Volume 1

Capítulo 9: A Irmã Chega

“...Naomi-san, preciso falar com você sobre uma coisa...”

   Era de manhã cedo, pouco antes da escola.

   Yui, que raramente vinha ao apartamento de Naomi àquela hora, murmurou essas palavras com o rosto pálido, como se as estivesse espremendo.

“O-o que houve? Você está se sentindo mal ou algo assim?”

“Não, fisicamente estou bem, graças a você. Mas... há um pequeno problema.”

“Um problema...? Se for algo em que eu possa ajudar, farei tudo o que puder.”

   Vendo Yui com uma aparência mais abalada do que nunca, Naomi instintivamente se preparou e engoliu em seco.

“Recebi uma mensagem... Minha irmã estará vindo para o Japão.”

   Naomi franziu a testa levemente enquanto processava o significado daquelas palavras.

“Sua irmã? Quer dizer que sua irmã do Reino Unido está vindo para o Japão?”

“Sim... isso mesmo...”

   Yui assentiu solenemente, com a expressão ainda séria.

“Sua irmã no Reino Unido... É aquela de quem você é próxima, aquela que providenciou seus estudos no Japão, certo?”

“Sim. É a minha irmã que vem me ver...”

   A irmã que Yui mencionou quando se tornaram amigos — aquela que apareceu na história do seu passado. A única aliada que ela já teve, ou assim ela disse. E agora, aquela irmã a contatou, dizendo que viria para o Japão.

“Certo... então qual é o problema? Se vocês duas são próximas, então não deve haver problema, certo?”

   Naomi não conseguia entender qual era o problema pelo que havia dito até então, ele respondeu sem rodeios. Yui balançou a cabeça lentamente e soltou um longo suspiro.

“Claro, estou feliz que ela esteja vindo me ver. E eu quero mostrar a ela que estou vivendo uma vida estável aqui no Japão para que ela não se preocupe. É só que...”

   Ela olhou para Naomi, se desculpando.

“...É constrangedor admitir, mas a razão pela qual estou vivendo uma vida estável agora é tudo graças a você, Naomi-san. Então, não sei como explicar essa parte...”

   Com outro suspiro ainda mais profundo, Yui encolheu os ombros.

“Então, basicamente, o que você está perguntando é... como evitamos que sua irmã se preocupe sem contar muito a ela? É isso que você está tentando descobrir?”

“Sim... Eu sei que é um pedido egoísta motivado pelas minhas próprias escolhas, e me sinto péssima por isso...”

   Encurvando os ombros e franzindo a testa o máximo possível, Yui pressionou a mão na testa e assentiu, claramente derrotada.

   Sabendo o quão séria e correta Yui costumava ser, o fato de querer oferecer paz de espírito à irmã, mesmo que temporariamente, dizia muito sobre a importância daquela irmã para ela. E se fosse esse o caso, então, como seu amigo, Naomi queria fazer o que pudesse para ajudar.

“A propósito, quando sua irmã chega e quanto tempo ela vai ficar?”

“Ela disse que virá à minha casa no sábado à noite e sairá no domingo de manhã.”

“Então, basicamente, só precisamos combinar o jantar no sábado à noite e o café da manhã no domingo...”

   Yui já cuidava bem da limpeza e da roupa, e sua higiene pessoal era sempre impecável. Se a comida era a única coisa que precisava ser cuidada, fingir por apenas um dia não parecia um grande desafio.

   Naomi consultou o calendário com um pensamento casual em mente — e então seu cérebro congelou.

“Espera aí — sábado? Tipo, amanhã? E ela vai voar do Reino Unido só por um dia?”

   Era um voo de doze horas do Reino Unido para o Japão. A viagem de ida e volta significava um dia inteiro em trânsito, e ficar presa em um assento por tanto tempo era difícil para o corpo.

   Além disso, com o horário de verão em vigor, a diferença de fuso horário era de cerca de oito horas.

   Considerando apenas o jet lag e o tempo de viagem, a viagem deve levar cerca de três dias. Então, saber que ela faria tudo isso para apenas uma visita de uma noite deixou Naomi um pouco atordoado.

“Ah, não — ela está vindo para o Japão a trabalho. Ela disse que conseguiu arranjar um tempinho na agenda. Aparentemente, o trabalho dela como modelo é bem apertado.”

“...Sua irmã é modelo?”

   Ao ouvir o cargo sair tão casualmente da boca de Yui, Naomi se lembrou mais uma vez da enorme diferença entre os mundos em que viviam.

     Trabalhar como modelo no exterior... Até um leigo perceberia que é um grande negócio.

   Ainda assim, com a aparência de Yui, fazia todo o sentido. Se ela era tão bonita, então sua irmã também devia ser deslumbrante.

   E ouvir que alguém tão ocupado se esforçaria para ver como sua irmã estava — Naomi não tinha dúvidas de que o amor que ela sentia por Yui era real. Mais um motivo para ele querer ajudar no que pudesse.

“Tudo bem, vamos dar um jeito. Se for só por um dia, com certeza conseguimos.”

“Naomi-san...”

   Yui relaxou visivelmente com as palavras de Naomi, a tensão se dissipando de seu rosto.

   Suas bochechas se coraram levemente de vergonha, e ela ofereceu um pequeno sorriso familiar enquanto assentia gentilmente.

“Obrigada... mais uma vez. Tudo bem se eu contar com você de novo?”

“Não foi por isso que você veio até mim?”

“Sim... acho que me acostumei demais em depender de você.”

   Parecendo um pouco envergonhada, Yui estreitou os olhos com um sorriso suave.

   Naomi sentiu uma satisfação calorosa com suas palavras honestas. Isso o fez querer ajudar ainda mais, só para vê-la à vontade.

“Se for sobre comida, essa é a minha especialidade. Deixe comigo.”

“Sim... eu realmente agradeço. Me desculpe, eu simplesmente não sabia o que fazer e, antes que eu percebesse, estava na sua porta novamente.”

   Apesar de suas palavras de desculpas, Yui lhe deu um sorriso gentil e aliviado.

     Ela chegou ao ponto em que naturalmente vem até mim em busca de ajuda, hein.

   Naomi coçou a ponta do nariz dele, tentando esconder o prazer que sentiu com aquele pensamento, mesmo imaginando que Yui tivesse dito aquilo sem nenhuma intenção específica.

   Quando ele olhou para o relógio na mesa, marcava 8h.

“De qualquer forma, devemos sair logo. Vamos deixar o planejamento para mais tarde. Faremos o possível para garantir que sua irmã possa sair em paz.”

“Sim. Eu também farei tudo o que puder.”

   Com o punho pequeno e determinado, Yui assentiu. Juntos, eles saíram pela porta e seguiram para a escola.

 

 

◇    ◇    ◇

 

 

   Depois da escola.

   No ponto de encontro habitual no supermercado, Yui estava nervosa, presa num discurso de vendas rápido de uma das moças que entregavam as amostras.

“Meu Deus, você é tão linda! O que você come para ficar assim!? Você ao menos se alimenta direito com esse corpinho? Vamos lá, experimente isso, é uma amostra grátis!”

“Ah, eu como direito, mas... muito obrigada...”

