Volume 4

Capítulo 7: Cerre os Dentes

   E assim, de repente, o mês que passei imerso na preparação para as provas e trabalhando meio período no Blue Ocean chegou ao fim, e antes que eu percebesse, era o último dia de agosto.

   Minha passagem como agente interino do Kei havia terminado sem problemas, e consegui manter minha nota A no simulado que fiz no final de agosto. Isso ajudou a aliviar as preocupações de Kei e Minato, que estavam preocupados por estarem tomando muito do meu tempo.

   Aliás, mesmo que a Yui — que sempre sentava ao meu lado enquanto eu estudava — insistisse que não estava preocupada, ela parecia prestes a chorar de alegria toda vez que eu tirava A. Só isso já fazia todo o esforço valer a pena.

 

   Era a tarde do dia seguinte ao meu último turno no Blue Ocean.

   Kei veio à minha casa, soltou um suspiro de alívio e sorriu com toda a tensão drenada do rosto.

“Consegui a aprovação da minha mãe para assumir o restaurante graças a tudo o que fiz este mês. Sério, muito obrigado.”

“Não, na verdade, eu é que deveria agradecer.”

   Com Yui e Minato fora, Kei e eu nos sentamos frente a frente na mesa do meu apartamento, trocando palavras de agradecimento.

   Kei me deixou experimentar todos os tipos de pratos como parte de um menu especial.

   Começando com frango frito, pude fazer macarrão, ensopado, curry, doces — tudo o que você imaginar. Pude cozinhar livremente, exatamente do jeito que eu queria, e foi, honestamente, incrível.

   Calculei mal os custos, subestimei a carga de trabalho e tive que aprender como pessoas diferentes comem de maneiras diferentes.

   Foram experiências valiosas que eu não conseguiria apenas cozinhando para mim. Elas me deram uma noção tangível do sonho que quero perseguir.

   Então, não importa quantas vezes eu diga “obrigado,” nunca será o suficiente por Kei me dar essa experiência.

“Então, você não vai para a faculdade? Vai assumir o Blue Ocean?”

“Achei que faculdade não era para mim. Vou conseguir as certificações necessárias para administrar a loja aos poucos. Além disso, não posso deixar a mamãe solteira para sempre.”

   Kei disse isso em tom de brincadeira, rindo baixinho.

   Mas com Minato — que é mais próxima dele — perseguindo seu sonho sem se importar com a formação acadêmica, e com Kei pensando nas coisas sozinho e decidindo que a faculdade não era necessária, acho que isso é o mais importante.

   Talvez Haruka-san tivesse previsto tudo isso, e foi por isso que ela empurrou Kei para tomar uma decisão sobre seu futuro naquele momento.

   Pensando nisso, não pude deixar de sentir novamente o quão incríveis são os pais.

   Agora que o caminho de Kei estava claro, decidi trazer à tona algo que estava na minha cabeça o mês todo.

“E daí? Por quanto tempo você vai continuar adiando... aquela conversa importante?”

“Conversa importante?”

   Quando joguei as próprias palavras de Kei de volta para ele, ele inclinou a cabeça, confuso.

   Mas então, percebendo o que eu queria dizer, ele olhou para o teto com uma expressão preocupada. “Ah... Não é tanto adiar — a Minato é como uma irmãzinha de mão cheia, sabe?” Ele levantou a mão e deu de ombros levemente, ignorando-a com um tom casual.

   Vendo-o tentar se fazer de bobo, inclinei-me sobre a mesa com uma expressão séria.

“Até alguém como eu, que sou totalmente ignorante quando se trata de romance, consegue perceber o que você e a Aizawa sentem um pelo outro. Fingir não notar quando você claramente sabe — isso não é típico de você, né?”

“Naomi...”

   O rosto de Kei endureceu de surpresa com a minha rara franqueza.

   Antigamente, eu nunca o teria pressionado tanto. Costumávamos manter uma distância confortável que funcionava bem para nós dois.

   Mas, por causa da intromissão de Kei, consegui me tornar namorado de Yui. Ele me mostrou que, quando alguém te empurra para frente, você pode cruzar limites que jamais conseguiria sozinho.

   Então, mantive meus olhos nele, recusando-me a desviar o olhar. Kei me deu um pequeno sorriso preocupado.

“...Ainda não consegui organizar tudo na minha cabeça.”

   Kei deu um sorriso frágil, um sorriso que parecia incerto e hesitante.

“...Kei.”

   Foi a primeira vez que vi aquele tipo de expressão nele, e fiquei sem palavras.

“Naomi, o que você acha do saxofone da Minato?”

“O que eu acho...? Quer dizer, eu não entendo muito de música, mas acho que ela ficou muito boa.”

   Respondi honestamente, mesmo que a pergunta tivesse surgido do nada.

   Na verdade, desde a primeira vez que a ouvi tocar no Blue Ocean ano passado, eu já achava a Minato incrível.

   E, neste último ano, ela só melhorou.

   Não sei os detalhes técnicos, mas é como se o som dela agora carregasse emoção — como um ser humano cantando. É o tipo de som que toca o coração.

     Como prova disso, cada vez mais clientes apareciam só para ouvir Minato se apresentar, e, sem nenhum preconceito, ela se saía bem até mesmo diante dos músicos profissionais que vinham tocar na loja.

     Eu já tinha visto profissionais convidando-a para se juntar às suas bandas, então imaginei que ela já estivesse entrando no domínio de alguém que poderia se tornar profissional.

