Volume 2

Capítulo 8: Ensopado Cremoso que Derrete Até o Ciúmes

“Então é por isso que você não estava na sala de aula durante o almoço — você estava com a Aizawa?”

“Sim. Eu, hum... me tornei amiga da Minato-san.”

   Ao dizer “amiga”, Yui sorriu timidamente, como se a palavra a deixasse um pouco tímida.

   Ao ouvi-la chamar Aizawa pelo primeiro nome, não pude deixar de sorrir também. Isso me fez pensar que as coisas deviam ter corrido muito bem.

   Como sempre, Yui e eu ficamos lado a lado na cozinha, preparando o jantar — hoje, ensopado cremoso — enquanto ela conversava animadamente sobre algo bom que lhe aconteceu hoje.

     É... momentos como este realmente são confortáveis.

   Relembrando isso, continuei trabalhando com Yui para preparar o frango e os vegetais.

“Então, sobre o que você e a Aizawa conversaram?”

“Huh? Ah, hum, bem... música... e outras coisas?”

“Sou eu quem está perguntando aqui.”

“C-Certo. Hum... que tipo de pão ela gosta... talvez?”

   Ainda respondendo em um tom estranhamente incerto, Yui corou e silenciosamente voltou a picar os vegetais.

   Eu me perguntei se as pessoas realmente conseguiam criar laços tão fortes por causa de música e preferências de pão, mas a expressão em seu rosto dizia: por favor, não pergunte mais nada, então deixei por isso.

     Bem, acho que há coisas sobre as quais só garotas podem falar.

   Ainda assim, eu estava genuinamente feliz por ela — Yui ter feito uma amiga valia a pena comemorar. Voltei a aparar o frango e mudei de assunto.

“Você realmente mudou, Yui.”

“É? Mudei como?”

“Há pouco tempo, você nunca teria tentado se aproximar de alguém sozinha.”

“Você provavelmente está certo, Naomi.”

   Depois de pensar por um segundo, ela sorriu timidamente e assentiu com a cabeça ao ouvir minhas palavras.

   Mesmo que compartilhassem o amor pela música, as personalidades de Yui e Aizawa eram bem diferentes.

   Talvez esse contraste seja exatamente o que fez com que o canto e o saxofone delas ressoassem tão bem. E se eu tivesse ajudado um pouquinho a juntá-las, isso me deixava meio orgulhoso.

   Mesmo que parte de mim sinta um pouco de ciúmes por ela mostrar esse tipo de sorriso para alguém além de mim.

“Mas tudo isso... é graças a você, Naomi.”

   Enquanto fatiava delicadamente os cogumelos, Yui me olhou com um sorriso suave e feliz.

“Yui...”

   Seu sorriso parecia... mais suave do que o normal. Ou talvez mais natural. Para ser sincero, estava muito fofa — feminina — e eu tive que desviar o olhar.

   Não, Yui sempre foi linda. Seu sorriso sempre foi fofo — isso não é novidade.

   Mas hoje, havia um charme sutil nela... algo que me pegou desprevenido.

     Talvez seja só por causa do que o Kei disse antes que eu esteja pensando demais...

   Me mexendo desconfortavelmente, me virei e comecei a cutucar o frango na panela com meus hashis, tentando me acalmar.

 

 

◇        ◇

 

 

     Será que estou sorrindo naturalmente agora...?

   Seguindo as instruções de Naomi, cortei os talos dos cogumelos e, com cuidado, cortei os chapéus em quatro.

   Olhei para ele de canto de olho e vi Naomi observando o frango com um olhar sério. Em pânico, voltei rapidamente minha atenção para a tábua de corte.

   Talvez fosse por causa da conversa que tive com Minato-san mais cedo, mas não consegui me obrigar a olhar Naomi nos olhos.

   Só de encontrar seu olhar meu rosto ficou quente — eu sabia que estava corando.

   Eu queria olhar para ele direito, conversar com ele normalmente... mas não conseguia.