   Yui aceitou um pratinho transbordando de pimentões verdes refogados e tiras de porco com um sorriso forçado.

   Era óbvio que ela havia perdido a chance de encerrar a conversa e estava sem saída, então Naomi ofereceu um salva-vidas de longe.

“Ei, Yui! Estou indo na frente!”

“Ah... sim! Já vou. Obrigada, com licença!”

   Compreendendo a intenção de Naomi, Yui fez uma reverência educada e correu até ela.

“Obrigada... Você me salvou. Eu realmente não sou boa em recusar pessoas assim...”

“As tiazinhas são destemidas. Elas não se seguram.”

   Yui conseguia calar pessoas agindo por segundas intenções, mas provavelmente tinha dificuldades com tipos bem-intencionados e insistentes como aquele — pessoas que não queriam fazer mal, mas não sabiam quando parar.

   Divertida com esse novo lado dela, Naomi caminhou com Yui para dentro da loja.

“Pensando bem, você já cuidou de tudo, exceto da comida, certo?”

“Acho que estou indo bem com a limpeza, a roupa lavada, a organização e os cuidados pessoais.”

“Então, se você preparar o jantar no sábado e o café da manhã no domingo, mostrará à sua irmã que está se cuidando direito. Ela não teria com o que se preocupar.”

“Sim... se eu pudesse fazer isso, tenho certeza de que poderia aliviar as preocupações dela. Isto é... se ignorarmos o fato de que não sei cozinhar nada que valha a pena servir...”

   Ela suspirou profundamente, e sua expressão foi se tornando sombria.

“É, foi por isso que eu disse que tinha uma ideia.”

   Naomi pegou uma lata de temperos de uma prateleira próxima e a ergueu orgulhosamente.

“Isso é... tempero de curry?”

“Bingo.”

   Naomi sorriu ironicamente para a resposta correta de Yui.

“Desde que você acerte as proporções de temperos e ingredientes, o curry fica com um sabor ótimo. Além disso, o sabor muda dependendo de quem o prepara, então é difícil distinguir o bom do ruim. Como é um prato forte e ensopado, é fácil de fazer mesmo se o tempero estiver um pouco errado.”

“Então até uma iniciante como eu consegue fazer algo delicioso...!?”

   Com os olhos arregalados de compreensão, Yui olhou para Naomi, que assentiu exageradamente.

   No último ano, Naomi havia feito curry mais vezes do que conseguia contar. Era basicamente o rei da culinária (japonesa) solo: alto custo-benefício e valor nutricional graças a todos os vegetais, e podia ser feito em grandes quantidades que duravam dias.

   Embora parecesse difícil fazer curry com temperos, uma vez que as proporções fossem determinadas, era só uma questão de medir. E uma vez comprados os temperos, eles duravam muito tempo — então, na verdade, era bem econômico.

“Naomi-san, você é incrível...! Você é um gênio...?”

   Yui o encarou com olhos reluzentes.

   Claro, daria um certo trabalho, mas com uma receita para seguir e Yui cozinhando de verdade, este parecia o plano perfeito para a visita.

“Além disso, tenho um pouco de confiança nas minhas receitas de curry. Contanto que sua irmã não odeie curry, ela vai gostar.”

   Naomi deu um sorriso confiante e ousado, e Yui assentiu firmemente em resposta.

“Se você diz, então essa foi a coisa mais reconfortante que eu pude ouvir.”

“Deixe comigo. Este plano é sólido. Acha que consegue lidar com isso?”

“Sim! Por favor, me ensine tudo o que puder!”

   Yui, visivelmente animada, cerrou os punhos com determinação.

   Vê-la tão ansiosa fez Naomi sentir que o esforço valeria a pena. Isso o estimulou a ensiná-la direito — tanto que ele quase ficou tentado a gastar em carne de melhor qualidade.

   Mas, sabendo que precisava se preocupar com o orçamento, ele se conteve.

“Certo, então está combinado — vamos de curry para impressionar sua irmã. Quer tentar fazer um lote hoje à noite para praticar? Você pode congelar as sobras, assim nada será desperdiçado.”

“Se você concordar, eu adoraria! Vou me esforçar ao máximo!”

   Com uma Yui animada ao lado dele, eles encheram uma cesta com ingredientes para esta noite e para o dia seguinte, indo para casa animados.

 

 

◇   ◇   ◇

 

 

“Mmmph...! É tão rico e agridoce... É absolutamente delicioso...!”

   Yui franziu as sobrancelhas de alegria enquanto dava uma grande mordida no curry recém-preparado.

[Moon: Muito fofa!]

   Um aroma forte e picante misturado a uma doçura rica e frutada, seguido pelo umami profundo de carne e manteiga se espalhando pela língua. O toque picante persistia, convidando a outra mordida antes mesmo que você percebesse.

[Kura: Umami, é um termo japonês que significa "saboroso" ou "delicioso", é considerado o quinto sabor básico do paladar humano, juntamente com o doce, salgado, azedo e amargo.]

   O calor a fazia suar — um suor que vinha do ciclo de “É picante, porém tão bom, e tão bom… mas que picante” — e isso também fazia parte do verdadeiro apelo do curry.

   Se ela pudesse pedir mais, deixar o curry esfriar e descansar durante a noite revelaria um sabor ainda mais profundo e rico. Mas isso também fazia parte da alegria de comer curry no dia seguinte.

“Não acredito que alguém como eu, uma iniciante total, foi capaz de fazer algo tão gostoso... Naomi-san, sua receita parece ter saído de uma cozinha profissional!”

   Com movimentos elegantes, Yui levou outra colherada de curry aos lábios e soltou um suave “mmmh!” de prazer enquanto continuava comendo com entusiasmo.

“É um pouco exagerado, mas é verdade que fiz muitas tentativas e erros nessa receita. Fico feliz que tenha gostado.”

“Sim! Tenho certeza de que minha irmã também vai adorar!”

   Satisfeita com a reação sincera de Yui, Naomi deu uma mordida. É — ele tinha que admitir, estava gostoso.

   Espero que a irmã dela goste tanto quanto... pensou, mas então se lembrou: a irmã dela era uma supermodelo que viajava o mundo a trabalho.

   Ela provavelmente já havia experimentado a melhor culinária do mundo todo.

   Essa constatação o fez hesitar por um momento.

     Mas a Yui também é basicamente uma princesa, e disse que estava delicioso... então deve estar bom, certo...?

   Enquanto Naomi lutava silenciosamente com essa dúvida interna, Yui estreitou os olhos gentilmente e murmurou baixinho:

“...Você é realmente incrível, Naomi-san.”

“Hã? Não, falando sério, minha comida é só coisa de amador. Sou só alguém que gosta de fazer comida, só isso.”

“Não, a comida é incrível, claro — mas não foi isso que eu quis dizer.” Yui soltou uma risadinha discreta e olhou para ele.

“Eu quis dizer como você sempre consegue esclarecer minhas preocupações como se não fossem nada.”

“Yui...”

   Ela o encarou com olhos que não demonstravam dúvidas, olhos cheios de calor — como se estivesse segurando algo precioso — e sorriu suavemente.

