Volume 2
Capítulo 115: Quarto
Lucas estava cheio de missões para cumprir, mas a principal se encontrava em achar um portal bom o bastante para caçarem dragões.
Assim como na maioria das fantasias e ficções, dragões eram monstros fodas, não eram mobs comuns que você matava e saia de cena com a exp.
Primeiro que a maioria esmagadora desses monstros estavam dentro de portais rank A, o que por si só era uma dor de cabeça, pois ele não tinha tirado uma identidade de Raider.
Para entrar num portal, era necessária uma identificação, o CNH para aqueles que matavam monstros. No entanto, Xing Xong conseguia burlar um pouco desse sistema mexendo alguns pauzinhos.
Ou seja, uma parte das coisas já estavam encaminhadas, o segundo passo era quanto a uma equipe.
Ninguém em sã consciência viajava para portais sozinho, além do mais, esses locais se tornavam infestados de monstros e o que podia encontrar dentro era um completo mistério.
“Eu também não sou louco de entrar nos locais só depois de enfrentar o Igibris e o exército dele solo, aquilo quase me matou!”
Precisava destacar gente para uma jornada difícil, no entanto, também precisava se atentar a quem chamaria. Não poderia ser gente aleatória, e ele não queria pedir para a Seita do Sol Nascente chamar alguém.
Logo, a melhor solução seria escolher o próprio pessoal. Solein seria uma dessas pessoas, o cajado com feitiços de cura e as magias de gelo dariam uma boa força.
Além dela, Mila e Kard eram boas escolhas, ambos eram subalternos extremamente fortes para ignorarem.
Uma terceira escolha interessante seria um dos demônios, Philomeu até vinha a mente, mas a habilidade de cópia funcionaria apenas se andassem juntos a todo momento, o que poderia se tornar uma falha estratégica.
— Solein, qual era o nome daquele cara feito de ossos com um machado enorme? Era amigo do Igibris e tudo…
— Ah, é o senhor Krevo. Ele é muito gentil com os outros, as crianças gostam muito dele, uma pena que os adultos não tem coragem de chegar perto.
“Levando em conta a aparência, faz mais ou menos sentido.”
A razão pela qual não queria escolher Igibris no lugar devia ao fato de que alguém precisava administrar as coisas dentro do Lago Congelado.
Sem uma cabeça pensante para organizar o pessoal e dividir suprimentos, tudo viraria uma bagunça em menos de dois segundos, logo, ter Tremwin e o rei demônio trabalhando lá aliviaria esse fardo.
A composição do time parecia boa na sua cabeça, sendo resumida assim:
Krevo
Lucas, Kard
Solein, Mila
O minotauro faria um papel de tanque, Lucas e Kard agiriam como causadores de dano e as meninas agiriam respectivamente em suporte e dano explosivo.
Na sua cabeça, parecia bom, mas faltava um pequeno detalhe, alguém funcionar como um usuário de efeitos negativos. Mila talvez pudesse exercer essa função, pois ela tinha duas habilidades interessantes.
Voz da Autoridade
Rank S
O usuário possui palavras poderosas que influenciam diretamente as ações das pessoas, obrigando-as a fazer o que ele ordena. Essa habilidade é inutilizável em quem o usuário vê como seu superior ou igual.
Encantar
Rank A
Os olhos e corpo são atraentes aos outros. Ao encarar fixamente uma criatura, ela poderá ser encantada e seguir as ordens do usuário, porém não poderá autoinfligir dano.
Ambas funcionavam bem ao seu propósito, e talvez com o uso de magia negra, daria para causar ainda mais bagunça, o problema era que se limitava a poucas opções.
A longo prazo, haveria menos e menos utilidade, e usá-la para isso quando sua maior proficiência vinha em controlar bandos ou até causar estrago com magia negra e magia de sangue chegava a parecer uma escolha idiota.
— Hah, pelo visto vou ter que ver ela de novo…
— De quem você tá falando?
— Da Lilith. Precisarei dela pra uma coisa.
— Pra que? Eu tô bem aqui do seu lado, posso fazer muito mais que ela!
Lucas teve que rapidamente desfazer o mal-entendido, explicando em detalhes o que se passava na sua cabeça para que ela parasse de falar besteira no meio do espaço público.
