Volume 3
Capítulo 1: Espíritos Afins são um Incômodo
No dia seguinte a tudo o que aconteceu em Chinatown.
Era o início de uma nova semana letiva e, durante o intervalo do almoço na sala de aula, eu estava mordendo um sanduíche de costeleta de porco do mercado da escola quando meu amigo Kei Suzumori, que estava sentado à minha frente, se inclinou sobre a mesa.
“E aí? Como foi o festival de fogos de artifício?”
Com um sorriso alegre e sem fazer esforço para esconder sua curiosidade intrometida, ele me perguntou diretamente.
...Então finalmente chegou, hein.
Yui, normalmente sentada ao meu lado, tinha saído para almoçar, então Kei provavelmente imaginou que agora era sua chance de perguntar.
Bem, considerando que foi ele quem me deu os ingressos para os fogos de artifício e me disse para levar Yui, eu achei que devia um relatório completo a ele.
E não eram quaisquer ingressos — eram para os assentos especiais reservados com a melhor vista dos fogos de artifício.
Graças a isso, consegui ir a um encontro com a Yui no festival, a vi com um yukata ridiculamente lindo e até percebi que estava apaixonado pela primeira vez na vida.
Parece que ele está curtindo o quanto eu tenho estado perturbado ultimamente por causa de algo tão estranho para mim quanto romance, mas ele também me deu muitos conselhos úteis. Então, fiz um breve resumo do que aconteceu naquele dia.
Claro, deixei de fora algumas das partes mais constrangedoras.
“Entendo. Então você se divertiu, afinal?”
“...Bem, sim. Graças a você.”
“Naomi, o cara que não liga para romance, tendo um momento de romance juvenil de verdade... cara, estou realmente comovido.”
Rindo como sempre, Kei assentiu satisfeito.
Somos amigos desde que entramos no ensino médio, então já faz mais de um ano.
Ainda assim, é verdade — nunca tínhamos conversado sobre nada que se aproximasse de romance antes... o que tornava tudo incrivelmente constrangedor.
Não é como se estar apaixonado fosse algo ruim ou algo para se envergonhar. Tenho orgulho do que sinto por Yui e posso dizer sem hesitar que gosto dela.
Mas isso não torna a situação menos constrangedora.
Tentando esconder o quão desconfortável eu estava, franzi a testa e tomei um longo gole do café com leite que comprei junto com meu sanduíche.
“Mas eae? O que aconteceu depois daquele prêmio na rifa?”
“Andamos por Chinatown comendo dim sum e depois fomos para casa.”
“Não, quero dizer, depois disso.”
“Eu quis dizer foi isso, literalmente.”
“Hã? Você está falando sério…?”
Enquanto eu me virava desajeitadamente e tomava um gole do café com leite, Kei fez uma careta como se de repente tivesse descoberto tudo e caiu na gargalhada.
Foi exatamente o que eu disse — não falamos nada sobre a viagem, apenas passeamos por Chinatown e comemos comida de rua até voltarmos para casa.
Yui e eu meio que interrompemos a conversa, dizendo que falaríamos sobre isso mais tarde. Mas, enquanto caminhávamos pela rua principal, comendo dim sum em barracas de comida, acabamos voltando ao nosso ritmo habitual e apenas nos divertindo.
Enquanto passeávamos por Chinatown depois, na viagem de trem para casa, mesmo depois de voltarmos e jantarmos juntos — tentei tocar no assunto algumas vezes.
Mas, a cada vez, eu já conseguia ver o silêncio que se instalaria entre nós novamente, nenhum de nós sabendo o que dizer. Então, no fim, nunca toquei no assunto.
Tenho quase certeza de que Yui sentia o mesmo. Ela também não tocou no assunto.
Compreendendo tudo isso, Kei soltou um breve suspiro e deu de ombros.
“Então, por quanto tempo você planeja evitar o assunto?”
“Por quanto tempo...?”
Sua pergunta direta acertou em cheio, e eu não tive nada a dizer. Apenas desviei o olhar novamente.
Quanto mais eu deixo para lá, mais difícil fica tocar no assunto. Eu sei disso. E o prazo para reservar a viagem também está se aproximando.
Se fosse só sobre o que eu quero, eu nem precisaria pensar — eu já sei que quero ir.
Mas mesmo depois de pensar a noite toda, ainda não consegui pensar em um motivo bom o suficiente para convidar Yui para uma viagem, considerando que ainda nem estamos namorando.