   Sentindo o rosto dele corar, Naomi rapidamente se virou e encheu a boca dele com mais curry.

“Estou te dizendo, dizer coisas assim vai dar uma ideia errada às pessoas.”

“Mas eu já disse que não diria essas coisas para ninguém além de você. Ou... você é do tipo que tem uma ideia errada, Naomi-san?”

“...Não, não sou.”

   Ele virou o chá gelado, com o gelo tilintando no copo.

   Ele sabia — Yui falava sério, sem segundas intenções.

   Ela era uma garota estudando no exterior sozinha, emocionalmente vulnerável. Era como um passarinho que vê a primeira pessoa que encontra como sua mãe.

   Se ele deixasse as coisas se tornarem algo mais, o relacionamento deles desmoronaria. E a verdade era que ele já estava satisfeito com a situação atual. Não buscava nada além disso.

     ...Mas a Yui tem me mandado muitas dessas frases inesperadas ultimamente.

   Ele pensou isso com um suspiro silencioso.

   Claro, o deixava feliz ver alguém tão reservada com os outros se abrir apenas com ele. E sim, houve momentos em que as ações dela o envergonharam — mas ele não podia negar que gostava disso.

   Ultimamente, porém, o afeto dela havia se tornado tão natural, tão confortável, que o fazia se perguntar se ela não estava tentando fazê-lo interpretar mal a situação. Havia cada vez mais momentos em que ele não sabia que tipo de cara fazer ou como responder.

   No entanto, não era como se ele quisesse que ela parasse. Esse era o problema — ele não tinha intenção de impedi-la, e isso tornava as coisas ainda mais confusas.

“Mas... eu realmente confio em você, sabia?”

   Com os olhos fixos na mesa, Yui falou com uma voz calma.

   Então, parecendo um pouco envergonhada, deu a Naomi um sorriso tímido que quase demonstrava que não sabia o que fazer consigo mesma.

“Antes de vir para cá... eu não sabia como me apoiar em ninguém. Se eu não tivesse conhecido você, Naomi-san, acho que ainda estaria fingindo ser forte, incapaz de fazer qualquer coisa no entanto.”

   Com uma voz gentil, calma e reconfortante, ela lentamente expressou seus sentimentos em palavras, como se estivesse saboreando cada momento que haviam compartilhado até então.

   Não havia nenhum traço do sorriso frágil e distante que ela costumava exibir — apenas um sorriso inocente e terno.

   Só de ver aquele sorriso, algo dentro dele se suavizou.

“Entendo. Fico feliz em ouvir isso.”

   Saber que Yui realmente apreciava o tempo que passavam juntos fez Naomi sentir que ele não precisava de mais nada.

   E era exatamente por isso que — se Yui estava com problemas — ele queria fazer o que pudesse para ajudar. Ele também queria que sua querida irmã fosse embora tranquila.

“Tudo bem. Agora só falta recriar esta receita amanhã.”

“Sim. Farei o meu melhor para garantir que consigo reproduzir este sabor.”

   Yui, determinada a memorizar a culinária de Naomi, até repetiu a receita — algo raro — enquanto saboreava o curry com prazer.

 

 

◇          ◇          ◇

 

 

“Boa sorte amanhã. Certifique-se de preparar os ingredientes e a mistura de temperos com antecedência, okay? Vou manter meu celular comigo, então ligue se tiver algum problema.”

“Sim, vou me certificar de revisar tudo de novo antes de dormir e de novo quando acordar.”

   Naomi acompanhou Yui até a porta, entregando-lhe as sacolas de compras cheias de ingredientes e oferecendo-lhe algumas palavras de incentivo.

   A distância até o apartamento dela não era nem cinco metros — longe o suficiente para precisar de uma despedida — mas hoje, ele simplesmente sentiu vontade de ir.

     Talvez seja assim que se sente um pai assistindo à filha fazer sua primeira tarefa...

   Enquanto ele a observava ir embora com esse pensamento em mente, Yui colocou a mão na própria porta, depois se virou e sorriu para Naomi.

“Farei o meu melhor — pelo seu bem também, Naomi-san.”

“Sim. Vá mostrar a ela do que você é capaz.”

   No momento em que Naomi respondeu, uma grande sombra apareceu atrás de Yui enquanto ela abaixava a cabeça.

   Sentindo que algo estava estranho, Yui se virou — e congelou, com os olhos arregalados de choque.

“Então é isso que eu encontro quando venho até aqui preocupada com você? Você está saindo escondida do apartamento de um cara a essa hora?”

   Uma voz feminina áspera e cortante ecoou pelo corredor.

   Mais alta que Yui, sua figura esguia era inconfundível mesmo através do sobretudo que usava.

   Penteando para trás os cabelos radiantes como areia dourada, ela tirou os óculos escuros — revelando olhos azuis, iguais aos de Yui, que a encaravam.

   Naomi soube imediatamente — devia ser ela.

“Sophia...”

   O nome escapou dos lábios trêmulos de Yui enquanto ela encarava a mulher parada à sua frente.

“Sophia Clara Villiers.”

 

 

◇          ◇          ◇

 

 

   Dentro do apartamento de Yui, do outro lado da mesa, ela se apresentou.

   Com feições definidas, um rosto incrivelmente belo e cabelos loiros longos e levemente ondulados, ela era um espetáculo.

   Sua altura era quase igual à de Naomi, que também era acima da média, e a camisa por baixo do casaco estava bem esticada sobre uma figura tão impecável que parecia exagerada.

   Se alguém lhe dissesse que ela era uma top model, ele não teria outra resposta a não ser: Claro que é.

   O nome do meio, “Clara,” era, assim como o “Elia” de Yui, um nome de batismo. A cor do cabelo e as feições faciais eram diferentes das de Yui, que estava sentada ao seu lado, mas o ar fresco que a cercava era o mesmo. Elas formavam um par de irmãs incrivelmente impressionante... mas...

“E daí? Você vai me dar uma explicação satisfatória, não é, Yui?”

   Cruzando as pernas e recostando-se com autoridade, Sophia lançou um olhar penetrante para Yui, sem nem mesmo tentar esconder a irritação.

“Ah... hum... eu...”

   Yui, sentada ao lado de Naomi, mantinha a cabeça baixa, tremendo levemente e com o rosto pálido enquanto gaguejava.

     Dizem que pessoas bonitas são assustadoras quando estão bravas... agora eu entendo isso.

   A agudeza em seus olhos era quase predatória — como a de um leopardo — e o tom calmo e educado de sua voz só aumentava a intensidade. Era realmente intimidante.

     Se Yui alguma vez ficar brava... ela também seria tão assustadora? Não, provavelmente não tão ruim assim. Certo?

   Enquanto Yui lutava para dizer alguma coisa, Sophia soltou um suspiro exagerado, como se dissesse: “Exatamente como eu pensei.”

“Eu sabia que Yui não conseguiria viver sozinha direito. Dei um telefone para ela, mas ela não me contatou, então vim aqui... e o que encontro?”

   Seu olhar entreaberto e claramente irritado agora se voltou para Naomi, sem hesitar.

     ...Okay, essa irmã é assustadora.

   Só de ter a atenção dela nele, Naomi sentiu um arrepio na espinha.