“É, eu também acho.”

   Mesmo assim, Kei franziu as sobrancelhas e assentiu, preocupado.

   Apesar de sua amiga de infância — a quem ele apoiara por anos — estar agora prestes a realizar seu sonho de longa data, Kei olhou para o teto com um sorriso autodepreciativo.

“Lembra que eu disse antes que era contra a Minato se tornar musicista? Mas agora... eu sinceramente quero torcer por ela do fundo do meu coração.”

   Fiquei em silêncio e assenti enquanto Kei falava com uma risada.

   Ele me disse uma vez que seu pai era músico profissional e faleceu por excesso de trabalho antes que Kei tivesse idade suficiente para se lembrar.

   Mesmo sabendo, logicamente, que Minato era diferente de seu pai, a ideia de alguém tão importante quanto Minato seguir o mesmo caminho tornava difícil para ele dar sua bênção.

     Apesar de apoiá-la a ponto de trabalhar meio período só para comprar um saxofone caro para ela, ele não conseguia se convencer a apoiar o sonho dela.

Uma contradição.

   E, no entanto, agora, Kei estava dizendo isso claramente — ele queria apoiar o sonho dela.

“Eu vi o quanto ela trabalhou duro, mais do que qualquer outra pessoa. Então, quando ela me mostra o quanto cresceu, não tem como eu dizer não.”

“Então não tem problema, né?”

“É exatamente por isso.”

   Kei murmurou isso em voz baixa, mas clara.

“Ela pode ir muito mais longe. É por isso... que eu não quero que ela acabe presa por causa de alguém como eu.”

“Kei...”

   Sua voz animada de sempre parecia prestes a falhar, e até mesmo seu sorriso despreocupado parecia que ele estava prestes a chorar. Eu não conseguia dizer nada.

     Esse sorriso fraco, cheio de conflito, diz tudo.

   Ele não queria impedi-la, justamente porque queria apoiá-la.

   Ele queria que ela voasse livre, justamente porque era importante para ele.

   Ao ouvir esse desejo de Kei, eu não tinha ideia do que responder. Então eu também fiquei quieto.

   Percebendo meu silêncio, Kei me deu um pequeno sorriso suave, com as sobrancelhas franzidas.

“Minato... se eu dissesse a ela como me sinto, sei que ela diria sim. Ela provavelmente destruiria o próprio sonho só para ficar comigo. Esse é o tipo de pessoa que ela é — eu sei disso.”

   Ele olhou para baixo, murmurando as palavras como se estivesse se convencendo.

“Mas se ela fizesse isso... os sentimentos da Aizawa iriam...”

“Não. Não é isso, Naomi.”

   Kei balançou a cabeça, me interrompendo.

   Então, com firme determinação na voz, disse claramente.

“Se eu destruísse o sonho da Minato... sei que me arrependeria pelo resto da vida.”

“Kei...”

“É por isso que ainda não consigo entender as coisas na minha cabeça. Isso está me deixando louco.”

   Dito isso, Kei deu um sorriso forçado e soltou um longo suspiro.

   Ele estava pensando em Minato — tanto que não conseguia se forçar a reprimir os próprios sentimentos.

   Ambos importavam para ele, mas só conseguia escolher um.

   Provavelmente já havia se perguntado a mesma coisa inúmeras vezes, e agora parecia que até ele estava magoado por não conseguir encontrar uma resposta.

“...Desculpe por me intrometer como se fosse simples.”

“Não. Eu sei que você está apenas sendo sincero, Naomi. Obrigado.”

   Kei riu como sempre — leve e despreocupado — bem quando seu telefone vibrou com um vrrt.

   Ele o tirou do bolso e deu de ombros.

“Desculpe, a minha mãe está ligando. Ela anda me ensinando um monte de coisas ultimamente para que eu possa assumir a loja. Vou atender.”

   Ele se levantou, levantou a mão para mim e saiu da sala.

   A porta da frente se fechou com um estalo, e eu fiquei em um quarto repleto de silêncio.

     Só poder escolher entre você mesmo ou a outra pessoa, mas não ambos...

   Olhei para o teto, repetindo aquele olhar desconhecido e conflituoso no rosto de Kei, e murmurei para mim mesmo.

 

 

◆   ◆   ◆

 

 

“Imaginei que daria tudo certo, mas estou muito feliz que o Kei tenha conseguido a aprovação da mãe. Obrigada pela ajuda também, Yui.”

   Era início de tarde, um dia depois de Naomi e eu termos encerrado nosso período ajudando no Blue Ocean.

   Em uma mesa de um restaurante familiar onde Minato-san e eu estávamos sentadas juntas, ela soltou um suspiro de alívio, seu sorriso finalmente livre de tensão.

“Eu não fiz nada. É tudo graças a você, Minato-san, por se esforçar tanto para apoiar o Suzumori-san.”

“De jeito nenhum. Foram vocês, Yui e Katagiri, que me apoiaram.”

   Inclinei-me para a frente sobre a mesa, estreitando os olhos para ela.

“Minato-san? Você realmente acredita nisso sobre si mesma?”

   Minato-san recostou-se no sofá, baixou o olhar e semicerrou os olhos, sem jeito, como se tivesse sido pega de surpresa.

   Então, com o rosto corando, ela murmurou timidamente enquanto me lançava um olhar furtivo.