“Se fosse só sobre como eu me sinto, seria simples...”
Foi tudo o que consegui dizer, virando os olhos para a janela.
Lá fora, o tempo estava claro e ensolarado — típico de verão. Nuvens altas flutuavam preguiçosamente no céu azul.
À luz do sol, a pulseira de corrente combinando no meu pulso esquerdo — a mesma que Yui usa — brilhou por um instante.
Naquela noite, no festival de fogos de artifício, eu percebi que estava apaixonado por Yui.
Quero estar mais com ela. Quero saber mais sobre ela.
Quero ir a lugares com ela e vê-la sorrindo de alegria. Claro, quero fazer essa viagem com ela também.
...Mas só porque percebi que estou apaixonado não significa que eu deva empurrar esses sentimentos para ela.
Eu me apaixonei pela Yui como ela é agora — do jeito que ela é.
É por isso que, se eu deixasse meus sentimentos arrastarem-na, estaria tirando de mim o que faz Yui ser ela mesma. Eu poderia acabar prejudicando a confiança que ela depositou em mim quando disse que eu era especial, e talvez até destruir o lugar que ela encontrou para si aqui.
...Eu sei que sou um saco de lidar, até para mim mesmo.
Mas depois de pensar a noite toda, essa foi a conclusão honesta a que cheguei.
“Bem, no mínimo, colocar a outra pessoa em primeiro lugar é totalmente o seu estilo, Naomi.”
Kei entrelaçou os dedos atrás da cabeça e olhou para mim com um sorriso casual.
“Mas talvez a Villiers-san sinta o mesmo — que, por você ser alguém especial para ela, ela prefira que você seja honesto e converse com ela sobre isso?”
Sua risada descontraída acompanhou outro comentário afiado e, mais uma vez, estremeci diante da precisão.
Claro, meu relacionamento com Yui evoluiu muito desde o começo.
Quando éramos mais distantes, eu podia justificar captar os sentimentos dela discretamente, sem dizer nada — como uma espécie de gesto de consideração.
Mas Kei está certo. Agora construímos o tipo de confiança que nos permite conversar sobre as coisas adequadamente, não importa o que seja, e pensar em tudo juntos.
Se os papéis fossem invertidos — se Yui estivesse se preocupando com algo sozinha — eu definitivamente me perguntaria por que ela não falou comigo.
“Você é mesmo um cara legal, Kei.”
Assim como antes, sua lógica direta me deixou sem nada a dizer em troca.
Eu me senti genuinamente grato por ter um amigo como ele, sempre me dando os conselhos certos quando preciso.
“Vou tentar falar com a Yui de novo. De verdade, desta vez.”
“Isso, é assim mesmo.”
Bati levemente meu punho contra o punho erguido de Kei, e acenamos um para o outro com pequenos sorrisos cúmplices.
O sorriso despreocupado de Kei tinha um conforto caloroso e familiar. Eu realmente tinha sorte de ter um amigo como ele.
“Ainda não consigo acreditar que estou tendo uma conversa sobre amor com você, Naomi.”
“Sinceramente, sou eu quem está mais surpreso aqui.”
Deixei escapar um suspiro e dei de ombros, enquanto Kei explodia em outra risada divertida.
Agora que minha mente finalmente estava clara, a vista pela janela parecia mais brilhante e vívida do que antes. Estreitei os olhos contra a luz e respirei fundo lentamente.
◆ ◆ ◆
“Então, desta vez... você está dizendo que gosta do Katagiri?”
“...Sim. Hum... é isso mesmo, sim...”
Atrás do prédio da escola, em um local tranquilo, sem ninguém por perto — apenas alguns degraus abaixo, em frente a uma saída de emergência —
Eu tinha vindo conversar com Minato-san, que sempre passa seus intervalos de almoço neste pequeno refúgio favorito.
Como amiga, ela ouviu minhas preocupações sobre o encontro com o Naomi e até me ajudou com o aluguel do yukata. Então, senti que precisava contar a ela da forma correta, com minhas próprias palavras.

Mas como sou completamente ignorante quando se trata de romance, não tinha a mínima ideia de por onde começar. No final das contas, não tive escolha a não ser explicar tudo — inclusive meus sentimentos — em detalhes. Com o rosto vermelho, mantive a cabeça baixa enquanto assentia em resposta à pergunta de Minato-san.
