Farme! Brasileira

Autor(a): Zunnichi


Volume 2

Capítulo 112: Faca

Ao que Lucas entendeu, evoluções aconteciam ou de forma automática ou eram destravadas por um gatilho. Seu sangue, por exemplo, servia como uma grande fonte de poder para ambos os vampiros.

Era por isso que os dois evoluíram tão rápido, especialmente Mila, que tomou uma quantidade razoável ainda na sua forma de morceguinha.

Um fenômeno semelhante ocorria aos vampiros, dependendo da qualidade do sangue e o quanto ingeriam, eles cedo ou tarde tomariam uma versão mais evoluída.

Existiam exceções, que no caso eram aqueles dois, mas para a esmagadora maioria, você só se tornava um vampiro comum e nada mais. 

Por estarem dentro de um local com suprimento quase infinito de alimento, os morcegos não demoraram para evoluir da primeira vez, mas agora dentro do Lago Congelado era diferente.

Ninguém podia abertamente atacar uns aos outros, eram uma comunidade unida dentro daquele espaço. 

Mesmo com um pequeno atrito entre elfos e demônios, além de Mila não conhecer ninguém, seria contra a vontade daqueles que consideravam líder, Lucas.

No entanto, isso demandava tempo. Felizmente, ainda tinham o bastante, ou pelo menos até resolver a questão do Elixir.

Inclusive, sua lista de craft era meio… complicada.

 

500x Ervas da Manhã

3x Frasco de Sangue de Dragão

5x Frutos da Vida

 

“Onde caralhos eu vou encontrar esses drops, pra começo de conversa?!”

A resposta obviamente seria as dungeons disponibilizadas pelo sistema, mas fazia tanto tempo que Lucas não as visitava que ele ficava em dúvida sobre o que exatamente fazer.

A essa altura, ele devia estar por volta do Rank A se usasse todo seu equipamento, e claramente seria muito mais fácil e seguro investir nos portais do que escolher cegamente uma dungeon da lista.

Se fosse o caso, também não iria sozinho, confiando mais nos seus próprios aliados dentro do Lago Congelado do que uma galera aleatória. 

“Talvez o pessoal da seita me ajude, assim fica mais fácil de achar os frascos… O problema são os frutos da vida, que eu não tenho ideia de onde seria.”

Esse pensamento estava cruzando sua mente enquanto ele ajudava seus dois colegas a carregarem toda a tranqueira dentro da zona, jogando em montes no centro da região.

Hurrto andava ali perto, além do mais, era onde morava, e avistou o tanto de trabalho que o trio realizava. Curioso, aproximou-se para avaliar as coisas mais de perto.

— Sir Lucas, é meio raro encontrá-lo a essa hora… Ca-ham, o que é tudo isso, exatamente?

— Hum? Ah, Hurrto, isso tudo é material de construção e também um monte de monstro que meu familiar matou. Quero juntar os espólios para saber o que farei depois. 

— Entendo… Bem, os monstros podem ser convertidos em equipamentos, mas parece até que é para se preparar para uma guerra… com todo respeito, claro.

— Haha, parece mesmo, mas eu sou da paz. Ainda seria bom talvez transformar isso em armas. Lembra de quando eu apareci do nada com a área dos demônios? Todo mundo ficou em alerta, pensaram que algum inimigo tinha aparecido…

— Sim, eu pensei o mesmo. Em todo caso, seria minha recomendação torná-las armas, vai que sir Lucas se depara com gente ruim e ao terminar o serviço, temos uma briga em alta escala.

— Faz sentido, agora que você falou, só que eu acho que seu interesse é nos materiais, né?

— Nã-Não, claro que não, eu nunca faria isso!

Lucas fez uma expressão que refletia um “Aham, sei”. Concordava com o anão, isso seria uma ótima precaução para imprevistos futuros.

Uma nova pilha caiu no chão em meio aos sues pensamentos. Ainda precisava resolver em como achar os dois drops especificados na lista de craft, coisa que vinha incomodando sua cabeça.

Dragões poderiam ser talvez encontrados em portais, como aconteceu com o dragão derrotado por Zhang Zhao um tempo atrás. Quanto aos frutos, esses eram o grande problema.

Abriu a Loja dos Heróis, na aba de pesquisa o nome não constava dentre os itens a venda. 

