Volume 2
Capítulo 110: Retornada
Lucas esperava que o retorno de Kard demorasse mais, porém, a essa altura não tinha o que fazer. Um portão se materializou à sua frente, dando entrada para às Zonas.
Dele, um homem alto, pálido e de cabelo prateado saiu, seus olhos semicerrados e o corpo encharcado de sangue. Na mão direita, ele arrastava o rabo de um lagarto gigante pelo chão.
A espada na mão esquerda estava em péssimo estado, muito lascada e cheia de riscos, seria nada surpreendente se a arma esfarelasse ali mesmo.
— Eu retornei, conforme pedido, mestre.
— É, você deve ter se divertido muito… — Lucas ficou receoso, olhando como seu servo tinha se esforçado além do limite. — Então, o que você trouxe?
— Nada demais, a maioria das coisas ficaram para trás porque não pude carregar. Essa coisa foi o monstro que matei mais recentemente.
Ele terminou de arrastar a criatura e a largou no chão. Era um bicho feio de doer, parecendo um camaleão deformado, com os olhos gigantes e uma língua partida em duas.
Lucas não perdeu tanto tempo identificando aquela coisa, na verdade, duvidava entender o que era isso. Ainda assim, estava curioso para saber do restante.
— Uma dúvida, você encontrou alguma moeda ou coisa assim? Dourada, com símbolo de morcego.
— Sim, somente uma.
“Só uma? Qual a raridade desse negócio pra ele detonar um lugar todo e voltar só com um?!”
Kard tirou a moeda do bolso e entregou na mão de seu mestre, que analisou o objeto com olhos radiantes. Queria há bastante tempo encontrar isso, mas na primeira vez que encontrou, sua mente achou melhor escolher a segunda raça desbloqueada.
Imaginou que isso fosse o suficiente para trazer aquela vampirinha de volta, mas ao invés disso, acabou adquirindo outra pessoa.
Kard, por mais que não tivessem tido muito contato, se provou uma ótima pessoa para ele. Proteger seu irmão com garras e dentes, além de achar esse item, eram duas coisas que queria muito.
Talvez ele precisasse passar mais tempo com ele, levando em conta seus esforços. Lucas lançou a moeda para cima, ativando sua propriedade
Moeda de Invocação - Morcego
Escolha entre dois tipos de morcegos:
Morcego Alfa
Morcego Ancestral
Morcego Alfa escolhido
Gerando Invocação. . .
Da mesma forma que aconteceu com a primeira vez, uma pequena criaturinha apareceu na sua frente, parada no meio da neve.
Ela parecia meio perdida, olhando de um lado para o outro buscando alguma explicação, mas ao ver Lucas, foi como se uma iluminação caísse sobre si.
O morceguinho voou na direção dele e se esfregou contra seu pescoço, piando de felicidade inúmeras vezes.
— Ei, ei, por que você tá tão feliz assim? — Lucas levou a mão até o queixo da criaturinha, acariciando com o dedo. — Também senti sua falta, desculpa ter demorado tanto.
Aparentemente, as memórias dela se mantiveram, o que era um grande alívio para Lucas, que além de ter sentido certa falta dela, também não queria que houvesse uma invocação completamente desconhecida ao seu lado de novo.
Seus olhos pararam em Kard à sua frente, que demonstrava uma frieza anormal no rosto, como se odiasse o desenrolar do que acontecia.
O jovem achou graça nisso, mas não deu muita bola. Então, puxou um pouco o moletom na parte do pescoço, revelando parte dele.
— Ande, morda. Fiquei bem mais forte, então é melhor que você recupere seus poderes do que continuar assim.
Pulinhos de felicidade inundaram o coração do morceguinho, que atacou sem receio nenhum.
Lucas teve uma pequena tontura, sentindo seu sangue escorrer para fora do corpo, mas o resultado valeu a pena.
?????
Vampiro Alfa: Nível 0 (+70)
Por ter alcançado o marco de 50 níveis, uma evolução está liberada.
A evolução trará consigo também uma classe, que será escolhida pelo dono da familiar.
Ele clicou no botão azulado escrito “Evolução”, e então o morcego separou-se um pouco, até um pilar dourado cair sobre seu corpo.
Uma silhueta mudava de forma dentro do pilar, reconstruindo-se e mudando diversas vezes, assim como aconteceu com Kard da primeira vez.
A evolução de Vampiro Alfa para Lorde Vampiro Alfa foi concluída.