“Bem, pelo menos agora você pode ter confiança em como se sente. Não faz muito tempo, você nem sabia dizer se amava dele.”
“Não é que eu esteja confiante agora, é só que... acho que meio que percebi. Ou talvez, olhando para trás, eu já estivesse apaixonada por ele desde antes...”
Tropecei nas palavras, tentando me explicar, com o rosto ainda abatido enquanto me desviava do olhar alegre de Minato-san enquanto ela mordia seu chocolate favorito e se inclinava, claramente se divertindo.
Quando conversei com Minato-san aqui, o que não faz muito tempo, eu realmente não conseguia ter confiança em como eu me sentia.
Eu não conseguia me convencer a chamar a forma como eu dependia de Naomi de algo como “amor”.
Claro, Naomi é muito mais do que apenas um “amigo” para mim.
Ele é alguém gentil o suficiente para ficar ao meu lado e me apoiar sem pedir nada em troca, mesmo quando eu não posso fazer nada por mim mesma.
E, no entanto, mesmo sem nunca ter retribuído nada a ele, eu não queria chamar esse sentimento de “amor” só para me dar conveniência. Eu não conseguia.
...Mesmo tendo acabado de dizer isso à Minato-san.
A verdade era que eu já tinha me apaixonado.
Sob os fogos de artifício explodindo, eu percebi o que sentia por dentro.
Mesmo que eu sempre fosse a única a depender dele, mesmo que eu não tivesse retribuído nada... Não importava as desculpas que eu tentasse inventar, como garota, eu tinha me apaixonado por Naomi.
E por causa disso, eu não podia simplesmente fingir que não me sentia mais assim.
“...Sim. Eu amo o Naomi... demais.”
Não consegui esconder o sorriso que se abriu enquanto sussurrava essas palavras. Minato-san, sentada ao meu lado, virou o rosto, com as bochechas coradas.
Então, bebendo ruidosamente sua caixa de leite, ela agitou a frente da blusa como se quisesse se acalmar.
“S-sabe, eu acho esse tipo de honestidade bonitinho. Sério.”
Depois de respirar fundo e soltar um pequeno “hmm!” ela virou o rosto ainda avermelhado para mim.
“Então, Yui... você vai nessa viagem?”
Seus olhos, sempre determinados e serenos, agora brilhavam com uma pitada de curiosidade juvenil enquanto ela se inclinava, me observando.
“Bem... eu ainda não falei com ele sobre isso...” Mordi o lábio, incapaz de responder.
Eu sei que não posso deixar as coisas vagas para sempre.
Mas toda vez que me lembrava da expressão no rosto de Naomi quando ele lutava para encontrar uma resposta, eu também não conseguia me obrigar a dizer nada.
Há pouco, eu tinha dito claramente: eu amo o Naomi.
Não tenho mais dúvidas. Quero passar mais tempo com ele. Quero sair com ele em mais encontros, em mais lugares, compartilhar mais memórias.
Então, é claro, eu também quero fazer essa viagem.
Mas, no nosso relacionamento atual, tudo o que eu estaria fazendo seria pressioná-lo. Mesmo depois de pensar em tudo isso ontem à noite, não consegui inventar uma única desculpa para convidar Naomi sem dificultar as coisas para ele.
“...Meus sentimentos por si só não bastam para que isso seja aceitável.”
Forcei um sorriso e respondi o mais animadamente que consegui.
A luz do sol filtrada pelas árvores que ladeavam o terreno da escola refletiu na pulseira de corrente combinando no meu pulso esquerdo — igual à do Naomi.
O Naomi é gentil.
Tão gentil que ele desfez os nós do meu coração com delicadeza e paciência.
E é por isso que não quero sobrecarregá-lo com meus sentimentos. Não quero dificultar as coisas para ele.
Naomi me disse que eu era especial para ele.
Como ele é alguém que confia tanto em mim, não quero me aproveitar dessa gentileza com desejos egoístas. Não posso. Não vou.
...Sei que sou uma pessoa complicada, até para mim mesma...
Mas esses eram meus sentimentos sinceros, e de alguma forma consegui dar um sorriso pequeno e forçado para Minato-san.
“Isso não é típico de você.”
“...Huh?”
Minato-san falou, com o olhar fixo em mim.
“Não sei exatamente que tipo de relacionamento você e o Katagiri têm, mas esse sorriso falso não combina com você.”
“Minato-san...”
“Você já sabe como se sente, não é?”