   Ainda assim, ele não tinha feito nada de errado, então fez o possível para não desviar o olhar, forçando-se a sustentar o olhar dela e engolir em seco.

“Eu nunca imaginei que ela estivesse encantando um cara para cuidar dela.”

“E-Essa parte é verdade — ele está me ajudando — mas eu não o encantei nem nada...!”

[Kura: Digo desde o começo, ela o encantou!]

“Hah? ‘Naomi-san’?”

“N-Não! Quero dizer, Katagiri-san!”

   Yui se encolheu e se corrigiu rapidamente.

   Observando isso, Sophia pressionou a testa com a mão e balançou a cabeça lentamente.

“Ouvi dizer que crianças criadas sob repressão são propensas a desejos desviantes e vícios em prazer, mas a Yui acabar assim depois de apenas duas semanas longe de casa...”

“N-Não é assim entre o Naomi-san e eu!!”

   O grito de Yui, com o rosto vermelho vivo, fez Naomi pular desta vez.

   Sophia não se encolheu, inclinando-se para mais perto de Yui com a testa franzida.

“Na Inglaterra, você mal sorria, Yui. Agora eu a vejo fazendo uma expressão feminina e saindo do apartamento de um homem a esta hora — em que exatamente eu deveria acreditar?”

“Uma ‘expressão feminina’!? O que isso significa!? Eu não estava fazendo esse tipo de cara!! Por que você sempre diz essas coisas!? Eu não consigo acreditar em você! Sério!!”

“Yui, fique quieta. Levantar a voz porque alguém tocou num ponto sensível é comportamento infantil.”

“Não é um ponto sensível! Estou brava porque está sendo rude com o Naomi-san!!”

“HÃ!? Você está chamando ele pelo nome agora como se não fosse grande coisa!? Eu te disse para não levantar a voz!! Escute quando alguém estiver falando com você!!”

   A fria e controlada Sophia estava agora em colapso total.

   Lágrimas brotaram nos olhos de Yui, mas ela não recuou, inclinando-se enquanto as duas irmãs deslumbrantes se enfrentavam em uma briga verbal acirrada.

     Ah... é, elas são definitivamente irmãs, pensou Naomi enquanto observava a linda batalha entre as irmãs de primeira classe.

   Mas quando o caos se transformou em gritos intensos, ele finalmente decidiu intervir.

“Hm, com licença... Senhorita?”

“Hah? Não me lembro de ter lhe dado permissão para me chamar de ‘Senhorita’.”

“Villiers-san.”

“Isso coincide com Yui. Pode me chamar de Sophia.”

   Bufando, Sophia ignorou a correção.

[Kura: Rachei kkkk, perdão. | Moon: Isso aqui tá maravilhoso, só faltou a pipoca akakak!]

   Naomi deu um sorriso irônico diante de seu jeito agressivo e frio — diferente do de Yui — e tentou novamente.

“Certo, Sophia-san. Você está... com fome?”

“...Hã? Com ​​fome?”

   Sophia piscou confusa, inclinando a cabeça.

 

 

◇           ◇           ◇

 

 

“Isso está... muito bom.”

   Depois de dar uma mordida no curry requentado, os olhos de Sophia se arregalaram.

   Sua resposta anterior a Naomi havia sido: “Com fome? Claro que estou com fome. E daí?” Então Naomi trouxe o curry que sobrou do apartamento dele e o requentou na cozinha de Yui.

“Aqui, Sophia. Chá gelado.”

   Ainda visivelmente chateada, Yui lhe entregou um copo de chá gelado sem cerimônia. Sophia bebeu de uma só vez e soltou um suspiro de satisfação.

“Mmm, delicioso. Então você está mesmo usando aquele Twinings (chá) que te mandei.”

“Claro que estou. Afinal, você me deu. Agradeço.”

   Yui fez beicinho enquanto agradecia brevemente.

   Naomi, vendo esse lado raro e irritado de Yui pela primeira vez, achou-o estranhamente refrescante — e deu um sorriso educado para Sophia.

“Fico feliz em saber que o tempero não é demais para você. Esta receita tem um toque bem forte.”

“Ah, eu adoro. É picante, mas doce também. Está realmente delicioso. Nunca comi nada parecido antes — muito bom.”

   Ela assentiu com um sotaque levemente exagerado, fazendo um sinal de positivo com um sorriso satisfeito.

   Há poucos minutos ela estava assustadora, mas agora sua expressão era encantadora o suficiente para parar qualquer um.

   Ao contrário de Yui, suas emoções transpareciam claramente em seu rosto. Observar seus gestos realmente deixou claro que ela não era japonesa.

“Sophia-san, você é do Reino Unido, mas seu japonês é muito bom.”

   Com isso, Sophia congelou.

   Ela lentamente pousou a colher e olhou diretamente para Naomi com uma expressão séria.

“Você ouviu falar disso... da Yui?”

“...Ah.”

   A calma em sua voz, combinada com seus olhos azulados, congelou Naomi. Ele percebeu tarde demais que havia cometido um deslize.

   O que ele disse poderia facilmente ser interpretado como: ‘Você fala japonês tão bem, mesmo não sendo daqui. Ao contrário da Yui, que nasceu no Japão.’

   E o fato de ele ter se calado imediatamente só piorou a situação.

   Ele claramente havia se metido em algo delicado. Engoliu em seco, sem saber o que dizer.

“Você não precisa ficar tão tenso. A Yui deve ter te contado, não é?”

   A expressão de Sophia se suavizou, com toda tensão se dissipando.

   A rispidez desapareceu — o que restou foi um sorriso gentil, muito mais gentil do que qualquer outro.

“Sim, eu estudei japonês para poder me comunicar com a Yui.”

   Ela tomou um gole do chá que Yui havia preparado, estreitando os olhos levemente em nostalgia, e respirou fundo.

“Se a Yui falou com você sobre tudo isso... ela deve realmente confiar em você.”

   Com uma voz que soava feliz, mas também um pouco solitária, Sophia murmurou:

“Seu nome era Katagiri, não era?”

“Ah... sim, Katagiri Naomi.”

“Naomi, é?”

   Sophia lançou um breve olhar de soslaio para Yui, depois olhou para Naomi com um brilho travesso nos olhos.

“Nunca vi a Yui se abrir com ninguém antes. Especialmente com um garoto.”

   Ela se inclinou ligeiramente, olhando para Naomi com um sorriso travesso enquanto ria baixinho.

“Desculpe por ter sido tão rude com você antes. Eu estava tão preocupada com a Yui que perdi a calma.”

“Eh? Ah, não, tudo bem...”

   Incapaz de acompanhar sua mudança repentina de atitude, Naomi olhou para Yui, que suspirou profundamente com um olhar exasperado.

“Eu sabia que algo estava errado. A Sophia não é o tipo de pessoa que fica brava assim.”

“E você também não precisava ficar tão na defensiva, precisava? Você é bonitinha, mas completamente ingênua. Pensei que talvez tivesse se envolvido com algum cara suspeito.”

   Sophia riu abertamente, sem nem tentar esconder a boca. Yui soltou outro suspiro longo e exausto.

“Espera... o quê? Sério isso?”