   Mesmo agora, só de saber que Naomi estava parado bem ao meu lado, meu peito se apertou e meu coração disparou. Tive que lutar muito para me controlar.

   Eu disse a Minato-san que não queria chamar esse sentimento de “amor” tão facilmente...

   Mas agora que estou ciente disso, não consigo evitar que as emoções transbordem.

     Isso não é bom.

   Este deveria ser um momento divertido juntos. Não quero que isso seja arruinado por eu ficar toda sem jeito.

   Só quero aproveitar este momento direito, sem pensar demais.

   Tentando não perder o foco frágil ao qual me agarrava, movi a faca cuidadosamente novamente.

 

 

◇    ◇    ◇

 

 

   Nós dois ficamos em silêncio, focados em nossas próprias tarefas, nenhum de nós capaz de dizer a próxima palavra.

   A tensão continuou aumentando silenciosamente, mesmo que nenhum de nós quisesse isso. Procurei outro assunto para conversar e finalmente pensei em um novo tópico.

“Ah, é... você contou para a Sophia que vai ao festival de fogos de artifício?”

“Hã? Por que a Sophia?”

   Yui inclinou a cabeça, pega de surpresa pelo nome repentino e aleatório.

“Quer dizer, se você não contar a ela, ela vai implicar depois, né?”

“Você não precisa dizer nada. Eu não sou nenhuma criança ou algo assim.”

   Yui fez beicinho e bufou baixinho, esticando o lábio inferior em protesto.

   Quando Sophia veio ao Japão para ver como Yui estava, nós dois trocamos informações de contato. Desde então, ela tem me mandado mensagens com uma frequência bem razoável, pedindo atualizações, como se eu fosse um guardião substituto. Tenho respondido, pelo menos um pouco, porque acho que, se isso a tranquiliza, vale a pena o esforço.

   Aparentemente, Yui também a atualiza regularmente, porque depois daquela apresentação ao vivo no bar do Kei, Sophia me mandou uma foto minha que Yui tirou no palco com um comentário sarcástico: “Nada mal, mas você ainda não tem a profundidade que vem com a idade.”

   Sinceramente, eu queria dizer a ela para cuidar da própria vida — não é como se eu estivesse tentando parecer descolado nem nada. Mas dizer isso a ela seria apenas um incômodo, então eu geralmente deixo passar.

[Kura: Curto e direto kkkk]

“Eu sei que a Sophia se importa comigo, e eu aprecio isso... mas eu realmente gostaria que ela se segurasse um pouco.”

   Yui franziu as sobrancelhas, assentiu com um suspiro e encolheu os ombros.

   Vê-la assim me fez perceber o quanto ter uma figura de irmã mais velha excessivamente envolvida pode fazer alguém se afastar. Em contraste, na casa dos Katagiri, é minha irmã mais nova que está sempre pedindo atenção, então geralmente sou eu quem se afasta. Talvez seja assim que as coisas se equilibram.

   Ainda assim, considerando que o próprio Kei havia chamado isso de encontro, manter segredo de Sophia parecia um pouco errado.

   Não porque houvesse algo a esconder — mas precisamente porque não havia. Se ela confiava em mim para cuidar de Yui, eu sentia que deveria ser honesto e mantê-la informada.

   Enquanto eu pensava seriamente nisso, notei um par de olhos azuis ao meu lado se estreitando em desconfiança.

“...Naomi, você é meio próximo da Sophia, não é?”

   O tom de Yui tinha uma irritação incomum.

“Quer dizer... eu não diria que somos próximos.”

   Eu não queria chegar ao ponto de dizer que não estávamos nos dando bem, mas também não me parecia certo dizer que estávamos.

   Trocávamos mensagens, claro, mas eram todas sobre Yui. Não conversávamos sobre amenidades nem discutíamos assuntos pessoais. Sophia era a guardiã de Yui — nada mais. Nunca a contatei pensando nela como uma amiga.