Escolha uma das classes a seguir: Mestre de Guerra, Espadachim do Abismo, Arauto Sombrio, Comandante do Tártaro.
“Mila era muito talentosa com controlar e liderar os outros vampiros, então deve ser melhor usar esse Mestre da Guerra, já que pode ter a ver com mexer com tropas e tudo.”
Mila Von Biemarksth
Lorde Vampiro Alfa; Nível 70 (+0)
Habilidades: Sentidos Aprimorados (S) - Resistência a Controle Mental (S) - Resistência a Magia Sombria (S) - Comandar Bando (S) - Líder Natural (S) - Encantar (A) - Mordida Vampírica (A) - Metamorfose (A) - Magia de Sangue (A) - Magia das Trevas (A) - Invocar Familiar (B)
Habilidades Adquiridas: Voz da Autoridade (S) - Maestria em Armas (A) - Maestria em Estratégia (A) - Domínio do Lorde (B)
Quando a luz abaixou, havia uma nova pessoa naquele lugar. Era uma mulher cheia de curvas, com olhos vermelhos profundos, pele branca como leite, presas pontiagudas e um cabelo curto acima do ombro.
Era linda em todos os aspectos, com uma aura de beleza e pureza rondando o ambiente e um ar de sensualidade estupidamente forte.
Se Lucas por acaso não estivesse numa situação complicada ao que cabia a relacionamentos, com certeza ficaria atraído por ela, no entanto, o máximo que fez foi virar a cabeça para o lado.
— Mila, vista alguma coisa.
— Mestre!!! Eu esperei tanto por isso, minha nossa, eu fiquei com tanta saudade!
— Eu sei, mas você tá toda nua!
— Ah, mas pra que ligar pra isso agora? Só tem nós dois!
Uma veia saltou da testa de Kard, que estava logo ali do lado e essa cabeça de vento nem percebeu.
Ele apenas desviou o rosto, querendo não se intrometer nos assuntos de seu mestre, mas ficou claro o seu aborrecimento.
No entanto, avistou uma comitiva de demônios se aproximando na distância, e eles pareciam apressados demais para qualquer pessoa comum. Por segurança, colocou a mão no cabo da espada.
— Tire as mãos do meu amor, sua exibicionista louca! — gritou uma pessoa do meio da comitiva, finalmente atraindo a atenção dos dois.
— Ah, meu Deus, agora sim vai ser um porre… — Lucas largou um suspiro, escondendo Mila atrás de si como forma de evitar mais constrangimento. — Lilith, não se preocupe, ela é uma amiga.
— Que tipo de amiga que fica despida na frente de outro e ainda por cima se esfrega em você, amor?!
O rosto irado de Lilith era justo, ainda mais quando ela chegou perto e deixou buracos na neve pelo tamanho fogo irradiando de seu corpo.
Era uma reação natural dos demônios soltarem fogo ao entrarem num estado de estresse ou raiva, tal como aquele momento, além do mais, seria absolutamente imperdoável outra pessoa fazer aquilo se não ela mesma.
— Quem é ela?! Da onde ela veio?! Por que ela fica tão perto de você, coisa que nem eu faço permite?!?
Lucas engoliu seco, vendo como o caos parecia perseguí-lo a todo momento. Já bastava o drama da manhã, que por sinal brotava na sua cabeça de vez em quando, mas agora ter uma segunda dor de cabeça era demais.
Ele olhou para Mila, que analisava aquelas pessoas com muita curiosidade. Mesmo com a bunda de fora, ela pouco se importava com as figuras, na verdade preferia que elas não existissem.
— Enfim, mestre, eu fiquei com tanta saudade! Você não imagina a minha felicidade agora!
— Você ousa me ignorar, sua vadia de esquina?!
Como Lucas não disse tanta coisa, Lilith acabou tomando as palavras daquela moça estranha como afronta, assim conjurando diversos raios negros e disparando todos em sua direção.
No entanto, ao invés de acertar em cheio o alvo, uma parede de piche engoliu os ataques, e assim que desceu, a silhueta de Mila ganhou um suave brilho escurecido.
Seu corpo foi revestido por um vestido preto, cheio de babados e tão lindo que parecia ter sido feito à mão por uma hábil artesã.
Em comparação com suas antigas roupas, aquela Mila era dezenas de vezes mais arrumada, no entanto, sua expressão indicava algo completamente contrário.