— Que porcaria…

— Algum problema, Sir Lucas? — perguntou o anão, ao lado do rapaz.

— Sim, tem uma coisa que não sei onde posso achar, faz parte da criação de uma poção. Se chama “Fruto da Vida”.

— Oho, você é mesmo um homem obstinado para tentar achar algo assim.

— Não me diga que você tem uma ideia de onde se acha isso. 

— De certa forma tenho, é naquela dimensão que lhe disse sobre os outros portadores do “Guia” existirem, lhe falei muito tempo atrás.

Muitas coisas aconteceram, mas Lucas conseguia mais ou menos relembrar sobre o que disseram. Existia um tipo de dimensão secreta, uma dungeon ou portal que levava a pessoa a um ponto central onde outros indivíduos com sistema se encontravam.

No entanto, para acessá-lo, precisava de uma quantia de feitos que ainda eram desconhecidos para Lucas, resumindo-se a fazer algo “grandioso” ou “impressionante”.

Porém, saber que havia uma chance de obterem o item pelo menos deu um alívio a si. 

— Pode me explicar melhor, Hurrto?

— O mesmo local em que essas pessoas se encontram também é um local onde ocorre um comércio grande de objetos. Se eu for para lá, posso procurar o item que deseja com meus contatos, mas provavelmente precisarei de dinheiro para comprar… e como você pode ver…

Na mesma hora ele entendeu. Dinheiro era necessário, e a melhor forma de obtê-lo era por meio da venda de objetos forjados, pois seriam especialidades de Hurrto.

— Beleza, pode mexer na pilha de espólios de monstros pra escolher o que você gostaria de usar, em troca, quero que me arranje pelo menos cinco desses frutos. Combinado?

Um sorriso enorme apareceu na barba do anão, que apertou a mão de Lucas com uma felicidade genuína. 

O trato estava feito, então o rapaz ordenou aos seus dois vampiros que deixassem os materiais dos monstros perto da cabana do ferreiro, já que ele os usaria.

Quanto a pilha de destroços, um plano tinha sido arquitetado para usá-los. Primeiro, a infraestrutura geral do Lago era meio precária, só tendo as estradas e poucos bancos, e isso precisava rapidamente ser mudado.

Levando em conta que elfos passavam por lá e que os demônios algumas vezes esgueiravam para esse lado, ele considero necessário pelo menos definir melhor os caminhos e adicionar placas de indicação.

Com o martelo de construtor em mãos, os materiais e a ideia pertinente, ele começou seu trabalho. 

A neve saia do caminho com fortes chutes que lançavam ondas inteiras para o alto, apenas para substituir o gramado por um longo caminho traçando vários locais, como próximo a cabana de Hurrto, sua casa, a entrada da floresta e o território de árvores de obsidiana.

Junto disso, ele também colocou postes inteiros e usou um Bulbo Luminoso — item que tinha aprendido a fazer há bastante tempo — para iluminar o local.

Felizmente, não era necessário eletricidade para mantê-los, ao invés disso, quando desse noite, todos naturalmente se acenderiam sozinhos.

Claro, ele aproveitou o material para também construir coisas extras na sua casa, como um pequeno espaço para o jardim — que com certeza não teria planta nenhuma. — e um muro baixo ao redor.

Junto disso, ele mobiliou mais o lado de dentro, adicionando cadeiras e outros objetos.

— Hmm… sinto que tô esquecendo de algo… — Ele pôs a mão no queixo, erguendo a cabeça para o alto e em seguida vendo os arredores. — A Solein fez um bom trabalho mesmo. Ah!

Finalmente a memória veio e ele descobriu o que estava de errado. Solein permanecia do lado de fora do Lago, a essa hora provavelmente falava com sua mãe.

Lucas saltou pela janela já que demoraria demais ter que abrir a porta e fechar, chamando também um portal de volta para sua casa.

Ele ignorou qualquer coisa e apenas entrou, voltando ao mundo real. O local estava muito quieto, nem o vento soprava.

Engolindo seco, subiu as escadas e adentrou sua casa, o silêncio combinado com as coisas perfeitamente organizadas davam um ar de filme de terror ao ambiente.

Cada passo de Lucas ressoou como se estivesse martelando o piso, piorando ainda mais seus pressentimentos. Ele virou para o lado, deparando-se com a cozinha.