— Ahhhh, entendi! Você quer montar uma equipe, pensei que era para outra coisa.
— Se fosse para outra coisa, por que diabos eu falaria pra ti?!
— Faz sentido… Espera, então quando você tá quieto demais quer dizer que tá pensando naquilo?
— Pelo amor de Deus, Solein, não…
O rapaz soltou um longo suspiro e apertou as pálpebras. Às vezes, explicar as coisas para aquela elfa avoada era mais difícil do que pedir para sua mãe deixar de cobrá-lo por uma namorada.
Após uma longa jornada de volta para casa, Lucas abriu a passagem para o Lago Congelado e adentrou junto de Solein.
Hurrto não havia voltado, a chaminé da sua cabana não soltava fumaça e neve tinha começado a se acumular no teto, coisa incomum levando em conta o tanto de tempo que o anão gastava na oficina.
As únicas pessoas de fato presentes eram Kard e Mila, um tratava do trabalho pesado carregando carga de monstros e itens dropados, enquanto a outra usava um quadro negro e óculos para ensinar uma turma de morcegos sobre bhaskara.
Para que eles iam usar esse conhecimento e como diabos morcegos sabiam ler? Lucas tinha a mesma dúvida, porém guardou para o fundo da mente.
— Você pode ir na frente visitar o seu pai, acho que seria melhor eu vê-la sozinho. Não se importe muito com aqueles dois, são amigos nossos.
— Entendi… A cada dia que passa, parece que mais gente se aproxima sem que eu veja. Preciso ser mais esperta. — Solein cruzou os braços e acenou com a cabeça várias vezes. — Tá bem, é melhor mesmo. Ah, uma coisa, depois disso, venha para minha casa, quero te mostrar uma coisa importantíssima!
E assim, a elfa saiu saltitante e com um largo sorriso nos lábios. Lucas levantou a sobrancelha, suspeitando da possível armadilha rondando aquela elfa.
No final, apenas deu de ombros e rapidamente informou os vampiros para continuarem suas atividades, então rumou a área dos demônios.
Um caminho foi pavimentado pela floresta de obsidiana, com uma cerquinha escura cobrindo certas partes da estrada e correndo por cima de riachos vermelhos.
O local parecia muito bonito, com casinhas sendo montadas em certas partes. Diabretes e outros demônios estavam por todo lugar.
Seu destino era o castelo, então sequer parou na viagem. Ele enfim parou no portão aberto, onde Igibris e a maga Aegis estavam, conversando à respeito de logística.
— Lucas, que prazer em vê-lo — falou o rei demônio, percebendo sua presença. — O que o traz aqui?
— Quero ver Lilith, sabe dizer onde ela está?
— Oh… — A expressão de Igibris não era uma das melhores, aquilo serviu como um péssimo sinal. — Tivemos uns problemas na vinda dela, mas diria que… está sob controle…
— Ela matou alguns dos nossos guardas, destruiu parte dos documentos importantes e também explodiu uma parte do castelo — explicou Aegis, fechando seu grimório. — Se me permite dar uma opinião, achei muito afrontoso e idiota da parte dela. Imaginar que o mestre Lucas não teria várias pretendentes ou até mesmo que tivesse uma única mulher seria um exagero, no reino inferior era muito comum encontrar demônios poderosos com haréns imensos.
A maga arrumou o óculos, sentindo-se orgulhosa da própria análise.
— De qualquer modo, Lilith se encontra no próprio quarto. Ela incinerou a própria chave e desde então se manteve trancada lá dentro.
— Entendi. O-Obrigado, Aegis.
Depois de receber algumas direções, Lucas subiu pelas escadarias do castelo. Sua cabeça estava muito cheia, temendo com cada degrau que subia.
Ela ficava numa das torres, acima de um longo caminho em espiral rumo ao topo. Finalmente pisou na última rocha, deparando-se com uma porta de madeira extremamente pesada.
Ele cerrou os punhos, pensando no que falaria e como diabos arrumaria a situação.
“Droga, eu devia ter pelo menos trago um presente, como fui esquecer disso?”
Agora, sentia-se culpado pelas próprias escolhas, mas era tarde. Batucou a porta, o som de algo rangendo do outro lado passou pelas orelhas, dando calafrios.
— Quem é?
— Sou eu, o Lucas.