   Naomi olhou para as duas, tentando se atualizar.

“Hum... isso significa que eu estava sendo testado?”

“Correto! Exatamente♪”

   Sophia ergueu o dedo indicador com um sorriso brincalhão e assentiu.

   No momento em que ela disse isso, a exaustão tomou conta de Naomi e todas as forças abandonaram seu corpo.

“Sophia, me desculpe por não ter te contado sobre o Naomi-san. Eu só... não sabia como explicar...”

“Está tudo bem agora. Só de ver você se saindo tão bem já me basta. Eu realmente te agradeço, Naomi, por estar lá por ela.”

   Ela acariciou suavemente a bochecha de Yui, como se dissesse que aquele era o fim da conversa.

“Há pouco tempo, ela parecia que poderia quebrar a qualquer momento. Talvez vir para o Japão realmente fosse a coisa certa para ela.”

   Entrelaçando os olhos azul-claros gentilmente, Sophia murmurou com um toque de tristeza.

     Ela realmente esteve cuidando de Yui todo esse tempo...

   Naomi se pegou pensando nisso sinceramente, observando o perfil de Sophia. Que ela veio até aqui só para ver o rosto de Yui por uma única noite — era isso que a tornava uma verdadeira “irmã mais velha”.

   Mesmo para ele, alguém que conhecia Yui há pouco tempo, doeria se ela de repente dissesse que estava indo embora porque havia feito novos amigos em quem podia confiar. Para uma família que está ao seu lado há anos, esse sentimento deve ser ainda mais forte.

   Percebendo isso, Naomi não pôde deixar de sentir um aperto no peito dele.

“Sophia-san. Você gostou do curry?”

“Hm? Sim, eu diria que é bom o suficiente para ser servido em um restaurante de verdade.”

   Ela olhou para cima e sorriu para Naomi enquanto respondia.

“A Yui que fez, sabia? Foi um treino para o que ela planejava cozinhar para você amanhã.”

“...A Yui fez isso? Para mim?”

   Sophia olhou para ele, claramente surpresa, com as sobrancelhas franzidas levemente.

“Fiquei ao lado dela e a guiei, mas este curry foi feito inteiramente pela Yui. Ela queria te mostrar que é capaz de viver sozinha, então me pediu ajuda — porque não queria te preocupar.”

“Yui...”

   Ainda atordoada, Sophia se virou para Yui, que estava com a cabeça baixa, as bochechas vermelhas de vergonha, assentindo gentilmente.

   Vendo isso, Sophia lhe deu outro sorriso suave e acariciou sua bochecha mais uma vez.

“Você realmente conheceu alguém especial. Estou feliz por você.”

“Eu te disse, não disse? Você simplesmente não acreditaria em mim, Sophia.”

   As duas trocaram olhares e soltaram risadas discretas.

     Essas irmãs sorrindo juntas... parece algo saído de uma pintura.

   Ver Yui e Sophia sorrindo uma para a outra, com expressões tão calorosas e radiantes, fez Naomi se sentir verdadeiramente orgulhoso de estar entre elas.

   Então Sophia virou o corpo para encarar Naomi e o encarou com uma seriedade repentina.

   A atmosfera mudou. Naomi instintivamente se endireitou para encará-la.

“Então... Naomi, você está planejando assumir a responsabilidade, não é?”

“...Huh? Responsabilidade?”

   Confuso, Naomi inclinou a cabeça. Sophia enfiou a mão na blusa, pegou um colar e o deixou balançar suavemente.

   Era uma cruz — o que é conhecido como rosário no cristianismo.

   Enquanto Naomi a encarava, se perguntando por que ela estava tentando impressioná-lo com aquilo, “...Ah.”

   Um pequeno som escapou antes que ele percebesse.

   Vendo Naomi perceber sua intenção, Sophia sorriu docemente.

   Sophia usava seu rosário no pescoço o tempo todo — uma cristã inconfundivelmente devota.

   Ao contrário de Yui, ela provavelmente vinha de uma família cristã profundamente religiosa, e se seus valores seguissem os de crentes devotos, então...

   Naquele momento, Naomi se lembrou de algo que Kasumi havia desabafado uma vez enquanto estava bêbada em sua casa:

“Ugh, cultos de virgindade são tão idiotas! Nada de sexo antes do casamento, nada de beijos, nem mesmo andar de mãos dadas até o casamento? Hoje em dia!? Não tem como alguém assim se casar! Você seria criticada online! Nesse caso, vá em frente — engravide-me como se eu fosse a Virgem Maria ou algo assim! Se isso acontecer, juro que acreditarei em Deus até morrer! AHAHAHA! DROGA — POR QUE EU NÃO TENHO UM NAMORADO—!?”

[Del: Ela é bem anti-cristã né kkkkkk. Além disso, é ossada escutar isso de uma sociedade com índices de divórcio cada vez maiores. | Kura: Complicado kkkk | Moon: Fazer o que né kk]

   Um desabafo bêbado de sua prima, do qual ele não queria se lembrar, mas que ainda assim o marcou.

   Entre jovens cristãos, era algo que poderia ser motivo de piada de vez em quando — mas olhando nos olhos de Sophia agora, não havia como confundir.

   Ela estava falando bem sério sobre isso.

“Naomi, você está preparado para assumir a responsabilidade... não está?”

   Não havia um pingo de riso nos olhos de Sophia. Na verdade, a intensidade era ainda mais assustadora do que quando ela estivera furiosa antes.

     Ela está falando sério... Realmente sério...!

   Logicamente, Naomi não havia feito nada que justificasse “assumir a responsabilidade”.

   Ele podia jurar por Deus sobre isso.

   Mas se seu oponente fosse um cristão genuíno e devoto, até mesmo algo como jantar sozinho em sua casa — ou ir a um café para gatos juntos — poderia ser visto como motivo para indignação.

[Del: Na verdade, o que é condenado antes do casamento são atividades sexuais, intimidade não é motivo de indignação. Como em Cantares 3.4, em que o amado e a amada não eram casados, a mulher o leva para a “casa de sua mãe, na câmera onde foi gerada”, que era considerado um local de extrema privacidade e intimidade. | Kura: Se fosse mais que isso seria tenso…]

   E então, para piorar, Yui acabara de dizer que ele era “importante para ela”.

   Da perspectiva de Sophia, isso poderia facilmente ser interpretado como algo que a “prejudicou”.

   Era absurdo e injusto, mas se estivesse enraizado em crença religiosa, Naomi não tinha motivos para argumentar.

[Del: Talvez muitas tradições cristãs são seguidas de forma “por que sim” (para resumir), por exemplo: “não pode sexo antes do casamento” é uma frase clássica, agora, porque? Há um princípio e um estudo importante por trás, então chamar de “injusto” sem a compreensão é difícil.]

   Quando ele olhou para Yui em busca de ajuda, ela o encarava com uma expressão pálida e profundamente preocupada.

   Nada bom — Yui não estava em condições de apoiá-lo.

     Se você está perguntando se estou preparado ou não, então...

   Naomi fechou os olhos, respirou fundo e os abriu com determinação.

“Estou. Estou preparado.”

   Ele olhou diretamente para Sophia e respondeu com clareza.

