Volume 2
Capítulo 109: Traição?
Lucas pela primeira vez teve a impressão que traiu alguém. A realidade não era essa, além do mais, ele e Solein não tinham nenhum relacionamento a sério.
Podia ter sido meio precoce com o caso de Lilith, foi levado mais pelo sentimento do que qualquer outra coisa, e por isso o sentimento ruim permaneceu no seu peito.
Ele não era idiota de entender que a elfa nutria sentimentos por ele, quando levou o beijo no dia anterior todas as peças se encaixaram e um esclarecimento apareceu.
Todas as coisas faziam sentido, era por isso que o comportamento dela era tão esquisito. O jovem teve a mais pura vergonha quando a realização veio, já que parecia com os protagonistas de anime que tanto criticava.
Sem pensar muito, ele adentrou na área do Lago Congelado por meio de uma porta que invocou com o sistema.
Na hora, seria impossível resolver essas questões, então o ideal era por em prática uma coisa que vinha pensando há um tempo.
O ar frio lhe agraciou, dava até uma sensação boa retornar a este lugar depois de passar tanto tempo lá.
A cabana de Hurrto continuava intacta e na distância era possível ver os demônios trabalhando no castelo de Igibris. Essa tranquilidade excessiva aliviou sua mente.
— Ca-ham, com licença, amorzinho… — falou Lilith, abraçando-o por trás. — Eu tenho algumas coisinhas para resolver com os meus amigos. Prometo voltar logo, viu?
Um beijinho na bochecha tirou Lucas de órbita. Na verdade, aquele toque tão próximo era capaz de paralisá-lo mais do que os inimigos mais fortes que enfrentou.
Vendo a súcubo se distanciar com um sorrisinho satisfeito e cantarolando consigo mesmo, ele se culpou de que tipo de intriga havia se metido.
Com um suspiro, caminhou rumo a a cabana do anão ferreiro, aquele que salvou do Leviatã há alguns meses. Ao se aproximar, notou que havia grama ao redor do terreno da cabana, sinal de que estava um calor infernal lá dentro.
Porém, isso significava que seu parceiro devia estar trabalhando em dobro. Uma baforada sinistra de vento quente bateu na sua cara quando abriu a porta, e a primeira coisa que avistou foi o anão martelando uma malha azulada.
— Opa, trabalhando muito? — gritou Lucas, notando como sua voz nem seria ouvida devido ao som das chamas.
— Ah, Sir Lucas! — Hurrto logo virou o rosto na direção dele, mas não parou de martelar. — Sim, trabalhando até demais, estou terminando de reparar a armadura que foi danificada no seu último confronto. Adicionei alguns materiais dos nossos novos vizinhos, deve ter aumentado as resistências do material. Devo dizer que agora sim posso chamá-la de “obra-prima”.
— Isso é bom saber, muito bom mesmo! — Ele equipou a benção de Apolo e adentrou o quarto. — Aliás, como tem ido com os outros? Sei que Tremwin é cardíaco e os outros podem ser meio problemáticos, mas pus minah confiança em você e nele para cuidarem da logística e tal.
— Tem ido muito bem. Você vê, muitos aqui não precisam comer, e os que comem costumam cultivar para se manterem. Os demônios e os elfos absorvem energia do ambiente, então tem rolados apenas pequenos desentendimentos. Em todo caso, eu consegui uma boa ajuda de Igibris, ele é bem simpático.
“Simpático, né?” Não era essa a exata imagem que adquiriu do rei demônio, especialmente após vê-lo num combate em que os dois se soltaram ao máximo. “Eu não posso dizer tanta coisa porque a transformação da pulseira me deixa feio que dói.”
Ele trocou mais algumas palavras com o anão, querendo mais saber da situação geral. No mais, era exatamente como dito, só com pequenos conflitos aqui e ali por besteiras.
Isso era bom, daria menos dor de cabeça mais tarde. Uma coisa interessante, por outro lado, era que os demônios encontraram um de seus integrantes, uma armadura viva que foi jogada pelos ares na última vez.
Isso soava familiar para Lucas, mas ele não sabia exatamente porque. Informado o bastante da situação, ele saiu satisfeito e disse que outra hora pegaria a armadura.
Caminhou rumo a vila dos elfos de gelo, tomando um leve desvio para conferir se alguém mexeu no seu cafofo pessoal. O local estava intacto, haviam presentes na porta.
Eram pedras, chocolates e roupas, só que ele ainda achava tudo esquisito demais para simplesmente ficar vendo. Imaginou de quem seria tais coisas, em todo caso guardou dentro de casa.
Agora, ele precisava ter uma boa conversa com Tremwin, para saber quanto aos elfos e a situação entre a união das duas raças.
Lucas se preocupava que isso viesse a dar problemas, e entendia que a sua própria figura era importante para uma parceria organizada.
Mesmo que parecesse meio estranho, além do mais, ele ajudou os elfos derrotando um elfo corrompido e então espancou o rei dos demônios, sentiu-se na obrigação de corrigir qualquer mal-entendido.
Um suspiro saiu da boca, uma enxurrada de pensamentos passou sobre como era mais fácil no tempo que só se importava de treinar direto ao lado de Amora.
“Não, não pense assim! Eu não quero virar um viciado em treinar, cruzes!”
Ele já era viciado em farmar nos jogos, talvez esse vício estivesse ganhando uma forma até na vida real.
Enquanto caminhava com um passo de cada vez, Lucas arregalou os olhos. Havia uma mensagem flutuando na sua frente.
A área das Zonas foi completamente devastada.
*****
— Aeeegiiissss!!! Cadê você, minha querida? Eu tenho um baabaaado pra falar!