Ali, duas moças estavam cozinhando, Solein e Cristina, de costas. 

— Ah, voltou mais cedo do que esperávamos… — comentou a matriarca, soltando um suspiro. — Filho, a sua noiva tem muita técnica com facas, sabia? 

— Técnica co-com facas? 

Naquela mesma hora, as duas se voltaram na direção do rapaz, a elfa manejava numa mão uma faca extremamente amolada e com líquido vermelho escorrendo da ponta. 

— Lucas, vem ver isso aqui!

Solein deu um passo em frente, com o avental sujo de mais manchas vermelhas e com uma marca na ponta da boca. 

Os olhos de Lucas arregalaram na mesma hora, com ele em tempo de sair correndo dali, no entanto, Cristina o pegou pelo cabelo e o impediu de ir embora.

Ela o arrastou para perto, aumentando progressivamente o medo do menino de chegar perto. Na mesa, havia um peixe fatiado em tiras deliciosas, ao lado de um frango cujo corpo se tornou um amontoado de galeto desfiado.

Ele enfim entendeu que não planejavam seu assassinato, e sim apenas arrumavam uma comida, o que pegou uma pequena peça no seu cérebro.

— Eu pensei que elfos amassem a natureza…

— E amamos, só que existe uma grande diferença entre a natureza de vocês e a nossa. Essas criaturas não existem na nossa natureza, então não nos importamos de matar se necessário.

A frieza em seu rosto perante a morte de um animal era meio macabra, mas Lucas deu de ombros e resolveu ignorar. Quanto à Cristina, ela olhou para o relógio na sala.

— Ah, olha as horas! Com licencinha, tenho unhas a fazer, volto depois, filho!

Sem mais nem menos, ela saiu de cena, pouco se importando com o avental igualmente sujo. Ficou óbvio demais que ela pretendia apenas vazar de forma discreta, porém por ser tão repentino, era difícil de acreditar que era verdade.

O rapaz largou um suspiro e apertou as pálpebras, meio desnorteado pela onda de emoções. Ele imaginou o que sua mãe provavelmente conversou com Solein, temendo o estado mental atual da elfa.

Felizmente, ela parecia muito normal, se não fosse pela faca afiada, até teria coragem de se aproximar. A lâmina foi separada na pia, enquanto os pedaços de comida foram colocados em panelas para começarem a serem cozinhados.

— Lucas, se senta, é melhor do que ficar em pé — falou a moça, cantarolando, estando tão feliz quanto nunca.

O jovem tomou seu lugar na mesa e avaliou o jeito com que Solein andava de um lado para o outro, como se a cozinha fosse seu domínio absoluto.

“É meio sexista pensar nisso, mas ela é mesmo muito boa…”

As sobrancelhas até se dobraram em certa dúvida, porque normalmente não se via muitas coisas positivas por parte da elfa. Ela era atrapalhada e estranha, mas até então mostrou talento para design de interiores e agora gastronomia.

De fato, continuava o impressionando, ainda mais ao lembrar da habilidade dela em magia. Analisou por um tempo as costas e o cabelo prateado de Solein, pensando no que devia dizer.

— Solein, me desculpa por antes. 

Essa era a melhor forma de fechar o assunto. Os dois não namoravam, no máximo trocaram um beijo, ou seja, não havia um vínculo maior certeiro, só que, na sua experiência com mulheres — no caso, Cristina —, era melhor apenas aceitar que errou.

— Quer me contar como aquilo aconteceu?

Lucas engoliu seco e recontou sobre a madrugada, pelo menos até onde lembrava. Ele omitiu os detalhes do que aconteceu para claramente não irritá-la mais.

— Então aquela maldita te seduziu e usou feitiços para isso… — Solein falou, com a voz saindo pelos dentes cerrados.

A faca se cravou contra a tábua de madeira na pia, causando tremores tanto na cozinha quanto no próprio rapaz, que pensou ser melhor para o próprio pescoço fugir.

Uma pena que demorou demais. As mãos geladas de Solein agarraram seu ombro, impedindo-o de se mexer. Ambos trocaram olhares, e aquelas iris claras da elfa indicavam outra coisa.

Um tipo de ganância, uma vontadede obter algo para si mesma.

— Então eu vou provar para você que sou melhor do que ela. 



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