“...Você acha... que talvez eu tenha conseguido apoiar o Kei pelo menos um pouco?”

   Meu peito se apertou.

   Minato-san costuma ser tão calma e serena, então ver esse lado mais suave dela era adorável de se ver e, contudo, difícil de suportar.

   Pressionei a mão contra o peito para acalmar a doce dor e tomei um longo gole de chá gelado do balcão para me acalmar.

“Foi você quem nos pediu ajuda, Minato-san. Se não tivesse pedido, provavelmente teria sido muito mais difícil. E só você, que entende o Suzumori-san melhor do que ninguém, poderia tê-lo apoiado assim.”

“Mmh. Obrigada. Isso me deixa muito feliz.”

   Minato-san sorriu timidamente enquanto mexia na franja.

   E, mais uma vez, meu coração deu aquele apertozinho.

   O fato de poder ter esse lado da Minato-san só para mim... é insuportável — no melhor sentido. Escondo o rosto com as duas mãos e me contorço com a pressa.

   Mas, falando sério, acho que a Minato-san suavizou bastante.

   Ela ficou ainda melhor no saxofone — sem dúvida. E aprendeu a se comunicar bem com os outros músicos que vêm se apresentar no restaurante, sem entrar em conflito com eles como antes.

   Há até muitos clientes que vêm só para ouvi-la tocar. Uma das funcionárias me disse que tem recebido ofertas de saxofonista de várias pessoas.

   Sinceramente, não acho exagero dizer que ela se tornou uma saxofonista de verdade.

   É por isso que... respirei fundo nervosamente e olhei para a Minato-san.

“Então... Minato-san... você está planejando confessar seus sentimentos para o Suzumori-san?”

“Eh...? C-Confessar...? P-Por que eu...?”

   Os olhos de Minato-san se moveram freneticamente, mais do que eu já tinha visto antes.

   Mesmo assim, não recuei. Inclinei-me sobre a mesa e a encarei, acompanhando.

“O Suzumori-san começou a perseguir o sonho dele, e você já é uma saxofonista que consegue atrair o próprio público... então pensei que talvez agora fosse o momento perfeito para dizer a ele como se sente.”

“M-Mas não é como se eu estivesse atraindo multidões nem nada...! E eu não diria que já realizei meu sonho ou algo do tipo...! Então eu ainda sinto que... é muito cedo, sabe...?!”

   Com o rosto mais vermelho do que nunca, Minato-san mexeu seu café gelado freneticamente com o canudo.

“Então o que contaria como realizar o seu sonho?”

“O que contaria...? Hum... isso é… assim…”

“E se você continuar sendo teimosa assim e nunca contar a ele como se sente... pode mesmo dizer que não vai se arrepender?”

   Disse a ela as mesmas palavras que foi usado para me empurrar para frente. Minato-san estremeceu e pareceu aturdida.

“Eu... eu não quero me arrepender...”

   Ela murmurou fracamente, depois tomou um gole ruidoso de seu café gelado pelo canudo.

   Então ela apoiou os cotovelos na mesa, enterrou a cabeça nos braços, resmungou e finalmente olhou para cima, com os lábios firmemente pressionados.

“...Vou pensar seriamente nisso.”

   Ainda corando, ela assentiu levemente, os olhos cheios de uma resolução silenciosa.

“Eu sabia que estava apenas evitando e inventando desculpas para mim mesma...”

   Minato-san recostou-se no sofá, soltando uma risadinha envergonhada com um sorriso suave.

   Ao ver aquele sorriso relaxado, me senti aliviada — afinal, não tinha sido intromissão.

   Minato-san é realmente tão honesta e doce.

   O jeito como ela leva as coisas a sério e ouve tão abertamente... só me faz gostar dela ainda mais, pensei, quando sua expressão escureceu um pouco.

“Mas ultimamente, o Kei tem agido um pouco estranho.”

“Estranho?”

   Suas palavras inesperadas me fizeram piscar e inclinar a cabeça, confusa.

“Não consigo explicar direito... mas ele tem sido gentil.”

“Não é uma coisa boa?”

“Quer dizer, sim, é... mas... algo parece estranho. Não é típico do Kei.”

   Nem ela conseguia expressar em palavras. Inclinou a cabeça novamente e parou de falar, insegura.

   Mas pela expressão em seu rosto, eu podia dizer — Minato-san estava sentindo uma vaga e persistente ansiedade.

   Não sei o que o Suzumori-san está pensando... mas ainda assim—

   Estendi a mão e acariciei suavemente a cabeça de Minato-san.

“Está tudo bem. Você se apaixonou pelo Suzumori-san, afinal. Se você falar com ele honestamente, ele vai entender.”

“Yui...”

   Como Naomi sempre faz comigo, dei a Minato-san um sorriso direto e reconfortante. Seus olhos arregalados e redondos lentamente se suavizaram com um calor gentil.

     Não sei o que Suzumori-san está realmente pensando.

     Mas ele é o melhor amigo de Naomi. E por quem Minato-san se apaixonou.

   É por isso que acredito que vai ficar tudo bem. Sorri para ela, tentando dissipar sua ansiedade.

“Obrigada, Yui. Vou tentar falar com ele.”

“Quer dizer, estou apenas te citando neste momento.”

   Respondi com uma leve provocação, e nós duas caímos na gargalhada.

 

 

◆   ◆   ◆

 

 

(Minato)

“Oi, Kei.”