“Nem a Sophia mandava mensagens para homens na vida privada dela antes. Mas agora ela me faz pedidos como ‘garanta que o Naomi também apareça na foto’ quando eu mando fotos para ela...” Yui murmurou com um leve beicinho, claramente insatisfeita.

   Com uma expressão que eu nunca tinha visto nela antes — sobrancelhas franzidas, lábios apertados — ela silenciosamente despejou vegetais picados em uma tigela.

   Vê-la emburrada daquele jeito, cheia de ciúmes, foi estranhamente adorável. Não consegui evitar o riso.

“Yui, eu juro... não tem nada acontecendo entre mim e Sophia além de falarmos sobre você.”

“...Hã?”

“Pelo menos, não tem nada acontecendo que seja para te deixar com ciúmes. Então relaxa, okay?”

“Ciúmes...? Eu?”

   Yui repetiu minhas palavras, piscando confusa — então, de repente, seus olhos se arregalaram. Ela rapidamente acenou com as duas mãos na frente do rosto.

“N-Não, não é como se eu estivesse... Eu não estava com ciúmes nem nada...!”

   Confusa, com as bochechas ficando vermelhas, Yui parou de falar sem jeito.

   Ela abaixou a cabeça, se encolhendo, como se quisesse desaparecer. Através da cortina de seus longos cabelos, pude vê-la mordendo o lábio suavemente. Então, ela me lançou um olhar tímido para cima.

“...Eu estava com ciúmes. Eu disse algo maldoso por causa disso. Me desculpe.”

   Suas mãos pequenas estavam cerradas em frente ao peito enquanto ela abaixava o olhar e se desculpava baixinho.

   Aquela honestidade dela... era realmente fofa.

   Tentando não demonstrar muito, dei de ombros de forma exagerada e casual.

“É da Sophia que estamos falando. Você não precisa ficar com ciúmes.”

“Não... é porque é da Sophia.”

   Yui olhou para baixo, franzindo a testa levemente, e mordeu o lábio novamente.

“A Sophia é linda, alegre, madura... Ela tem um corpo incrível, é famosa...”

   Ela listou essas características como se estivesse marcando coisas que admirava.

   Então, soltou um longo suspiro, levantou a cabeça e deu um pequeno sorriso desamparado.

“...Ela tem tudo o que eu não tenho.”

   Sua voz era tão baixa, quase um sussurro, e seu sorriso era frágil — como se ela estivesse tentando conter algo.

   Era o mesmo sorriso que eu já a vira exibir antes, sempre que tentava esconder o que realmente sentia.

   Aquilo apertou meu peito e, antes que eu percebesse, as palavras saíram.

“E daí?”

“...Hã?”

“Ela é linda, madura, famosa — e daí?”

“Naomi...”

   Olhei Yui diretamente nos olhos enquanto continuava.

   Tentei conter a pressão que crescia dentro de mim, concentrando tudo o que tinha em garantir que o que eu dissesse realmente a alcançasse.

“É você quem está aqui, Yui.”

   Foi à Yui quem eu prometi nunca deixar ir.

   Foi à Yui cuja teimosia me fez querer cuidar dela.

   Aquela com quem eu compartilhava esses jantares. Aquela com quem eu me sentia completamente à vontade. Aquela com quem eu me divertia passando tempo — era a Yui.

   É por isso que eu não queria que ela se comparasse a ninguém e fizesse esse tipo de cara.

“Não conte apenas com o que você não tem. Pense no que você tem. Comparar-se a outra pessoa usando os padrões dela não faz sentido.”

[Kura: Você tem o Naomi.]

“O que eu... tenho...”

   Yui não desviou o olhar. Ela sustentou meu olhar, engolindo em seco.

   Ela e Sophia eram pessoas diferentes. E não havia sentido em comparar as duas.

   Boas características, más características — todas essas são apenas coisas que mudam dependendo do seu ponto de vista.