“...Oh?”

   Os olhos azul-claros de Sophia se estreitaram bruscamente.

   Naomi não conseguiu ler a expressão dela, mas ele não desviou o olhar. Ele a encarou e continuou.

“Estou preparado desde o início. Desde o momento em que pedi para Yui ser minha amiga.”

   Quando ele convidou Yui para compartilhar refeições, ele já havia se decidido.

   Pode não ser exatamente o tipo de “preparação” a que Sophia se referia. Mas ele havia decidido que, contanto que Yui não o afastasse, ele nunca a deixaria ir.

   Portanto, mesmo que suas interpretações fossem diferentes, ele ainda falava sério. Estava disposto a assumir a responsabilidade — do seu jeito.

 

“.........Huh?”

 

   O rosto de Yui ficou vermelho vivo em um instante.

   Seus lábios tremeram levemente e seus olhos se encheram de lágrimas, como se ela pudesse cair em prantos a qualquer momento.

“N-Não, não é isso! Eu não quis dizer isso de forma suspeita! Eu só quis dizer que estou pronto para cuidar da Yui — até ela dizer que está bem, só isso!”

“C-Certo!? Eu sei, eu sei, então está tudo bem! Me desculpe! Mesmo entendendo, ainda sinto muito!!”

   Com o rosto vermelho, Naomi e Yui se levantaram e começaram a tagarelar freneticamente um com o outro.

   Assistindo a tudo, Sophia caiu na gargalhada.

“Ahaha! Vocês dois são tão adoráveis, ahahaha!”

   Yui piscou confusa com a risada repentina, mas logo percebeu que estava sendo provocada. Ela lançou um olhar furioso para Sophia.

“S-Sophia…!”

   Mas sua irmã mais velha não demonstrou remorso, rindo sem parar.

   Naomi afundou na cadeira, exausto demais para sequer ficar bravo, olhando para o teto com um meio sorriso.

“Desculpe, acho que fiquei com um pouco de ciúmes e quis te incomodar. Hoje em dia, mesmo entre cristãos, pessoas com opiniões assim são raras — então não se preocupe, okay? Mas se o Naomi realmente tem esse nível de comprometimento, então eu não tenho com o que me preocupar como irmã dela. Ahaha!”

“Bem... contanto que você não esteja preocupada, é isso que importa...”

   Ainda exausto demais para discutir ou mesmo reagir adequadamente, Naomi apenas lhe deu um sorriso seco enquanto Sophia se aproximava, sorrindo maliciosamente.

“É por isso que — contanto que Yui concorde — eu não direi uma palavra, não importa o que vocês dois façam, okay?”

“Sophia! Eu te disse para parar de dizer esse tipo de coisa!”

“Você é realmente adorável, Yui. Aww, pronto, pronto. Ahh, este curry está tão gostoso~!”

   Ignorando Yui, que chorava e se mostrava indignada, Sophia alegremente colocou mais uma colherada de curry na boca.

   Naomi só conseguiu apoiar os cotovelos na mesa e pressionar os dedos na testa, implorando silenciosamente por forças para suportar aquilo.

“Ah, Naomi. Se importa se eu repetir?”

“Ainda tem bastante. Por favor, coma o quanto quiser...”

“Você está me ouvindo, Sophia!? Ei!?”

   Mesmo enquanto Yui tentava protestar, Sophia continuou comendo, completamente entretida por usar Naomi e Yui como sua rotina pessoal de comédia.

 

 

◇          ◇          ◇

 

 

   No dia seguinte, sábado, antes do meio-dia.

   Naomi e Yui saíram do apartamento para se despedir de Sophia.

“Você não precisava se despedir de mim. Afinal, fui eu quem apareceu sem avisar.”

   Ela carregava apenas uma pequena bolsa clutch.

   Aparentemente, sua bagagem havia sido deixada com seu empresário — a julgar pelo pouco que ela trouxe, a visita realmente tinha sido um turbilhão.

“Você realmente arrumou um tempo só para uma visita de uma noite, hein?”

“Eu estava preocupada com minha preciosa irmãzinha. Forcei isso na minha agenda. Se eu me atrasar para a sessão de fotos, provavelmente vão gritar comigo.”

   Sophia deu de ombros e mostrou a língua, brincando.

“Da próxima vez que você nos visitar, avise com antecedência, okay? Assim podemos nos preparar para recebê-la adequadamente.”

“Sim, sim. Entendido. Mas parece que não vou mais precisar aparecer sem avisar.”

   O olhar penetrante que ela tinha quando se conheceram havia desaparecido completamente. Agora, ela olhava para Yui com um sorriso caloroso e radiante — brilhante como o sol.

   Naomi observava a conversa delas, pensando que aquela provavelmente era a verdadeira Sophia.

“Vou procurar o endereço do estúdio. Yui, você poderia buscar um táxi?”

“Entendido. Espere aqui um segundo.”

   Yui correu em direção à rua principal para encontrar um táxi.

   Enquanto a observava partir, Sophia semicerrou os olhos levemente e se virou para Naomi.

“Yui mudou muito desde que esteve na Inglaterra. Suas expressões estão mais suaves agora, e ela sorri mais. Tenho certeza de que é graças a você, Naomi.”

   Ela sorriu gentilmente enquanto se virava para ele.

“Ontem à noite, antes de dormir, ela me contou todo tipo de coisa. Sério? Parecia tão divertido que fiquei com ciúmes.”

   Ela mostrou a tela do celular para Naomi — nela havia uma foto dos dois cercados por gatos no Neko Café.

“O qu—!?”

“Não é uma foto incrível? Yui se esforçou muito para guardá-la para si mesma, mas eu gostei tanto que a fiz me enviar.”

   Piscando, Sophia pareceu presunçosa. Naomi imaginou a pobre Yui lutando para resistir — apenas para depois ceder. Ele conseguia visualizar o rosto dela em lágrimas agora. Honestamente, se aquela mulher o pressionasse, ele também não teria a menor chance.

   Ignorando os pensamentos de Naomi, Sophia olhou para a foto com carinho, os olhos se suavizando.

“...Eu estava realmente em dúvida sobre mandar a Yui para estudar no Japão. Claro, ela nasceu aqui, mas deixar uma garota de dezessete anos morando sozinha? Eu não culparia ninguém por me chamar de irmã terrível.”

   Seu sorriso se apagou um pouco, seu tom tingido de arrependimento.

“Eu realmente queria ir com ela. Mas achei que precisava ficar na casa dos Villiers — pelo bem dela.”

   Sua voz era calma e gentil, mas carregava o peso de não ter outra escolha.

“...Espera aí, isso significa que você também providenciou a moradia e os móveis dela?”

“Sim. Eu só queria ter certeza de que ela poderia viver confortavelmente. Embora pareça que ela mal tocou na mesada que eu tenho mandado.”

   Ela soltou um pequeno suspiro preocupado, inclinando a cabeça com um sorriso irônico.

   Naomi se lembrava de todos os eletrodomésticos de luxo e utensílios de cozinha de marca no apartamento de Yui. Então era de lá que eles vinham. No início, ele simplesmente atribuiu isso ao fato de ela ser uma “princesa,” mas agora tudo fazia sentido. Era a maneira de Sophia cuidar dela.