   Depois de me despedir de Yui no restaurante da família, parei no Blue Ocean para fazer uma manutenção no saxofone. Ao abrir a porta, vi Kei sentado na mesa dos fundos, e ele olhou para mim.

“Sessão de estudos com a Haruka-san?”

“Isso. Administrar uma loja é muito mais difícil do que eu imaginava.”

   Kei acenou com a mão e deu de ombros, claramente sentindo a pressão.

   Desde que foi decidido que Kei assumiria oficialmente a loja, o treinamento de Haruka-san se tornou ainda mais rigoroso.

   Claro, Kei entendia que era um amor duro, então ele se manteve positivo. Vê-lo se esforçar sem parar, sem reclamar honestamente, o fazia parecer bem legal.

     ...Ugh. Talvez eu esteja tendo pensado demais isso.

   Lembrando-me do que Yui disse, sorri e preparei um café para dar um descanso a Kei enquanto ele continuava lutando com o livro-razão da loja.

   Então fui para a sala dos funcionários e trouxe meu sax de volta, sentando-me em frente a Kei e iniciando minha rotina habitual de manutenção.

   Poli o corpo cuidadosamente com um pano especial, lubrifiquei as teclas e usei um limpador de orifícios para limpar cada parte com cuidado.

   Enquanto aplicava o óleo nas teclas, olhei para Kei.

   Ele percebeu meu olhar e olhou para mim, então rapidamente me virei e tentei disfarçar mudando de assunto.

“Hum, é bom, né? Que a Haruka-san te reconheceu?”

“Mas parece que eu passei por pouco.”

   Kei soltou um pequeno suspiro e deu uma risada preocupada com as minhas palavras.

   Sua reação sem graça me fez inclinar a cabeça, confusa.

“Você... não está feliz?”

“Claro que estou feliz. Mas fico pensando... será que foi tudo bem mesmo? Já que eu não fiz isso sozinho.”

   Kei olhou para o teto e riu secamente.

“Claro, o Katagiri e a Yui ajudaram bastante. Mas você se esforçou mais, não foi?”

   Tentando agir como se não fosse grande coisa, continuei polindo meu sax enquanto falava.

“Ninguém sabe o quanto você se esforçou melhor do que eu. Então, por favor... só não diga coisas assim na minha frente.”

“Minato...”

   Kei pareceu surpreso, arregalando os olhos ligeiramente.

   Eu ajudo nesta loja há muito tempo. É por isso que sei melhor do que ninguém o quanto Kei trabalhava duro quando Haruka-san não estava por perto.

   Mesmo os funcionários de longa data, Katagiri ou Yui, não teriam percebido como eu percebi.

     Sou a única que realmente entende o quanto Kei se esforçou.

   É por isso que sou a única que consegue reconhecer isso corretamente.

   Olhei de relance para Kei novamente. Seus olhos haviam se suavizado, não mais surpresos, apenas me observando silenciosamente.

   Me sentindo um pouco envergonhada pelo calor subindo ao meu rosto, continuei polindo ainda mais o sax já brilhante para disfarçar.

“Você realmente ficou boa no sax, Minato.”

“Hã?”

   Kei, recostando-se no sofá com as mãos atrás da cabeça, murmurou do nada.

“Eu não entendo nada de música. Mas acho que sim.”

   Seus olhos se estreitaram suavemente enquanto ele olhava para o teto, como se estivesse olhando para uma distância que não existia naquela sala.

“...Kei.”

   Foi ele quem me comprou este sax.

   Ele conhece meu jeito de tocar desde os dias em que eu nem conseguia tirar um som decente dele. Ele estava lá quando eu consegui tocar uma música inteira pela primeira vez. Quando subi no palco pela primeira vez. Quando finalmente fiz uma apresentação da qual me orgulhei. Kei é o único que conhece meu saxofone assim.

   Eu me esforcei tanto porque queria mostrar a Kei — que me deu um sonho — o meu melhor lado. Nada me deixa mais feliz do que ser reconhecida pela pessoa que amo.

   ...Ou pelo menos, é assim que deveria ser.

   Mas, de alguma forma, as palavras de Kei agora pareciam estranhamente distantes.

   Enquanto ele olhava para longe, não parecia que ele estava realmente olhando para mim. Um mal-estar inexplicável fervilhava no fundo do meu peito.

“Kei, o que está acontecendo? Você tem agido de forma estranha ultimamente...”

   O pequeno desconforto que eu vinha sentindo de repente pareceu muito maior. A ansiedade que eu não conseguia expressar em palavras apertou meu coração.

   Kei me deu um sorriso preocupado em resposta. Mas aquele sorriso... por algum motivo, parecia assustador. Como se eu pudesse quebrar se o tocasse. Envolvi meu corpo com força com os dois braços, como se para impedir que meu corpo tremesse.

“Não é nada. Eu só acho você incrível, só isso.”

   Mas então, Kei rapidamente voltou ao seu sorriso despreocupado de sempre, levantou-se do sofá, deu um tapinha no meu ombro e entrou na sala dos bastidores.

   Parecia que ele estava dizendo: “Não pergunte mais nada.” Como se estivesse me empurrando para longe. Eu não conseguia dizer uma palavra. Apenas observei suas costas enquanto ele desaparecia.

   O clique da porta se fechando atrás dele me deixou sozinha em um silêncio repentino que pareceu pesado demais.