Suas palavras diretas e sem filtro — tão típicas dela — perfuraram meu coração.
Não, foi justamente por serem tão diretas que cortaram meu sorriso falso, me deixando sem palavras.
“A pessoa por quem você se apaixonou... ela não é o tipo de pessoa que ficaria feliz em ter seus verdadeiros sentimentos escondidos dela, mesmo que fosse para poupá-la, certo?”
Minato-san inclinou a cabeça levemente e estreitou os olhos em um sorriso gentil.
À primeira vista, ela poderia parecer um pouco rude ou indiferente, mas a gentileza de Minato-san era delicada e sincera.
Não do tipo superficial, mas do tipo que realmente se importava comigo.
[Kura: Todos precisam do amigo que dá um tapa na cara, de sinceridade é claro.]
E atraída por aquele calor, me vi sorrindo naturalmente também.
“Você tem razão. A pessoa por quem me apaixonei não é assim.”
Neguei com a cabeça levemente e dei uma resposta clara e firme. Minato-san assentiu de volta com um pequeno suspiro de satisfação.
“Desculpe, eu tenho uma língua afiada.”
“De jeito nenhum. Você é uma amiga de quem tenho orgulho — mais do que mereço, na verdade.”
Envergonhada, Minato-san enfiou o resto do seu chocolate na boca, tirou uma torta de maçã da sacola de papel da loja da escola e deu uma mordida.
Ela é um ano mais nova, mas madura e alguém que eu realmente respeito.
Talvez eu não seja confiável, mas entre Naomi e Minato-san, me sinto muito sortuda por ter pessoas tão gentis na minha vida.
“Vou falar com o Naomi. De verdade desta vez. Assim não me arrependerei.”
Acenei com a cabeça enquanto repetia o conselho que Minato-san me deu uma vez, e ela me deu um sorriso gentil em troca.
“Você fica melhor quando sorri honestamente assim, Yui. Sem dúvida.”
“O Naomi disse a mesma coisa para mim também.”
“Ora, ora... você não está cheia de frazinhas românticas?”
Inflando o peito com um pouco de orgulho, respondi, e Minato-san deu uma risada baixa, com os ombros tremendo.
Acabei rindo também, e sob a forte luz do sol de verão que se filtrava pelas árvores atrás do prédio da escola, rimos juntas em um lugar onde não havia ninguém por perto.
◆ ◆ ◆
E naquela noite, perto da hora do jantar—
“Estou entrando, Naomi!”
Antes que eu pudesse responder “Está aberto,” ouvi o som da porta da frente se abrindo. Então veio o arrastar silencioso de Yui tirando os sapatos e colocando-os cuidadosamente.
Hoje, parecia que ela foi para casa primeiro para se trocar. Agora com roupas casuais, Yui seguiu seu nariz até a cozinha, farejando o ar como se estivesse sendo atraída pelo cheiro.
Ela espiou o que eu estava fazendo, respirou fundo o aroma rico do molho de tomate fervente e então abriu um sorriso radiante e encantado. “Que cheiro bom! Vamos comer bolonhesa hoje?”
“Sim. Os tomates estão em época e pareciam ótimos.”
“Eba, estou bem animada!”
Assentindo alegremente, Yui cantarolou uma pequena “música bolonhesa” improvisada enquanto pegava uma tigela grande para servir a massa e dois pratos pequenos para nós.
Depois, dois garfos e uma colher — já que Yui sempre usa colher para comer massa.
Movendo-se com facilidade e prática, ela começou a arrumar a mesa na minha cozinha como se fosse dela.
“Ah... desculpe, esqueci.”
Murmurei baixinho, e Yui inclinou a cabeça curiosamente enquanto me olhava.
“Bem-vinda ao lar, Yui.”
Seus grandes olhos azuis piscaram arregalados de surpresa por um momento antes de se suavizarem com um sorriso. Ela assentiu levemente e de forma adorável.
“Cheguei, Naomi.”
[Del: Tadaima. | Kura: Okaeri.]
Ela respondeu com uma voz um pouco tímida, apenas um leve rubor tingindo suas bochechas.
Yui é realmente tão fofa...
Essa honestidade dela é absolutamente irresistível.
Ela pode parecer uma beleza tranquila e serena quando está em silêncio, mas, na verdade, suas expressões mudam com muita facilidade — e são aqueles sorrisos abertos e despreocupados que são fofos demais para lidar.
