sentido, então se tomassem o crédito para si, com certeza irritariam o maioral. Era o plano mais seguro mandar o responsável pela descoberta.

— Quem fez isso…? — perguntou o velho, sua aura desmaterializando cada uma das coisas em cima da bandeja. — Não é uma das que sempre me oferecem. É diferente, mais pura. Parece ter sido feita por um grande mestre, creio… Não, não é um grande mestre. Talvez uma pessoa nova, daquelas que tem um talento estrondoso. Existem traços impuros, consigo sentir. 

— A pessoa foi um rapaz que encontrei no meu departamento durante o trabalho, mestre. — Xing Xong estufou o peito, procurando dentro de si alguma força para continuar ali sem fugir da pressão esmagadora. — Ele se chama Lucas, tem cerca de 25 anos, 1,72, pesa 85 quilos, não tem namorada, vive com a mãe, tem um irmão, trabalha num restaurante, sabe jo…

— Já chega, eu entendi. Fique quieto por um momento.

A voz trovejante do velho paralisou seu discípulo, que apertou as próprias vestes se sentindo o maior idiota do mundo por causa de seu costume de falar demais.

— Existe alguma possibilidade dele entrar na nossa seita? 

— Eu-eu não sei, mestre… Ele não parece muito interessado na arte do cultivo, mas tenho certeza que se conversarmos e negociarmos, ele virá para o nosso lado.

— Não, esse é um pensamento idiota. Um homem com tanta maestria não se renderia facilmente a bens materiais, ele se importaria mais com suas próprias questões internas, seus objetivos, seus desejos espirituais… Precisa-se de algo a mais.

— Bom, ele aceitou facilmente negociar conosco após dá-lo uma mansão isolada…

— Mesmo? Deve ser porque é jovem. Jovens gostariam de algo material para suprir suas necessidades carnais. 

Por um momento, Xing Xong achou que o palpite do mestre estava errado, mas apagou o mais rápido possível esse pensamento por parecer um insulto.

Após repassar mais informações a respeito de Lucas, o patriarca o associou a missão de buscar métodos para trazê-lo para mais perto.

O último comentário dele fez um frio passar por sua espinha.

— Quando esse garoto chegar, me avise. Eu o verei pessoalmente.

O mestre, que há anos meditava no mesmo lugar, irá sair de seu descanso assim que Lucas vir. Era um milagre, e Xing Xong seria aquele capaz de realizar tal milagre.

Murmurou consigo mesmo por um tempo encostado numa estante, assustando seus colegas de cultivo ali dentro.

O que estava interessado em achar era uma cultivação específica que o interessasse, que fosse rápida na geração de resultados.

“Qualquer pessoa normal se recusaria a ficar dez anos cultivando para atingir um nível de força baixo na hierarquia espiritual. Eu preciso de algo mais… explosivo, direto! Pode até ser uma técnica, não tem problema.”

Não adiantou muito por mais que colocassem bastante vontade e esforço. 

As técnicas de cultivo eram semelhantes umas com as outras, o tempo para seus efeitos acabavam sendo iguais também.

Revivendo a cena vista naquela praça de alimentação, qualquer atributo como força, velocidade e resistência pareceu irrelevante a Lucas.

Ele destroçou aqueles monstros com tanta facilidade que deixaria um raider de classe B envergonhado, e se fosse o caso, do que adiantava entregá-lo um meio não muito útil de ganhar força?

Além disso, o próprio rapaz devia ter seus próprios métodos de evolução, ou seja, se apresentasse algum que não fosse mais eficiente, seria igual nada.

A opção mais viável que vinha a sua mente era oferecer toneladas de dinheiro, só que a seita não era um poço infinito de grana.

“E se ele pedir algo que não podemos dar? Seria uma vergonha pedir ajuda às divisões na China… Pelos Reinos Espirituais Superiores, por que é tão difícil decidir?!”