   Mesmo que Sophia tivesse um apelo mais óbvio e fácil de entender, isso não significava que ela fosse de alguma forma melhor do que Yui. De jeito nenhum.

   Eu queria que Yui entendesse isso. E mesmo que isso significasse impor meus próprios pensamentos a ela, olhei naqueles olhos azuis e tentei transmitir a mensagem.

“No mínimo, eu não diria esse tipo de coisa egoísta para ninguém além de você. Se não fosse você, Yui, eu não estaria tentando me aproximar tanto.”

   Eu sabia que era infantil da minha parte esperar que ela entendesse como eu me sentia.

   Mas, mesmo assim, eu não queria que ela se sentisse inferior e fizesse aquele tipo de cara por causa disso.

“Então não fale de si mesma desse jeito.”

“...Naomi.”

   Seus grandes olhos azulados se suavizaram e ela murmurou meu nome em voz baixa.

   Eles tremeram levemente, e ela exibia um sorriso gentil que parecia indicar que ela poderia chorar a qualquer momento.

   Depois de dizer o que eu queria, uma onda de constrangimento me invadiu. Baixei o olhar para o chão e cocei a nuca.

   Yui juntou as mãos pequenas na frente do peito e assentiu gentilmente, absorvendo minhas palavras.

“Certo. Me desculpe. Não vou dizer coisas assim de novo.”

   Suas bochechas coraram levemente e ela sorriu — brilhantemente, timidamente, e com ternura.

 

   As palavras que lhe diziam que até alguém como ela está okay afundaram fundo em seu peito, e a felicidade que as acompanhava quase transbordou em lágrimas. Ela lutou para contê-las.

     ...É. Isso é mesmo a cara do Naomi.

   Naomi sempre lhe dizia exatamente as palavras que ela precisava ouvir.

   E essas palavras eram sempre tão calorosas que faziam seu peito doer da maneira mais doce.

   Ela não sabia que tipo de cara fazer. Os sentimentos a dominavam.

   Quando tentou sorrir, as lágrimas quase saíram.

   Ainda assim, conteve o tremor na voz para dizer o que precisava.

“Ei, Naomi...”

   O que Naomi lhe dissera. O que Minato-san lhe mostrara.

   A coisa mais importante para ela.

   O único sentimento que ela queria valorizar mais do que qualquer outra coisa.

“Eu acho que não conseguiria me deixar confiar em alguém assim... se não fosse você.”

   Agora, os olhos de Naomi se arregalaram um pouco — e depois se suavizaram novamente quando ele a olhou gentilmente.

   Porque ele havia estendido a mão com tanta sinceridade.

   Porque ele sempre estivera lá, segurando-a em silêncio.

   Mesmo que ela não pudesse chamar esse sentimento de amor ainda...

   Ela sabia que queria ficar ali.

   Essa era a sua verdade mais honesta e sincera. A coisa mais importante de todas.

“Então, se não fosse você, Naomi... acho que eu nunca teria pedido ajuda. Obrigada. De verdade.”

   Com essas palavras, ela lhe deu seu maior e mais sincero sorriso — e olhou para ele com toda a gratidão que conseguia expressar.

   Naomi piscou surpreso por apenas um segundo, depois assentiu de volta com seu sorriso gentil de sempre.

“Então... fico feliz. De verdade.”

“O que você me disse, Naomi... me deixou muito feliz também.”

   Aquele hábito familiar dele — coçar a bochecha quando estava envergonhado—

   Parecia estranhamente cativante para ela agora. Ela levou a mão aos lábios para esconder o risinho que escapou.

   Seus olhares se encontraram, ambos levemente vermelhos — e, como se tivesse sido planejado, riram juntos.

“Estou realmente animada pelo festival de fogos de artifício.”

“É. Eu também.”

   Envoltos naquele ar quente e suave, nós dois voltamos a preparar o ensopado cremoso para o jantar.

 

 

Traduzido por Moonlight Valley

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