Volume 2
Capítulo 111: Prefeito
Para começar, Lucas não esperava que Mila retornasse com plena consciência, muito pelo contrário, ele acreditava que encontraria alguém com as memórias completamente limpas.
Quando o mundo reiniciou, todas as coisas dentro das zonas desapareceram, junto com a vampira, e por isso ele imaginava encontrar alguém completamente aleatório.
No entanto, pelo visto, o sistema salvava as memórias da criatura que invocou, o que significava que caso pegasse uma moeda num próximo reset, o morcego voltaria a ser o mesmo.
Ele não pretendia adquirir outro membro, considerava que era difícil demais lidar com mais um no seu barco. Já bastavam os elfos e os demônios, seu grupo estava largo demais para manter tudo funcionando.
Lucas colocou a mão no queixo. Naquele momento, eles estavam na sua cabana, sentados nas cadeiras da sala e tomando um bom chá que Tremwin, pai de Solein, ofereceu mais cedo.
No entanto, o que atraiu sua atenção foi o que Mila disse a respeito das zonas.
— Um tempo depois de você ter saído, mestre, eu vi uma luz no horizonte, e meio que tudo ficou escuro e eu caí no sono. Daí, acordei agora pouco, comigo voltando a ser uma morceguinha!
— Luz? E os outros vampiros? O que aconteceu com eles?
— Eu não faço ideia, eles só deixaram de existir, eu acho. Não sinto a conexão mental que tinha antes, quando controlava eles.
Sua curiosidade estava batendo no teto, especialmente quanto a como isso aconteceu. Ao morrer, Lucas lembrava de ter parado num lugar escuro e ter encontrado um administrador, Moon.
No entanto, ele não fazia ideia do que acontecia com o mundo de fora, especialmente o mundo real e dentro das zonas. Se essa luz viesse e erradicasse as coisas, significava que as coisas ou eram destruídas, ou rebobinadas para trás.
Ambos os casos criaram um certo complexo de existência, porque se eram destruídas e então reconstruídas, significava que todas as pessoas do mundo eram cópias.
Por outro lado, o caso de voltar no tempo significava que enquanto morresse, o mundo estaria preso num loop eterno, onde as coisas sempre se repetiriam.
O seu maior medo era como a humanidade parecia muito inofensiva se comparada a ameaça de uma luz destruidora, imaginando que muito possivelmente eles não conseguiriam fazer tanto.
— Senhor — disse Kard, lixando as unhas com espada invocada por pura magia —, ainda tem muitos espólios que ficaram espalhados dentro daquela dimensão de bolso. Espero que depois dê uma olhada.
— Ah, bem lembrado. Inclusive, você teve alguma dificuldade lá dentro?
— Não, apenas tive problemas com indivíduos específicos. Havia uma tribo de lagartos abaixo da terra, eles se reproduziam como baratas e foi complicado se livrar de todos.
Essa citação relembrou de um momento quando encontrou essa mesma tribo anteriormente, e também de certas coisas se repetindo, no caso, os portais e os monstros dentro deles.
“Mas isso não explica aquela vampira de quando entrei com a Viviane. Será que existem fatores especiais dependendo de quando eu entro nos locais? Seria semelhante a um número aleatório sendo rodado, que dependendo, pode gerar situações diferentes…”
A expressão pensativa de Lucas chamava atenção dos vampiros, que raramente o encontravam tão pensativo, especialmente Mila, da qual nem viu o amadurecimento que ele passou no período de meio-ano.
— RNG… Entendi.
— Hã? Que magia é essa, mestre?
— Não é uma magia, é uma sigla. Random Number Generation, normalmente serve para se referir a fatores aleatórios que acontecem em algum programa quando se escolhe um número.
— Nossa, isso parece papo de gente inteligente.
— Pra mim, parece papo de nerd — Kard disse, fazendo os olhos de Lucas arregalarem. — Perdão, a senhorita Natália falava estranhezas. Quando alguém diziam uma informação que ela não entendia, ela falava essa frase… Peguei o hábito, peço perdão, me corrigirei o mais rápido possível.
O jovem acenou com a mão como se não se importasse muito, mas de fato era esquisito ver um vampiro altão que sequer passou muito tempo na sociedade usar um linguajar tão moderno.
— Olhem, vocês dois precisam saber de uma coisa… — Lucas cruzou as pernas e os braços, enfim mostrando uma face séria. — Se eu morrer…
— O mestre nunca morrerá!