Era fria como gelo, com arcos elétricos passando ao redor do seu corpo devido a uma fúria contida. Estava claro que essa estática não se dava a magia, mas era pura mana no ambiente reagindo a presença dela.
— Ajoelhem-se — essas meras palavras lançaram uma onda sonora pelo ar, aumentando a pressão da gravidade em dezenas de vezes e obrigando a companhia de demônios a caírem.
Os joelhos de Lilith se dobraram levemente, mas não caíram por completo contra o chão, como se seu orgulho a impedisse de fazer isso.
— Caia.
Outra palavra e a imposição aumentou tanto que a súcubo não resistiu, despencando contra o chão. Lucas ficou boquiaberto com a cena, conferindo as habilidades dela rapidamente e descobrindo de onde veio aquilo.
Voz da Autoridade
Rank S
O usuário possui palavras poderosas que influenciam diretamente as ações das pessoas, obrigando-as a fazer o que ele ordena. Essa habilidade é inutilizável em quem o usuário vê como seu superior ou igual.
Os olhos do rapaz se arregalaram na mesma hora, se aquilo significava ter um controle pleno das outras pessoas, nas mãos de alguém como Mila, seria extremamente perigoso deixá-la fazer o que bem se entendia.
— Já basta, idiota! — O punho de Lucas caiu em cima da cabeça da vampira.
— Auuu! — Ela pôs as mãos na região, sentindo um calo subiu. — Por que você fez isso, mestre? Eles iam te machucar, eu só estava protegendo você!
— E quando que eu fiquei em perigo? Eles são amigos, sua tonta!
— Ah, pera, são amigos? — Seus olhos analisaram as pessoas ali e relembrando das palavras de antes, as coisas fizeram sentido. — Entendiii! Agora tudo faz sentido! Façam o que quiserem.
Esse último comando libertou os demônios do controle, retirando a pressão sobre todos. Lilith, em específico, borbulhava de raiva, a neve ao redor derreteu com tanta facilidade que era possível ver um buraco no lugar que seu corpo deitou.
Lucas largou um suspiro, reparando ela chorando de cabeça baixa. Mila tinha ido longe demais, e isso era inadmissível, mesmo sabendo que ambas as partes nem se conheciam.
— Espere ao lado de Kard, eu vou conversar com ela. E você, não use suas habilidades sem minha permissão, ouviu?
— Aff, eu só fiz meu trabalho… né, cabeludo?
— Meu nome não é cabeludo — respondeu Kard.
O jovem revirou os olhos, sentindo que esses dois também não se dariam bem. Enquanto deixava-os para trás, ele chegou perto de Lilith, que a essa altura soluçava perante a derrota.
Lucas encostou a mão nos seus ombros, e ela levantou a cabeça, encarando-o nos olhos.
— Ei, tá tudo bem, eu já resolvi. Não chora.
Um tapa atingiu seu rosto, tão forte que a cabeça balançou para trás e uma marca queimadura tomou a bochecha. O eco do tapa reverberou pelo ambiente.
Ambos os vampiros, que antes relaxavam próximo ao portal, observaram com extrema atenção, Kard preparou para puxar sua espada e mana negra circulava pelo braço de Mila.
Lilith, por outro lado, deixava as lágrimas caírem aos montes. Lucas não entendeu o porquê do tapa, conseguia entender o choro, a humilhação de ficar de joelhos na frente de outra pessoa poderia ser o motivo.
Mas para ir tão longe ao ponto de baté-lo assim, era um mistério para sua mente.
— Eu te odeio, eu quero que você desapareça! Nunca mais apareça na minha frente de novo!
Silêncio tomou conta do rapaz, que ficou congelado ali, vendo Lilith se afastar no meio da comitiva de demônios e voar rumo ao castelo no vulcão.
A sobrancelha de Lucas se ergueu, com a mão posta na bochecha ardendo.
— Eu não entendi…
Mila largou uma risadinha, abraçando-o por trás e enrolando seus braços ao redor do pescoço e as pernas na cintura.
— Não liga para ela, mestre! Vamos brincar, que nem nos velhos tempos, isso daí é problema dela!
Ele tinha bastante dificuldade de comprar a conversa da vampira, mas pelo jeito era melhor não chegar perto de Lilith por um tempo.
Também tinha outra coisa muito importante para resolver: descobrir como Mila lembrava dele após o mundo inteiro ter sofrido um reset.