Meu rosto quase derreteu de tão adorável que ela era, e rapidamente inclinei a cabeça para trás para olhar para o teto, tentando disfarçar.
Alheia, Yui mediu duas porções de macarrão do recipiente embaixo do balcão.
...Se vou falar sobre a viagem, é melhor fazer isso agora.
Enquanto eu mexia o molho à bolonhesa com uma espátula, as palavras de Kei de antes me vieram à mente.
Yui provavelmente também estava pensando nisso — e, como parte masculina, eu realmente deveria tomar a iniciativa.
Resolvendo-me, virei-me para falar com Yui ao meu lado.
“...Ei, hum—”
“...Ei, hum—”
Nossas vozes se sobrepuseram perfeitamente, e então—
“Huh?”
“Huh?”
Nós dois piscamos e nos olhamos em sincronia.
“V-vá em frente! Você primeiro, Yui.”
“N-Não, Naomi, você fala primeiro...!”
Tropeçamos um no outro, ambos nervosos, tentando dar a palavra ao próximo.
[Kura: Em perfeita sincronia kkk | Del: Esses 2 são sincronizados demais kkkkkk.]]
Enquanto desviávamos o olhar, cada um buscando o que dizer em seguida, o único som no ambiente era o borbulhar suave do molho de tomate.
Então ouvi Yui inalar silenciosamente ao meu lado. Ela apertou as mãos pequenas com força na frente do peito.
“...Hum. Sobre a viagem... eu estava pensando se poderíamos conversar um pouco sobre isso?”
Ao contrário de ontem, seu olhar não era hesitante. Com o olhar cheio de determinação silenciosa, Yui olhou para mim e falou claramente.
Seus olhos azuis encontraram os meus com sinceridade inabalável.
“Então você também estava pensando a mesma coisa, hein?”
“Como assim…? Você também estava, Naomi?”
Assenti, e seus olhos azulados ligeiramente arregalados refletiam os mesmos pensamentos que eu.
Isso me fez sorrir — só um pouquinho — sabendo que Yui estava pensando a mesma coisa, ao mesmo tempo, e queria falar sobre isso assim como eu.
Meio feliz, e meio envergonhado, sorri enquanto pousava a espátula e a olhava diretamente.
“Eu quero ir com você, Yui. Sei que há coisas em que precisamos pensar... mas primeiro, eu só queria ser honesto sobre como me sinto.”
“Naomi...”
Ela sussurrou meu nome suavemente, abrindo os lábios levemente.
Então seus olhos arregalados se estreitaram suavemente, e uma risada pequena e gentil escapou de sua garganta.
“Eu também quero ir com você, Naomi. Tenho certeza de que há coisas sobre as quais precisamos conversar, mas... eu também queria ser honesta sobre como me sinto primeiro.”
Seu sorriso tímido e ligeiramente envergonhado se transformou em um sorriso gentil e natural enquanto ela me observava.
...Espero poder sorrir assim também, algum dia.
Embora eu geralmente seja conhecido por ser meio inexpressivo, eu esperava que meus sentimentos estivessem chegando até ela agora, enquanto acenava de volta.
“Desculpe... por fazer você dizer isso primeiro.”
“Eu só estava pensando demais em tudo mesmo. Algo assim... não importa quem diga primeiro.”
Nós dois estávamos com o mesmo tipo de sorriso tímido, e a tensão na sala gradualmente desapareceu conforme as coisas voltavam ao normal.
Ainda há muita coisa que precisamos descobrir realisticamente.
Mas o fato de termos conseguido nos encarar assim — e conversar olhando na mesma direção — me deixou muito feliz.
...Eu ainda tenho muito que crescer, né?
Pensando nisso, silenciosamente agradeci novamente ao amigo que me deu aquele empurrãozinho mais cedo.
“Bem, por enquanto, por que não comemos?”
“Parece bom. Obrigada novamente pelo jantar.”
Yui juntou as mãos em uma prece fingida e curvou a cabeça em minha direção.
“Você nem é religiosa.”
“Eu acredito na Igreja de Naomi.”
Nós dois rimos baixinho enquanto nos provocávamos, compartilhando outro pequeno sorriso.
Enquanto conversávamos, o aroma perfumado do molho bolonhesa atingiu o nível certo de intensidade, e comecei a cozinhar macarrão para dois na panela com água fervente.