Essa voz atormentava a mente ocupada da mulher com o grimório. Aegis era uma maga muito interessada em magia, e mesmo sendo mais fraca que seu rei, ainda era um campo que lhe interessava.
No entanto, sendo uma das duas integrantes femininas dentre os generais demônios, era mais do que óbvio que a outra moça iria achar uma forma de se aproximar.
Era natural, as pessoas do mesmo gênero eram quem mais conversavam entre si. No entanto, ela odiava esse tipo de atenção, tudo o que desejava era silêncio dentro de seu laboratório.
Uma pena que o chute no meio da sua porta destruiu qualquer desejo de descansar, ao mesmo tempo que interrompeu qualquer sinal de sossego.
— Amigaaahh! Você não vai acreditar no que eu fiz!
— Eu não quero acreditar que você voltou, isso sim.
Desdém era a resposta natural de Aegis quando queria ficar em paz, no entanto, possuía um efeito completamente oposto em Lilith, uma pessoa imune ao deboche.
— Pois acredite, olha só a notícia, a coisa que quero te dizer! Eu, euzinha, essa lindona aqui, conseguiu…!
— Você comeu o mestre Lucas?
— Como você adivinhou?!
— Só isso faria você ficar tão feliz assim. — A maga revirou os olhos e empurrou as costas da súcubo em direção a porta. — Agora com licença, estou ocupada com um projeto importantíssimo e não quero ser interrompida.
— Ei, ei, espera, eu tenho que falar mais coisas! Não me despeja assim! — A carinha de choro dela foi hilária, mas a feição de Aegis indicava uma baixíssima chance de mudar de ideia. — Por favoorrr, só me deixa ficar um pouco e contar! Eu prometo ir embora depois!
A maga cerrou os olhos e encarou o fundo da alma da colega. A dúvida de que estivesse falando a verdade era imensa, no entanto, era melhor resolver isso logo e só ficar quieta com seu trabalho.
Aegis parou de forçá-la para fora da porta e respirou fundo, sentando-se numa cadeira próxima à sua mesa de trabalho e balançando os dedos para levitar uma bandeja com bule de chá e xícaras.
A expressão de Lilith virou de ponta cabeça, um sorriso radiante apareceu em seu rosto e ela prontamente se sentou na mesa — coisa que deu vontade de matá-la por colocar a bunda gorda em cima de diversos projetos ali em cima.
Daí em diante, a súcubo espalhou a fofoca, descrevendo detalhe por detalhe da noite inteira, dizendo como cada momento foi maravilhoso e como mesmo com a inexperiência do parceiro, ela ainda adorou.
Aegis só conseguia ter pura vergonha alheia. Quem diabos falaria sobre a transa que teve ontem em detalhes?
“Se for essa pervertida, eu não teria dúvidas…”
Quando ela citou sobre uma determinada elfa, as sobrancelhas da maga se juntaram em descrença. Além de pervertida, a sua “amiga” também era uma desgraçada por roubar alguém assim.
O pior disso tudo foi como imaginou cada detalhe do drama romântico do trio, e como seria complicadíssimo para se resolver.
Mesmo sendo um assunto interessante e estranho de ouvir, Aegis de fato não ligou tanto. Ao final das palavras de Lilith, ela só deu de ombros e se levantou da cadeira, tomando um último gole do chá.
— Muito bem, você já contou tudo, agora pode ir embora. Quero focar nisso.
— Poxa, eu queria uma reação melhor… — A súcubo deu um pequeno saltinho, saindo de cima da mesa e então encarando aqueles papéis. — Você tá trabalhando no que?
— Em entender os fenômenos que aconteceram para o nosso mundo ser separado. Eu já estudava isso antes, você sabe… Não tive muitos frutos na época, mas agora as coisas são diferentes.
— Deixa eu ver, é por causa do meu amor, é? Ele foi responsável por tudo!
— Oh, você deve ter absorvido algo nos tempos comigo para dizer isso…
— Que nada, eu nunca entendo nada do que você fala!
Uma veia saltou da testa de Aegis, a vontade de afundar o rosto de Lilith contra o piso se tornou enorme de uma hora para a outra.
Acalmou os nervos apertando as palpebras, era mais do que comum se estressar por causa dessa louca, então não valia a pena descontar nela.
— Não é necessariamente por causa dele, mas sim o que ele é capaz de fazer. Você deve ter percebido que o mestre Lucas possuí uma habilidade de viajar entre mundos por meio de “portais”, no caso, ele chega a esse por meio de uma porta. Eu estou teorizando quanto a isso, talvez posso achar um meio de fazer uma engenharia reversa e nos mandar de volta para casa.
— Eita, é sério?! Que legal! Eu tenho que avisar todo mundo!
A maga segurou sua colega pelo ombro antes que desse um passo em frente, e um olhar aterrador se concentrou na nuca de Lilith, ao ponto de causar um frio na espinha.
— Se você fizer isso, eu juro, vou te matar e usar suas tripas para…
Antes de terminar de falar, Aegis ergueu um pouco a cabeça. Havia uma flutuação estranha de mana. Ela desviou sua atenção da súcubo para a janela de seu cômodo.
Dali, dava para ver grande parte do cenário, desde a floresta de árvores de obsidiana do vulcão até o lago congelado no centro.
Próximo ao lago, um portão de pedra apareceu, com uma energia rodeando a sua entrada. Era o tal acontecimento falado mais cedo, e por causa disso Aegis puxou seu caderno para escrever.
No entanto, ela não esperava que uma figura desconhecida saísse de lá, um home
m alto e forte de cabelo longo e olhos vermelhos como o fogo do inferno.