Mais um ranger, seguido por um baque pesado. Em seguida, veio o puro silêncio, um tratamento frio o bastante para dar desconforto.
— Eu vim me desculpar pelo que aconteceu antes. Teve um mal-entendido, a Mila não era para ter agido daquela forma.
— Mal-entendido? Não tem mal-entendido. Eu já entendi que você é um mulherengo e que na primeira oportunidade esqueceu do que houve com a gente e correu atrás de outro rabo de saia.
— Lilith, isso…
— Não adianta falar, eu sei que é isso mesmo!
Mais um momento de silêncio. O peito de Lucas subiu e desceu com um suspiro pesado, pelo visto aquela conversa não se moveria do jeito que gostaria.
Por isso, sentou-se no degrau, talvez deveria esperar mais um tempinho para ver o que acontecia. E, para sua surpresa, a maçaneta da porta girou.
Como ela abriu a porta sem a chave era um mistério, mas o fato permanecia.
— Por que ainda tá parado aí? Vai embora.
— Foi mal, não posso ir embora até resolver esse desentendimento. Sei que não quer me ouvir, porém odeio ficar com a consciência pesada por muito tempo. Hahaha… haha…
Nada acompanhou sua risada, de fato aquilo era nem um pouco engraçado. Ao olhar pelo ombro, por outro lado, visualizou os lábios de Lilith pressionados segurando uma risada.
— Pode se soltar se quiser, eu me preocupo bem pouco.
— Calado, não tem nada a ver contigo!
— Hah, tá bem. Você pelo menos vai me ouvir?
— Um pouquinho…
Com essa janela, Lucas aproveitou o máximo possível para explicar a respeito de Mila. Ela não era sua amante, na verdade, mais se tratava de uma amiga próxima do que qualquer outra coisa.
Fechou qualquer oportunidade para contra-argumento, comentando como a vampira era uma das primeiras pessoas que o ajudou a conquistar tudo e como fizeram muitas coisas juntos.
Enquanto falava, um pouco da porta do quarto foi aberta, só que ele não se virou.
— Você tá falando a verdade mesmo?
— Eu estou sim. Pode perguntar a ela ou a Solein depois se quiser, vai ouvir a mesma coisa.
Finalmente, um ranger pouco mais alto saiu daquele quarto, com a porta ficando escancarada. Lilith saiu das sombras e ficou atrás de Lucas, enrolando os braços contra seu pescoço.
Por um momento, imaginou que sofreria um mata-leão e morreria ali. Felizmente isso não aconteceu.
— Eu acho que também errei roubando a sua primeira vez.
— Hã? Por que isso agora?
— Porque preciso confessar isso. Quando vi você e Solein se beijando naquele evento com os monstros, fiquei com inveja, tanta inveja que jurei a mim mesma não passar pela humilhação. Eu sou até hipócrita, dando apoio nas escolhas dela de ficar perto de ti, então decidi fazer aquilo e ainda me senti bem… Que droga…
Não havia lágrimas, mas um remorso imenso nas palavras da súcubo. Seu aperto ficou um pouco mais forte.
Lucas tocou a nuca dela, acariciando o cabelo bagunçado em meio a expressão amarga do seu rosto. Mesmo com o jeito safado e com as brincadeiras de mau gosto, no final, Lilith tinha esse tipo de sentimento.
— Tá tudo bem, relaxa. Isso já passou e também resolvi a situação com a Solein, você não precisa se culpar tanto assim. Que tal a gente sair um pouco do seu quarto e andar? Vai fazer sua cabeça ficar melhor.
— Não… eu posso… posso te pedir para ficar comigo dentro do quarto comigo?
O rapaz deu de ombros. Na sua cabeça, não parecia tanta coisa, e quando o peso ao redor do pescoço desapareceu, ele decidiu adentrar o quarto.
Estava um pouco escuro, apenas para velas rapidamente acenderem o recinto.
Lucas ficou meio chocado, as paredes estavam cheias de pôsteres de idols e personagens demônios, com uma espécie de tv no canto e um aparelho conectado a ela na cômodo.
Também havia uma estante inteira, cheia de livros e CDs. Quanto a Lilith, ela estava no centro do quarto, usando uma camisola enorme que cobria até o joelho, com os cachos do cabelo bagunçado e as madeixas coradas.
— Bem-vindo ao meu Éden.