— É impossível que tal coisa aconteça comigo por perto.
— Tá, tá, calem a boca e terminem de escutar. Quando eu morro, o mundo é reiniciado junto comigo, ou seja, as pessoas lá fora voltam a um ponto específico do tempo. O mesmo acontece com as zonas e as masmorras, exceto essa. Vocês, por outro lado, manterão suas memórias, como evidenciado por ti, Milla… a diferença é que perderão seus poderes.
Os dois vampiros inclinaram a cabeça para o lado, sem entenderem direito o que isso significava. Parecia um absurdo muito grande para se acreditar.
— Se é assim, porque tive que cuidar de seu irmão, senhor?
— Kard, na minha primeira tentativa, meu irmão foi sequestrado. Eu não queria que o mesmo acontecesse, por isso te enviei.
— E eu não enfrentei nenhum sequestrador… É isso que estava se referindo a RNG?
— Talvez. Eu estou supondo que exista um número assim para o mundo real, porque as zonas e as dungeons aparentemente recebem. Quando entrei na zona pela primeira vez, eu enfrentei uma vampira e recebi o seu item de invocação, por isso você está aqui.
A teoria era bastante bonita, mas existia tanta coisa para se explicar que a cabeça de Lucas doía. Já bastava acreditar que existiam outros com o sistema e uma infinidade de pessoas por aí fazendo suas coisas.
Por outro lado, sentia-se cheio de vontade para trabalhar. Se não fosse pelos dois problemas recentes, sua mente estaria ainda mais leve.
Empurrou a cadeira para trás, erguendo-se para esticar os braços e dar início ao trabalho de verdade.
— Bem, chega de bater papo, vamos ver quanto aos drops, Kard. Tem muita coisa pra resolvermos.
— Compreendido.
— Ei, mestre, eu vou também! Espera por mim!
E assim os três saíram da cabana, com um portal esperando-os para o outro lado da dimensão.
*****
Lucas já não se assustava com mudanças radicais quanto antes. Ver o horizonte isento de qualquer prédio, com a vizinhança inteira derrubada e um conjunto de destroços de lá pra cá, não lhe impressionava.
Por outro lado, uma enorme pilha de monstros abria um sorriso em seu rosto, especialmente os goblins, sua fonte primordial de dinheiro.
Ele escalou tudo num único salto, encontrando também uma quantidade enorme de outras carcaças, indo de lagartos gigantes até ratos enormes.
Ainda haviam outros monstros surgindo na distância, coisa que era normal dado a essência daquele espaço. No entanto, outra coisa que lhe dava muita satisfação era as outras pilhas de coisas.
Existia uma inteira só feita de ervas, outra cheias de ossos, presas, escamas, couro de morcego, tinha tanta coisa que daria tontura na sua cabeça.
Isso sem contar no tanto de material de construção, desde concreto, madeira, ferro, vidro e vários outros, o bastante para inúmeros projetos em mente.
— Puta que pariu, isso que é trabalho, Kard!
— Creio que seja um elogio, então obrigado, mestre.
— Aff, eu tô com inveja… — reclamou Milla com as bochechas cheias ao não receber um elogio de seu mestre. — Ah, tive uma ideia! Mestre, eu posso recrutar mais escravos para o nosso bando?
— Escravos? — Lucas levantou a sobrancelha, estranhando, mas logo lembrou sobre o grupo da vampira antigamente. — Claro, eles podem nos ajudar a construir…
— Ebaaa!
Com a aprovação, Mila seguiu em frente e rapidamente desapareceu de vista, procurando morcegos para capturar e adicionar a um grande exército.
Lucas desceu dos montes, finalmente se aproximando da pilha de ervas da manhã. Demoraria muito para transformá-las, mas custava nada começar naquele momento.
— Kard, por favor, impeça que qualquer coisa me interrompa, estarei ocupado.
O vampiro deu um aceno, e imediatamente sua espada cortou um pobre goblinzinho se aproximando ao ponto de virar poeira.
“Meio overkill…”, pensou preferindo virar a cabeça para não ter pena dos demais carinhas que morreriam nas mãos de seu subordinado. “Agora, bora começar a farmar, não tenho todo tempo do mundo pra ajudar aquela moça.”
O procedimento iniciou, sendo lento e continuo.
9999x Ervas da Manhã foram transformadas em 999x Medicinas.
A profissão de Alquimista foi desbloqueada.