“…Sério… Kei, seu idiota…”

   Sozinha na área, eu só conseguia sussurrar isso enquanto abraçava o saxofone — o presente da pessoa que amo — com força contra o peito, tentando afastar o desconforto crescente.

 

 

◇   ◇   ◇

 

 

   No dia seguinte.

“E aí, Minato. Você está atrasada hoje.”

“É, me atrasei um pouco enquanto me arrumava.”

   Kei me cumprimentou com seu tom de sempre quando entrei no Blue Ocean.

   Então me forcei a agir normalmente e respondi da mesma forma.

   No fim, não conversamos mais depois de ontem.

   Não importava o que eu perguntasse agora, ele provavelmente diria apenas “Não é nada.”

   E eu estava com medo — medo de fazê-lo parecer perturbado novamente como ontem. Esse medo ficou como uma névoa no meu peito o dia todo, até agora.

   Enquanto eu mordia o lábio e olhava para baixo, Kei inclinou a cabeça para mim.

“O que houve? Se apresse e se troque.”

“Ah, desculpe. Eu só estava meio distraída.”

   Enquanto eu me apressava para fingir um sorriso casual, a porta do restaurante se abriu com um clique.

   Me virando, vi um homem idoso, provavelmente na casa dos sessenta, com cabelos brancos.

   Ele vestia um terno cinza impecavelmente cortado e tinha um sorriso gentil no rosto.

“Desculpa. Abrimos às seis.”

“Peço desculpas. Mas não sou cliente.”

   O sorriso do homem se aprofundou, sua expressão calma e agradável. Ele enfiou a mão no paletó e tirou um cartão de visita.

   Quando o aceitei e olhei para o nome, meus olhos se arregalaram em descrença, e as palavras me escaparam.

“Você é o produtor-chefe... da Queen’s Record...?”

   O homem idoso — Yanagida-san — sorriu calorosamente enquanto eu o encarava em choque.

“Gostaria de leite ou açúcar no seu café...?”

“Não precisa. Não sou cliente, então não se incomode.”

   Enquanto Kei servia o café nervosamente, Yanagida-san levantou a mão gentilmente, recusando a oferta com sua atitude calma.

   Sentei-me em frente a ele na cabine e endireitei as costas, esperando que ele falasse.

   O nervosismo de Kei era compreensível.

   A Queen’s Record era uma gravadora de jazz lendária com mais de cinquenta anos de história.

   Era uma das gravadoras mais prestigiadas do país — qualquer pessoa envolvida com jazz conhecia o nome.

   E se esse homem era produtor e chefe da gravadora, então não havia dúvida de que ocupava uma posição extraordinária.

“Não fique tão tensa perto de um velho como eu. Eu só vim para me intrometer na vida de uma jovem, só isso.”

“Se intrometer...? O que você quer dizer exatamente?”

   Ainda confusa, perguntei. Yanagida-san assentiu firmemente.

   Ele tomou um gole lento de café, colocou a xícara de volta na mesa e olhou diretamente para mim.

“Vi a gravação de uma de suas apresentações ao vivo através de um amigo músico. Não consegui ficar parado depois disso — vim aqui para te recrutar.”

   A franqueza de suas palavras me surpreendeu. Demorei um pouco para reagir.

“Recrutar...? Você quer dizer... eu?”

“Sim, você. Aizawa Minato-kun.”

   Ele deu um sorriso largo e assentiu, como se fosse a coisa mais natural do mundo.

   Pelo canto da minha visão, vi Kei no balcão da cozinha, com os olhos arregalados de descrença, prendendo a respiração.

     Recrutar...? Espera... o que isso significa...?

   Eu entendi que ele estava oferecendo algo, mas o peso total da palavra ainda não havia me atingido. Eu não sabia como responder.

   Yanagida-san continuou, me incentivando gentilmente enquanto eu permanecia paralisada em confusão.

“Você ainda tem um longo caminho a percorrer como saxofonista. Mas você tem presença. E você é bem jovem. Na minha idade, nada me empolga mais do que cultivar talentos como o seu. É por isso que estou aqui — para persuadi-la a se tornar uma de nossos músicos.”

     Eu... uma música da Queen’s Record...?

   As palavras não pareciam reais. Prendi a respiração enquanto o homem idoso à minha frente mantinha o olhar fixo no meu.

   Havia força naqueles olhos fundos por trás das rugas — um peso em suas palavras.

   Apesar de sua aparência elegante, havia uma vitalidade nele que desafiava sua idade.

     —Este homem é autêntico.

   Mesmo com a gravidade de sua presença me dominando, senti algo se agitar no fundo do meu peito.

“Para ajudar seu talento a florescer, você precisa experimentar o mundo enquanto ainda é jovem. E eu posso proporcionar o ambiente para que isso aconteça.”

“O mundo...?”

“Sim, o mundo é vasto. Não importa quanto tempo leve, eu lhe darei a chance de experimentar jazz do outro lado do mundo.”

   Sua promessa casual tocou algo em meu coração. Sem pensar, soltei uma pergunta.

“...Isso significa que eu teria que morar no exterior?”

“Exatamente. Pode levar dez anos — talvez até a vida inteira — para se tornar uma música de jazz de primeira linha. Mas cobriremos tudo durante esse tempo. Tudo o que você precisa fazer é se concentrar no seu saxofone.”

   A maneira como ele disse isso, como se fosse a coisa mais óbvia do mundo, me deixou sem fôlego.