— Você parece muito pensativo, Xong — falou uma voz masculina, que o encarava de uma mesa afastada. — Tem algo de atormentando, não é? Eu fico pensando com meus dedinhos o que se passa na sua cabeça.

Xing Xong trocou olhares com aquela pessoa. Era um adulto da sua idade, também de descendência chinesa, Zhao Zhang.

Um longo cabelo prata, um manto avermelhado e um rosto de deboche junto de um sorriso cheio de dentes pontiagudos.

Qualquer um acreditaria que ele era um paspalhão qualquer, um vilão generíco de uma obra chinesa famosa, mas ele era só o idiota mais prodigioso da seita.

— Estou procurando um meio de atrair uma pessoa que o mestre se interessou, só isso.

— Ohhh? É uma garota? Sabia que aquele velho caduco ainda tinha vontade!

— Não seja idiota, ele não iria atrás de um garoto naquela idade… 

— Opa, opa, não duvide nem um pouco de velhos tarados! — Zhang cruzou seus braços, o sorriso confiante e cheio de piadas demonstrava muito da sua personalidade desprezível. — Nunca se sabe os desejos que as pessoas reprimem, sabia? 

Xing Xong soltou um longo suspiro. Esse maldito brincalhão era complicado de lidar, ficaria ruim para o seu lado se um dos superiores escutasse aquela conversa.

— Ele disse que interromperá seu cultivo se essa pessoa vier aqui.

O último detalhe calou a boca do prodígio metido. Sua expressão antes debochada se transformou em algo extremamente sério.

— Entendo… Quer dizer que o cara é alguém fora da curva…

— Sim, isso mesmo. Por enquanto quero achar uma forma de mantê-lo entre nós, pois tanto seria mais barato adquirirmos aquelas medicinas especiais quanto obter algum conhecimento por parte dele.

— Calma, é a mesma pessoa que fabricou as ervas?! — Zhang saltou da cadeira num salto, agarrando a gola do manto do outro. — Você jura?!?

— Sim, sim! Agora me solta, idiota! — Xing Xong tirou as mãos de perto. — Eu preciso de tempo para pesquisar e achar uma forma além do dinheiro agora, se me der licença…

— Eu sei de uma forma de atrair ele. 

Aquelas palavras pararam seu colega, que olhou para trás e ficou curioso sobre qual a brilhante ideia do prodígio.

— Em cerca de duas semanas, haverá um torneio aberto para todos. E se o chamassemos para o torneio fazendo uma aposta?

— Isso é uma ideia muito idiota, muito mesmo.

— Eu sei, mas também preciso! Minha mãe não está no melhor estado, então eu tive uma ideia… Olha, saca só! Podemos apostar que se ele perder, ele terá que vir conosco e realizar um favor, mas se ganhar, ele pode ter a mão da Mei e ter uma audiência com o mestre, que oferecerá uma grande força desde que o aceite!

— Hmmm… — O homem analisou aquelas opções, continuava sendo um plano idiota, mas funcionava. — Vejo uma certa razão disso. Vamos enganá-lo para que ele veja o mestre de um jeito ou de outro… mas por que você decidiu envolver a Mei no meio disso?

— É porque ela está doente — respondeu secamente, e meio sério, seu olhar pesaroso abaixou. — Eu tentei de tudo até agora, a essa altura não tenho mais paciência ou força para aguentar. Ela não sai da cama há bastante tempo, Xong. Se esse cara é capaz de criar uma medicina tão poderosa, quer dizer que pode curá-la também! 

Xing Xong se impressionou por essa força de vontade. Para um líder cabeça dura como o prodígio da seita, até que havia honra por trás de sua aura vilanesca.

— Tudo bem. Vou comunicá-lo e veremos se é possível… Até lá, trate de ficar o mais forte possível.

— Com certeza, pode contar comigo! Eu farei de tudo pela mãe, pela Ma Mei!



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