A profissão de Alquimista foi elevada ao nível Avançado.
Uma habilidade foi desbloqueada.
Manipulação Menor de Energia Vital.
Rank: F
Permite ao usuário controlar as forças que regram a vida num nível superficial. Pode passsar a energia para outros ou melhorar seu ciclo interno de energia a partir dessa habilidade, assim como tirá-la de si mesmo. Não é possível manipular ou retirar a energia vital de outras criaturas.
Uma nova receita foi adicionada à lista de criação: Elixir.
Uma nova receita foi adicionada à lista de criação: Desmaterializador.
“As mesmas telas da última vez. Não lembro desse Desmaterializador.”
Ele abriu a aba de criação e selecionou o Desmaterializador, curioso para saber o que oferecia
Uma máquina que converte qualquer item dentro para seus materiais originais, mas perde parte deles no processo.
“É muito útil. Posso jogar todas essas medicinas lá e repetir o processo, ou seja, é ótimo pra farmar um monte de coisa.”
Um sorriso surgiu em seu rosto, enquanto tirava a tela do meio do caminho e retornava a criação de mais Medicinas, produto da combinação de Ervas da Manhã.
Ele não fazia ideia de onde vinha o frasco de argila, mas achava um extra interessante. Naquele momento, sua mente afundou na atividade automática de craftar várias cópias da mesma coisa.
Era uma boa hora para pensar, refletir nas coisas e no que ainda precisava fazer. Desde que seu tempo tinha se concentrado boa parte dentro do Lago Congelado, ele começou a achar bom reformular o local.
A cabana de Hurrto era bastante solitária, havia muito espaço de sobra e com a recém adicionada parte dos demônios, acabou que a região tinha muito local para construir coisas.
Ele também considerava quanto a população geral. Talvez viver naquele jeito repetitivo, num espaço tão pequeno, causaria sérios problemas mentais.
Lucas sabia melhor do que qualquer um os efeitos do isolamento prolongado, e queria de alguma forma trazer um pouco de felicidade para as pessoas e renovar tudo.
“Eu tô parecendo um prefeito pensando assim.”
Inúmeros projetos ainda corriam por sua cabeça — estradas, parques, decorações, locais de encontro, tudo era muito interessante para sua mente.
No entanto, havia uma prioridade, elaborar o Elixir para ajudar a mãe de Zhang Zhao, era sua promessa da qual precisava cumprir.
Proficiência e classificação adicionada a itens relacionados a alquimia. Quanto mais vezes o mesmo objeto for feito, maior serão seus respectivos atributos.
Medicina
★★★★★
Proficiência atual: 1.000%
“Oh, terminou! Agora não preciso perder mais tempo construindo essas coisas, no entanto, vai dar uma grana idiota de boa.”
Ele se ergueu, finalmente vendo por cima do ombro a chacina cometida por Kard. Os corpos dos pobres homenzinhos verdes estavam espalhados pelo chão igual bonecos de lego desmontados.
A essa altura, um espanto queria sair de seu semblante, mas se olhasse para o lado e visse a pilha de monstros, esse susto sumiria de uma hora para a outra.
— Sério, você precisa de umas aulas de autocontrole.
— Mestre, fui bastante autocontrolado. Nenhum chegou um passo mais perto de você.
— Não foi isso que eu quis dizer… Ah, deixa pra lá, vai.
Um suspiro saiu de sua boca. Argumentar com qualquer um dos vampiros era demais para a cabeça, muito possivelmente nenhum entenderia bulhufas.
— Aliás, cadê a Mila?
— Meeeestreeee!
O grito quase estourando de seus tímpanos veio do outro lado do mundo, mas bastou um instante para a subordinada aparecer com um enorme sorrisinho de presas.
— Mila está aqui, está aqui!
— Que rápido… Estava por perto?
— Não, eu só ouvi você me chamar e vim logo pra cá!
— Hah, beleza. Terminou de andar por aí e pegar aqueles morcegos?
— Terminei sim! Só vai levar um tempo para eles evoluírem e serem mais úteis!
Lucas ficou meio curioso quanto a esse processo, então durante o caminho de volta, enquanto transportavam parte dos materiais de construção para o Lago Congelado, ele quis saber mais do assunto.
Mila esboçou um enorme sorriso, estufando o peito e explicando tudo o que ele quisesse ouvir, mais do que contente por ensinar algo ao seu mestre.