◇ ◇ ◇
O jantar terminou e, depois que Yui voltou para sua casa, sentei-me sozinho na cama, olhando para o meu celular, me sentindo um pouco tenso.
Quando ele vibrou na minha mão, deslizei para atender e o levei ao ouvido.
“Vi sua mensagem. Sobre o que você gostaria de falar comigo?”
Uma voz clara e levemente grave soou pelo alto-falante.
Fazia um tempo desde a última vez que eu a ouvira e, embora estivesse um pouco nervoso, abri a boca para dizer o que precisava ser dito.
“Desculpe incomodá-la tão de repente. Tem algo que eu realmente precisava te dizer diretamente, Sophia-san.”
“Eu não me importo. Acontece que eu estava em um intervalo entre as sessões de fotos de qualquer forma.”
Quem ligou foi Sofia Clara Villiers.
Ela morava no Reino Unido e trabalhava como modelo. Era a irmã mais velha de Yui e a filha mais velha da família Villiers, que, assim como Yui, todos tinham nomes cristãos. Ela tinha 22 anos.
Nós nos conhecemos há um tempo, quando ela veio ao Japão para ver Yui. Desde então, ela confiava em mim e, como irmã mais velha de Yui, a confiou aos meus cuidados.
Foi exatamente por isso que achei que deveria falar com ela primeiro sobre a viagem. Eu havia enviado uma mensagem e estava esperando ela retornar a ligação.
A propósito, quando contei para Yui, ela fez uma cara de desgosto e ficou emburrada, dizendo: “Você não precisa contar para a Sophia. Eu não sou criança.” Mas, da minha posição, eu não podia simplesmente deixar a irmã dela no escuro.
“Então, do que se trata? Eu não gosto de rodeios, então, se você tem algo a dizer, diga diretamente.”
“Nós dois vamos viajar juntos. Eu só queria te informar.”
“...Hã?!”
Fui o mais conciso possível, mas o que me retornou foi um ruído de espanto que eu nunca tinha ouvido antes.
“Uma viagem? Tipo um passeio de um dia?”
“Vamos passar a noite lá. Uma noite, dois dias.”
“Uhh... desculpe, me dá um segundo.”
Sophia deixou o comentário no ar, e o silêncio tomou conta da linha.
Após uma breve pausa, ouvi-a limpar a garganta suavemente com um “Aham”.
[Kura: Se prepara filhote kkkk]
“Você poderia explicar isso com mais detalhes? Por videochamada.”
“Entendido.”
Logo depois que atendi, recebi uma videochamada — do outro lado do mar, no Reino Unido.
Na minha tela apareceu Sophia, com seus cabelos loiros ondulados e feições bem definidas visíveis, sua expressão claramente cética.
Bem, acho que se você simplesmente dissesse a informação assim, qualquer um faria essa cara...
Com esse pensamento em mente, comecei a explicar a situação em detalhes, esperando que ela entendesse.
“Entendo. Um encontro no festival de fogos de artifício, hein? Ela não me contou isso... Bem, deixa pra lá. Você tem uma foto da Yui de yukata, certo? Você vai me enviar mais tarde.”
Ainda parecendo visivelmente descontente, ela suspirou suavemente e voltou seu olhar para mim.
“Tudo bem. Só tomem cuidado e divirtam-se.”
“Uh…? Tudo bem por você?”
“Se vocês dois já decidiram, não é algo em que eu deva interferir.”
Sua aprovação inesperadamente fácil me deixou mais confuso do que qualquer outra coisa.
Claro, eu acreditava que Sofia entenderia se eu explicasse direito. Mas não esperava que ela concordasse tão rápido. Eu me preparei para mais resistência e fiquei completamente desarmado.
“Mas, só uma coisa — me responda com clareza.”
Sophia levantou o dedo indicador na tela e me perguntou com um tom calmo e sereno.
“Naomi, você está realmente preparado para isso?”
Era a mesma pergunta que ela me fizera quando visitou o Japão.
Preparado para ficar tão perto de Yui.
Não era uma brincadeira, e ela não estava me provocando. Ela me encarou seriamente através da tela.
Naquela época, eu não entendia o que ela queria dizer.
Naquela época, respondi que não soltaria a mão de Yui “como amigo”.
Eu não entendia o que sentimentos românticos significavam na época — mas estava determinado a não deixá-la sozinha.
Mas agora...
Coloquei delicadamente minha mão direita sobre a pulseira no meu pulso esquerdo e olhei diretamente para Sofia através da tela.