     Morar em um país estrangeiro, onde eu nem falo a língua... sobreviver apenas com o saxofone.

   Claro, eu sonhava em viver da música.

   Eu sonhava em tocar sax para viver, como os músicos que me emocionaram quando eu era pequena.

   Mas eu nunca imaginei uma vida que não envolvesse o Blue Ocean — deixar este lugar nunca me passou pela cabeça.

   Enquanto meus pensamentos congelavam de pura sobrecarga, Yanagida-san sorriu e se levantou.

“Eu nunca faria nada para magoá-la ou preocupá-la. Espero ouvir uma boa resposta.”

   Deixando essas palavras para trás, ele saiu do Blue Ocean sem nem olhar para trás.

   Quando o suave toque da porta desapareceu, o silêncio dentro da loja se instalou como se um sonho tivesse acabado.

   Olhei para o cartão de visita deixado sobre a mesa mais uma vez.

     Deixar o Blue Ocean e viver como saxofonista, sozinha...

   Eu não fazia ideia se tinha talento para algo assim.

   Mas se eu respondesse ao contato listado naquele cartão, isso abriria um futuro que eu jamais poderia imaginar.

“...Minato.”

   A voz de Kei me trouxe de volta à realidade. Em algum momento, ele veio parar ao lado da cabine.

“B-Bem surpreendente, né? Quer dizer, ter alguém tão incrível aparecendo de repente e começando a falar sobre ‘o mundo’ e tudo mais...!”

   Forcei um sorriso enquanto olhava para cima, tentando quebrar o ar rígido e congelado ao nosso redor.

“...Kei?”

   Mas Kei não estava sorrindo.

   Ele estava franzindo a testa, o rosto tenso, como se estivesse prestes a dizer algo — e eu soube imediatamente.

     —Não.

   A sensação me atingiu como um reflexo.

   O que quer que Kei estivesse prestes a dizer... não era algo que eu queria ouvir.

   Eu não queria que ele dissesse.

   Mas eu não conseguia me mexer.

   A dor em seu rosto... eu nunca tinha visto antes. Eu não conseguia me obrigar a falar.

“Minato...”

   Kei estreitou os olhos gentilmente enquanto me olhava.

   Minha garganta secou.

   Suor frio se formou na minha pele e meus lábios começaram a tremer.

     —Não.

     —Por favor... não diga isso.

   Eu queria gritar bem alto naquele momento. Mas meu corpo não respondia.

   Mesmo não querendo ouvir aquelas palavras dele... eu não conseguia impedi-las de vir.

“Não... por favor... não...”

   Minha voz saiu como um sussurro áspero, quase inaudível.

   Mas eu sabia... uma voz tão baixa não pararia Kei.

   Seus lábios se moviam lentamente, ainda com aquele sorriso suave e gentil.

 

──Você deveria ir.”

 

   Com os olhos mais calorosos e afetuosos que eu já vi, e a voz mais solitária que eu já ouvi, ele me disse para ir.

   Ele me disse, claro como o dia, para deixar este lugar.

“Kei... por quê...?”

   Mordi o lábio e olhei para baixo, como se quisesse esconder meu rosto dele.

   Minhas mãos se apertaram com tanta força que doeu.

     Eu sabia.

     Eu sabia que ele diria isso.

   Mas Kei não disse mais nada.

   Ele apenas ficou ao meu lado, olhando para baixo em silêncio.

“...Se eu for... podemos nem saber quando nos veremos novamente, sabe...?”

“Sim. Mesmo assim, você deveria ir.”

   Sua voz era firme. Inabalável.

   Aquelas palavras, tão frias e definitivas, caíram como chumbo em meu peito, pesando tudo.

“Eu sei melhor do que ninguém o quanto você trabalhou duro. Eu te observei esse tempo todo. É por isso que você não pode ficar presa aqui. Você não pode acabar como meu pai.”

   Ele já tinha me dito isso antes.

   Ele não queria que eu me tornasse como seu pai.

   É por isso que ele não conseguia sustentar um sonho como se tornar musicista.

     —Mas mesmo assim, naquele dia, você pegou minha mão.

     —Mesmo assim, naquele dia, você me deu aquele saxofone.

   Minha visão ficou turva.

   Um nó se formou na minha garganta enquanto eu mordia com força.

   Meu peito doía tanto que parecia que ia se rasgar — eu não conseguia nem respirar.

   E, no entanto, Kei não disse mais nada.

   Ele nem estendeu a mão, mesmo estando ali.

   Pressionei as duas mãos com força contra o peito, como se para me impedir de gritar.

“...Você sabe como me sinto... e ainda assim...”

“...Desculpe.”

“Você... me odeia...?”

“...Não pergunte algo tão estúpido.”

   Mesmo enquanto eu forçava as palavras a saírem, elas não o alcançavam.

   A voz de Kei, que costumava soar tão próxima, agora parecia tão distante.

     —Então era nisso que ele estava pensando o tempo todo.

     —Ele sabia como eu me sentia e, mesmo assim, escolheu me afastar.

   Lutando contra as lágrimas que brotavam em meus olhos, de alguma forma levantei a cabeça para olhar para Kei.

   Suas sobrancelhas estavam franzidas em uma expressão de dor, e seu rosto parecia prestes a chorar... mas ele ainda me dava aquele mesmo sorriso gentil.