“A família Villiers se preocupa com pedigree e linhagem. A Yui sempre foi menosprezada como filha ilegítima. Mesmo que eu a defendesse, não mudaria nada.”

   Seu sorriso fraco estava tingido de culpa enquanto ela estreitava os olhos.

“Espera... então o pai da Yui não estava do lado dela?”

   Naomi perguntou, sentindo algo estranho nas palavras de Sophia.

   Yui já lhe dissera antes: “Minha mãe morreu, então fui enviada para morar com meu pai na Inglaterra.” Então Naomi sempre presumiu que seu pai a apoiava.

“Sim, ele é um aliado. Se não fosse, eu não teria conseguido lidar sozinha com os preparativos para o intercâmbio.”

“‘É um aliado’?”

   Naomi franziu a testa diante da frase vaga, e Sophia voltou o olhar para ele com um sorriso fraco.

“Meu pai não sabia que Yui tinha nascido. É por isso que o relacionamento deles não é o típico vínculo entre pai e filha.”

“...Espera aí... ele não sabia que ela tinha nascido?”

   A resposta foi tão inesperada que Naomi ficou sem palavras.

   Enquanto ele lutava para entender completamente o que ela acabara de dizer, Sophia lhe lançou um sorriso suave e apologético.

“Parece que a Yui não te contou a história toda. É um pouco complicado, mas você vai me ouvir? Não... porque você é alguém em quem a Yui confia, Naomi, eu quero que você saiba.”

“...Sim. Por favor, me conte.”

   A expressão séria de Sophia fez Naomi se endireitar e encontrar seus olhos, assentindo firmemente.

   Vendo isso, ela assentiu levemente e começou.

“Minha mãe morreu quando eu nasci. Mais tarde, enquanto meu pai trabalhava no Japão, ele conheceu a mãe da Yui. Ouvi dizer que eles prometeram o futuro um ao outro.”

   Sophia jogou o cabelo ondulado para trás com a testa franzida, lembrando-se do que seu pai lhe dissera uma vez.

“Mas a família Villiers, com todo o seu orgulho idiota, os separou. O que eles não sabiam na época era que a mãe de Yui já estava grávida. Ela nunca contou ao meu pai e deu a luz a Yui sozinha. Então ele só descobriu a existência de Yui depois que a mãe dela faleceu.”

“Entendo... então foi isso que aconteceu.”

   Agora Naomi finalmente entendia por que Sophia havia dito que eles não eram como uma dupla típica de pais e filhos.

   A situação era ainda mais complicada do que ele imaginava, e ele ouviu em silêncio.

“Depois que a mãe de Yui faleceu, meu pai imediatamente a acolheu. Mas pense bem: ela tinha seis anos, acabara de perder a mãe, foi repentinamente levada por um estranho que alegava ser seu pai, mudou-se para um país onde não entendia a língua e foi tratada como filha de uma amante por todos da família. Como alguém poderia esperar que ela ficasse bem?”

   Com um sorriso amargo, Sophia soltou uma risada suave e seca.

“Meu pai é um homem ocupado. Ele mal tinha tempo para conversar com ela. E mesmo agora, acho que ele estava tão envolvido nas expectativas de ser um Villiers que simplesmente acolher Yui era tudo o que conseguia. É por isso que os dois ainda não se conectaram.”

   Isso explicava por que Sophia havia dito “ele é um aliado” em vez de algo mais forte.

   Agora também fazia sentido por que Yui nunca falava sobre o pai. O relacionamento deles não era baseado em confiança ou familiaridade — nunca teve a chance de ser.

“E então... algo aconteceu que selou a posição da Yui na família Villiers.”

   A expressão de Sophia se contraiu e sua voz assumiu um tom mais frio.

“A Yui tem um talento incrível para cantar. É honestamente inacreditável. Então, insisti para que ela cantasse no coral da missa de Páscoa de uma igreja local. Todos na família Villiers são cristãos, então pensei que talvez — se a ouvissem cantar — finalmente a veriam de forma diferente.”

“O coral da missa de Páscoa...”

   Naomi se lembrou do hino que ouvira Yui cantar na igreja.

‘O Senhor é a Minha Salvação’... eu suponho?”

“Sim. Essa é a música tradicional da Páscoa. Foi há cerca de um ano.”

   Sophia assentiu, olhando para o longe com as sobrancelhas franzidas.

   Naomi prendeu a respiração. Ele não havia percebido na época, mas aquele hino fizera parte de uma lembrança tão dolorosa.

   Mesmo quando Yui apenas o cantarolara casualmente, sua voz soara incrível. Não era difícil imaginar por que Sophia depositara suas esperanças naquele momento.

   E para uma família cristã devota como a deles, aquele tipo de apresentação poderia realmente ter sido uma chance para Yui mudar sua posição — se ao menos as coisas tivessem dado certo.

“Mas... como ela concordou em fazer isso, nessas circunstâncias?”

   Mesmo amando cantar, Naomi não conseguia imaginar Yui se juntando voluntariamente a um coral em um lugar que nem a queria lá.

   Compreendendo a implicação, Sophia deu um sorriso cansado.

“Claro que ela não queria. Eu tive que forçá-la. Eu só... queria ajudá-la de alguma forma. Mas tudo o que fiz foi piorar ainda mais as coisas.”

“Tão pior assim? A ponto de ela ter que deixar a família?”

   Sua expressão se contorceu de dor e ela assentiu levemente.

“Os parentes patéticos conspiraram para sabotá-la. No dia da apresentação, mudaram o hino. Só para humilhá-la. E, claro, a partitura da Yui foi a única que permaneceu inalterada.”

[Del: Assim, só quero avisar que este é um mal exemplo cristão, pois a exclusão é uma prática que está em desacordo com a Bíblia. Além disso, considera-se a repreensão de Jesus dá a seus discípulos quando tentam afastar as crianças em Mateus 19.14 e então compare com o comportamento familiar que Yui recebeu no tempo. | Moon: O maior problema são esses falsos cristãos, que se dizem “fervorosos”, mas ignoram uma das principais bases da palavra de Deus “Ame o próximo como a ti mesmo!”.]

   Sua voz estava cheia de fúria declarada agora, as palavras cuspidas como veneno.

“...Você está falando sério?”

   Naomi não conseguiu conter as palavras. Era horrível demais para compreender.

   Em uma igreja cheia de fiéis, o acompanhamento de uma música completamente diferente havia começado. Para alguém despreparado, seria o suficiente para congelar a mente completamente.

   Mesmo alguém tão talentosa quanto Yui poderia conseguir fingir se tivesse a nova partitura — mas eles garantiram que ela não tivesse.

   Uma garota de origem nobre, deixada sozinha e indefesa no altar. Rosto pálido. Paralisada. Zombada por uma multidão de sussurros odiosos. Naomi, como alguém que já havia tocado órgão em cultos antes, conseguia imaginar vividamente o quão angustiante aquele momento deve ter sido. Vividamente demais.

“Tudo isso... só para desgraçar uma garota?”

   A raiva fez o rosto de Naomi ficar pálido.