“Eu amo ela. Não como amiga, mas como alguém por quem tenho sentimentos.”
Sophia piscou, seus olhos azuis — assim como os de Yui — brilhando de surpresa.
Então seus ombros tremeram levemente e, sem se conter, ela soltou uma gargalhada. “Ahaha!”
“Nossa. Achei que você ainda fosse só uma criança, mas você ficou um pouco mais legal, não é?”
“Eu realmente não acho que fiquei mais legal...”
“Ser capaz de expressar seus sentimentos com orgulho é uma coisa maravilhosa. Ainda mais quando esses sentimentos são direcionados a outra pessoa.”
Sorrindo de satisfação, Sophia me deu um grande aceno de aprovação.
Ainda era um pouco constrangedor dizer coisas assim com orgulho, mas ouvir Sophia dizer isso com tanta confiança me fez sentir que eu também poderia ser um pouco mais confiante.
“Nesse caso, não tenho mais nada a dizer. Mas...”
Ela fez uma pausa, então levantou a corrente do colar pendurada em seu pescoço e a segurou para a câmera.
Um rosário, a marca de um cristão devoto, brilhou ao refletir a luz na tela.
“Você, Naomi, e a Yui — vocês dois ainda são crianças, então não façam nada precipitado, okay?”
Com um sorriso deslumbrante e cheio de presença, Sophia balançou seu rosário para frente e para trás para dar ênfase.
O cristianismo dá imenso valor à castidade.
Eu costumava interpretar mal isso, pensando que ela estava exigindo um nível quase obsessivo de pureza de nós. Mas agora entendo perfeitamente o que ela realmente queria dizer.
“Eu sei que ainda sou uma criança em muitos aspectos, e juro por Deus — não se trata desse tipo de coisa. Então não se preocupe.”
“Não estou preocupada com você, Naomi. A única pessoa com quem estou preocupada é a Yui.”
“...Oi?”
Uma resposta boba escapou de mim antes que eu pudesse evitar. Sofia franziu a testa, fazendo uma cara difícil enquanto emitia um zumbido baixo.
Eu não entendi o que ela queria dizer, então imitei sua expressão e inclinei a cabeça levemente.
“Aquela garota é bastante honesta, e assim que coloca uma ideia na cabeça, ela vai direto ao ponto. É por isso que você tem que manter as coisas, Naomi.”
“‘Vai direto ao ponto’...? O que isso deveria sig—”
“Ah, desculpe. Minha próxima sessão de fotos está prestes a começar. Enfim, é só isso — apenas sejam respeitosos e se divirtam, okay? Tchau~♪”
“E-Espere, Sophia—”
Deixando aquelas palavras de despedida tranquilas com seu sotaque encantador, o vídeo e o áudio foram cortados.
Ainda sem conseguir entender o que ela queria dizer, encarei a tela inicial do meu celular com uma leve carranca.
“Eu tenho que manter as coisas, não é...”
...É, a Yui é definitivamente direta.
Ela aceita minha intromissão com um sorriso, sempre me ouve com sinceridade, cara a cara.
Em todos os jantares, ela me diz como tudo está delicioso com um grande sorriso. Quando a convidei para o festival de fogos de artifício, ela até se esforçou para alugar um yukata só para me deixar feliz.
Mas essa honestidade e essa coisa de “ir direto ao ponto”... parecem coisas diferentes...
Ainda sem conseguir conectar totalmente os pontos com o que Sofia havia dito, inclinei a cabeça novamente.
Bem, de qualquer forma, provavelmente significa apenas que, contanto que eu me mantenha com os pés no chão, não haverá problema.
[Del: Apesar de sutil, é interessante o leve apontamento que se faz quanto a liderança e responsabilidade masculina dentro de um relacionamento.]
Chegando a essa conclusão, enviei uma mensagem para Yui avisando que Sophia havia nos dado o sinal verde.
Quase imediatamente, ela respondeu com um adesivo de um gato feio fazendo careta para mim.
Seu descontentamento ficou bem claro.
[Kura: Não julga o gatinho kkkk]
Mas agora que eu havia informado a pessoa que precisava, eu finalmente podia pensar na viagem sem preocupações persistentes.
Cheio de uma pura empolgação que fez meu coração disparar, comecei a procurar informações turísticas sobre Shuzenji no meu celular, um passo de cada vez.
Traduzido por Moonlight Valley
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