“Por que você está sorrindo assim...?! Por que você está me olhando com esses olhos...?! Por quê...?!”

   Aquele sorriso insuportavelmente gentil só fez doer mais. Muito mais.

   Eu não me importava com o quão distorcido meu rosto parecia. Lancei minha voz para ele mesmo assim.

“...Eu só quero te ver em um palco maior algum dia.”

“Mesmo que... seja muito longe para eu te alcançar?”

“...Sim.”

“Mesmo que nunca mais possamos nos encontrar...?”

“...Sim.”

“É... assim mesmo que você se sente, Kei...?”

“...Sim. É assim mesmo.”

   Kei cerrou os punhos com força ao lado do corpo.

   E ainda assim... aquele sorriso gentil nunca se desfez.

   Meu corpo ficou mole, meu olhar caindo com toda a força.

“...Entendo... então...”

   Sussurrei essas palavras, por pouco mais de um suspiro, e apertei meus punhos com mais força do que antes.

   Então, lentamente me levantei, fiquei na frente de Kei — e o encarei diretamente.

 

“CERRE OS DENTES, DROOOOOGAAAAAAAAAAAAAAA────!!!”

“Huh?”

 

   Com um grito estridente, dei um tapa o mais forte que pude no rosto de Kei.

   Seu corpo foi lançado para trás, derrubando um banco do bar enquanto ele caía no chão, amontoado.

[Del: Lapada seca, essa mina é loka. Enfim, voltando para o emocional. / Kura: Ahahahahah Vai trazer o jovem a realidade de novo.]

"O qu — Quê...? M-Minato...?!”

   Kei segurou a bochecha esquerda onde eu o acertei, com os olhos arregalados e piscando como se não conseguisse acreditar no que tinha acabado de acontecer.

     — Imperdoável.

     Imperdoável! Imperdoável! IMPERDOÁVEL!!

   Só de ver o rosto dele novamente minha raiva explodia como um incêndio.

   Uma raiva diferente de tudo que eu já havia sentido me invadiu — selvagem, incontrolável e impossível de conter.

“Você é burro ou o quê?! Há quantos anos você acha que eu estou bem ao seu lado, te observando!? Suas mentirinhas idiotas são tão óbvias que chegam a ser patéticas!!”

“E-Espera, Minato...!? Calma! Se acalme, okay!?”

   Marchei direto até o Kei caído. Ele estendeu a mão como se fosse me impedir, mas eu a afastei com toda a minha força.

   Então, subi em cima dele, agarrei sua camisa e puxei seu rosto para perto.

“Eu consigo sonhar porque você está aqui! Eu consigo continuar olhando para frente porque você está ao meu lado! Por que você não consegue entender isso!?”

“...Minato.”

   Kei me encarou, sem fôlego, os olhos arregalados de descrença.

   Lágrimas escorriam pelo meu rosto, caindo uma após a outra.

   Mesmo enquanto ele vacilava em choque, eu continuava jogando cada pedaço do meu coração nele, deixando tudo sair.

“Se você não estiver lá, não tem como eu ficar de pé sozinha...! Eu... eu preciso que você esteja lá por mim...!”

   Minha voz falhou por causa das lágrimas.

   O fogo da minha raiva se dissolveu em soluços enquanto tudo se derramava.

   Todo aquele amor transbordante não tinha para onde ir. Ele se contorcia dentro de mim, esmagando meu peito até eu não conseguir respirar.

“Se você não estiver ao meu lado, Kei... não tem como eu tocar saxofone...”

   Meu aperto em sua camisa enfraqueceu e eu deixei minha testa cair em seu peito, agarrando-me a ele.

   Eu soluçava, impotente e miseravelmente, chamando seu nome repetidamente enquanto seu braço gentilmente me envolvia por trás.

“...Desculpe. Eu não queria te fazer chorar...”

“Seu idiota...! Seu grande idiota...! Kei, seu idiota patético..!”

   Como uma criança, chorei com todas as forças — e Kei apenas sorriu e me abraçou com um carinho silencioso.

   Enterrei meu rosto em seu peito e o abracei, finalmente me permitindo chorar o quanto eu precisasse.

     É... Eu realmente não consigo ficar sem esse calor.

   Consegui seguir em frente com meu saxofone porque Kei estava sempre sorrindo para mim.

   Se ele não estivesse lá para ouvir, tenho certeza de que meu saxofone perderia toda a cor.

   Nunca houve nenhuma decisão a ser tomada.

   Eu nunca poderia deixar este lugar. Eu nunca poderia deixar o lado de Kei.

     Porque meu saxofone, minha música... é o meu amor por ele.

   Enquanto sua gentil mão acariciava minhas costas, aquele calor me deu certeza — e um calor suave floresceu no fundo do meu peito.

   Então Kei, com o mesmo rosto marcado pelas lágrimas, levou a mão à minha bochecha e gentilmente levantou minha cabeça.

“Minato...”

   O sorriso suave e gentil que eu observei por dez anos.

   O gentil Kei por quem eu havia me apaixonado, chamando meu nome.

   Agora, sem desviar o olhar, ele finalmente me encarou.

“Eu te amo, Minato. Então não vá a lugar nenhum. Fique ao meu lado.”

“...Você finalmente disse... Demorou bastante, seu idiota...”

   No momento em que ouvi, chorei novamente.

   Mas, desta vez, era um tipo diferente de lágrima — uma alegria quente e transbordante escorrendo pelo meu rosto.