   Deve ter havido parentes e convidados que presumiram que ela havia humilhado o nome da família de propósito. Acusações, sussurros, alienação.

   E, no final, que lugar sobrou para Yui? Quão profundamente seu coração havia sido ferido? Uma jovem, abandonada e cercada, ferida por aqueles que deveriam protegê-la.

   A voz de Naomi tremia de raiva enquanto a mão dele se fechava em punho.

“Foi por isso que sugeri ao meu pai que a Yui estudasse no Japão. Pensei que... se eu não a tirasse de lá, ela iria quebrar.”

“Sophia-san...”

“...É patético, na verdade. Tudo o que eu pude fazer foi ajudá-la a escapar.”

   Sophia baixou o olhar, um traço de solidão apareceu em sua expressão, como se zombasse de sua própria impotência.

“Eu não sei cantar. Não tenho confiança para cantar na frente das pessoas.”

   A voz de Yui na igreja ecoou na mente de Naomi.

   A música que ele ouvira naquele dia... não era apenas um hino. Era o hino que Yui não conseguira cantar.

   Só agora ele entendia a expressão no rosto dela naquele dia — aquele pequeno sorriso resignado e melancólico.

   Ele forçou os punhos ao se lembrar de como dissera casualmente: “Se você quer ganhar dinheiro, pode entrar para um coral.” Tão irrefletido. Tão ignorante. Isso o deixou furioso consigo mesmo. “...Você realmente se importa com a Yui, não é, Naomi?”

“...Hum?”

“Não há muitas pessoas que ficariam bravas em nome de outra pessoa desse jeito.”

   Sophia não estava brincando — ela o olhou com um sorriso calmo e gentil.

   Percebendo que o havia percebido enquanto ele estava tão imerso em suas emoções, Naomi desviou o olhar, um pouco envergonhado.

   Sophia riu baixinho e então o encarou novamente — desta vez, com seriedade.

“A Yui está tentando se transformar. Então, estou confiando ela a você. Se alguma coisa acontecer, eu virei o mais rápido possível.”

   Ela estendeu a mão e colocou um pequeno bilhete dobrado na mão dele.

   Escrito nele estavam seu número de telefone, e-mail e ID do aplicativo de mensagens.

“Muitos caras querem minhas informações de contato, sabe~ — mas eu não as divulgo. Então relaxa, okay? Se você continuar franzindo a testa assim, só vai deixar a Yui preocupada.”

   Ela o cutucou de leve na ponta do nariz com um sorriso brincalhão. Aquele pequeno gesto foi o suficiente para aliviar a tensão que ele nem percebera que carregava.

“Conto com você, Naomi. E, ei, mesmo que não haja motivo, você pode me mandar uma mensagem — só não espere uma resposta, tá?”

   Ela jogou o cabelo com confiança, fazendo uma pose tão elegante sem esforço que Naomi se pegou pensando: É. Definitivamente uma profissional.

   Ainda assim, ser reconhecido assim o deixou genuinamente feliz. Ele assentiu.

“É uma honra. Obrigado. Vou cuidar bem da Yui.”

“Conto com você.”

   Quando Sophia retribuiu o sorriso, Yui voltou correndo — e logo atrás dela, um táxi parou no meio-fio.

“Desculpe, Sophia. Demorei para encontrar um.”

“Tudo bem. Na verdade, o timing foi perfeito. Obrigada.”

   Então Sophia se aproximou e envolveu Yui em um abraço apertado, sussurrando perto de seu ouvido.

“Se cuida, Yui. Se acontecer alguma coisa, entre em contato comigo imediatamente. Virei num piscar de olhos.”

“Sim. Não se preocupe, Sophia. Estou bem agora.”

   Yui a abraçou de volta com firmeza e, naquele momento, a porta traseira do táxi se abriu.

“Obrigada por me acompanhar também, Naomi. Estou saindo.”

“Claro. Da próxima vez, estaremos prontos para lhe dar as boas-vindas.”

“Estarei ansiosa por isso. Tchau.”

   Sophia piscou para Naomi e deslizou graciosamente para o banco de trás do táxi.

   Depois de dar o destino ao motorista, o carro ligou com um ronco e arrancou.

   Do vidro traseiro, ela acenou. Naomi e Yui acenaram de volta, sem parar até que o táxi desaparecesse de vista.

   Assim que terminou, Yui se virou para ele com um sorriso tímido.

“Desculpe por toda a comoção, Naomi-san.”

“Não se preocupe. Ela é uma ótima irmã. Um pouco animada demais, talvez.”

“Sim, ela é um pouco excêntrica... mas é uma ótima irmã.”

   Yui riu baixinho e bateu palmas com um som leve e alegre.

“Já que saímos, você gostaria de almoçar juntos?”

“Sim, parece bom. Tem algo que você queira?”

“Hmm... nada especial. Mas se estiver tudo bem, eu gostaria de tentar cozinhar de novo — talvez com você me ensinando ao meu lado.”

“Ah? Então a Yui finalmente descobriu a alegria de cozinhar?”

“Eu só... fiquei feliz quando você disse que estava gostoso. Eu quero poder cozinhar para você um dia também, Naomi-san.”

   Yui fechou o punho minúsculo e assumiu uma pose determinada, cheia de energia.

   Mesmo depois de toda a dor que passara, ela sorria agora — como dissera, estava tentando mudar.

   Ele não podia reescrever o passado, mas podia fazer a sua parte para ajudá-la a continuar sorrindo dali em diante. Isso, Naomi acreditava que ele conseguiria.

“Então está bem. Vamos até o mercado e decidir o que faremos no caminho.”

“Sim! O tempo está lindo hoje — vamos.”

   Yui abriu um sorriso radiante, imitando o seu, e assentiu.

   Mais do que a promessa que fizera a Sophia, Naomi só queria ajudar Yui a continuar sorrindo assim.

   Com esse pensamento em mente, ele caminhou ao lado dela sob o céu ensolarado, os dois indo lado a lado em direção ao supermercado.

 

 

-DelValle: A letra traduzida de The Lord Is My Salvation:

 

A graça de Deus alcançou para mim
E me puxou do mar revolto
E eu estou seguro neste chão sólido
O senhor é minha salvação

Eu não temerei quando a escuridão cair

Sua força vai me ajudar a escalar essas paredes
Eu vou ver o amanhecer do sol nascente, o senhor é minha salvação

Quem é como o senhor nosso Deus? Forte para salvar
Fiel no amor
Minha dívida é paga e a vitória é vencida

O senhor é minha salvação

Minha esperança está escondida no senhor
Ele floresce cada promessa de sua palavra
Quando o inverno se desvanece, eu sei que a primavera virá
O senhor é minha salvação

Quem é como o senhor nosso Deus? Forte para salvar
Fiel no amor
Minha dívida é paga e a vitória é vencida
O senhor é minha salvação

Glória a Deus Pai, Glória a Deus, filho
Glória seja a Deus o espírito, o senhor é nossa salvação

Quem é como o senhor nosso Deus? Forte para salvar
Fiel no amor
Minha dívida é paga e a vitória é vencida
O senhor é minha salvação

O senhor é nossa salvação, o senhor é minha salvação.

 

 

Traduzido por Moonlight Valley

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