   Tentei sorrir, mas saiu tudo errado, desajeitado e constrangedor.

   Os olhos de Kei se suavizaram ainda mais enquanto ele enxugava minhas lágrimas delicadamente com a ponta dos dedos.

“Eu te amo desde o dia em que nos conhecemos.”

“Eu sei. Eu te amo desde o dia em que nos conhecemos também.”

   E com essas palavras, nós dois sorrimos suavemente, sem nem tentar.

     Sim. Eu realmente amo o Kei. Eu o amo muito.

   Banhada naquele calor suave, fechei os olhos e inclinei o rosto na direção de Kei, a apenas alguns centímetros de distância.

   Para que os sentimentos que eu nunca conseguiria expressar em voz alta o alcançassem. Para que eu pudesse confirmar o que tanto ansiava por ouvir.

   Estávamos tão próximos que eu conseguia sentir sua respiração.

   E então, com seus braços ainda em volta de mim, a pessoa que eu amava pressionou seus lábios nos meus — suave e docemente, respondendo ao meu coração.

[Kura: Finalmente!]

     —Ah, estou tão feliz que parece que vou morrer.

     Vou gravar este momento no meu coração para nunca o esquecer.

     E vou despejar esta felicidade no meu saxofone, repetidamente, para poder continuar a dizer ao Kei como me sinto.

   Enquanto os nossos lábios se separavam lentamente, encostamos as testas e partilhamos o calor um do outro com todo o nosso corpo, sorrindo suavemente.

“Serei eu a te fazer feliz, Minato.”

“Você é tão idiota. Você já faz isso.”

   Sussurrando aquelas doces palavras nos ouvidos um do outro...

   Beijamo-nos mais uma vez no Oceano Azul, o lugar onde a nossa felicidade começou, e abraçámo-nos com força — com tanta força.

 

 

◇   ◇   ◇

 

 

   No dia seguinte.

“Ahh, que lindo. Foi assim que se sentiu quando chegou a minha vez, Minato-san?”

   Depois de ouvir o relato completo, Yui assentiu entusiasmada, com o rosto todo brilhando de felicidade.

   Então é isso que querem dizer com um sorriso radiante de Ebisu, pensei enquanto a observava sorrindo tão contente. Falar sobre isso assim era, honestamente, tão constrangedor que eu não conseguia parar de resmungar.

   Como Yui tinha sido quem me deu aquele empurrãozinho final, eu sabia que precisava contar a ela pessoalmente que Kei e eu tínhamos começado oficialmente a namorar. Então, antes de ir trabalhar naquele dia, entrei em contato com ela e visitei sua casa.

   Quanto a Katagiri... Pedi a Kei que contasse a notícia. Dizer eu mesma teria sido muito constrangedor.

“Obrigada, Yui. Estou muito feliz por você ser minha amiga.”

“Foi você quem trabalhou para isso, Minato-san. Obrigada por compartilhar uma história tão linda.”

   Yui juntou as mãos à frente do corpo como se estivesse rezando, e nós duas soltamos risadinhas leves.

“Então, você está recusando a oferta de recrutamento?”

“Sim. Já entrei em contato com eles para recusar. Mas mesmo assim, eles disseram que ainda apoiariam minhas atividades no Japão.”

“Aquele produtor está completamente vidrado em você, hein?”

“Acho que tenho sorte, sim.”

   Dei de ombros com um sorriso irônico.

   Não sei se realmente tenho talento suficiente para merecer todo esse apoio, mas se alguém é tão vidrado por mim, vou aceitar a ajuda com gratidão.

   Contanto que a condição seja que eu não precise sair do Blue Ocean, não tenho do que reclamar. E se eu conseguir construir um nome como saxofonista, isso ajudará o lounge — não, ajudará Kei também.

   Agora que meu objetivo estava claro, o caminho a seguir parecia aberto.

     Então, vou mirar ainda mais alto. Vou mostrar à pessoa que amo o quão incrível eu posso ser.

   Só de pensar nisso, uma energia vem do fundo do meu peito me enche.

“Já que é uma ocasião especial, por que não fazemos um encontro duplo algum dia? Ensina a gente a agir como casais de verdade, senpai.”

“Não vou mais cair nas suas provocações, sabia?”

“Ah, senpai — você e o Katagiri já fizeram amor?”

[Del: O_O Véi, não sei mais o que mais me surpreende, este comentário direto, ou o fato de que o Google Tradutor entendeu o significado oculto de “done it yet” e traduziu ‘certo’. / Kura: Rapaz, me pegou de jeito kakakaka, não esperava essa palavra. Mas bem, troquei caso tenha crianças, e… Os adultos já devem saber o quão diretamente a Minato disse isso… De um jeito bem brasileiro kkkkk]

“N-NÃO!! Por favor, pare de dizer esse tipo de coisa!!”

   O rosto de Yui ficou vermelho como uma beterraba num piscar de olhos, e eu caí na gargalhada.

   Ela realmente é o tipo de amiga adorável que é divertida demais para ser provocada. Absorvendo a alegria de momentos como esse, respirei fundo.

“Estar com a pessoa que você ama... é realmente felicidade, né?”

“Sim. Eu também acho.”

   Corando juntas, rimos baixinho — cada uma de nós saboreando a felicidade que florescia em nossos corações.

 

 

Traduzido por Moonlight Valley

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